2007-12-29

Sejam felizes!




Deitar fora coisas velhas nunca fez mal a ninguém. É a reciclagem, carago!

Parabéns, miga


aqui



Little children snuggle under soft black stars
And if you look into their eyes soft black stars
Deliver them from the book and the letter and the word
And let them read the silence bathed in soft black stars
Let them trace the raindrops under soft black stars
Let them follow whispers and scare away the night
Let them kiss the featherbreath of soft black stars
And let them ride their horses licked by the wind and the snow
And tip-toe into twilight where we all one day will go
Caressed with tendrils and with no fear at all
Their faces shining river gold washed with soft black stars
And angels' wings shall soothe their cares
And all the birds shall sing at dawn
Blessed and wet with joy You and I will meet one day
Under a nightsky lit by soft black stars




Mesmo no meio das correrias dos restos da mala que ainda não acabei de fazer, tinha de parar e vir por aqui. É que de alguma maneira, por estranho que te possa parecer, és sempre a minha estrela-guia por estas bandas. E mereces sempre que venha.

Depois, tinha de aproveitar a ocasião para postar na Voz esta musiquinha...

2007-12-21

I'm booked!



Boas Festas a todos os que por aqui passarem e, especialmente, para todos os que tendo por aqui passado continuam a vir :)

Encruzilhada


Blue Ice


Hoje de manhã o frio mirrou-me toda. Ando mirrada, encolhida. Bato o dente, esfrego as mãos, atrevo-me até a um "Parabéns, Old Man" irónico ao fulano da bomba de gasolina, todo contentinho no seu fatinho de flanela vermelha e barbas postiças de qualquer coisa parecida com algodão branco sujo. Sorte a minha, que não preciso fazer tal figura e, no entanto, penso na figura que faço, toda encolhida, mirrada, a bater o dente. E a imagem do tipo da bomba de gasolina vestido do gajo da coca-cola, persegue-me como um balão de BD onde apenas cabem reticências. E juro que deve ser do frio e da falta de um café bem quente, que isto de ter um balão de BD a foder-nos o juízo logo pela manhã não ajuda nada a começar o dia. E também deve ser por isso que me atiro ao trânsito num trejeito gingado, como se fosse uma forma de kung-fu acabadinha de inventar pelo meu eu mais alucinado, aquele que acorda primeiro, especialmente se faz frio. É que está mesmo muito frio e eu estava muito bem na cama e estes tiques natalícios cheios de luzes e anjinhos e embrulhos e anjolas e mais não sei quanto que sai da carteira para comprar o presente que falta, deixam-me a suspirar pelo prémio que até sei que vou ganhar mas que, perante a filhadaputice do tempo e do Sócrates e de toda a corja que o acompanha, mais os Bancos Centrais e as centrais dos bancos e as taxas e o raio que os parta, vai desaparecer para cobrir o buraco na conta mirrada, encolhida, que é tudo o que ainda sobra do mês que começou a 25 e se vai finar amanhã, prometendo um Janeiro comprido, muito, muito comprido.

Só a mim! A quem mais para estas tretas atazanarem os miolos ainda antes do café ser engolido e fazer efeito? E puxo do cigarro, que o carro afinal não é espaço público e, mesmo a tentar deixar de fumar, vejo cada vez mais a cabrice da Tabaqueira e a chulice do Estado, arrebanhado aos impostos que me leva, que continuará a levar, pelo menos mais um ano até que o ano das eleições traga por fim algum alívio, como se voltasse a ser possível dizer "olá, segunda-feira" sem um ponto de interrogação e com um sorriso e sem estar sempre com esta corrente de ar em mim e nos bolsos e mirrada, muito mirrada, cada vez mais encolhida sob uma carga de trabalho, que é a única coisa que ainda me querem dar em excessos cumulativos e até com nova legislação para legitimar o chulanço nacional ao abrigo de uma tal de flexibilidade genuflexória onde ficamos todos com o cuzinho ainda mais a jeito e onde não se vê corno de segurança alguma. E acabo a acrescentar a imagem de um cacique ao pagode nacional que já vai fazendo companhia às reticências que me continuam a infernizar o juízo, enquanto continuo com frio e a precisar de um café com urgência e deito fora o cigarro, enojada com o gosto seco e acre. E olho pela janela e vejo as outras caras e toda a gente demasiado encolhida. E o trânsito complica-se e acabo e chamar palavrões a todos os cromos a quinze à hora a pararem em segundas-filas para se livrarem de criancinhas ranhosas e cheias de frio, prontas para irem treinar mais um bocadinho para nada saberem achando que sabem muito, tirando a parte em que aprendem a dar cabo dos cornos aos professores, mas isso nem o DIAP as convence a admitir que aprenderam.

E continuo com frio enquanto espreito os fedelhos ranhosos e, dentro da minha cabeça, já há um balão de BD tamanho XXL onde agora cabe de tudo, por entre o mau humor que se instala, enquanto desato a fazer filmes de um voyeurismo preocupante acerca da vida dos outros. É que assim talvez me esqueça da minha…



Era assim, Fábula?

(Fica o desafio em aberto para quem o quiser apanhar. Não me apetece encarreirar este post com tanto fel a ninguém, a não ser que me apresentem declaração expressa de imunidade à coisa.)

2007-12-19

Uma forma de Kung-Fu?


Miya Yoshi


Isto de deixar passar mais um aninho na blogocoisa até faz arranjar nome novo e tudo...


(A ver se não me queimo por só me ter (mal) lembrado hoje do aniversário de ontem)

Um prémio :)





Com esta não estava eu a contar! Então não é que a Emiele resolveu dar um prémio à Voz? Mas será mesmo que sou assim tão livre quando escrevo? Às vezes penso que já não.

Quando comecei o blogue, sentia-me profundamente livre: estava a fazer uma coisa que gosto, dizia o que me apetecia, falava do umbigo e para o umbigo, não tinha grandes preocupações.

Depois, o meu tema favorito (i.e., eu) foi-se esgotando e acabei por me abarbatar também a outros assuntos, com algumas pernadas à política, ao futebol, à sociedade e até àquele tema a que nenhum blogger resiste chamado blogosfera.

E, no entanto, sempre me senti tão mais livre quanto mais distante ficasse dos temas mais mediáticos. Talvez porque estes sempre me pareçam muito de mastigar e deitar fora, com prazo de validade pespegado e rapidamente esquecidos. Mas talvez as pessoas se lembrem, por exemplo, dos meus textos sobre a IVG…

Eu gostaria de ter sido capaz de escrever posts indeléveis, que não estivessem necessariamente colados a um tema específico, datado e passado. Gostaria de ter sido capaz de dizer algo que todos recordassem quando se lembrassem um dia que houve um blogue chamado Voz em Fuga e, nele, uma mulher que escrevia por gosto. Talvez nunca tenha nem engenho nem arte para tanto, mas não custa sonhar, não é?

As minhas opiniões serão um reflexo de mim, disso não tenho dúvidas: anseio cada vez mais por liberdade enquanto parece que é coisa que cada vez mais falta me faz. Todos estamos presos de algum modo à vida que nos tem, nos carrega e nos sustenta. E crescer é aprender a viver com amarras e a criar amarras. A liberdade talvez seja o tanto de disponíveis que ainda ficamos para a vida depois de saldadas todas as contas, cumpridos todos os horários, picados todos os pontos. E, nisso, depende dos dias: uns melhores, outros piores e, no fim de cada ano, não resisto a olhar para trás e fazer uma pequena análise do bom e do mau. Apesar de tanto e tanto, não têm sido maus os resultados destes balanços pessoais.

E entendo a
Emiele quando fala dos pequenos círculos onde, em proximidade relativa, muitos de nós se movem ainda. Mas quando se fazem amigos, não é facilmente que os deixamos partir. Talvez por isso me custe ver cada vez mais vozes silenciosas.

Assim, é reconhecendo as minhas proximidades e os meus laços - e não os querendo quebrar ainda - que nomeio blogues que me ajudam a continuar por cá em cada dia que ficam também mais um dia, dando-me o prazer de os continuar a ler:

-
I. (para continuar a ter um ponto de paragem obrigatório e alguém que diz bem melhor tudo o que me apeteceria dizer; é que é sempre bom premiar a liberdade dos outros quando é tão parecida com a nossa, certo?)

- Fábula (pela tenacidade e vontade que ainda transmite em cada texto, mesmo quando reclama que não lhe apetece)

- Tozé (pelos desafios e pela conversa numa caixa de comentários; porque nos recusamos a desistir)

- Cap (a ver se deixa de achar que já passou o tempo em que isto tudo eram blogues e nós éramos bloggers e toda a gente tinha muito para dizer. Até quem sempre escreveu uma média de cinco palavras por post)

- Espumante (lá porque a liberdade dele e a minha nunca estejam de acordo, não quer dizer que não possam ser amigas, certo?)

2007-12-18

Só a mim!


aqui

Após três adiamentos de cerca de seis meses cada um, chegou hoje ao fim um processo em que me tinha visto envolvida na qualidade de testemunha. Querem mesmo saber em que Tribunal tive de comparecer hoje às 09:00h? E querem mesmo saber quem é que também andava por lá?

Grunft!

2007-12-14

O cacique


aqui


A sorte é que acredito que quando fizeram o molde do burgesso, aquele partiu-se de seguida; o azar é que continuamos a ter de gramar com o gajo e as tantas atoardas de quem se acha acima de tudo, até da lei.

2007-12-10

Nada de novo...


Imagens de O Fiel Jardineiro

Quando vi O Fiel Jardineiro, foi a imagem daquela criança abandonada, com o cão pela trela, que mais me partiu o coração. Nestes dias de Cimeira de logros, foi desta criança, símbolo de tantas outras, que me lembrei dolorosamente.

Tirando o circo mediático, pouco ou nada se aproveita. O circo segue como de costume. Mas continua sem haver em demasiados sítios o pão para acompanhar, que nisso os Romanos sempre eram mais precavidos e davam de comer por entre o morticínio.

Somos todos cúmplices no silêncio. Tirando os dias de circo, quem realmente questiona quer os benefícios, quer a forma como foram alcançados?

Tudo o resto é palhaçada. Juntam-se os palhaços, dizem umas bacoradas, posam para a fotografia e, no dia seguinte, tudo segue como dantes. Nada de novo no Quartel de Abrantes!

Parabéns, menino!



Deste lado não escapas à beijoca pelo aniversário. Ou pensavas que anda tudo zen, ou quê?


(foi só alterar a data para que "ninguém" visse que me tinha enganado no dia...)

2007-12-07

À minha avó


Desafio Uma Imagem... Mil Emoções



No espaço dessa mão estão as minhas rotas silenciosas; está esta crença que tenho em mim de que repetirei os teus passos de forma nova, mas ainda assim com os mesmos caminhos. Está a evidência genética do que sou, esta coisa em que me transformo enquanto as minhas rugas, ainda tão diferentes das tuas rugas, se vão construindo em desenhos semelhantes.

E está em ti hoje toda a minha noção de eternidade, avó: uma eternidade que cabe na palma da tua mão enrugada; que está nessa essência que sou sendo parte de ti, parte da mãe que pariste e que me pariu a mim; nas pernas que herdei orgulhosa; no formato do corpo, no tom de voz, na falta de mariquices…

Chegasse eu a ter essa mão feita pano enrugado, cinzelada a linhas de história e de crescimento, sei que seria muito parecida com o que és hoje: pequenina, frágil, com medo da morte que é cada vez mais como a vizinha que te pisca o olho todos os dias. Chegasse eu a essa idade, ia querer ter essas mãos sulcadas pelo destino. Chegasse eu à tua idade, queria ter uma palma da mão onde coubesse ainda a família, num retrato desbotado pelo tempo, quando o tempo ainda era medido em mais do que instantes.

É que sei que herdei nos genes isto que me faz tão parecida contigo, mesmo sendo tão diferente. É que sei que a eternidade se mede não num qualquer paraíso que tantos julgam intuir como verdade, mas sim na memória que os outros não querem perder de nós. E uma mão assim sulcada é uma mão eterna: já acariciou e foi acariciada por tanta gente que, ao ser tão amada, será eterna enquanto permanece indelével na memória daqueles que seguraste nas tuas mãos, contra o teu peito, no teu carinho.





(desta vez, respondo ao desafio sem ser desafiada; e amuada por te teres esquecido de mim. Grunft!)

Marcha Virtual



Representantes de 192 países irão se reunir do dia 3 ao 14 de dezembro para negociar um novo acordo internacional contra mudanças climáticas. Essa é a nossa chance de nos fazer ouvir: estamos usando a Internet para criar uma "marcha virtual global" em Bali - e qualquer pessoa se pode se juntar a nós.

Esse sábado, dia 8 de dezembro será o dia internacional de mobilização contra o aquecimento global com uma onda de marchas e protestos que vai tomar conta do planeta.
Se você não puder chegar a Bali, junte-se à marcha virtual - os membros da Avaaz em Bali irão transportar a bandeira e o número de assinantes representando cada país. Só depende de nós garantir que seremos ouvidos.

Para assinar, é seguir o link que está no título do post.

2007-12-05

Da inveja


Donovan Crosby - Blackberry, Envy, 2006

O belíssimo texto (concorde-se ou não com todas as opiniões expressas, apesar das verdades evidentes), que eu nunca teria engenho para escrever.




(No rescaldo de guerras feias, que importaram para a blogosfera tanto do que ali se aponta aos antros de origem de alguns espécimes, soube muito bem ler.)

2007-12-03

Chamem a polícia



Se há coisa com que não me identifico é com as tretas que querem pespegar ao "feminino", género folclórico e mítico de um imaginário que só existe em algumas cabecinhas, com as suas revistas sem conteúdo, mais os cremes e as carteiras e as cuecas e os sapatos e o cabelo e raio que os parta.

Não gosto de ir ao cabeleireiro, não gosto que me mexam e por isso dispenso massagens, nunca tive fetiches nem com pés nem com sapatos e a maioria da roupa foi desenhada a pensar em anorécticas sem mamas, pelo que ir às compras deprime-me.

E também nunca me dei lá muito bem com flexões, pelo que poses lambe-cu também é coisa em que não tenho prática, mesmo pagando tanta vez esta incapacidade crónica para virar capacho.

Depois, eu cá sempre gostei de legos. E de carrinhos de rolamentos. E de trepar às árvores... O pior é que agora tenho de pensar sempre quanto me custa montar cada peça de lego de que o Banco leva uma parte à fatia mensal e sou incapaz de deitar fora qualquer peça, mesmo as que fazem menos falta; e os carrinhos de rolamentos agora precisam de airbags e já não são travados só à força de sola ou pedante descalço; e trepar às árvores é que já não dá mesmo, porque me pesa demasiado o cu.

Deve ser por isso que refilo tanto. Enquanto refilar, ainda me agarro a um pedacinho do eu que fui para não me perder de mim. Além do mais, sou do Porto, o que me dá assim uma costela perto da chinela e, se preciso for, até as mãos deito à cinta para ficar bem povona.

Por isso, acharem que dou € 35 por um jantar merdoso com administradores que se esquecem sempre de quanto pagam a quem está mais abaixo, faz-me andar a refilar há semanas e, sem sorriso, deixo que a tromba refilona lhes explique como estou cheia de vontade de os mandar a todos para um grande, imenso (de preferência, sem serventia) caralho! E não vou. Ponto!

2007-11-27

shhhh!...



São cada vez mais os amigos silenciosos.

Das máscaras


aqui

Nunca há problemas nem com os espelhos nem com as máscaras, desde que não haja vergonha de ainda mirar nos espelhos as caras a descoberto.

2007-11-26

A petição



Temos pelas nossas ruas tantas coisas a serem lembradas, algumas delas que já ninguém sabe porque são lembradas, outras que só foram importantes para aqueles que as mandaram pespegar num qualquer canto, que me espanta que as que deveriam ser recordadas ao "povo de brandos costumes" que, na prática, nunca fomos, continuem escondidas das paisagens urbanas.

Qualquer Nação que não se olha de forma completa, quer para o bem, quer para o mal, nunca terá um retrato real do que foi, do que é e do que quer ser no futuro.

Obviamente, este é o País onde alguns até se lembram de botar faladura sobre o Museu do Holocausto de Berlim. Espero que não sejam da mesma laia os que tardam em erguer uma pequena marca para recordar todos os caídos nos três fatídicos dias de Abril de 1506.

Depois, pode ser que algum dia ainda se fale de outros massacres que, tão convenientemente, permanecem esquecidos e escondidos. Eu não entendo para que serve uma memória amputada. E digo-o aqui do meu Porto, que só permitiu um auto-de-fé intramuros em toda a sua história, apesar de todas as pressões para que houvessem muitos mais: queria a memória perpetuada no palco iníquo onde teve lugar e iria exigi-lo a quem de direito.

Deixo lá em cima um adeus ladino. Por todos os que partiram ignobilmente naquele longínquo mês de má memória.

O link a seguir está no título do post. Assinar não custa nada. E, sendo certo que também não remenda nada, pode ser que, enquanto "costuramos e descosturamos" para corrigir mais um pouco "os panos do tempo", o consigamos fazer com alguma lisura.

2007-11-22

Pedido de reparação de danos


aqui


Minha cara Maria Árvore silenciosa,

Venho por este meio informar que estou com grave problema neste meu espaço, todo da sua responsabilidade.

Tal como a menina sabe, este sempre foi um blogue profundamente anónimo e anódino, um espaço perdido e de poucas e boas visitas. Uma pessoa habitua-se, sabe quem chega, sabe quem vai, vai atrás, perder-se poucas vezes, regressando a casa amiúde, apenas para estar no conforto aconchegante da sua intimidade partilhada para ai com umas cinquenta alminhas com igual propósito na vida, e basta. Afinal, o tempo não dá para mais. Nem a paciência.

Porém, à conta da menina, o meu sitemeter tem estado em profunda excitação, elevando-se duro e rígido às mais de duzentas visitas diárias. E eu, pessoa simples, banal, sem chegar a perceber que tanto buscavam nesta Voz, mesmo quando remetida ao profundo silêncio (que só durou um mês, mas isso agora também não interessa nada), estranhava, estranhava, estranhava...

Fique a menina sabendo que hoje apurei responsabilidades. E são suas. Todas suas. Estou em estado de choque, confesso-lhe. Anda uma pessoa para aqui a escrever como uma desalmada há mais de três anos e quer saber o que mais de três quartos das visitas vêm procurar? Eu digo-lhe! Vêm procurar poucas vergonhas da sua responsabilidade. A saber, estes dois contributos, com especial destaque para estas duas imagens.





Exijo reparação!

Tenho dito!

Maria Hipatia Ludovina da Silva, uma menina sempre muito bem comportada

2007-11-21

E lá convocaram outra


aqui

Às tantas poderá parecer estranho se eu confessar aqui que estou sindicalizada. Pois é verdade, estou mesmo. Com cartão e quota paga. Até hoje não me serviu para nada, mas parece que têm por lá uns advogados que podem eventualmente (com grande ênfase no eventualmente) servir para alguma coisa. Tirando isso, acho que os sindicatos já não funcionam. Ou que os sindicatos que temos não funcionam. Funcionariam se não estivessem tão alheados da realidade. Mas o pior é que estão. E já nem sei como ainda alguém os ouve, muito menos porque têm ainda tanto tempo de antena, apenas para desbobinarem conversa com muito pouca valia e menos pertinência ainda e organizarem-se de forma a que a greve se reflicta em fim-de-semana prolongado. Isto, claro, para a farândola geriátrica do costume, que já nada teme porque também já nada tem a perder, muito menos a conquistar.

E de cada vez que um sindicalista abre a boca, eu abro também a minha. Só que de espanto pelas parvoeiras que conseguem ainda encadear em discursos ensaiados para caberem exactamente nos mesmos minutinhos do costume das entrevistas e o tanto que se espreme das resmas de palavreado sem nenhum suco. E, quase sempre, mudo de canal ou viro a página, com um enfadado "lá está este gajo outra vez com a cassete do costume".

São muitos os motivos que se juntam para fazer dos nossos tempos um período de retrocesso ou, pelo menos, de abrandamento na conquista de direitos. E a verdade é que seria fácil – demasiado fácil até – culpar apenas os que têm poder e os que põem e dispõem da insegurança que mina a vida dos tuguinhas. Visto deste lado, até quase chega a parecer abuso o facto de a quantidade de direitos que a Função Pública ainda preserva lhe permitir chegar ao ponto de malbaratar uma ferramenta de reivindicação como a Greve Geral. E porque raios chamar greve geral a reivindicações sectoriais, que estão bem a marimbar-se para todos os (des)empregados de todas as fábricas que negociaram escandalosos despedimentos colectivos no último ano?

Mas a verdade é que, na prática, os tuguinhas já não querem saber de mais que o próprio umbigo; na prática, o esforço colectivo, com cedências e riscos, de uma posição de força à moda do sindicalismo de antigamente, já não é possível: os empregos estão diferentes, os patrões estão diferentes, os empregados estão diferentes. E, acima de tudo, o País mudou realmente. Só alguns sindicalistas (e alguns líderes partidários) é que pararam no tempo e nem se apercebem das verdadeiras múmias em que se transformaram.

2007-11-20

Keep on calling me (*)


aqui

Havia uma angústia agarrada ao brilho azul destes olhos que não sei se alguém conseguirá alguma vez imitar. Mas vou ver se conseguiram pelo menos chegar perto. E pela música, claro.



(*)Dead Souls lyrics

Lastro





A precisar minguar memórias...

2007-11-19

Coisas da voz

A man falls in love through his eyes, a woman through her ears.

Woodrow Wyatt


Pedro Rolo Duarte começa por perguntar a Pedro Mexia porquê tanto blogue. Pois eu, cada vez que ouço a voz do Pedro Mexia, não me espanto nada que ele prefira escrever.



(pelo menos há o Sérgio Godinho pelo meio...)

Parabéns!


aqui

Três anos de Divas & Contrabaixos :)

2007-11-17

Do direito de resposta


aqui

Informo que as DUAS caixas de comentários continuam abertas.

Ouve, minha amiga






Ouve, meu amigo
põe a máquina a gravar
queria só explicar aqui
que eu sou como o pano-cru
como pano-cru
eu ainda estou por acabar
e como o linho vem da terra
assim viemos eu e tu
e como tu eu faço e amo
e luto e dou
e como tu eu estou
entre aquilo que já fiz
e aquilo que eu fizer
eu sou de pano-cru



Pensavas que me esquecia de ti? Pensavas que aqui a Voz ficava sem palavras no dia de te dar os parabéns?

Somos pano-cru, ainda à espera de acontecer, mesmo que moldado por tudo o que já foi. E em cada ano que passa, mais tela em branco à espera do que é e do que será, para continuarmos a dar e receber tudo o que a vida nos trouxer.

Parabéns, minha amiga.





(e, sim, o link vai para a casa silenciosa)

2007-11-16

Mesmo muito atrasada...


aqui


Nestas semanas do demo que não sei quando irão acabar, ficaram parabéns por dar. E eu gosto de dar parabéns. É daquelas pequenas coisas que me permitem achar que, por aqui, há mais do que letras.

Por isso, mesmo atrasada, mesmo vergonhosamente em falta para convosco, aproveito agora – já de pijama, a sentir-me velha, deprimida e muito cansada, no fim de uma 6ª-feira interminável de que nenhum de vós tem culpa – para pôr por aqui mais do que só palavras e nomear os meus laços que, apesar de ter parecido, não ficaram esquecidos.

Segue, por isso, um beijinho amigo e muito saudoso para a Madrinha (salve dia 3 de Novembro), os parabéns pelos três anos em que a intermitente Viajante nos brinda com Espelhos e Labirintos (6 de Novembro), os parabéns também por mais um aninho Faz de Conta da impagável Jaquelina Pandemónio (7 de Novembro) e a beijoca encaminhada ao Jorge (via Ante & Post, que assim deve ser recebida) por mais um aniversário (salve 12 de Novembro).


E, acertando no dia pespegado ali no topo, mas só depois de fazer batota, parabéns por um aninho de Fabulosamente Louca.

2007-11-12

Madrigal


"Terciopelo verde" © Rosa Vázquez

¡Oh, voz de nube!¡
Oh, terciopelo!
¿Cómo nombrar tu música de musgo
sin disipar las brumas que te velan?

Viene la voz entre un aroma urgente
de jazmines de luna y se derrama
sobre el camino ciego de la noche.

Baja por escaleras de tristeza,
para perderse entre remotos pinos
y aliviarse de penas en los duros
espejos de la nieve desolada.

Deja en el aire en llamas su caricia
y al recorrer los círculos del viento,
un caracol incierto la recoge
y la devuelve, al fin, yacente y pálida,
muerta sobre un paisaje de silencio.

¡Y no saber cómo nombrarte,
para que vuelvas a llorar, subiendo
los senderos de luna y de jazmines!
¡Oh, voz de nube!
¡Oh, inasible perfil de ausencia y lágrimas:
verte morir
y no saber cómo nombrarte!
¡Oh, terciopelo!

Hérib Campos Cervera - "madrigal para la voz en fuga"


Um amigo mandou-me hoje este poema, de um poeta que nem sequer conhecia (o que só pode ser culpa minha, obviamente), falando de uma "voz en fuga" tão diferente da minha que nem sei bem se há qualquer ponto de comunhão, mas que, ainda assim, é tão linda que não resisto a colocá-la aqui nesta minha "voz em fuga".

2007-11-11

Tem piada…




O Papa criticou a Igreja Católica Portuguesa, porque parece que esta não anda a fazer um trabalho lá muito canónico no que toca a reunir o rebanho… Como se ele – o Papa –, mais as suas ideias estapafúrdias e pontos de vista de ostra, andasse a fazer muito melhor serviço. É para rir, certo?

Castanha assada e água-pé


aqui

Acho que finalmente mudei de Estação...

2007-11-10

(...)



So
Sleep, sugar, let your dreams flood in
Like waves of sweet fire, you're safe within
Sleep, sweetie, let your floods come rushing in
And carry you over to a new morning


Ao fim de anos, sei que a insónia é cíclica, que se apresenta em períodos estranhos, de maneiras mais estranhas ainda, que se instala sem pedir licença nem aviso. E que o mais breve sono se tinge de tragédias ou estafas e que todo o dia que ainda nem sequer amanheceu será um dia em câmara lenta, com os sons abafados como se a cabeça andasse mergulhada numa tina de água morna. E afinal é só cansaço. E a insónia. E antecipação da noite que ainda nem chegou: desesperar sem saber se o sono me fará companhia, me levará com ele, profundo, sem sons e sem esgares assustadores ou sem o contar de cada batida do ponteiro do relógio a picar o ponto da dor de cabeça garantida.

2007-11-06

Blogue Visitante





Ele diz que estamos condenados a ler-nos mutuamente e que gosta de me ler mesmo quando me dá a “veneta guerreira”. E visitamo-nos e comentamo-nos há mais de três anos e eu gosto de o ler, até quando lhe dá mais uma quase-apoplexia à conta da Fatinha. E vai dai ele nomeou-me para o prémio do blogue visitante. E vai dai parece que eu também vou ter que fazer umas nomeações, mas como agora não tenho tempo, aguardem até logo para ver em quem eu “enfiei a faca” (é do guerreira, não sei se estão a ver…) desta vez :)))


______________

Continuando...

- Cá vão as 20 vítimas:


2007-11-05

Activismo


Martha Stewart


Apenas lamento que o autor do blogue não assine com um nome identificável. Porque sim, o activismo exige nomes.

Daniel Oliveira


Vai-me desculpar, mas não concordo que o activismo precise de nomes. Pelo menos, não no sentido de que a existência de um nome ou apenas três letras ou um qualquer nick faça diferença para quem lê e concorda ou lê e discorda com uma qualquer opinião expressa num blog (que para emitir opinião noutro qualquer espaço é preciso bem mais do que ter opinião, certo?)

O mal da grande maioria do que seria possível chamar "activismo" em Portugal é o tanto que se submete aos nomes, aos fulanos de tais e aos amigos, mais os apaniguados e os apadrinhados e os amigos dos amigos dos amigos. Clubes restritos, que invocam grandes causas e depois…

Do lado de fora, para quem chega e bate à porta do "clube de mais um Bolinha com nome", o activismo enquanto causa organizada chega a feder apenas a política e a Política há muito que passou a ser palavrão para quem não se quer envolver em jogadas várias, mais os lances duvidosos e os apitos e as reformas chorudas e os jobs e tudo o mais que afasta quem defende causas daqueles que, na maioria dos dias, apenas parecem defender causas para ficarem bem na fotografia.

Até que ponto quem está na Capital percebe realmente como se movimentam as coisas em cidades mais pequenas? As portas abrem-se na velha tradição secular do Sr. Cunha e a possibilidade de concretizar um qualquer projecto fica sujeita a variadíssimos interesses. A causa perde-se; a acção enrola-se em acçõeszinhas e talvez se safe o mais esperto. Mas a militância, a vontade de agir, de ainda conseguir fazer qualquer coisa em prol da comunidade, só encontra obstáculos, a tal ponto que eu nem estranho que o activismo agora se aninhe no divã.

No fundo, acho que quem age não precisa dizer que age; não perde mérito por não ter tempo de antena. O activismo com demasiados nomes, especialmente quando tantos deles acham que valem bem mais do que valem realmente, afasta a maioria das pessoas das causas. Os nomes tornam-se empecilhos, fomentam clivagens, favorecem listas e listinhas. E as causas acabam soterradas em tretas.

A militância à pequena escala, com pequenos projectos, poucos fundos e um punhado de gente anónima mas bem motivada, é bem provável ser o último reduto de qualquer verdadeira militância. Porque a militância nos tons mais tradicionais há muito que não é prioridade para quem tem de enfrentar o dia seguinte com cada vez menos perspectivas e muito mais medo de perder o pouco que ainda tem.

E pergunto-me se ainda há grandes causas que façam realmente sentido numa sociedade cada vez mais de costas viradas para os seus políticos transformados em "classe" e todos os que se perfilam – já nem importa a cor, que aqui do lado de fora parecem demasiado iguais – para fazerem desse "activismo com nome" o trampolim para a remessa seguinte da "classe". E "classe" também acabou palavrão… Às tantas aconteceu o mesmo à "militância".

Não, não acho que o verdadeiro activismo precise de nomes. Acho aliás que precisa realmente é de menos nomes. Porque as causas deveriam motivar todos, até aqueles que preferem lutar por elas sem necessidade de protagonismo, sem prescindirem do seu anonimato, reencontrando as causas que façam as pessoas repensarem a política, consciencializarem que a Política é de todos, feita por todos e nunca, mas mesmo nunca, por uns quantos eleitos que só se lembram do povinho sem nome em vésperas de eleições.

Agora, se neste País se consegue fazer activismo sem nome… bem, isso já é uma história completamente diferente. Mas isso também não é novidade nenhuma.

2007-11-04

Para pedras


aqui


Em nome dos que choram,
Dos que sofrem,
Dos que acendem na noite o facho da revolta
E que de noite morrem,
Com a esperança nos olhos e arames em volta.
Em nome dos que sonham com palavras
De amor e paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio
E falam em silêncio
E estendem em silêncio as duas mãos aflitas.
Em nome dos que pedem em segredo
A esmola que os humilha e os destrói
E devoram as lágrimas e o medo
Quando a fome lhes dói.
Em nome dos que dormem ao relento
Numa cama de chuva com lençóis de vento
O sono da miséria, terrível e profundo.
Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filho de Deus que nunca mais nasceste,
Volta outra vez ao mundo!

Ary dos Santos - Kyrie


Parece que não havia mais nada que fazer com tanto milhão de euro...

2007-10-31

Pronto, admito!


aqui


Sou teimosa! Muito, mas mesmo muito teimosa. Tão torrona, mas tão torrona, que chego a ser tinhosa na minha teimosia. E lá enfiei a música, porra!



(Só não sei como a calar, tirando o botãozinho óbvio. Mas isso agora também não interessa nada...)

2007-10-29

Que arrepio!


Found at bee mp3 search engine

On bended knee is no way to be free
lifting up an empty cup I ask silently
that all my destinations will accept the one that's me
so I can breath

Circles they grow and they swallow people whole
half their lives they say goodnight to wive's they'll never know
got a mind full of questions and a teacher in my soul
so it goes...

Don't come closer or I'll have to go
Holding me like gravity are places that pull
If ever there was someone to keep me at home
It would be you...

Everyone I come across in cages they bought
they think of me and my wandering
but I'm never what they thought
got my indignation but I'm pure in all my thoughts
I'm alive...

Wind in my hair, I feel part of everywhere
underneath my being is a road that disappeared
late at night I hear the trees they're singing with the dead
overhead...

Leave it to me as I find a way to be
consider me a satelite for ever orbiting
I knew all the rules but the rules did not know me
guaranteed...

Eddie Vedder - Guaranteed (Into the Wild)



(Há muito que não ouvia qualquer coisa que "batesse" tanto!...)


Não consigo identificar-me com a figura de Christopher McCandless. Acho que sou demasiado prevenida, demasiado cuidadosa, ou tão só muito cobarde.

E há aquela coisa de não poder correr riscos porque não estou (sou) – realmente – uma pessoa sem ligações, sem grilhetas de qualquer natureza, sem gente a quem dar explicações e a quem não posso pedir que aguente – ainda mais – todas as minhas loucuras e a derradeira desfaçatez de me sentir acima de tudo, acima da necessidade de preservar a própria vida e, assim, preservar também todos quantos me querem e a quem quero bem.

Mas o Eddie Vedder escreveu uma série de versos que são profundamente – agonizantemente – cobiçáveis. Como se houvesse um lugar onde já não sei ir; como isto de saber que se me apertam demais eu fujo; como a noção de que não é de joelhos, a carregar o peso de um mundo que não consigo reconhecer, que alguma vez serei livre, enquanto ganho consciência de que, como todos os outros, estou enjaulada em gaiolas que comprei ou de uma outra forma qualquer tomei posse ou tomaram posse de mim.

Ou simplesmente esta impressão de que – mesmo conhecendo todas as normas – saberia ser bem mais feliz se as normas não me (re)conhecessem a mim.

Será que, para além de todas as dúvidas, dentro da minha alma ainda há um mestre livre que me guie para longe, para pelo menos ainda saber sonhar com o lá longe, mesmo sem coragem para partir?

Tempos de Resposta


aqui

Será que desta vez o Governo Federal, no seu Comandante em Chefe, vai voltar a culpar Deus, como fez aquando do Katrina, ou já provou ter mais medo do Exterminador Implacável e dos ricos eleitores da Califórnia do que teve dos pobres deserdados do Golfo do México?

2007-10-25

Políticos


aqui

Será que aquela pilinha ali à frente do Putin tem nome ou será antes uma representação demasiado fiel do gajo que se anda a passear agora por este cantinho à beira mar plantado? Acho que aposto na segunda... Sempre achei que gajos com demasiada vontade de poder (e falta de escrúpulos para o conseguir a qualquer custo) devem mesmo ter uma minhoca paralítica entre pernas. E deve ser também por isso que me apetece sempre mandá-los para o caralhinho que os foda. A todos!

Alguém tem engenheiros na família?


aqui


Então esta é leitura recomendada :)))

2007-10-23

Everything Zen



Raindogs howl for the century
A million dollars a stake
As you search for your demi-god
And you fake with a saint

Baixinho, baixinho… nem estou cá. Nem sei o que me trouxe. Nem sei se quero. Nem sei se há. Costumava bastar pousar os dedos nas teclas… Costumava ser suficiente ler alguém. E agora o espaço em branco é apenas o que me sobra. E dentro de mim há demasiado branco também. Ou à minha volta. E eu sempre achei o branco mais opressivo do que o negro em todo o seu excesso. Às tantas porque almejo sempre ao que me falta e nunca ao que sobra, como todos. Ou porque algures, nos últimos tempos, se tenha instalado uma rotina de excessos que me restringe e enerva, ou porque já não me basta o contentamento e talvez eu precise estar ou faustosamente feliz ou dantescamente deprimida para que esprema e saia qualquer coisa. Ou até profundamente irritada e nem isso me tem chegado. Sinto-me dormente. Nem feliz, nem triste, nem alegre, nem descontente, nem raivosa, nem em paz. Só dormente, a ver os dias a passarem rápidos e demasiado parecidos, numa quase beatitude sem significado, como uma qualquer basílica nova pintada a cimento demasiado branco, blocos demasiado brancos para doutrinas demasiado brancas e desenhos a tinta da china branca de pseudo-teorias brancas e milagres brancos, brandos, e guerras brancas como se o sangue fosse alvo e o derrame sem mácula, ou como se de branco se pintasse toda a notícia e ela fosse só sobre os mesmos brancos do costume e as suas contabilidades brancas também, perfilhadas alvamente e com perdões. E eu que apeei os deuses só vejo branco, um excesso de branco. Sempre o mesmo branco. Um excesso de branco, um inferno branco……….

2007-10-16

25 anos



Este parte, aquele parte
e todos, todos se vão
Galiza ficas sem homens
que possam cortar teu pão

Tens em troca
órfãos e órfãs
tens campos de solidão
tens mães que não têm filhos
filhos que não têm pai

Coração que tens e sofre
longas ausências mortais
viúvas de vivos mortos
que ninguém consolará

2007-09-19

Isto




Sei que pode parecer mal o que vou escrever, mas já não há a vontade do início de calcorrear a blogosfera a conhecer gente nova como se já não estivesse aqui há três anos, a ler coisas que já li, escritas às vezes até de forma parecida e acabando por, aqui na Voz, entrar em autofagia, porque também já não sei que mais há de novo para dizer.

Talvez eu sofra de um mal tão ou mais corrosivo do que o cansaço, que é este olhar que me sobra cada vez mais cínico e desencanto sobre as coisas e, muito especialmente, como se fazem as coisas. Mas a verdade é que todos temos um espectro limitado que, a partir de certo ponto, já não estica mais. Ai começamos a repetir-nos. Podemos não nos importar com isso e, como tantos, limitar-nos a usar a fórmula já testada para dizer sempre o mesmo de maneira diferente. Mas eu nunca consegui arranjar uma fórmula e deixar-me prender por ela…

E talvez tenha errado na frequência com que aqui venho, até na frequência com que vos leio. "Isto" provoca-nos erosão quando publicamos diariamente. Há alturas em que é relativamente fácil, porque há muita agitação por todo o lado à conta de um qualquer acontecimento (o Mundial, as eleições, a IVG...). Mas depois há os outros dias todos e, nesses, pode não haver uma qualquer muleta, como a crítica política (muitas vezes já quase factual, ainda que debitada como se fosse obra prima) ou o futebol. No extremo oposto, os textos sensíveis e poéticos, quantas vezes apenas forma, exercícios de saltar à cueca e, também eles, já espartilhados numa fórmula gasta. Talvez fosse fácil se me tivesse decidido por uma qualquer fórmula (que obviamente até tentei os modelos acima) e tivesse ficado com ela. Mas a verdade é que fiz disto um diário e a nossa vida, por mais padronizada, não se rege por fórmulas estanques.

E eu até preciso normalmente escrever, quase como algumas pessoas precisam pensar alto. Sempre foi assim que me organizei. Mas também é verdade que sou uma pessoa muito banal, muito igual a toda a gente: aquilo que conheço e que me interessa é limitado; tenho vida fora daqui; trabalho e tenho contas para pagar; não sou interessante o suficiente para não me esgotar como tema, ainda que o tema não seja exactamente eu e sim as coisas que me interessam o que, se formos a ver bem, até deve ser quase a mesma coisa.

Quanto ao registo, há sempre outras opções. Este meio acabará gasto também. Não seria o primeiro, nem o último. Talvez se gaste a tempo de o conseguirmos levar atrás para os arquivos do que há de vir, como se parte da nossa memória.





(e isto tudo disse eu ao , há uns tempos atrás, enquanto todos pareciam partir para qualquer lado; isto sou eu ainda, muitas semanas depois, a dizer que talvez… pois!)

2007-09-17

Impassibilidade


aqui



Par espaces immobiles, lointain.
Ames lumineuses sont transportées
Avec rythme cadence
A la dernière demeure,
par espaces immobiles, lointains............



ataraxia

do Gr. a, priv. + taraxé, emoção

s. f.,

serenidade de alma;
calma de espírito.

A bolha


aqui

Sustentar o crescimento económico na especulação imobiliária nunca pode dar bons resultados. Em Inglaterra já rebentou; Espanha está aqui ao lado e, mais tarde ou mais cedo, rebentará também. Acho que nem quero imaginar…

2007-09-16

1971



A lie, at that time it was just a way to put us by the same side,
we were more then 17. At that time a lie means a
sacrifice,
everybody knows why,
but we were only... Again out of time, I know why we
will say good bye, everybody knows why and we were almost 21, and then,
still you wait for a lonely time, just to say to a
normal guy??? normal guy???
My bed is empty... Why at that time
it was just a way to put us by the same side, cause we
were more then 17
and then, still you wait till the end, to say like a
normal guy. goodbye... A lie, at that time it was just a way to put us by the
same side,
cause we were almost 21, and then, still you wait
till the end,
to say like a normal guy.
goodbye... and why, why, why, why...

A PDI foi provando que o corpo já resiste mal ao relento e ao tempo em que se senta o rabo na relva húmida; mas a alma é outra coisa: engana o tempo, enganando-nos de quanto tempo passou e somos ainda jovens e talvez já não com 21 anos, talvez já muito longe dos 17 e, por isso mesmo, com tanto gosto a apreciar os pequenos prazeres gratuitos da vida…

2007-09-14

Rotina


Dusanka Badovinac - Dispair


Desdenho este pouco tempo que me sobra, como se fosse farto em horas o dia que mal reconheço; como se não houvesse excesso e a sobra fosse miséria engalanada, assim quase como eu, a correr atrás do tempo e a tentar fazer de conta que o tempo e os quebrados chegam para tudo; como se bastasse aparafusar a cara gaiteira, a caminho de mais um par de rugas e as cãs que não desistem de avançar nesta amazónia de cabelos que me pesam hoje na cabeça que me pesa, quase a sentir-se vazia por entre a enxurrada de informações que não pedi, que nunca peço e o zelo com que as debitam para o meu ar incrédulo, um ouvido ali, outro na conversa da mesa do lado e os olhos que apenas espreitam e já não fixam o que se vai passando do outro lado da rua. Suplico por um pouco de silêncio e não há sequer ruído e fico para ali porque não me apetece apenas a minha companhia silenciosa. E ouço falar de traições e de dor e de desespero e penso apenas como o final do mês ainda está longe e o dinheiro está curto e hoje é 6ª feira e que a vida afinal vai encarreirar na lufa-lufa ordenada, esquizofrénica, sempre à espera do fim-de-semana e do fim do mês, enquanto um ouvido diz que sim se um olho diz que não e me falam de traições e de desespero e eu quero é o silêncio e no silêncio estou apenas eu e já nem sei desesperar enquanto olho lá para longe e me pergunto como estará a lua, como estarão as estrelas e se ainda sobra vontade de ir para a rua mondar os sonhos a ver se há espaço para ser semente de algum sentimento neste espaço vazio, pesado, ocupado apenas de rotina.

2007-09-13

Schomoozada





Numa iniciativa de Mike, do Ordinary Folk, vejo-me nomeada pela Maria Árvore e envolvida nesta já bem longa corrente de gente que mantém blogs que são adeptos dos relacionamentos inter-blogs fazendo um esforço para ser parte de uma conversação e não apenas de um monólogo.


Gosto da ideia. Sempre achei que a valia, pelo menos deste Voz em Fuga, está nas caixas comentários e em quem as frenquenta. E é por isso que, ao abrigo desta ingrata regra que me limita a cinco, nomeio os seguintes blogues:



2007-09-12

Deixa ver se eu percebo…


aqui


Quando eu chamo lavoura à agricultura, digo-o porque a terra é lavrada e não se agricula.


Paulo Portas


Paulo Portas critica as visitas governamentais a escolas no arranque do ano escolar, porque "não são sítios para fazer política" e fá-lo durante uma visita a… uma escola?

Mas está tudo doido?

Como?


aqui

Viste o filme ontem? Eu também não...

2007-09-11

9/11


aqui

Tristeza talvez pelo Chile, no dia que a América açambarcou e por muitos americanos também; ou talvez por todos os outros que, constantemente, se calam e se esquecem…

2007-09-08

Estou de volta


Almourol


Senti-me muitas vezes uma princesa estas férias enquanto escalava ruínas e media o horizonte bordejando rios e ribeiras. O tempo – quase sempre demasiado ventoso e até com chuva em alguns dias – fez-me esquecer que havia praia e levou-me até aos verdes e amarelos e ocres da paisagem cada vez mais despida de pessoas do Portugal esquecido pelas gentes e pelo investimento que prende o povo às terras. Lamento as pernas ainda excessivamente brancas para mostrar no vestido de cocktail demasiado curto que comprei para o casamento a que vou no início de Outubro. Mas não lamento a paz que me veste e me despiu dos cansaços dos tantos meses de labuta sempre à espera deste pequeno momento de paraíso a que chamo férias.

E senti-me muitas vezes uma princesa, lá no meio das pedras onde um dia viveram reis e nobres e plebe e escravos e frades e caminhantes e até gigantes. Lá, por entre as pedras, tão longe do bulício da cidade, tão distante do barulho, para além do chilreio dos pássaros ou do murmurejar de águas correntes e árvores ainda vivas e até daquele pequeno sopro de som, tão leve que quase nem o notámos, dos campos despidos do estio.

Uma princesa… Misaguarda...

E quase tive vontade de atirar tudo para trás das costas, largar a cidade já demasiado grande e partir para uma vida nova, lá onde ainda as águas se abrem em piscinas no meio do rio ou onde um engarrafamento se mede pelos dois carros que resolveram sair à rua à mesma hora que nós e circulam agora à nossa frente nuns agonizantes cinquenta quilómetros à hora. Lá, onde as pessoas ainda vivem em casas e têm quintais e roseiras a colorir a ombreira da porta. Lá, de onde toda a gente fugiu e onde eu jurei que saberia ser feliz, houvesse investimento e emprego e mais do que a paisagem que quase me fez sentir uma princesa para me dar mais do que o sonho de um dia partir lá para o meio da lonjura e ter uma casa branca, com roseiras por baixo das janelas e com ombreiras das portas coloridas e um jardim com uma macieira perfumada e um banco debaixo de um caramanchão florido e onde à noite ainda se vêem estrelas e o barulho é feito apenas de cigarras e grilos e pássaros e árvores onde bate o vendo e algum riacho mais caudaloso.

Mas até as princesas precisam arranjar o que comer e não há sonhos que nos encham a barriga nestes pedaços do País cada vez mais despidos de gente, onde já quase só sobram os velhos e não há esperança na raia fronteiriça do esquecimento.