2006-12-29

Faraway (so close)



Em cima de um móvel no quarto, tenho uma fotografia com dois nicos lindos (tão mais pequenos do que quando os vi pela última vez!) que me põem um sorriso na cara cada vez que me levanto e cada vez que me vou deitar. A marcar o livro que estou a ler – como marcou antes o livro que lia e antes ainda outro e outro – uma fotografia com uma amiga, tirada por outra amiga, num Verão passado lá muito ao Norte, com a Espanha ao virar da esquina.

Na memória, guardo sempre duas micas em cima de uma cadeira à espera das primeiras badaladas do ano novo, enquanto todos os outros se perfilavam ancorados no chão. Já foi há dois anos que nos juntamos para a passagem de ano pela última vez: o ano passado porque não podia ser, este ano porque eu não vou poder ir. Vou mais a sul, estar com alguém de quem existe uma fotografia muito pitoresca – "ele e a manta", poderia chamar-se assim – tirada em casa da minha amiga. Faz parte de uma colecção de momentos, nunca de sabor repetido mas que gosto muito de repetir, numa sala de uma casa tão longe de onde estou sempre e tão perto de onde gosto de estar. É a casa da minha amiga, uma que já foi minha gémea.

Mas não somos gémeas, claro, mesmo que eu goste de pensar que somos uma espécie de irmãs, até quando discutimos e nos zangamos, como só se consegue fazer com quem nos é muito próximo, muito querido. E já nos conhecemos há uma pipa de tempo, bem antes do primeiro encontro num dia já distante de uma Campanhã que já está até diferente, quando celebramos com um abraço apertado a amizade que começou aqui na net. Isto, obviamente, depois dela relevar o facto de eu, antes mesmo de lhe escrever a ela, já trocar palavras com o marido.

A minha amiga tem um feitio do caraças. Deve ser um dos principais motivos porque gosto dela: nunca gostei de gente indelével, sonsa e sem espírito. É maior do que eu um pedaço e a sorte é que os bracinhos não são demasiado violentos. É só preciso tomar atenção aos pedantes, para não voarmos para longe. E imagino-a sempre enfiada em encrencas, mesmo quando não está, o que faz nascer em mim uma mania de me meter onde não sou chamada, o que quase sempre não é boa ideia, porque também tenho um feitio do caraças e uma capacidade inata para a pirotecnia. Mas acabamos quase sempre a rir-nos juntas: de nós, uma da outra, do mundo, das coisas boas e até das coisas tristes. E ainda há, obviamente, os lombinhos com tâmaras que mais ninguém faz igual. E só de estar aqui a escrever sobre isso já nasceu água na minha boca…

A minha amiga – que me conhece tão bem! – sabe como eu ia gostar de estar hoje com ela. Talvez a comer os lombinhos e a beber tinto, chegando depois quase de gatas à cama, bem disposta e com a conversa toda posta em dia. E era o que eu ia fazer: ia sair cedo, meter-me no carro e correr até ao abraço da minha amiga. Ia dar-lhe os parabéns e matar estas saudades. Dar-lhe uma lembrança pequenina que andei a catar com cuidado e ver a felicidade dos nicos com qualquer papel colorido só porque sim, enquanto a nina me perguntava pelo batom e pelo perfume para que o pai endoidasse mais um pouco com as manias coloridas e fedorentas que a bimba do Porto lhe mete na cabeça da cria. Mas depois abríamos outra garrafa e às tantas faríamos até um brinde...

Só que os meus planos saíram todos furados. Não vai poder ser. Não vou poder ir hoje… Mas vou ainda assim – aqui de longe – levantar um copo cansado, desacompanhado, à tua, miga. Pela saúde e pelo contentamento, enrolados em parabéns; pelo novo ano que começa e que tem de ser melhor; e por nós as duas, amigas ainda, apesar de e de e de. À cabeçada, se for preciso. Mas amigas.

Parabéns, Vanus.

2006-12-28

Ciao 2006


aqui

Como todos os anos, andava para aqui a pensar como faria o balanço deste ano aziago e sem saber muito bem por onde começar. É que, no meio de muito azar, este não foi um ano mau. Apesar de e de e de e de… Sim, que não foi fácil e este final, então, tem sido violento. Mas, olhando para trás, para o ano todo, consigo ver muita coisa boa. Talvez seja aquela parte da minha personalidade refilona que não consegue deixar de ser optimista. Que sofre e se pela e, no fim, é capaz de dizer que, apesar de e de e de, não foi assim tão mau. Ou então apenas me habituei a olhar em frente com a idade. É que esta coisa de achar que estão menos para vir do que aqueles que já ficaram para trás deixa-nos com uma perspectiva menos piegas. É preciso seguir em frente e pronto. Melhor ou pior, enquanto nos for possível seguir em frente e, no rescaldo, ainda encontrar algo de bom, devia ser motivo para nos reciclarmos. Já não vamos inventar um eu novo ou uma vida nova. Mas podemos ainda não desistir desta. E eu encontrei em mim a vontade de não desistir. Apesar de e de e de…

Há uns tempos, chegou-me por mail um pedido curioso: "descreve-me numa palavra". E eu descrevi, claro, que sou incapaz de resistir a um coisa destas. Mas, mais do que isso, resolvi também eu pedir para que uma série de pessoas me descrevessem. E, na volta, vieram as respostas. Suponho que transpareça no que escrevo uma boa parte do que sou. Mas há nas descrições que me fizeram um tantinho de exagero que só pode mesmo ser resultado do olhar benevolente com que os amigos me vêem.

De qualquer forma, há também um certo reflexo da minha postura este ano que já se acaba e que fui deixando em forma de textos, imagens e música aqui pela Voz.. Sim, fui irreverente. Tanto quanto soube ou pude, desaforadamente e algumas vezes até de forma exagerada. Mas é uma das coisas que quero levar deste ano para o ano que ai vem: uma certa capacidade para o inconformismo e a vontade de a pôr em prática. Desassossegada e insatisfeita, sempre a pedir mais, refilando sem parar contra o mundo, contra a vida, contra mim, não quero assentar no que tenho; prefiro procurar sempre o que há-de vir. Isso talvez faça de mim alguém por vezes demasiado ingénuo e infantil, uma teenager, como lhe chamaram e eu agradeço, porque não parece tão mal, tão imaturo. No entanto, talvez seja em parte consequência desta postura a forma como transparece na maneira como me escrevo e reescrevo esta condição de estar viva e sentir-me viva. Nesse sentido, talvez haja alguma verdade em quem diz que sou desafiadora. E deve ser bem mais do que pelos desafios (ultimamente tão escassos) que fui deixando pela Voz. Ou eu assim quero pensar. No fim, talvez seja uma questão de franqueza: para comigo e para com os outros. É que, por mais difícil que seja olharmos para nós com a distância suficiente para uma análise válida, se tentarmos ser sinceros para connosco, não comprometendo o que nos parece o correcto nem os poucos valores que conseguimos ainda preservar, então, no rescaldo, a nossa sinceridade terá de transparecer na forma como lidamos com os outros. E eu gostaria, acima de tudo, de me manter fiel àquilo em que acredito, àqueles em quem confio, a todos os que quero bem. Apesar de e de e de e de…

Por tudo isto - e porque não sei se ainda poderei abeirar-me de um computador este ano - desejo-vos umas excelentes entradas em 2007 e que o novo ano vos traga tudo o que precisam e desejam.

Feliz ano novo, gente!

2006-12-27

Irra!



(pronto, está bem... para a semana ponho as leituras em dia)

Penas

Hope is the thing with feathers
That perches in the soul,
And sings the tune--without the words,
And never stops at all,

And sweetest in the gale is heard;
And sore must be the storm
That could abash the little bird
That kept so many warm.

I've heard it in the chillest land,
And on the strangest sea;
Yet, never, in extremity,
It asked a crumb of me.

Emily Dickinson - Hope

... ou tão só abrir os braços a cada soluço de esperança.

2006-12-26

É o simplex, claro...


aqui

TLEBS... Que linda designação: pequena, concisa, fácil de apreender... Tão simples, não é? Vê-se logo como vai dar pouca confusão...

2006-12-22

Feliz Natal!!!!


(recebida por mail)

Foi sempre o meu sonho ver o Pai Natal a voar. E nem sei bem porquê (às tantas à conta do post abaixo), achei que era este o postal de Natal que me apetecia deixar na Voz.

Um abraço para quem gosta, beijos para quem prefere :)

2006-12-21

E se?...


aqui

Sabes, o pior, o pior mesmo, é quando – depois de longas e estudadas análises racionais a todos os conceitos, todos os deveres e todos os direitos – acabamos a sentir que não nos livramos do preconceito. Trazemos ainda o gajo tatuado em nós, é marca de fogo, letra escarlate. E até sabemos que podemos e devemos dizer tudo, fazer tudo, sem cobranças, para além das tantas que já fazemos diariamente a nós mesmas. E, no entanto, trazemos o preconceito em nós. Em nome dele, julgamo-nos e ainda somos capazes de, no fim, julgar a outra. Talvez seja tudo uma questão de falta de hábito no jogo em equipa, dessa inconcebível capacidade do bicho macho para se proteger e ressalvar a gregaridade do género. Nós vamos logo de faca na mão e língua afiada e a vizinha tem sempre qualquer coisinha de que podemos dizer mal com inusitado fulgor. Depois, como somos nós que acabamos a parir a todos, géneros à parte, passamos no leite o que somos e o que ainda não conseguimos chegar a ser. E é por isso que, mesmo esperando pelo dia milagroso em que o Mundo seria, finalmente, governado pelo desgoverno feminino, feito de palavras e conversas, em lugar de murros e bombas, temo-o com igual desgarre: que faremos umas às outras nesse dia, se não gostarmos dos sapatos, ou invejarmos o vestido? E que reservaremos para as putas, aquelas que, sendo-o ou não, caíram para o lado debaixo da forma viciosa como ainda olhamos para o nosso género?

Quase!


aqui

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.


Mário de Sá-Carneiro


E nem me esqueci dos miosótis, estás a ver?

Parabéns,
Zu!

2006-12-20

Apre!

Ramones - Merry christmas i don't want to fight tonight


Já não vomitam as musiquinhas do costume?

Onde é a festa?


aqui

(...descarada como sou, já me vou fazendo de convidada...)

Na verdade, há muito que me faço de convidada nessa tua casa-blogue, de onde não consigo já escapar. Deve ser feitiço de Blog, a maneira viciante que tens de contar todas as histórias que me apetece sempre ler.

Beijinho de parabéns, Old Man.

2006-12-19

Mudaste! Mudaste!


“Mudaste! Mudaste!”
Muda a mulher porque as mamas se lhe cresceram desmesuradamente na novidade aflita de um bebé.
Muda o homem nessa outra barriga sedentária dos copos, que lhe surgiu, porque nunca acordou para aquele corpo que o habita.
Muda a criança, porque simplesmente cresce com olhos de futuro.
Muda o meu amigo porque reencontrou o sorriso no desejo de uma mulher.
Muda a minha vizinha porque naquela noite o marido, finalmente, provou o arroz doce.
Muda a minha gata porque pariu uma ninhada de felinos que me mijam o patamar.
Muda a maré todas as noites junto ao Mar.
Mudam as estrelas de céu e todas as constelações.
Mudam corações isolados e tristes que julgam sempre não ser amados.
Muda? Muda?
Muda fico eu quando te desnudas mostrando o peito ao léu.
Muda fico eu, e assim permaneço, enquanto o teu peso se debruça contra o meu.


(Miguel horta)

Tão longe!


aqui


Tenho andado para aqui a queixar-me, muito ou pouco, não importa agora. Mas a queixar-me, ainda assim. Há também um ar de desmaio em quase tudo o que escrevo e, quando sinto assim as palavras queixosas, melancólicas e abatidas, tendo a encolhê-las, desarmando a exposição prolongada ao seu feitiço.

É que estas coisas das palavras apenas, especialmente por esta altura, deixam-me um travo tristonho nos sorrisos. Como sempre, sinto tudo demasiado pouco, sôfrega que sou de pedir o sol para ver se me calha a lua. Não queria só palavras. Queria quem as diz e as escreve. Queria o calor dos abraços apertados e beijos doces que reservo para uns quantos. E queria que o Porto não me parecesse, por estas alturas, tão longe de sítio nenhum, tão longe dos meus sítios, que são, essencialmente, os meus afectos.

É que eu acredito mesmo que nenhum de nós é uma ilha e, hoje, sinto como se eu fosse só o farol perdido na extremidade mais distante da ilha mais longínqua do arquipélago mais remoto. Tão longe, mas tão longe, que nem cá chega o cheiro das rabanadas, ou o brilho de qualquer estrela pespegada no topo de uma árvore de Natal enfeitada com carinho. E queixo-me, queixo-me… Ou, então, fico-me pelos meus silêncios, para os quais já nem a falta de tempo serve de desculpa.

Queria tanto que todos vós – aqueles cujas palavras já têm sorriso e olhar; ou aqueles de quem as palavras não vejo a hora de enfeitar de sorrisos e olhares – estivessem aqui ao lado, talvez ali na Maia, ou até mesmo já lá mais ao fundo em Espinho…

Os postais – que ainda não mandei – não me chegam. E a culpa de ainda não ter enviado nenhum, quando o IncrediMail anuncia mais outro a chegar, ainda me deixa mais de rastos: já sei que vou acabar a mandar palavras vãs, escritas à pressa. E sei bem como as vou sentir sem calor. É que eu não queria só palavras e postais este ano. Eu queria-vos. A todos! Alinhados para um abraço, desalinhados para os sorrisos, tresmalhados aqui bem perto. Porque raios morais todos tão longe? Porque raios não vos consigo teletransportar até ao meu abraço?

E até sei bem que sou uma ingrata que, como sempre, protesto de barriga farta, cheia que está do vosso carinho que vai chegando todos os dias. Mas eu nunca soube pedir pouco à vida. Nem às palavras. E é por isso que me queixo. E é por isso que teimo em calar-me. É que as minhas palavras estão pobres demais, estão em maior crise que o País ou a minha carteira no após compras de Natal.

Mas – aqui tão longe – espero que saibam que são a arma que me resta para vos sentir perto. E é por isso que ando para aqui aos trancos e barrancos à cata de palavras que façam sentido (e sentimento) para vos desejar Feliz Natal e significar mais do que a expressão vazia.

Os postais ainda hão-de partir…

2006-12-18

Carta ao Pai Natal


aqui


Querido Pai Natal,

Como de costume - e tu bem sabes - fui uma menina muito bem comportada. Mesmo assim, raramente me satisfazes os desejos e nem percebo bem porquê. Pelo menos, enganas-te sempre na data e nunca nada vem parar ao sapatinho. Depois, como já está fora de prazo, acabo eu a pagar as contas dos desejos que vou tendo ao longo de ano. Acho mal. Acho muito mal. Eu sou tão boa menina!...

De qualquer forma, Pai Natal - e como já tenho o carro, o sofá e o escritório, ficando só por negociar um computador novo - este ano resolvi ser modesta nos pedidos, para ver se não te esqueces de mim.

Este ano, Pai Natal, só quero paciência. Isso mesmo: uma boa dose de paciência. E, se te atreves a meter-me um baralho de cartas no sapatinho, fica já sabendo que é desta que cortamos relações!

Maria Hipátia Ludovina da Silva, uma menina sempre muito bem comportada.

2006-12-17

Consoada no Blog

Deixa-me falar do Natal na tua casa? Eu sei que tens a lareira acesa à espera das minhas palavras.
Talvez passe a Consoada aqui no teu blog-casa; eu que tenho os filhos longe e os meus outros amigos passam o ritual afastados de mim, lá nas suas vidas.
Podia falar-te da minha Mãe e dos meus inúmeros irmãos... Queres?
Ahh... e quando a mana, que se portava mesmo mal, não acreditou que levasse carvão dentro da meia pendurada na chaminé: Não é que levou mesmo naquele Natal...
...E todos a falar ao mesmo tempo, risadas com sabor a cacau quente?

Mas o Natal mais duro que vivi foi aquele a seguir à minha separação.
Coloquei um pinheiro verdadeiro no centro do meu ateliê. Uma semana antes, eu e eles, os meus filhos, decorámos a arvore. A miúda, mais pequenina, lá conseguiu colocar a estrela no topo, empinada num banquinho de madeira.
Lembro-me que não sabia cozinhar e que liguei à minha sogra a perguntar como se fazia “bacalhau à Braz”. Foi rapidamente baptizado, pela minha filha, como “Bacalhau Meleca”, tornando-se muito popular nos Dezembros que se sucederam.
O presépio foi feito por nós, em barro, peças originais. O São José mais parecia o Gandaf do “senhor dos anéis”, coisas do meu filho.... Mas era o nosso presépio.
Abrimos prendas no meio das telas. Dissipámos os doces numa pressa comemorativa, mas havia um travo triste no ar.
Serei eu capaz de reinventar o Natal dentro de mim?

2006-12-16

K.O.


aqui

Deitei-me já era de dia, levantei-me já era de tarde, corri ao supermercado donde sai já era de noite. Agora vou correr a acabar de me arranjar e correr para não chegar atrasada…

Começaram os Jantares de Natal!

2006-12-14

A fúria da tesoura


(mas não te preocupes muito, loiro: ainda sobraram alguns caracóis…)

Estava eu naquela minha sina anual (já com o prazo expirado) de dar um jeito à peruca e entrando (como de costume) numa infrutífera negociação com a tesoura (e a navalha! desta vez até de navalha lhe deu!) em mão alheia para um qualquer tipo de acordo quanto à quantidade de cabelo que deverá sobrar e aquele que um qualquer degenerado zeloso quer extirpar do meu couro cabeludo, quando me apercebo finalmente do porquê de tamanha sanha sobre a minha cabeleira.

Do meu lado direito, sentava-se uma ex-rendimento mínimo qualquer, talvez agora casada com um futebolista e, portanto, munida de forte mau gosto e farta carteira, que se entretinha a espalhar extensões loiras num cabelo já pintado de um loiro acinzentado de inenarrável textura, distraída a contar as pedrinhas coloridas que lhe enfeitavam a camisola, as calças, o cinto, as meias e até as botas;

Do lado esquerdo, estava o Zé Pimba, t-shirt vermelha e laranja, argolinha de oiro com brilhante na orelha, cabelo já grisalho e a escassear, que punha extensões de maneira a ficar com aquele ar de motoqueiro de Sachs que empata e fode o trânsito ao Domingo;

Mais lá à frente, apresentam-se duas manas jaquinas, uma de bota-galocha rosa-choque às florinhas, a outra com umas botas daquelas que parece que calçamos o pequinois (como as que a
Luna também gosta muito, não sei se estão a ver…), cujo objectivo na deslocação ao Salon era… extensões, obviamente!

Por fim, chega uma velhota enrugada, cabelo pintado de lilás e eu já temo o pior, imaginado extensões capilares (a cinco euros cada, parece) de um qualquer verde bisga, para estar de acordo com o mau gosto geral. Mas não: afinal só queria fazer as unhas e escolheu um verniz bege. Até sorri para a velha!

No entretanto, percebo finalmente porque e como desapareceu tanto do meu cabelo: já ninguém quer cortar; os cabeleireiros não têm cabelos para cortar; só há gente a querer implantar madeixas e depois dar um jeitinho.

Ou isso, ou está tudo a preparar-se para a Festa do Azeite, onde "só entra quem tiver peúga branca".

Raizosparta a todos! Estou outra vez careca!

2006-12-12

Ui, ui!

Mr O'Donell shakin his ass


A fazer zapping enquanto os discursos enrolados na RTP1 me começavam a causar calafrios, eis que me deparo com isto no AXN. Ok, o resto era tudo gajas a abanar o cu e as mamas, mas este senhor quase me fez sentir vingada das gajas pluma. No entretanto voltei aos outros... acho que vou dormir!

2006-12-11

Dedicatória sem links

(…)
Solamente

pienso
que he sido tal vez digno de tanta
sencillez, de flor tan pura,
que tal vez soy vosotros, eso mismo,
esa miga de tierra, harina y canto,
ese amasijo natural que sabe
de dónde sale y dónde pertenece.
No soy una campana de tan lejos,
ni un cristal enterrado tan profundo
que tú no puedas descifrar, soy sólo
pueblo, puerta escondida, pan oscuro,
y cuando me recibes, te recibes
a ti mismo, a ese huésped
tantas veces golpeado
y tantas veces
renacido(…)

Pablo Neruda – A todos, a vosotros

A ti, que me perguntas se estou zangada contigo por pouco dizer; a ti, que sentiste um rasto de desassossego mal disfarçado nas minhas letras e me mandaste os e-mails que às tantas precisava ler; e a ti, que pegaste no telefone para um tiquinho de conversa que soube bem.

Obrigada, meus queridos.

2006-12-10

A insultuosa presença


aqui


Os nomes dos indignos saltam e repetem a sua insultuosa presença, os traidores, ainda longe do inferno dantesco a que pertencem…

Luís Sepúlveda – Uma História Suja

Estou aqui contente com a morte de alguém. É uma coisa estranha, muito estranha, como se carregasse na minha carne ou na minha memória um 11 de Setembro de quando tinha dois anos e ainda mal sabia o que era o Mundo. Como se o Chile achincalhado, mordido nas canelas pelos poderes dantescos dos interesses de uns poucos e depois espremido e sangrado, até já quase nada restar, pelo louco homicida que se sentou na cadeira do poder, fosse meu para chorar, em toda a sua horrenda tragédia.

Se fechar por breves instantes os olhos, a imagem que vejo é de um louco decrépito, alheado completamente da realidade, a sair de um Tribunal. Se procurar mais fundo em mim, vejo uma qualquer fotografia de homem fardado em que sempre tive vontade de pintar a cauda e os cornos do diabo.

E resta também um gosto de frustração. Porque o monstro morreu, mas os crimes permaneceram calados e escondidos e não houve condenação.

Mas está morto! Que o enterrem bem fundo. Que não lhe sobre mais que um buraco bem fundo e que a carcaça seja comida rapidamente. Demorou a extirpar este tipo do reino dos vivos. E foi-se louco. Devia ter ido consciente, lúcido, cuspido pelo sujo que representou.

Mas deixamos de estar sujeitos à sua "insultuosa presença". Foi tarde. Demasiado tarde. Muito mais tarde que Allende. Mas talvez hoje, finalmente, Allende descanse em paz, por fim vingado pela Morte que a ninguém perdoa.

Que dizem os meus olhos?



Passion

67%

Mysterious

58%

Eyes full of Pain

33%

Diamond Eyes

25%

You scored as Passion. You are very passionate whether that passion is good or evil has yet to be determined. You have great power over others and they seem to flock to your service. You are very competitive almost to a fault. Perhaps you should let someone else win for a change?

What do your eyes reveal about you?(PICS!) created with QuizFarm.com


Ser apaixonado nos argumentos é ser competitivo? Talvez... Eu defendo os meus como posso e como sei: umas vezes melhor; outras vezes pior. Mas sei perder. Ninguém sobrevive sem aprender a perder, por mais que custe...

2006-12-06

Sofanadelas


aqui

Ando há três anos (pronto, já devem ser quatro…) para comprar um sofá. O caraças é que tenho uma sala mesmo estranha, trapezoidal, onde nada parece caber direito e onde quase tudo parece ficar de ladecos. Esse não seria o grande mal, que eu também não caibo em qualquer coisa e tenho um feitio de ladecos desde a nascença. Mas, pá!, porra!, não havia maneira de encontrar um sofá que gostasse. E não havia maneira de achar que aquilo ia ficar bem na minha sala.

Esta semana encontrei o sofá perfeito finalmente. Obviamente que queria um sofá azul. O sofá novo é preto. Depois do carro, já nem estranho. Mas é lindo. Lindo!

Bem, ainda não está bem, bem comprado… Mas hoje fui experimentá-lo para aquilo que realmente importa: que tal caibo lá eu. E está à medida para todas as sofanadelas com que já estou a sonhar. E a babar também, claro. Ou vão dizer-me que nunca vos aconteceu adormecerem no sofá e acordarem com um ameaço de baba estrategicamente equilibrado num dos cantos da boca?

2006-12-05

Lastro


Sigmar Polke - Woman at the mirror


Com o passar do tempo, vamos acumulando demasiado lastro, demasiadas contas, demasiadas responsabilidades, demasiadas histórias, demasiados vícios...

Como se a sofreguidão com que tentamos viver não chegasse nunca e a insatisfação se acolitasse na sombra à espera. E pode ser qualquer coisa a confrontar-nos.

Presto atenção aos sinais e estes só me dizem como aprendi a descartar o simples, enfeitando tudo de elaborações mais ou menos complexas. Na ânsia de me proteger da vida, descubro-me quase incapaz de viver. E apenas partilho jogos, cada vez mais insatisfatórias, cada vez mais ritual sem conteúdo. E o jogo nunca é apenas meu. Estou a ficar demasiado velha para tanta espera e já nem é tanto o corpo cansado: é a alma que se enrodilha e encarquilha. O pior é que, do outro lado, vejo apenas os mesmos medos.

2006-12-04

Ai que quase não chegava a tempo...


aqui

Parabéns, menina!

E a lei prescreve...

W.H. Auden - Law like love

Law, say the gardeners, is the sun,
Law is the one
All gardeners obey
To-morrow, yesterday, to-day.

Law is the wisdom of the old,
The impotent grandfathers feebly scold;
The grandchildren put out a treble tongue,
Law is the senses of the young.

Law, says the priest with a priestly look,
Expounding to an unpriestly people,
Law is the words in my priestly book,
Law is my pulpit and my steeple.

Law, says the judge as he looks down his nose,
Speaking clearly and most severely,
Law is as I've told you before,
Law is as you know I suppose,
Law is but let me explain it once more,
Law is The Law.

Yet law-abiding scholars write:
Law is neither wrong nor right,
Law is only crimes
Punished by places and by times,
Law is the clothes men wear
Anytime, anywhere,
Law is Good morning and Good night.

Others say, Law is our Fate;
Others say, Law is our State;
Others say, others say
Law is no more,
Law has gone away.

And always the loud angry crowd,
Very angry and very loud,
Law is We,
And always the soft idiot softly Me.

If we, dear, know we know no more
Than they about the Law,
If I no more than you
Know what we should and should not do
Except that all agree
Gladly or miserably
That the Law is
And that all know this
If therefore thinking it absurd
To identify Law with some other word,
Unlike so many men
I cannot say Law is again,

No more than they can we suppress
The universal wish to guess
Or slip out of our own position
Into an unconcerned condition.
Although I can at least confine
Your vanity and mine
To stating timidly
A timid similarity,
We shall boast anyway:
Like love I say.

Like love we don't know where or why,
Like love we can't compel or fly,
Like love we often weep,
Like love we seldom keep.


Vejo as notícias e os debates e as tretas do costume… E fica tudo como de costume, não ficando em lado algum.


2006-12-03

Estou tão tristinha!


aqui

Tristinha duas vezes. Zero de alegrias. Snif!!


(Pior mesmo só se fosse de outra raça de gatinho...)

2006-12-02

Um soneto de Natalia

Um soneto de Natália Correia a João Morgado (CDS-PP), relembrado aqui no Voz, em época de referendo.

«O acto sexual é para ter filhos» - disse o deputado do CDS-PP em anterior debate sobre legalização do aborto. A resposta, EM JEITO DE POEMA, que fez rir todas as bancadas parlamentares, veio de Natália Correia. Aqui fica:


Já que o coito - diz Morgado -
Tem como fim cristalino,
Preciso e imaculado
Fazer menina ou menino;
E cada vez que o varão
Sexual petisco manduca,
Temos na procriação
Prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
Lógica é a conclusão
De que o viril instrumento
Só usou - parca ração! -
Uma vez. E se a função
Faz o órgão - diz o ditado -
Consumada essa excepção,
Ficou capado o Morgado.

Um blog de gaja


aqui


Entro direitinho na categoria do blog de gaja (e esqueçam agora por momentos que a doçura do Gaivina também se espalha por aqui em textos), daqueles blogs que tresandam mesmo a gaja e dizem tesão e orgasmos e sexo e desejo e sei lá mais o quê. E ainda digo palavrões e escrevo os nomes do desejo em vernáculo, sem pudor em dizer caralho e admirá-lo assim, belo e erguido; ou dizer cona, sabendo e deixando saber que tenho uma; ou mamas, ou pele, ou pêlos, ou cheiros, ou vida.

E é que é isso mesmo: falo de vida sem pudor. Recuso-me ao estereótipo cansativo da menina sonsa e bem comportada que só no MSN liga a webcam ou então só fode mesmo em palavras, para que ninguém lhe veja as fuças. Ou os blogs de gajos estafados, já sem força para mais, refugiados na política e no futebol e atulhados do refugo da mentalidade que lhes ensinou que não se mostram os sentimentos, que parece mal, cai mal, e escrevem posts atrás de posts que se lêem em três minutos e a seguir viram para o lado e ressonam nos arquivos.

E com tanto texto que tantos depreciam como "de blogues de gaja", resta-me saber que os meus (alguns, alguns…) são lidos por homens e mulheres de mente arejada. De gente que não põe rótulos, tirando uns quantos carinhosos, que ainda estou a habituar-me ao Ludovina.

Mas até é mais do que isso. É que eu cá acho que esses críticos de pacotilha, mais sonsos e preconceituosos do que a maior da sonsas, mais encarquilhados em medos do que qualquer paciente de terapia, escrevem sempre mais do mesmo porque ainda ninguém lhes inventou um viagra para a imaginação. E, claro, tão doutas personagens nunca se atreveriam a contar que sim, que também tomam, que de vez em quando (pelo menos) é preciso dar mais do que duas de letra.

E este blog de gaja, perdido e sem papas nas teclas, com dois sistemas de comentários e mais o mail pespegado no topo, só teve que lidar, em mais de dois anos de existência, com um saltitãozeco à caça de qualquer coisa a que ele, coitado, às tantas chamava engate, mas a mim só fez gargalhar.

E nem gajos nem gajas, nem coisas disfarçadas, nem pinga-amores ou pobrezinhos à procura de colo. Nada. Nicles. Népia. O blogue de gaja que fala de sexo e tesão e caralhos e fodas e desejo, é um blogue sem ataques reptilianos, tirando uma serpente das do costume, facilmente reconhecível pela dor de corno e, ainda assim, sem presença suficiente para entrar para a estatística.

Ter um blog de gaja é bom! Tão bom!

Claro que, no entretanto, há sempre alguém que me diz que eu assusto e não tenho ar de aguentar com abelhudos minguados nem na minha vida, nem na minha caixa de comentários, muito menos no meu e-mail. Ah! O MSN só lá tem amigos e a webcam não funciona…

Às vezes até me sinto discriminada… é que gosto tanto de ser gaja e escrever coisas de gaja…

2006-12-01

O porquê do referendo

(...)é dispensável dizer que a lei actual é letra morta (devido à confluência de vários poderes) e, por mais voltas que se dê, não é possível ressuscitá-la. Em consequência é necessário encontrar uma solução – uma nova lei para ser cumprida que ultrapasse os “traumas” actuais. Há quase 10 anos, em finais de 1997, a Assembleia da República, aprovou essa necessária Lei de despenalização do aborto (com o meu voto favorável, enquanto deputado do PS). Depois da aprovação da Lei, António Guterres, então primeiro-ministro, e Marcelo Rebelo de Sousa, então líder do PSD, acordaram que esta só entraria em vigor após referendada. O referendo realizado teve os resultados que todos conhecemos. A partir desse momento, goste-se ou não de referendos, a aprovação de qualquer Lei de despenalização do aborto deixou de ser uma matéria da competência política do Parlamento. Só por referendo se pode resolver esta questão. Ora, não sendo possível aplicar a lei actual (e não vale a pena argumentar com o irrealista “devia ser cumprida”) que resolveria satisfatoriamente esta questão; nem sendo politicamente ajustado encontrar uma solução no quadro da Assembleia da República, não resta outra solução senão promulgar uma nova lei, sufragada em referendo e que, vou ser crédulo, possa ser aplicada. Por isso, vou votar sim no referendo.

Tomás Vasques - Hoje há conquilhas, Amanhã não sabemos (28/10/06)


Tenho lido tanta coisa à conta do referendo e tanta coisa sobre porque deveria ser a AR a assumir a alteração da lei que temo que poucos se tenham dado ao trabalho de descobrir os porquês. É que botar faladura é sempre fácil. Escalpelizar os motivos é bem mais complicado.

Por mais confortável que fosse para nós esperarmos sentados por uma lei que, eventualmente, até podia ser vetada e, na prática, alterada daqui a uns tempos, quando mudassem os equilíbrios de poder, a verdade é que já não pode ser assim.

Só espero que, desta vez, a percentagem de eleitores a deslocarem-se às urnas represente, de facto, pelo menos os 68,06% dos votantes que não se deram ao trabalho de aparecer nas mesas de voto em 1998.

Quando nem metade dos eleitores vota, como acreditar nos resultados? Como esperar que sejam vinculativos 31,94% de votos, de toda a população votante (e alheada, quase sempre) deste nosso cantinho em que tantos ralham e tão poucos têm razão?

Tango-festa

Gotan Project - Santa Maria (Del Buen Ayre)


Sempre achei que um tango te ia bem. Não um tango qualquer, envelhecido. Antes um tango actualizado ao tom dos tempos. Mas tango ainda assim: uma tristeza que não chega a ser fado, um ritmo que não chega a ser excessivo, um passo borratado em paixão.

Parabéns,
Fausta Paixão.