2011-01-30

Jovens deuses


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E éramos. Às tantas ainda somos. É que antes não havia nada, tirando talvez a romaria anual à festa do Avante ou outras coisas igualmente jurássicas e depois passou a haver e depois passamos a ir e continuamos a ir e agora ainda vamos. Mesmo quando já há alguém que pede licença, minha senhora e puta-que-pariu para a senhora que eu cá parto-me toda, fico que não me mexo no dia seguinte, mas pulo e salto e danço e canto como se nunca tivesse saído da adolescência e sempre a ouvir o do costume - ou coisas parecidas com o costume -, coisas que as rádios mainstream só se lembram de longe a longe. E continua a ser bom, muito bom, muito para lá do pop efémero e plastificado ou de um certo rock que nem percebo bem porque se atreve a usar o nome. E sim, já sou minha senhora, mas ainda me sinto demasiado jovem e talvez seja apenas por pertencer a um grupo de pessoas, hoje todas mais ou menos com a mesma idade que, no início, não tinha nada, depois passou a ter alguma coisa e agora é público alvo e talvez, pelo espaço de umas poucas horas, são jovens deuses a vibrar ao som da música, das luzes, das batidas e do espectáculo em palco e depois, no dia seguinte, todos partidos, sem conseguirem sentir bem as pernas e com os pés a lembrarem que foram partidos demasiadas vezes, ainda vêm para a net para que fique para a posteridade possível da banalidade gritante do resto dos dias que, sim, estive lá, adorei, dancei e saltei, mas agora tenho de ir ali descansar um bocadinho que, mesmo pertencendo a estes jovens deuses já não tão jovens, tenho decididamente pés de barro, ou outra coisinha igualmente debilitante. Vá, a PDI e está tudo dito.

2011-01-27

Matar pulgas à paulada

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É como se, ao mesmo tempo que vemos as macro-causas definharem, víssemos as micro-causas ganharem uma relevância inaudita. Mas não é pelo facto de terem a buzina mais ruidosa que passam a ser os mais importante da sua rua, não é? Assim – e ainda que o impacto mediático de dois ou três grupos faça parecer que são muito importantes e têm muitos seguidores –, na prática sabemos que, na maioria dos casos, têm um impacto realmente restrito. Mas nunca como hoje uma imagem com o ângulo certo para esconder o número ou um rodapé em permanência a piscar na televisão deu manias de grandeza a tão poucos, os tais que, não fossem os megafones, não passariam eles mesmos de rodapés nos factos pouco ficcionados do dia-a-dia.

Memória

2011-01-26

(...)



I was born too late into a world that doesn't care
Oh I wish I was a punk rocker with flowers in my hair

2011-01-25

Oh caneco!

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«El político equilibrado, comedido e institucional desapareció de un plumazo para dar paso a un orador resentido que descalificó a todos sus adversarios, sin excepción, en un tono tremendamente agresivo.»


O outro nem o quis na sala oval e aqui ao lado só falta alguém berrar ¿Por qué no te callas?.

2011-01-24

Velhos

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Cavaco Silva está podre de velho. Alegre também. Mas Alegre perdeu e os outros não sei se tinham realmente importância, mas de novos nada têm. E ao deparar-me com o discurso poucochinho do presidente minguado, tirei o som à televisão e fiquei a olhar-lhe para a cara franzida de amarguras e fel e a pensar que era velho, velho, caduco em tanta coisa, cavernoso nos ângulos da cara que sempre teve mas que agora se aguçam, já que a velhice não lhe adoçou nem o feitio, nem os humores, muito menos a canície latente que talvez traga nos ossos desde novo, desde o carro a fazer rodagem, desde antes disso, nas finanças a pôr a coisa a jeito para o FMI ou na Universidade a ser velho, mais velho do que qualquer trapo, para os alunos que por certo bocejavam a ouvir-lhe a oratória do jeitinho ou da doutrina também ela velha. E é um espelho de uma certa classe que as pessoas já não suportam, pelo menos aquelas que querem só um amanhã novo, sem o ranço e o bolor destes políticos que não morrem nem saem de cima. Velhos, alheados do povo que somos mesmo quando falam dos pobrezinhos, agarrados ao que são e sempre foram e aos laços que coseram de mil traços de interesses e conveniências. E o povinho, mesmo o pobrezinho, já nem lá vai, não lhes vê valia, a estes velhos demasiado velhos de um País que nunca soube livrar-se de todos os velhos do Restelo, mesmo quando os enfiam em Belém. Talvez tenha sido a última vez e, daqui a cinco anos, talvez apareça alguém que pense de forma nova e não tenho aquele ar de caverna bafienta. Ou talvez este esteja velho, muito velho, tão velho que ainda morra pelo caminho. Ele e todos como ele, os que agora estavam com ele, alegres, nobres, coelhos, defensores e xiquinhos. Tudo podre. Tudo velho. E o Portugal que há-de ser – e já é agora – olha para esta velharia toda e vai antes gozar o domingo para outro lado, não sei bem se em protesto, mas certamente em fastio dos gajos à moda antiga, com campanhas à moda antiga, as passeatas como antigamente e os discursos onde apenas sobram teias de aranha e maledicência e déjà vu remoto e alheado.

2011-01-21

Sebastianismos

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Fernando Pessoa - Liberdade


Que mania esta nossa de, em cada geração, inventarmos mais um D. Sebastião! E continuamos a construir um País de miragens, com Desejados que nunca o são, salvadores da pátria de pés de barro, boca aberta para a opinião néscia e o palpite fútil. E o Desejado nunca pode vir. Nunca veio, afinal.

2011-01-16

Fast-News

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«A TV prefere a repetição à análise e o mito ao facto. Estampa os seus ícones na nossa psique tão bem como nas paredes das nossas cidades. A homogeneidade espalha-se como um fogo florestal através da TV, já que ninguém quer ser apanhado fora de moda. Qualquer centro comercial é TV "de passagem". Sons, cores e formas de TV que são as expressões sensoriais da nossa sensibilidade colectiva. Mas a arregimentação televisiva da nossa sensibilidade assume outras formas, como os risos e aplausos enlatados ou, num nível mais subtil, as votações electrónicas. A maior parte do que aparece nos noticiários ou documentários é pré-digerido e apresentado num formato estereotipado para uma dentada rápida, como fast food. Não terá a TV criado uma cultura de massas, fazendo desaparecer o espaço da reflexão privada e autonomia de escolha? (...) a TV pode muito bem estar a pensar por nós...»
Derrick de Kerckhove – A Pele da Cultura

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«O esquecimento é sempre uma espécie de morte antecipada e, por isso, quanto matamos ou diminuímos a memória, estamos de certo modo a considerar-nos mortos. Os profissionais de informação e os meios de comunicação social têm, ou deviam ter, responsabilidades éticas nesta matéria. Mas aquilo a que assistimos, todos os dias, é à ocultação de homens e acontecimentos, ou ao seu desfiguramento, por desfastio ou mera conveniência política. Às vezes, apetece perguntar se os jornalistas já a perderam de todo – à memória –, navegando como sonâmbulos sem referências pela espuma dos dias.»
Rui Herbon - A erosão da memória


Qualquer Nação que não se olha de forma completa, quer para o bem, quer para o mal, nunca terá um retrato real do que foi, do que é e do que quer ser no futuro. E olhando para a semana que passou e a televisão que nos deram, que retrato podemos esperar de nós? Para além do folhetim das eleições e os seus casos e os outros tantos casos que se substituíram à política – a tal da polis, que já ninguém parece lembrar -, um jornalismo burlesco que, entre lembrar um herói, se desdobra em análises a uma nódoa dos mexericos e ao assassino com direito a passeatas ridículas e desculpabilizações abjectas. Não, eu não entendo mesmo para que serve uma memória amputada, quando os ídolos e os ícones se resumem num crime de faca e alguidar que uma certa homofobia latente e um vazio geral teimam em transformar em notícia. Pior: uma notícia que vende. E por isso vou continuar de televisão desligada mais uns dias, à espera que não me contamine com tanto fogo-de-artifício de supérfluo e me deixe preservar uma certa memória que, mesmo quando padronizada pelo tempo, não se transformou ainda em risos, choros, aplausos ou vaias enlatadas, em "formato estereotipado para uma dentada rápida, como fast food".

2011-01-13

Vítor Alves

aqui


«alguns daqueles, agora transfigurados em memórias e em penumbras, que tinham dado consistência à História.»
Baptista-Bastos - Éramos todos tão novos...


Há muito que não se espera grande coisa da memória penumbrosa que nem sequer permite a mais breve homenagem aos heróis imperfeitos que, um a um, vão deixando a vida para virarem pouco mais do que poeira nos livros de História. E eu não consigo entender que coisa é esta - um povo sem heróis, por mais imperfeitos.

Do outro lado, em todos os media, apenas demasiado ruído à volta de um caralho. Como é possível que só isto nos sobre?

É por estas...

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Pessoas a quem tenha sido clinicamente diagnosticada uma mudança da identidade de género (transexualidade) e que, nos termos da lei, podem alterar essa mesma identidade, vão continuar a ter que intentar uma acção em tribunal, pagar custas, sofrer a pressão psicológica decorrente, porque o Prof. Aníbal Cavaco Silva acha que essas pessoas, depois de tudo o que já passaram, depois de tudo o que a lei já lhes garante, se foram baptizadas Manel não podem a partir de agora passarem a ser Maria. Como diz um amigo meu, isto nem sequer se pode apelidar de conservadorismo. É parvoíce pura. E uma espécie de vingançazinha à posteriori sobre quem resolveu questionar as crenças do actual PR, o tal que ainda deve confundir as regras do baptismo com os princípios que regem o registo civil.

E ainda há depois tudo o resto, claro.



Gui Castro Felga encontrado aqui

2011-01-08

Branco? Nulo? Nada?

aqui

Nunca votei Cavaco Silva; nunca gostei de Cavaco Silva; acho que a fauna produzida pelo cavaquismo é profundamente nociva e que o BPN é apenas a ponta da meada. Não acho sequer que o cavaquismo tenha sido um período de desenvolvimento conseguido e acho que foi, essencialmente, um desperdício dos tantos de milhões que serviram variadíssimas negociatas ao grande e ao pequeno nível da pulhice.

Mas eu não espero nascer segunda vez, nem faço parte dos desejos de Boas Festas, já que não sua apoiante. Sou apenas mais um dos tantos que apenas pagam as facturas das nódoas que nos governam. Desta nódoa. Dos anos em que por lá ainda vai ficar.

E que alguém chumbasse a tiros de Purdey quem pensou nas alternativas!

2011-01-07

One Cat, One Vote, One Beer




I'm gonna drink a little gin and some mellow wine
Then I'm gonna try that voting machine out just one more time
'Cause democracy is in our hands, but it's slipping through our fingers just like sand
Now I'm worried for you, sure worried for me, watching the election comin' round on the T.V.
Voting's closed, we already lost the race
Might as well meet me down to Little Joe's Place

2011-01-05

Ena!

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(Ele há dias em que até dava jeito aparecer uma qualquer cavalgadura onde enfiar dois murros. Mas o mais certo é que me tivesse borrado toda, ainda que já tenha apagado um cigarro na cara de um gajo que meteu uma mãozinha pelo meu carro dentro enquanto esperava que o sinal ficasse verde...)

2011-01-04

2011



Tom Wolfe disse um dia que este seria um Século Sonolento de ressaca do século XX. Lamento não concordar. Este parece prometer ser um século caótico, de medos e de retrocessos. E as pessoas não andarão sonolentas; andarão apenas comatosas. Só que até os rebanhos um dia se assustam e desatam a correr todos na mesma direcção alucinada. E, no rescaldo da passagem, não sobra normalmente mais do que destruição e pó revolvido.



(E, sim, há sempre a esperança na capacidade de reconstrução da barca naufragada. E, no entanto, há dias em que parece fraca empresa, derrotada à nascença.)