2015-12-24

Boas Festas!


Querido Pai Natal, 

Já sei que este ano estou atrasada. Podia dizer qualquer coisa tipo "é a crise, estúpido", mas como já fazes greve todos os anos aos meus pedidos, tenho medo que desta vez te chateies a sério e nem um par de peúgas encontre no sapatinho. 

Eu continuo a ser – juro! – uma menina bem comportada. Eu como a sopa, eu não minto (muito), eu porto-me bem e respeito os mais velhos, eu só insulto taxistas e outros cromos de toda a espécie atrás do volante, mais os árbitros e os futebolistas, bem como, ocasionalmente, os jornalistas e outros imbecis que têm um artigo de opinião nos jornais, além de políticos com e sem poleiro. Mas tenho a certeza que se vivesses cá também insultavas! 

(tenho insultado bastante o Bruno de Carvalho, mas esse não conta, pois não?) 

O ano passado não quis complicar. Viste como fui linda, Pai Natal? E pedi paciência. Só paciência, Pai Natal! Onde foi que a meteste que não chegou à minha chaminé? Ainda está no cu de Ju… (quer dizer) no nariz do Rudolf? 

Este ano, Pai Natal, nem brinques! A crise vai preta! Negríssima! Por isso, Pai Natal, fica lá com os gajos, a dieta e a paciência e traz-me só uma coisinha: o poder de compra que tinha há quinze anos atrás. Vale? 

Beijinhos, Pai Natal

2015-09-30

Papa Francisco



Em 2007, na homilia do Dia Mundial da Paz, Bento XVI afirmou «junto com as vítimas dos conflitos armados, do terrorismo e das mais diversas formas de violência, temos as mortes silenciosas provocadas pela fome, pelo aborto, pelas pesquisas sobre os embriões e pela eutanásia». Na prática, chamou-me terrorista. Chamou terroristas a muitos de nós, todos aqueles que não metem no mesmo saco que a violência e a fome, o aborto a pesquisa científica ou a liberdade.

E talvez eu seja mesmo terrorista aos olhos de alguém como o Papa Emérito. Afinal, devo representar o medo para todos aqueles que sempre quiseram um mundo ordenado e a preto e branco, com hierarquias, dogmas e estratos, o nós de um lado e os outros, os diferentes, lá longe, no vão da escada da vida. Talvez eu personifique de facto o terror daqueles que não sabem o tanto de medo que os move: mulher branca, adulta, com direito a voto e voz, independente, senhora do meu ganha-pão e autoridade para dispor dos seus proveitos, que nunca quis ser só esposa, ou só mãe e muito menos cônjuge, defensora do direito à vida cada vez que o carrasco se aproxima com o nó corrediço ou a injecção letal; defensora da vida de todas as mulheres, até daquelas que não querem ser mães; defensora da eutanásia, porque somos livres de dispor do nosso corpo enquanto ainda temos capacidade para decidir em consciência; defensora da pesquisa científica, mesmo que em células estaminais, porque todas as vidas que podem ser salvas merecem esse esforço; defensora do preservativo e dos contraceptivos; defensora de uma igreja que, se se quer virar para a família e fomentar valores familiares, então tem de passar a saber o que é constituir família; defensora de impostos para os padres; defensora de um Estado laico onde os representantes de apenas uma igreja, bem como os símbolos dessa mesma igreja, não têm lugar em cerimónias que se dirigem aos cidadãos, todos os cidadãos, sem diferenciar nem credo, nem raça, nem género.

E talvez porque em cada discurso que lhe ouço o Papa Francisco se afasta mais e mais do discurso viciado, misógino e retrogrado de Bento XVI, gosto de novo Papa. Não concordo com a doutrina católica em muita coisa, quase tudo o que se afasta da ética moralizada e quer apenas ser moral empacotada. Não concordo com os dognas, a infalibilidade, as mil e uma regras sem sentido inventadas ao sabor das várias conjunturas e momentos históricos, nem com a ideia de um Deus castrador e castigador ou qualquer ideia de paraíso. Mas o novo Papa - se o deixarem viver - é uma lufada de ar fresco.

O mesmo não se pode dizer da direita norte-americana. Ver e ouvir o que disseram nas últimas semanas a propósito do Papa Francisco, tem cheiro a tudo, menos a frescura. Cheira, sobretudo, a ignorância e idiotia. E o pior é que um dia destes ainda temos uma besta tipo Trump a ganhar as eleições americanas e a achar que manda no Mundo. Ora, o mundo já está mais do que afundado em esterco e em crise. A haver Deus, que nos poupe da prosápia e sede de poder da direita republicana dos EUA. Cheira demasiado ao mesmo tipo de fundamentalismo e radicalismo dos países como a Arábia Saudita ou o Irão onde, de certeza, eu teria sido considerada herege, terrorista e condenada à morte por crucificação como o desgraçado do Ali Mohammed al-Nimr.

Se o Papa Francisco é o homem mais perigoso do mundo, porque não podemos ter uns quantos como ele a candidatarem-se a eleições? Vejam só a merda que nos sobra...

2015-06-26

Alegria à americana



Depois de ler a notícia na imprensa portuguesa, resolvi ir dar uma vista de olhos à imprensa americana: afinal acabo sempre de cara à banda com as peculiaridades daquela gente e as coisas mais estranhas em que acreditam e o que são capazes de defender. E há sempre um sinal óbvio de que estou a ler um idiota ignorante americano (e como há tantos!): escreve pior inglês do que eu, com mais erros, menos pontuação e certamente menos sentido.

(Agora uns querem imolar-se enquanto outros querem divorciar-se porque o casamento dos gays vai dar cabo do casamento deles. Acho mal! Ninguém deve morrer à conta da estupidez causando efeito de estufa, mas mais ainda porque deve é manter-se a ignorância confinada num único lar e, de preferência, impedida de reproduzir-se.)

2015-05-23

Opinião só sem lucro

"tudo o que não é opinião, mas sim publicidade deve ser identificado de forma clara e inequívoca para não haver erros de interpretação."

  http://www.dinheirovivo.pt/Buzz/Publicidade/interior.aspx?content_id=4582583

2015-04-28

O menor de...



Fiz campanha pela despenalização do aborto. Continua a fazer sentido dentro da minha cabeça evitar a imbecilidade de só ser a mulher criminalizada por um acto onde estão sempre presentes pelo menos dois. Faz sentido para mim que nem se questione a opção em casos de violação. E no entanto... no entanto a lei tem prazos por algum motivo, prazos que remetem para o momento em que o feto passa a sentir dor, em que o monte de células passa a ser bem mais do apenas isso. Por mais que tenha sempre defendido a despenalização, por mais que a defenda veementemente em caso de violação, por mais que me choque ter sido uma criança violada, neste caso já não. Seria outro crime.


2015-03-19

Da responsabilidade

«Responsabilidade política 

do Governo Perante a Assembleia da República 
-O Governo é responsável políticamente perante a AR, pela sua actividade e pela actividade da administração dele hierárquicamente dependente. 

Perante o Presidente da República 
-Existe uma responsabilidade política do Governo perante o PR e existe uma responsabilidade política do PM perante o PR» 

Professor Dr. J. J. Gomes Canotilho

E depois há os irresponsáveis...

2015-02-23

Ai o absurdo!


E como sempre sinto-me a viver num mundo à parte! Um mundo que não percebe o sucesso de obras de qualidade mediana nem a histeria que as rodeia. Sendo que todas as gerações têm as suas pancas quanto à sexualidade, desde os gregos e os seus meninos passando pela cegueira à conta da masturbação ou da negação do prazer feminino delegado para crises nervosas, até percebo que uma sociedade que não se importa de ver cabeças a serem decepadas em prime-time mas não pode ver maminhas no Super Bowl se passe por completo com umas algemas ou umas chibatas. Mas na Europa? Poupem-me!