2020-04-20

Palavras

“Words are things. You must be careful, careful about calling people out of their names, using racial pejoratives and sexual pejoratives and all that ignorance. Don’t do that. Some day we’ll be able to measure the power of words. I think they are things. They get on the walls. They get in your wallpaper. They get in your rugs, in your upholstery, and your clothes, and finally in to you.”

― Maya Angelou

2020-04-16

RIP Luís Sepúlveda

«"Yo estuve aquí y nadie contará mi historia." Ignoro cuanto tiempo permanecí frente a esa piedra, pero a medida que la tarde caía vi otras manos repasando la inscripción para evitar que la cubriera el polvo del olvido...» 

Luís Sepúlveda


Contou Luís Sepúlveda em "As Rosas de Atacama" que deu com uma inscrição anónima gravada numa laje de Bergen Belsen: "eu estive aqui e ninguém contará a minha história". E contou ainda que foi essa frase que o levou a escrever um belíssimo conjunto de contos sobre as histórias breves de vidas que não serão nunca descritas nos compêndios da História, mas que não são por isso menos importantes. Chamou a esse livro "Historias Marginales", nome que para mim faz mais sentido do que a sua versão portuguesa, por mais bela que seja a ideia de um deserto coberto de flores. É que é de margens e de esquecimento, de figuras que tiveram o seu quinhão de venturas e desgraças e, no entanto, são em tudo demasiado parecidas com todos nós, anónimas a mais das vezes, capazes de fugir e se esconder, levadas pela própria cobardia a actos de coragem que fazem, nem que seja apenas numa vida, a diferença. Sepúlveda pegou nessas vidas e perpetuou-as. Para que alguém pudesse contar a sua história; porque alguém contou a sua história. E fica assim a palavra escrita contra a poeira da memória, contra a brevidade das recordações. De alguma forma, todos somos histórias marginais na memória de alguém. Talvez um dia alguém conte outra dessas histórias para que mais uma rosa pinte de cor o deserto do esquecimento.

2020-04-07

Vai ficar tudo bem?

A minha geração está à toa. Deram-lhe o Mundo e meia dúzia de regras, desde a democracia ao Estado Providência. Não lhe disseram que ia ter de se esforçar. À minha geração nunca foi pedido qualquer esforço. A minha geração nunca quis ter o encargo de ser uma geração. E nunca lhe disseram que ia ser difícil e que, um dia, a normalidade ficaria virada do avesso. Estávamos a erguer a cabeça da crise económica e agora enfrentamos a História em forma de peste. E não estamos preparados para morrer. Não sei se estamos sequer preparados para viver. "Andrà tutto bene!" Não sei se vai ficar.