2007-05-31

Greve? Qual greve?


aqui


Tirando as professoras primárias da escola ali de baixo que disseram de véspera aos fedelhos que no dia seguinte havia greve e, por isso mesmo, puderam estar a dar à língua toda a santa tarde no café, não dei por nada.

E cheira-me que, da mesma forma que essas professoras comprometem assim qualquer razão que eventualmente lhes assistisse, também esta greve geral pífia só vai ser mais um tiro no pé.

2007-05-29

Fedor


aqui


A política há muito que passou de ser praticada (não digo feita, apesar de tudo...) por um punhado de gentalha cheia de técnica e manhas. Já não é vocação; é um trabalho bem pago, com muitos trabalhinhos por fora. Talvez devido à alternância, isso é especialmente evidente entre os actuais tecnocratas prontos para o poleiro dos dois maiores partidos. Mas para os lados nada me parece muito melhor. E irrita-me profundamente o cheiro a putas velhas que tudo lança, das madamas escondidas nas sombras a contar as notas e a puxar os cordelinhos. Ou o cheiro que vem do caldeirão decrépito e enfezado, onde uns fósseis com gravata (se mais à direita) ou sem gravata (se mais à esquerda) dizem que zelam pelos interesses dos trabalhadores, quando não sabem o que é picar o ponto há décadas. Ou o excesso de zelo em fazer o jeito ao patrãozinho dos fabricadores de notícia (não lhes chamo jornalistas, claro, porque duvido que a maioria tenha competência para tanto e também ali já quase não há vocação). Como nauseia o bedum que se desprende da manhosice de uma certa oligarquia do pilim ou do tijolo, de bolsos fartos para promover campanhas e mão aberta para cobrar favores. Ou a pestilência organizada de jogos semi-secretos, em opus daqui e dali e todas as outras tramas emaranhas com origem num trono onde ultimamente se senta um calhau, contra (quando interessa) os interesses dos que um dia se disseram livres para esculpir a pedra bruta. Como depois há os caciquismos vários, com a dimensão e cheiro equivalente ao tamanho do bolso que os comanda, metendo o dedo onde podem arrancar tostão, cobrando bem caro qualquer assinatura que desate os laços que enlaçam o povinho. Ou as negociatas regadas a álcool, drogas e sexo. E alombam sempre em cima do povinho e o povinho paga. São uma praga imunda, que alastra. Rodam votos, rodam cabeças, fica sempre o mesmo fedor. E não há maneira do País (e do povinho acossado e espoliado) conseguir livrar-se dos chulos, até porque chulos há muitos e, como sempre, há os que se ficam pelas ruas bem visíveis e os que se escondem nos gabinetes. Em alguns desses gabinetes, não se trabalha sequer: contam-se piadas e mete-se o IRS, enquanto no gabinete ao lado se bufam as últimas novas do serviço. Ou se fazem listas de quem tem opinião política e não respeita a máxima velha que retorna agora engalanada do "manda quem pode, obedece quem deve". E a verdade é que isto tresanda. Tudo tresanda. E não é fado nem resignação. É poeira, cortina de fumo. O que importa jamais será revelado: queimaria como incêndio de verão, sem poupar nada que lhe aparecesse pela frente. E por isso mesmo não arde: são todos bombeiros em casa alheia, sempre que lhes cheira que podem ficar sem parte da ração.

Enjoy the silence





... à espera do computador novo.

2007-05-26

E se uma mulher lhe oferecer flores?


aqui


É para dar os parabéns, claro :)))

Beijo, loiro!

(e agora vou ali continuar a festejar os 87 anos da minha avó)

2007-05-25

‘Tou c'a neura!


aqui

Na semana em que – finalmente – me decidi a fazer cópias de segurança de tudo o que tenho no portátil, o bichinho tem um achaque e eu passo a ver tudo negro… literalmente! É a única coisa que acontecesse quando ligo a maquineta: um écran negro com um ponto branco a piscar.

Raios!



(até domingo, talvez...)

2007-05-24

Um prémio sumarento



Considero um Blog com Tomates aquele que luta pelos direitos fundamentais do ser humano.
Brit Com


A Marta acha que a Voz em Fuga é um blogue com tomates. Ora ai está uma nomeação com que não contava, até porque só meia Voz tem de facto um par dos ditos.

Confesso que achei piada. É que nunca levei demasiado a sério esta coisa de ter um blogue, ainda que leve muito a sério esta vontade, quase necessidade, de ter opinião sobre tudo e mais alguma coisa, um lugar onde mandar bitaites e – recompensa imerecida – até leitores que gostam.

Mas os que me lêem – incluindo a
Marta, portanto – sabem bem que isto é assim a modos para o lado em que está o vento: não tenho nem tempo nem vontade para mais e, se há dias em que me atraco a um qualquer tema que acho importante e onde se deve dizer sem medos o que se pensa (como foi a questão da despenalização da IVG), também há muitos mais dias em que não há cá opinião nenhuma, nem causa nenhuma, nem luta nenhuma. E nem é necessário, porque não precisamos andar todos os dias a correr atrás de batalhas, nem a fazer guerras, muito menos a ser chatos até dizer chega com meia dúzia de conceitos que se dobram e desdobram em não sei quantas opiniões.

Depois, vem a parte do “passa a corrente”. Sendo assim – e vendo-me na obrigação de escolher cinco blogues com tomates – penso que só me apetece escolher blogues que não se escusam a ter voz e opinião sobre tudo e mais um bocadinho, além da coragem para o fazer sem parecer que estão a subir nas hierarquias de qualquer coisa, pensando todos os imponderáveis, todos os prós e contras, antes de correr o risco de apenas dizer.

Já agora, vão só mulheres. Parecem-me sempre tê-los bem mais onde é preciso, mesmo não os tendo (felizmente!) por uma imensa e gratificante abébia do destino.

Crónicas das Horas Perdidas - Luna
O Doutor dá Licença? - I
Chez Maria - Maria Árvore
Pópulo - Emiéle
Divas & Contrabaixos - Rosarinho


(ver as regras aqui)

Ciclo


Gustav Klimt


A minha avó faz 87 anos no próximo dia 26. Ontem foi operada às cataratas. Antes de sair de casa, estava tão pequenina, tão cheia de medo, que me apeteceu dar-lhe colo. Ao olhar para ela assim, que sempre foi uma mulher tão forte e destemida, senti que um ciclo estava próximo de fechar-se e não gostei nem um bocadinho…

2007-05-23

These Are The Days Of Our Lives



You can't turn back the clock you can't turn back the tide
Ain't that a shame
I'd like to go back one time on a roller coaster ride
When life was just a game
No use in sitting and thinkin' on what you did
When you can lay back and enjoy it through your kids
Sometimes it seems like lately - I just don't know
Better sit back and go with the flow



Parabéns, Cap!

2007-05-22

Curiosidade


aqui

Muito gostava eu saber o que o outro disse para ser suspenso…

underneath the covers



people try and hide the night underneath the covers.
people try and hide the light underneath the covers.
come on hide your lovers underneath the covers.

Sonhando...

2007-05-21

Como?


aqui

Porque é que gosto do Surfista? Bem, descobri-o na mesma altura em que descobri o medo por uma qualquer explosão atómica que pusesse fim à nossa linda Terra. Descobri-o quando descobri que o mundo tem demasiados loucos e muito poucos gestos altruístas. Descobri-o quando se começava a ouvir falar em SIDA e em ecologia. Descobri-o como o herói impossível que nos permite ainda ter fé, o herói abnegado que não nos deixa cair na total descrença. Descobri-o nos primórdios da década de 80, mesmo que tenha nascido bem antes, em meados dos anos 60 (1966, para ser mais precisa). Já não me apetecia ler Tios Patinhas e a Marvel oferecia-me o contraponto: ainda BD, mas histórias mais suculentas; histórias que me distraiam e me punham a pensar, histórias que falavam de medos antigos, mas também de valores inquebrantáveis. E de heróis que, sem nada temerem, eram capazes de arriscar a vida para salvar outra vida, mas nunca esqueciam que há princípios que não se questionam, por maior que seja a tentação.


Agora... mas quem raios é este
Doug Jones?

2007-05-20

Não há pachorra!


aqui


Mal não faz, em condições normais de salubridade nunca chega realmente a ser nocivo, nunca conseguirá corpo para dimensão de varejeira, mas atazana os ouvidos quando faz voos rasantes. E a isso se resume o Paulo Portas no cenário da política portuguesa. Só ele é que ainda não sabe que não é mais que um mosquito com manias das grandezas. Mas os jornalistas continuam a mostrar-lhe um espelho daqueles de feira popular com lente de aumento e é assim que o mosquito continua a achar que afinal é mosca.

2007-05-19

18 de Maio


Markus Raetz (folhas de eucalipto sobre papel) MMK- Frankfurt


Já passa da meia-noite, ontem foi o Dia Mundial dos Museus.

Para muitos que passam distraidos, os Museus não passam de lugares onde nos passeamos em dias de desfastio. É sempre agradável ir a Serralves...o pavilhão, o jardim e, pelo meio, entramos no museu: "se não me beijares tanto, talvez eu consiga olhar para esta cena! Está quieta mulher!"

Mas as obras de arte estão lá."Pára lá um bocadinho que eu quero entender a instalação...Não me beijes, carago! Deixa-me apreciar!"

Existe um "exército" de mediadores culturais a trabalhar, todos os dias, para fazer chegar a Arte mais próximo das pessoas. Mediando o discurso, lançando perguntas, fazendo-nos crescer:
-Já agora, qual é a diferença entre Olhar e Ver?

..."Olha! Olha tantas crianças... Estão cá com uma atenção... O que é que o gajo lhes está a dizer?... Vamos Ouvir?"

Pois é... É difícil distinguir uma coisa da outra; mas todos já ouviram dizer: "Passaste por mim no Bulhão, olhaste...mas não me viste."

Pois para entender a Arte, só pelo lado de dentro: importa ver com muita atenção! Relacionar a nossa vida com o que estamos a observar...

"Olha uma anémona, suspensa, aqui em Matosinhos!... Uma escultura? Escultora estrangeira?
Dizes o quê, miúda? Ah...por estar próxima do mar? ainda por cima move-se. Até parece que está viva... Ainda te lembras do cheiro da fábrica de peixe?"

Quem passar pela vida distraido, não reconhece o par que lhe está destinado, nem tão pouco um objecto de Arte ali apresentado...

Todos os dias, estes mediadores culturais, fazem perguntas e acordam as cabeças dormentes que nos habitam. A arte contemporânea pregunta-nos as respostas. E, essas respostas, são sempre pessoais, num universo de silêncio entendido no mais profundo do nós próprios...

"Não sejas, "bimba". Não vês que o homem está a falar da nossa sociedade de consumo? das relações?! ... Andas mesmo com a paranoia..."

Ófaxavor!...


aqui

Apetecia-me apanhar uma bebedeira solene. Sim, que se toda a gente pode abusar das adjectivações estapafúrdias, eu posso pedir uma bebedeira solene aqui para a mesa do canto. Era assim uma bebedeira formal, engomada e de vestido longo, discretamente preto obviamente. E talvez o copo viesse de libré e o tinto estivesse de smoking para, solenemente, acompanhar uma boa cigarrada. Mas não havia de ser uma bebedeira armada em puta fina a dar-me dores de cabeça. Era uma bebedeira realmente encorpada. Solene, portanto.

(desconfio é que é melhor não juntar mais nada ao cocktail de pastilhinhas para a gripe, mas isso agora também não interessa nada…)

2007-05-18

Como diz?


aqui

Quem anda a propor para Lisboa uma gestão "tipo" Rui Rio, já não deve vir ao Porto há muitos anos. Se é que alguma vez veio...

2007-05-17

Seis graus


aqui

I read somewhere that everybody on this planet is separated by only six other people. Six degrees of separation between us and everyone else on this planet. The President of the United States, a gondolier in Venice, just fill in the names. I find it extremely comforting that we're so close. I also find it like Chinese water torture, that we're so close because you have to find the right six people to make the right connection... I am bound, you are bound, to everyone on this planet by a trail of six people.

John Guare – Six Degrees of Separation

Quando estava a estudar, um professor falou-me pela primeira vez da teoria do número Erdös dos matemáticos e no "small world problem", de Stanley Milgram. Depois apareceu a peça de John Guare e os tais seis graus que nos separam de toda a gente no Mundo e depois ainda o filme de Hollywood com Will Smith…

E confesso que, desde o início, achei o tema profundamente interessante: não importa o tamanho do nosso ego, nem as assunções snobes de quantas pessoas "conhecidas" com quem afirmamos ter tido contacto, ou sequer o poucochinho que por vezes nos vemos no meio da selva social, estamos todos a seis graus de distância de qualquer pessoa no Mundo e esse Mundo, cada vez mais populoso, está na prática a encolher face às possibilidades comunicacionais que nos transformam a todos num número médio de uma rede.

Cada vez que aparece um post em rede nos blogues é disso que me lembro. Cada vez que nomeiam a Voz e eu nomeio mais não sei quantos, dou por mim a seguir os links, não necessariamente aqueles que já conheço, antes aqueles de que nunca ouvi falar. E percebo que, afinal, estamos todos demasiado perto, assustadoramente perto, tão perto que pode ser claustrofóbico. John Guare tem razão: se há dias em que esta uniformidade e proximidade pode chegar a ser reconfortante, noutras alturas é tortura chinesa da mais requintada.

Madeleine irmã de outras Madalenas















Reencontrei esta ilustração publicada no Jornal do Centro.

Madeleine Beth McCann não me sai da cabeça. Revejo-a todos os dias noutras Madalenas raptadas de si próprias, por estranhas vontades dos próprios pais e outros familiares.
Eu sei que o caso não é o mesmo. Mas as emoções são rastilhos que acordam a...VOZ.

Cuidado com o cão...


... ou o Mourinho ainda morde!

2007-05-16

Coisas antigas


Death in June - Little Black Angel

Black angel, black angel
As you grow up
I want you to drink
From the plenty cup
My little black angel
My little black angel as years roll by
I want you to fly with wings held high
I want you to live by the justice code
I want you to burn down freedom's road
My little black angel
Oh lie away, oh lie away sleeping
Lie away safe in my arms
Your father, you future protects you
And locks you safe from all harm
Little black angel I feel so glad
You'll never have things I never had
When out of men's hearts all hate has gone
It's better to die than forever live on
My little black angel...

Olha só o que encontrei no tubinho, miga. E também lá está o All Pigs Must Die :)))

Teoria da Libertação


Thomas Blackshear - Forgiven

Não sou especialista em Teoria da Libertação. Muito menos quero fazer deste post um artigo científico. Também não me apetece ir fazer pesquisa para o escrever. Estou, portanto, a falar quase de cor sobre um assunto que domino mal. Mas desde que li na adolescência um livro chamado "Igreja, Carisma e Poder", de Leonardo Boff, que pressenti que os sectores mais conservadores do pensamento católico não poderiam ficar contentes com as novas formas preconizadas por esta corrente de pensamento que pretende promover a igualdade total dos homens no acesso a bens e até a Deus. Ora, as estruturas fortemente mediadas, com óbvias linhas de poder, não se dão bem com a igualdade. Recordo, por exemplo, algumas das críticas ao Concílio Vaticano II e à forma como preconizou a igualdade de todas as religiões, unificando Deus. Quantos aceitam realmente que a doutrina católica está em pé de igualdade com, por exemplo, a doutrina muçulmana? Ou quantos aceitam que, conceptualmente, Shiva e Deus valem o mesmo?

A teoria da libertação tem sido vista pelos sectores mais conservadores da doutrina católica como profundamente subversiva. Das óbvias influências marxistas-leninistas, bem de acordo com a década de 60 que a viu nascer numa América Latina espartilhada por regimes autoritários fomentadores de fortes desigualdades sociais e um mar de gente pobre que deixava de aceitar a condenação à pobreza, a ideia de libertação escapa aos aspectos mais economicistas e atinge um nível sociológico mais vasto. A libertação passa a ser também uma forma de escapar à autoridade num sentido lato, incluindo os valores mais tradicionalistas de uma Igreja que assume que pobres e ricos existem igualmente aos olhos de Deus, que sempre vão existir e que nada adianta senão aceitá-los enquanto tal.

Mas é também subversiva por apelar à libertação das figuras de autoridade de uma política corrupta, à libertação da mulher da autoridade de pai e marido, à libertação dos corpos do pecado da luxúria, à libertação das velhas hierarquias do patrão e do capataz, ou do cacique, à aceitação de realidades sociais em total desacordo com os princípios mais ortodoxos, numa rota de fuga de uma sociedade permanente e imutável, teocêntrica, onde qualquer chama igualitária e/ou libertária teria sempre consequências em termos do poder efectivamente exercido sobre as massas.

Deve ser profundamente assustador para uma estrutura fortemente hierarquizada e baseada na autoridade que lhe é concedida por nada mais do que fé, ver serem propostas novas possibilidades, que passam necessariamente por uma contestação à autoridade. No extremo, foi entendido por alguns que a ideia de libertação seria herética por incitar à revolta perante a própria autoridade de Deus.

Este Papa das missas em Latim e do canto gregoriano, tão assustado com uma Igreja moderna e igualitária, parece-me ter medo da libertação. Esta visita ao Brasil e todas as suas palavras e apelos dizem-me isso mesmo. É um chefe de Igreja com medo de perder poder. É o líder que parece não saber acompanhar os tempos. E, se é certo que a Teoria da Libertação tal como inicialmente foi propalada há muito que deixou de ser viável, inclusive com alguns dos seus teóricos a afirmarem que as ideias marxistas-leninistas se provariam nefastas para os seus países, também é certo que, em muitos aspectos, soube evoluir para continuar a acompanhar a sociedade na sua busca pela justiça social.

Já disse aqui no blog antes que o que me assusta mais em Bento XVI é a aparente inflexão em direcção a valores conservadores e fundamentalistas. E talvez fosse eu que, não sendo católica, estava muito habituada à forma como João Paulo II, mesmo quando mais profundamente ortodoxo, não deixava de saber fazer a ponte entre os valores eclesiásticos e os valores sociais. E onde antes via uma ponte a ser construída, hoje vejo um fosso a ser fabricado.

Não sendo católica, convivo necessariamente com uma sociedade que se diz católica. Mas cada vez mais me assusta que as ideias deixem de ser questionados ou debatidas, que se aposte no preceito dogmático e imposto hierarquicamente, ou que os valores da igualdade e liberdade sejam pura e simplesmente descartados, por subversivos. No fundo, assusta-me sempre quando alguém, por questões de fé, só aceita a ideia de liberdade e igualdade desde que seja a mesma igualdade e liberdade que assume como sua. Esta é que tem de ser imposta. A liberdade dos outros, em matéria de fé ou de recusa da mesma, será sempre vista como agressão. E ai o debate deixa de ser possível.

Fico a pensar quantas pessoas não continuarão a fazer ouvidos moucos a Bento XVI. Fico a pensar quantos mais não se vão sentir alienados. Fico a pensar quantos mais não reservarão à crendice e à sectarização de pequenos cultos, tipo alguns cultos marianos, aquilo que antes estava reservado para toda uma visão geral, estruturante da forma como a grande maioria das pessoas se quer ver perante Deus, a sociedade, a vida e a morte…

2007-05-13

Da tortura...


aqui


Eu também moro neste País. Eu também pago impostos. Eu também compro produtos que alugam espaço publicitário. Eu também ajudo a pagar a programação das televisões generalistas. Eu também sou consumidora. Eu também existo. Eu também tenho direito à liberdade de culto. Eu também estou cá… Então expliquem-me quem teve a puta da ideia peregrina de me fazer gramar com Fátima e as histórias deprimentes de gente de arrasto pelo chão, mais as preces pela Madizinha e o caralhinho, que me impingiram a manhã e o almoço inteiro na RTP, SIC e TVI…

2007-05-11

Ai a minha paciência!


Wendy Freebourne


Há dias em que acho que devo ter ar de padre confessor. Ou talvez uma pedra muda. Ou que sou apenas um ombro. Ou qualquer coisa que justifique porque me sobra esta ingrata tarefa de fazer de rede de ténis, vendo as bolas irem para um lado e para o outro e só muito raramente com direito a pará-las.

E eu, que não tenho sequer pachorra para mim, que chego à sexta nos fumos da paciência, ainda aparelho um sorriso amarelo e fico para ali a ouvir argumentos estapafúrdios atrás de argumentos imbecis, com a certeza de que umas palmadas em alguns adultos faziam milagres e sem poder dar açoites porque só me querem para ouvido.

No fim, parece-me tudo tão evidente e tão simples que nem sei bem porque me alugaram o tempo. É que no dia em que os homens perceberem que as mulheres conseguem ser muito felizes em atitudes próximas do masoquismo, chegarão a entender-nos. E nesse dia até compreenderão porque raios gostamos deles.



(Hoje aturei um casal desavindo)

2007-05-09

Meme (*)


Misha Gordin


Ubi dubium ibi libertas
(onde há dúvida, há liberdade)

provérbio latino



O Carlos achou por bem encarreirar-me no meme. E eu encarreirei. Deixo-vos ai o meu. A ver se logo arranjo as vítimas...


(*) Um “meme” é um ” gene cultural” que envolve algum conhecimento que passas a outros contemporâneos ou a teus descendentes. Os memes podem ser ideias ou partes de ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autónoma”.

Já chegou!



Já cá canta, caro Dragão. Agora é só arranjar um tempinho para o ler com o cuidado que merece e depois logo lhe digo o que achei.

E parece que chegou no mesmo dia que o exemplar do
Carlos Araújo Alves (ai o "meme"!...), mas eu não tenho o mesmo jeito para digitalizar, pelo que a minha dedicatória fica só para mim :)

Só podia ser...

You Are the Ego

You take a balanced approach to your life.
You definitely aren't afraid to act out on your desires - even crazy ones.
But you usually think first. Morals drive you as much as hedonism does.
You've been able to live a life of pleasure... without living a life of excess.


(roubadinho na I.)

2007-05-06

Palavras reclusas (2) - Vende-se país




Continuando a minha proposta de publicação dos textos produzidos pelos escritores detidos do E.P. Setúbal, aqui fica o anuncio escrito pelo grande Washington, num dia em que era melhor rir para não chorar:


Vende-se País

· Superfície: 8511965 Km2
· Moeda: Real
· Recursos Naturais: Ouro, Ferro, Pedras Preciosas, Petróleo, Madeiras, Mulheres Bonitas, etc..
· Clima: Tropical

Oportunidade única para você, homem milionário e empreendedor que ambiciona explorar todo um país a fim de obter grandiosos rendimentos, compre o Brasil!!
Propriedade possuidora de alvará de exploração indiscriminada, rica em recursos humanos e naturais. Políticos de fácil maneio.
Com clima tropical, propício ao turismo todo o ano, onde pode desfrutar de longas, belas e seguras praias , recheadas de exuberantes atributos Humanos.
Um país em franco desenvolvimento, amigo do ambiente e de população serena e satisfeita.

Urgente só esta semana a preço de banana!!!


Nota:
registarei todos os comentários de forma a que sejam entregues na prisão.

Darfur


aqui


La mère fait du tricot
Le fils fait la guerre
Elle trouve ça tout naturel la mère
Et le père qu'est-ce qu'il fait le père?
Il fait des affaires
Sa femme fait du tricot
Son fils la guerre
Lui des affaires
Il trouve ça tout naturel le père
Et le fils et le fils
Qu'est-ce qu'il trouve le fils?
Il ne trouve rien absolument rien le fils
Le fils sa mère fait du tricot son père des affaires lui la guerre
Quand il aura fini la guerre
Il fera des affaires avec son père
La guerre continue la mère continue elle tricote
Le père continue il fai des affaires
Le fils est tué il ne continue plus
Le père et la mère vont au cimetière
Ils trouvent ça naturel le père et la mère
La vie continue la vie avec le tricot la guerre des affaires
Les affaires la guerre le tricot la guerre
Les affaires les affaires et les affaires
La vie avec le cimitière.

Jacques Prévert - Familiale


Não sou adepta da ingerência nos assuntos internos dos estados. Na verdade, temo sempre que essa ingerência, encapuçada de boa vontade, prove ser mais uma qualquer artimanha para uns poucos tirarem proveitos e menos ainda conquistarem poder. Mas há limites em que olhar para o lado passa a ser intolerável. No Ruanda a comunidade internacional reagiu demasiado tarde e deixou que 10% da população fosse assassinada. E foi apenas um ano: 1994. No Darfur, o genocídio arrasta-se desde 2003, ainda que só tenha começado a ser realmente debatido desde que os crimes e os confrontos se intensificaram em 2006. E ainda assim nada está realmente a ser feito. É que o Darfur fica mesmo ali nas franjas do Sahara e não tem nada, para além de areia, mortos e moribundos. Não interessa a ingerência porque não há negócios; não interessa evitar a calamidade. Já lá vão mais de quatro anos e em Darfur morre-se. Uns poucos sobrevivem. Nem sabemos bem como. Às vezes acho que nem queremos saber como.


Ainda há mães em Darfur?

Naufrágios


Turner - The Shipwreck

A França virou à direita e, na Madeira, cumpriu-se o mau agouro.

2007-05-05

Palavras Reclusas - Receita da Amizade (1)















Este é um momento importante na Voz.
Como vos tinha dito, vamos publicar aqui os textos produzidos pelos reclusos do Estabelecimento Prisional de Setúbal escritos durante o projecto "A cor das histórias" (Miguel Horta).
são textos, alguns muito simples, de quem está em fuga das quatro paredes que o contém.
Relembro o link aqui publicado pela Hipatia.
E quando a única fuga possível é a palavra?
Toda a correspondência com os escritores detidos será feita aqui na Voz através da nossa caixa de comentários. Trataremos de lhes fazer chegar os vossos comentários.
Entretanto, como é fim de semana, que tal cozinhar com a sugestão do Mário (EPS)?


RECEITA DA AMIZADE


Ficha Técnica

. Custo: Elevado
.Grau de Dificuldade: Elevado (A qualidade dos ingredientes pode fazer diminuir o grau de dificuldade)
.Tempo de preparação: Não determinado
.Número de comensais: Não determinado, mas é normalmente um prato servido a um número restrito de pessoas
Ingredientes
.Lealdade: 100
.Honestidade: 100%
.Tolerância: Muita
.Diálogo: Quanto baste
.Corantes: Irrelevante
Recheio
O recheio deve ser adicionado de acordo com os comensais, mas com cuidado necessário para que não altere o sabor. Um recheio despropositado ou confundido, pode provocar indigestões graves.
Ingredientes para o Recheio
.Paixão
.Amor
.Religião
.Política
.Sexo
Preparação
Num tabuleiro untado de alegria e polvilhado com boa vontade, junte a honestidade à lealdade; Acrescente a tolerância e misture bem. Quando o forno estiver quente, adicione o diálogo e deixe cozinhar em lume brando.
Enquanto a amizade coze, pode tratar de outros assuntos. Se o prato se queimar, não se preocupe, com ingredientes de qualidade recupera-se o prato rapidamente e, não raro, apura.
Apresentação
A gosto
Servir sem moderação e sempre que sintamos apetite.
Bom apetite ! ! !

Nota : Não congele nunca o prato. Mantenha-o morno em banho maria para que o sirva sempre que apeteça.

2007-05-03

Da curiosidade...


aqui

Gosto pouco de extremos. Qualquer posição extremada é meio caminho para o preconceito, feito em parte de medo e noutro tanto de desconhecimento. Assim também em relação à sexualidade: seria saudável conseguir apreender sem esforço o fascínio do corpo do outro, apenas enquanto corpo, ou apreciar a pessoa enquanto tal, cobiçando-a por inteiro. E, no entanto, penso que não tenho em mim uma única grama de ambivalência no que toca à sexualidade. Sou – mesmo que me faça alguma confusão sê-lo assim – extremadamente heterossexual. O corpo masculino fascina-me, inebria-me. O feminino causa-me por vezes inveja, quase sempre aversão, algumas vezes um deleite intelectual face à evidência da harmonia curvilínea. E, no entanto, é no corpo angulosamente masculino que encontro a potência que me impele.

É por tudo isso que sou profundamente curiosa em relação às opiniões que divergem ou completam a minha. É por isso que gosto de ler blogues que falam de sexo sem tabus. E será por isso também que vou seguir com interesse a rede de interligações que a Maria Árvore resolveu despoletar com uma corrente blogueira especial. A ver…

2007-05-02

Lembram-se de eu falar do ex-gajo da gaja?




Ao contrário da mocinha – que assassina o final de "just like honey", na reunião dos Jesus and the Marychain – Jared Leto até que se safa. E eu cá acho-o muito mais apetitoso do que ela, claro :)

2007-05-01

Maias



Para que haja fartura...



(e, já agora, para ver se o bruxedo vai embora, que gosto pouco de muitos azares seguidos)