2008-01-31

Das datas


aqui

Ao cimo da antiga Rua de Santo António, depois chamada do 31 de Janeiro, fica a Igreja que dá nome à freguesia onde nasci.



(oh manhã distante e breve, de que já quase nada sobra da ousadia!)

2008-01-30

Dias...



Há dias em que acordamos com um sorriso nos lábios e quase nos sentimos idiotas por uma parcela de felicidade roubada na ocasião.

Há dias que compensam outros tantos dias. Dias em que não pedimos licença para a alegria, da mesma forma que os dias tristes se instalam sem pedir perdão.

Há dias em que quase apostamos, caso fossemos capazes de recordar os sonhos, que andamos a dançar no Paraíso toda a madrugada.

Há dias (quase) perfeitos. Dias em que o meio da semana não nos pesa. Dias em que estamos de bem com a vida.

Há dias em que me sinto feminina e isso me vai muito bem...



(já tinha dito que vou ver os Portishead?)

2008-01-29

Pronto, este é para ti!



(devias saber que este pedacinho do éter responde sempre)

ego-coisas

You Are Jean Grey

Although your fate is often unknown, you always seem to survive (even after death).
Your mind is your greatest weapon, literally!

Powers: telepathy and telekinesis, the ability to project thoughts into the mind of others, communication with animals


Visto na Viajante.

2008-01-28

A cavalo dado... (ou quase)


aqui

Livros a cinco euros? Gastei uma fortuna! É que por maior que seja a merda escrita, serve lindamente para alturas de aperto…

Analfabetismo


desenho de Almada Negreiros

Critiquem à vontade o SNS que, desta treta toda, o que me choca mais é aquela gente nem sequer conseguir elaborar uma frase com nexo de forma a garantir socorro.

Ena tantos!



Algures, este fim-de-semana, um visitante perdido fez a Voz ultrapassar as 100 000 vistas. Obrigada a todos os que ajudaram a fazer esse número!

Eu não assobio génios!

2008-01-27

Apre!


aqui

Outro que se foi tarde e impune.

Dúvida


aqui


eu gosto quando te espraias assim Hipatialudovia, peito cheio, olho brilhante e as veias dilatadas.
JP


Porque será que as pessoas gostam mais de me ler irritada, tecla em riste, palavra incendiada?

2008-01-25

Parabéns!



Here comes another winter, of long shadows & high hopes,

Here comes another winter, waitin for utopia,
waitin for hell to freeze over.



Já lá vão quatro, caramba!


E mais os outros todos antes, claro :)

2008-01-24

Oh gente fraquinha!



Nunca como hoje tive tanto a certeza de que o sexo forte é o meu: calcorreei quilómetros a pedantes por caminhos de cabras com um gajo a tiracolo e, ao fim da tarde, ele estava em bem pior estado do que eu. E eu tinha os saltos altos!



(Pronto, agora que desabafei, vou dormir!)

2008-01-22

Crazy little thing...



Oh Vague Maria, qual foi a parte do It em que não percebeste que te estava a responder ao(s) desafio(s)?

Grunft!

E ainda queres uma definição? Pois eu digo-te que o amor não se rege por palavras, pelo desassossego da multiplicidade de sentidos, do caos babélico à espera de interpretações; é nos gestos mais pequenos que o medimos sempre, na sublime intimidade muda que explode numa cacofonia de significados.

E também me recuso a só escrever duas linhas, ora.

2008-01-20

Gather round the lords and princes (*)


aqui

If both the spheres of conscience are once again clearly distinguished among themselves under their respective methodological profiles, recognizing both their limits and their respective rights, then the synthetic judgment of the agnostic-skeptic philosopher P. Feyerabend appears much more drastic. He writes: “The church at the time of Galileo was much more faithful to reason than Galileo himself, and also took into consideration the ethical and social consequences of Galileo’s doctrine. Its verdict against Gaileo was rational and just, and revisionism can be legitimized solely for motives of political opportunism.”
(…)
It would be absurd, on the basis of these affirmations, to construct a hurried apologetics. The faith does not grow from resentment and the rejection of rationality, but from its fundamental affirmation and from being inscribed in a still greater form of reason …

Cardinal Joseph Ratzinger
"The Crisis of Faith in Science"
March 15, 1990, Parma



Volta e meia sou obrigada a olhar para o umbigo – coisa que até faço com alguma regularidade, convenhamos – e pensar até que ponto seria capaz de aceitar uma qualquer posição, mesmo que a mesma me dê a volta ao estômago. Ora, eu não gosto deste Papa que sucedeu a João Paulo II. Não gosto de quase nada do que tem feito, dos retrocessos evidentes que lhe encontro em direcção a padrões de fundamentalismo que pensei que o Catolicismo estaria paulatinamente a abandonar, desde as missas de costas voltadas para os fieis, passando pelo facto de me ter chamado terrorista, acabando no canto gregoriano. Não que tenha alguma coisa contra o canto gregoriano, ou sequer o Latim, mas parece-me estranho que o chefe da ICAR se empenhe em transformar as celebrações de fé em algo em que os crentes permanecem alheados, como que meros espectadores do evento, em lugar de envolvidos e participativos no mesmo.

Acontece, porém, que há outras "questões de fé" que me parecem ainda mais pertinentes neste assunto, nomeadamente a "fé" que temos de colocar em todo o processo de investigação e debate científico. Tentar pôr os factos da ciência longe do seu contexto é tão errado como coarctar o diálogo e fazer ouvidos moucos às opiniões dos outros. A ciência, mesmo que tente fundamentar-se sempre na segurança das ideias comprováveis, não deixa de, em cada momento histórico, ser praticada por quem habita um grande corpo teórico de ideias – um macro-ideário, se assim se pode chamar – que afecta necessariamente quem a pratica. Nenhum cientista vive fora da época em que lhe calhou viver e, a esse nível, também não pode descartar liminarmente todos os pressupostos e, especialmente, todos os preconceitos que a vivência social lhe impõem. A racionalidade absoluta é um mito quando lidamos com seres humanos, mesmo os que se pretendem mais afastados de tudo o que não é empiricamente comprovável. Como nos pressupostos de Thomas Kuhn, de que as revoluções na ciência acontecem de facto, mas apenas quando todos os factores se juntaram para permitirem uma real alteração paradigmática no esquema subjacente à própria forma de pensar.

Ora, descartar Bento XVI como se fosse personagem pertencente a um tempo diferente, um tempo em que ainda se acreditava que a Terra é o centro do Universo e tentar ostracizá-lo por ter feito a defesa da Igreja na questão de Galileu perece-me profundamente perigoso. Primeiro porque, como se viu, as Relações Externas do Vaticano rapidamente transformaram o Papa em coitadinho e toda a crítica desabou sobre os cientistas; depois, porque se esqueceram que a ciência se fundamenta no debate e não no cercear de opiniões e, em lugar de provarem Ratzinger – que é um investigador, um cientista, coisa que muitos se apressaram em esquecer – errado, levaram todo e qualquer debate para questões pequeninas de lutas de certo e errado. Ora, em ciência, não basta dizer se algo está certo ou errado; há que demonstrá-lo. Pior ainda, há que demonstrar o erro, mas assumindo também que a nova demonstração é permeável ao erro e que nenhuma verdade é imutável.

As verdades imutáveis são questão de fé e não questões de ciência. Que os cientistas se tenham deixado enredar na provocação do então Cardeal e, tantos anos depois, ainda não tenham conseguido separar as águas, evidencia-se-me assustador. Parece-me evidente que o actual Papa usou todos os seus dotes de investigador para expor de forma "científica" as suas premissas. Terá, também, como qualquer um, direito a defender a sua tese. E, se quer colocar a sua tese a debate, ficará sujeito ao escrutínio dos seus pares e caberá a estes refutarem a tese e, se assim for, prová-la errada. O erro cai assim sobre quem se esqueceu do método científico e, convenhamos, neste assunto em particular, não foi nem o Vaticano nem o Papa que o esqueceram. Na ciência não há deuses, não pode haver deuses. Nem mártires. Ou então tudo se resumirá a um confronto de fés, pelo que o paradigma manter-se-á imutável e sem avanços, perdido numa qualquer discussão inconsequente sobre o sexo dos anjos.

O Papa ganhou esta batalha, mas só porque os supostos cientistas o deixaram ganhar. E ganhou porque os tais cientistas se predispuseram a uma posição retrógrada, a mesma que pareceria fácil de apenas apontar à Igreja Católica. E lá se foi o que poderia ser uma profícua discussão. É que o heliocentrismo é tão só um outro paradigma, como antes o foi o geocentrismo. Não vale esquecer isso.



______

(*) verso de Black Easter, Sol Invictus

Encontrei a citação da tradução inglesa da conferência do Cardeal Ratzinger no
...bl-g- -x-st-

2008-01-19

It?


aqui

Tem de haver uma certa luta, um certo confronto homem/mulher, macho-fêmea, um certo it!

Vague


A Vague fala em "it" e eu não faço ideia do que seja um "it". Acho que é coisa que não se descreve. Que "it" procuro eu num parceiro? Não procuro: ou está lá ou então será tudo menos um parceiro.

Um parceiro tem de ser um amigo, disso não tenho dúvidas. Mas um amante pode ou não ser um amigo. Talvez porque dependa do que queremos amar e como amar. E ama-se de muitas maneiras, até para não amar de facto.

Não faço ideia como acontecem as coisas. Sei que amo profundamente o meu melhor amigo e no entanto não tenho um pingo de desejo por ele. A esse nível, aliás, causa-me quase repulsa, o que é muito estranho, mas é o que há. São os cheiros errados, por exemplo. Quando me obrigam a pensar nestas coisas, assumo que o meu nariz é que tem a culpa. E não tem nada a ver com confronto, ou ausência dele. O meu nariz é pacifista.

Mas também acontece que, em determinados momentos, por motivos estranhos, um amigo passe a ter o tal "it". E os cheiros mudam. Nada é definitivo. Nada é a preto e branco. Nada permanece espartilhado.

O "it" talvez seja um piano que nos cai em cima da cabeça. Às vezes acontece. E acontece normalmente quando não estamos à espera, que é para nos balançar o mundo. Mas, se o procurarmos demais, cai de certeza em cima da cabeça do vizinho.

2008-01-18

Ah! As excepções...


aqui

O artigo 4º da lei diz que é proibido fumar numa série de locais, entre os quais os recintos de diversão e destinados a espectáculos de natureza não artística, inscritos na alínea l). Mas o número 5 do artigo 5º prevê várias excepções, nomeadamente para os espaços de animação inscritos na referida alínea l), permitindo o fumo em áreas "expressamente previstas para o efeito", desde que obedeçam a três requisitos: sinalização, ventilação que evite que o fumo se espalhe às áreas contíguas e ventilação directa para o exterior através de sistemas de extracção de ar.

Acontece que o número 5 engloba não só as discotecas, como os órgãos de soberania, centros comerciais, feiras, aeroportos, estações ferroviárias, locais de trabalho, estabelecimentos de ensino (desde que tenham alunos com mais de 18 anos), lares e salas de espectáculo - que podem agora exigir tratamento igual.

DN Online


Fantástico, pá! Já quase não é preciso lei.

Desnorte


aqui


O grau de loucura vai aumentando paulatinamente enquanto permaneço fechada em casa. Ontem, até fiz uma Feijoada à Transmontana.



(por acaso ficou muito boa…)

2008-01-16

Caligrafia



Os meus dedos tacteiam o teu corpo como penas, desenhando no cálido da tua pele os caracteres com que te dedilho a suor e desejo. Escrevo-me em ti. Obcecada. Cabeceio nos teus braços. Como-te com os olhos, com os lábios, com a língua, com os meus dedos que ainda te escrevem, se tatuam na tua pele, depenam-te de mansinho os pêlos que se irisam por entre as minhas impressões digitais, agora letras. Letras vermelhas. Ou então cor de fogo, não fosse esta febre, esta quase loucura, que me sorve, sorvendo-te até não sobrar nada. Ou até começar um novo exercício de caligrafia…



(este post andava perdido por outros espaços; agora está onde faz sentido)

A Cachupa



Conto em Crioulo de Cabo Verde, contado por Miguel Horta.


(tenho saudades de ver os teus textos - e os teus desenhos - aqui na Voz, Gaivina)

2008-01-15

Abundância


Rubens

A nossa sociedade da abundância deixou de saber comer. Isso parece-me evidente. E temos em oposição padrões de beleza escanzelados, quando a norma é o excesso de peso, da mesma maneira que há uns séculos atrás, quando a norma eram os esfaimados, os pintores retratavam madonnas roliças. A gordura não é formosura. E é demasiado perigosa para não ser levada a sério. Mas, no extremo oposto, ver modelos a morrerem esfaimadas porque a moda lhes diz que assim é que são bonitas também não me parece saudável. É todo um mundo de excessos: vai de um lado ao outro da escala e parecem-me ser as duas faces de uma mesma moeda de desordens alimentares e desequilíbrios profundos que só fazem sentido numa sociedade que tem demais.



aqui

Elos


Amapola - Sergio Padura




Há certos laços que me recuso a perder. Mesmo quando os nós se esfiapam por entre o tempo que passa e as novas que não chegam. Como o laço que quero ainda preso ao menino da voz bonita, de que tenho tantas – mas mesmo tantas! – saudades.

Parabéns, PN!

2008-01-12

Loirices




Está um loiro na televisão que faz umas covinhas lindas na bochecha quando se ri. Decididamente, o filme é uma treta. Mas aquele sorriso não me deixa mudar de canal.



(estou tão farta de estar fechada em casa!)

2008-01-11

6 anos

(Clicar para assinar.)




They haven't departed.
They haven't gone home.
The trials haven't started.
No evidence shown.
They don't get no visits.

They don't get no calls,
and nobody tells them nothing at all.

The headphones and the blindfolds,
the days and the weeks.
The overalls of orange,
the manacled feet.
A Kafka-esque nightmare.
A legal black hole.
A corner of Cuba
named Guantanamo.

The warmongers tell us
they gave up their rights
when they attacked us
and our way of life.
Oh but our way of life
depends on the law.
On liberty and freedom
and justice for all.

Well they talk about justice in the US of A.
It's the land of the free and the home of the brave.
Yeah, but outside of America anything goes.
From Bagram to Abu Ghraib
to Guantanamo.

In 70's Ulster the government thought
if they locked up the suspects
the terror would stop.
But all that internment actually did
was provide the Provos
with more angry kids.

Oh but sometimes I wonder if our leaders really care?
They rely on these demons to keep people scared.
And unwilling to question the fate of those poor souls
who lie rotting in the cages of Guantanamo

Try them or let then go.
You gotta try them or let them go.

The Divine Comedy - Guantanamo


As roupas mudaram de tom, as fotografias agora são a cores… Mas um campo de concentração não deixa de o ser só porque a cosmética é diferente.



(o banner para a petição da A.I. encontrei aqui)

Cingel II

.
(…) and that government of the people, by the people, for the people, shall not perish from the earth.

Abraham Lincoln, The Gettysburg Address


É nosso direito protestar contra esta democracia franzina e raquítica, mas apenas enquanto exercermos os nossos deveres de cidadãos. E para o fazermos não precisamos apelar à velha lógica dos bufos de antigamente, agora com direito a sítio para queixinhas electrónicas ou chamadas para a polícia à conta de cigarros.

É exigir que todas as leis sejam sempre cumpridas, que nenhum crime prescreva, que todos recebem assistência quando em necessidade, que todos são iguais, não importando sexo, cor ou credo. É exigir que as contas públicas sejam tornadas públicas, que os dossiers não se escondem nas gavetas, que ex-ministros não fotocopiem segredos de gabinete. É esperar que as promessas eleitorais sejam cumpridas ou esperar que seja muito bem explicada a conjuntura que alterou a rota. É saber que o último dinheiro que a UE vai enviar para esta choldra não é usado ao desbarato em empreendimentos de fachada, estranhamente próximos do sítio do costume e deixando para o interior as estradas feitas à pressa e mal amanhadas, onde todos os dias morre gente. É pedir e ter explicações sobre a prostituição instituída entre política e capital e ver os caciques que se acham acima da lei a não poderem valer-se da lei para não prestarem contas dos seus mandos e desmandos. É não continuarmos a ler sobre grandes negociatas e conseguirmos seguir a árvore genealógica do poleiro. É ver a máquina fiscal a funcionar sem medo quando se aproxima dos grandes capangas. É saber que teias e redes de tráfego de influências são desmanteladas e que os políticos são penalizados por negociarem "jobs" para os seus "boys" já sem vergonha na cara. É saber quem paga a quem e que fazedores de opinião estão na lista de ordenados de quem.

E é, depois de ver isto tudo, exigir que alguém responda, nem que para isso seja necessário impor uma mudança que nos faculte o acesso directo a quem senta o cu na A.R. a dizer que nos representa, para haver um nome e uma cara, em vez de apenas uma grande manada indistinta.

Não podemos continuar a ser um povinho miserabilista que só sabe chorar-se. Em sociedade, todos os direitos implicam iguais deveres. Até o dever de não esquecer que, mesmo quando os politiqueiros de profissão acham que podem mandar e desmandar, ainda há o direito do povo de dizer basta. E um dia destes, se o povo parar de apenas queixar-se, talvez baste de vez.

Resident Evil


aqui

É no deserto! Já disse que é no deserto e acabou a conversa!

2008-01-10

Que amiguinha!






Uma amiga ofereceu-me isto via Hi5. Como passei a passagem de ano com ela e ela me ouviu tentar cantar no Karaoke, não me espanto nada :)))

2008-01-09

Parafraseando




Olha-me e entra pelos meus olhos. Diz-me que não te atemoriza a densidade do negrume nem te espantam súbitas explosões de luz. Que as nuvens e a brisa te são próximos. Que ancoraste a alma, e prossegues mesmo quando sopram dos vendavais.

Olha-me e revê a tua imagem. E diz-me que fincas os pés no chão, entre malhas de relva molhada, e resistes ao desalento e à incerteza. Que a terra te passa a força dos abetos e estás certo de que se pode ir mais, muito mais além.

Olha-me e mergulha além das lágrimas. Diz-me que te aguentas em mares revoltosos e não soçobras na lisura de lagos. E diz-me que não temes fantasmas nem assombros, que não recuas nos pântanos nem te escondes sob o quotidiano.

Olha-me de soslaio e vira o rosto devagar. Como quem se assegura do que vê. E diz-me que as labaredas te envolvem sem dano, que o calor te assalta e arrebata. Que procuras insólitas não desalentam nem desincendeiam.

Olha-me de frente e fecha os olhos. Diz-me que me continuas a ver. Ou melhor, não digas nada e abraça-me devagar como quem desliza para si, fundindo todos os elementos.

Viajante - Olha-me

A Viajante tem sempre uma forma de poisar o olhar nas minhas palavras que me deixa perplexa. E orgulhosa. Hoje olhou para o "vem..." e viu assim. Não está um espanto?

A malinha roxa

aqui




Quer dizer que se fosse vermelha já podia ser?

Cingel


aqui

À conta de não haver referendo ao Tratado de Lisboa já li dos maiores absurdos que alguém pode proferir. Chega-se ao ponto de, para fabricar um ponto de vista, se provar que se tem memória de galinha quando se queria mostrar memória de elefante. E a resposta à perguntinha de se teria havido maioria para o PS se o programa de Governo não prometesse o referendo ao novo tratado, é sim: ninguém queria saber do novo tratado naquela altura, nem sequer se seria referendado. O pessoal queria era livrar-se de Santana Lopes e de Paulo Portas o mais rapidamente possível. E, por mais que custe a tanta gente que Jorge Sampaio tenha acabado com aquele governozinho de anedota que nem sequer tinha ido a votos, o certo é que a maioria para o PS veio menos da competência e das promessas apregoadas do que do fartos e enojados que todos andávamos com os desvarios da coligação PSD-CDS. Custa? Ah pois custa! E ainda deve custar mais o medo com que se fica por um José Sócrates mentiroso poder permanecer no poleiro. Mais uma vez, não tanto pela competência, muito mais pelo desnorte e inépcia das alternativas.

Querido dia de anos



Parece que há uma versão nova comemorativa dos vinte e cinco anos. E eu que até faço vinte e cinco anos (mais os outros todos que agora não vêm para o caso) estou aqui de bracinhos abertos à espera. Não me falhes, dia de anos! É em Março, lembras-te?

2008-01-08

Vem...


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Wash my face in fields of green
Take me to the stars for free
Point me to the high wire call
Wake me true and wake me all


Olha-me bem nos olhos e diz-me que me vês ainda. Diz-me que mergulhas no verde como se o verde dos campos na Primavera aquecesse este frio cinzento do Inverno que se arrasta. E leva-me para o quente castanho dos teus olhos. Deixa-me que te veja ainda, pintado das cores do Verão que se arrasta nos ocres perfumados. Vem aquecer-me e deixa que o meu calor te percorra. Amarra o teu peito ao meu e leva-me para as estrelas. Leva o frio. Leva-o! Estou dormente, enrodilhada. Alisa-me o corpo e fá-lo esquecer que é Inverno. Acorda-me! Leva-me às estrelas e acorda-me toda, por toda, para além das bordas frias do meu corpo de Inverno frio e dormente. Lava-me as lágrimas que escorrem de prados verdes. Deixa que o estio lhes ensine o calor dos castanhos com que me vês. E voemos juntos, para onde nem as cores importam: veludo negro que nos envolva, num casulo de calor. Se me indicares o caminho, sigo-te até ao Paraíso. Ou levo-te comigo. Vamos?

2008-01-06

Gueto

As coisas podem nunca parecer o que elas são
E é por isso que tu vais engolindo toda a droga que te dão
E se um dia fazes ondas de mais, tiram-te a ração...
A bem da nossa civilização

Jorge Palma – A Bem Da Nossa Civilização



JPT não se indigna contra a nova Lei do Tabaco; nem sequer questiona a validade de vários pontos da lei. Não é sequer essa a questão que incomoda JPT. Nem a mim. Parece-me legítimo que o meu fumo não incomode a liberdade dos outros de não fumarem. Sempre me pareceu legítimo, aliás, que espaços fechados estivessem equipados com mecanismos que evitassem a concentração de fumo. Quantos de nós, por exemplo, já não acordaram na manhã seguinte a uma noite de copos enojados com o cheiro que se desprende dos cabelos e da roupa, prontinha para ir lavar?

Mas, se a liberdade dos não fumadores foi cerceada durante demasiado tempo, temos agora o oposto e são os fumadores que perderam quase toda a liberdade. Os absurdos desta lei mais papista do que o Papa são evidentes, desde as prisões onde se pode continuar a meter veneno para a veia, mas não um bocado de fumo para os pulmões. Aliás, nem sei bem o que me parece esse absurdo: eu recusei sempre o uso das drogas ditas duras, mas nunca vi mal algum em se fazer um muito agradável charro. E os charros sempre os fiz e vi fazer misturados com tabaco. E em forma de cigarro. Será que se podem fumar charros nas salas de chuto?

Nunca questionei que, quando me metia num avião, os cigarros deviam estar no fundo da mala e que era suposto aguentar-me sem eles até ao fim da viagem. Nos comboios, mesmo quando o Alfa ainda nos dava uma carruagem para fumadores, sempre optei por um lugar numa das outras. E aguentei as viagens. Como não fumo nos táxis, nos autocarros, nos metros, nos carros de não fumadores, nos hospitais, nas clínicas, nos tribunais… Não é fácil, mas aguenta-se. Sempre se aguentou.

Os restaurantes e os cafés sempre foram sítios onde fumei. Aliás, como muitos, tive sempre o vício de juntar ao vício do cigarro, o vício dos cafés e o das conversas. E ficar sem esses espaços vai custar-me mas, mais uma vez, aguenta-se. E até se entende: não havendo mecanismos para exaustão do fumo, era eu que cerceava a liberdade dos outros e até a saúde dos outros.

As discotecas e os bares, por outro lado, já me parecem sítios mais estranhos: tirando aqueles que criaram espaços para fumadores, nos outros todos poderemos continuar a ver putos cada vez mais novos a chegarem ao coma alcoólico ou a meterem pastilhas atrás de pastilhas, desde que não caiam no pecado de acender um cigarrinho. Lei estranha…

Mas o que me revolta mesmo é o facto de todos os fumadores, que vão continuar a suportar o Estado com os impostos absurdos que caem sobre os cigarros – e não vejo ninguém a tentar proibir de vez a venda do tabaco, que acabava a galinha dos ovos de ouro fiscal – sejam remetidos para guetos. Ou então pura e simplesmente esquecidos. Como nos aeroportos. Sim, que entre o check-in e a viagem propriamente dita, mais o desembarque e a espera pelas malas ou os atrasos sistemáticos nos voos e nas ligações, ninguém se lembrou da porcaria de uma sala para fumadores. E, convenhamos, se a lei é para cercear a liberdade de todos os que são viciados em tabaco, então que o diga claramente. Se é para proteger apenas os outros, que não faça de conta que os que fumam não existem e não merecem ter espaço(s).

Já agora, se queremos copiar os exemplos alheios, que se olhe para eles com atenção. Veja-se a Irlanda: a lei do tabaco não reduziu o seu consumo. O consumo apenas diminui quando as terapias passaram a ser comparticipadas. Uma breve análise ao custo de medicamentos, pastilhas, tratamentos vários, dirá a qualquer um de nós que fica mais barato continuar a fumar. E em tempo de apertar o cinto, até aos pregos se fazem contas. Aliás, quantos têm presente que este é um hábito que causa mais dependência do que uma droga dura, mais ainda do que a heroína? Provavelmente não os mesmos que legislam sobre salas de chuto, mas proíbem os cigarros.

Vamos lá assinar a
petição que não é bem uma petição que o JPT lançou. Se eu, fumadora, tentarei não cercear a liberdade de todos os que não estão viciados nesta treta, então respeitem a minha liberdade também, dando-me mais do que o céu, a chuva e o frio para poder ainda acender um cigarro. Gueto sim – já estou preparada para ele – mas com um mínimo de condições!



(E que se acabe com as legislações paternalistas, porra! Ou daqui a uns tempos, à conta das DST, já nem o refrão do Abrunhosa nos sobra e já não há sequer o "e agora o que vamos nós fazer?/ talvez foder, talvez foder".)

Desculpem, mas não resisto!


aqui

2-0! Tão lindinhos, os meus gatinhos!

2008-01-02

Oily Life




and this is no dream
just my oily life
where the people are alibis
and the street is unfindable for an
entire lifetime

Anne Sexton - 45 Mercy Street



Costumo gostar das mudanças de ano. Na prática, significam quase nada, mas todas as barreiras - até mesmo as barreiras no calendário -, conseguiram sempre despertar o meu lado mais desassossegado, aquele que encontra sempre força e vontade para ser do contra e ir ainda um bocadinho mais além. Mas este ano estou espartilhada entre todas as perspectivas que se abrem e a certeza de que tudo vai apenas continuar. Tirando a parte que ainda vai ficar pior, claro. E até a optimista que vive em mim treme!

Apeando os santinhos

aqui


Adianta de alguma coisa, num Estado supostamente laico que, sistematicamente, esquece que há mais confissões religiosas e que muitos nem sequer têm alguma? E depois ainda há as "virgens ofendidas" a saltarem logo em defesa do nome das escolinhas, coitadinhas. Como se houvesse mal em, por uma vez, alguma coisa neste País de treta ser mesmo laica, ou pretenda ser. Convenhamos que é mesmo demais para alguém como eu, que nem sequer acredito na virgem. Até por uma questão de lógica: se Deus é assim tão magnânimo e resolveu pôr uma mulher a parir-lhe um filho, pela certa terá havido orgasmos múltiplos de proporções cósmicas. No mínimo! O Paraíso sempre se fez de mais do que anjinhos barrocos em contemplação e sem serventia...