2025-10-31

🎃 Três Vozes para a Noite de Halloween

Há noites que não pertencem inteiramente ao calendário. O Halloween é uma delas — uma dobra luminosa entre o medo e o riso, onde as sombras se tornam matéria de poesia e o escuro pede tradução.

Estas três vozes nasceram dessa travessia: a leve, a inquieta e a que fica entre as duas — a metade da noite.


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🌕 1. Entre abóboras e luar

para quem ainda acredita que o escuro também sabe sorrir

Há um riso doce espalhado no ar — uma gargalhada de criança misturada com o cheiro de folhas molhadas. O vento brinca nos cabelos e as luzes piscam como quem piscasse o olho à noite. É Halloween, mas não há medo. Há um certo encantamento em fingir ser outro por algumas horas, em esconder o rosto e, ao mesmo tempo, revelar o que sempre quisemos ser.

As casas brilham, os degraus ganham passos apressados e, entre “doces ou travessuras”, há um fio de ternura que une todos — quem dá, quem recebe, quem observa da janela com uma caneca quente nas mãos.

Porque talvez o Halloween não seja sobre o susto, mas sobre o riso que nasce do susto. Sobre a coragem de brincar com o escuro. De acender uma pequena vela dentro da abóbora e deixá-la brilhar, mesmo que só por esta noite.


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🌑 2. O que permanece depois do riso

para quem sabe que os fantasmas também moram por dentro

Depois que os risos cessam, depois que as velas se apagam, fica um silêncio estranho. Um silêncio cheio. As máscaras, pousadas sobre a mesa, parecem observar-nos de volta. Há um resquício de algo — um frio que não vem do vento.

Talvez seja isso que o Halloween tenta lembrar: que os fantasmas não estão fora, estão dentro. Nas memórias que evitamos, nos nomes que não dizemos, nos gestos que ficaram por fazer.

Entre os doces esquecidos e o eco distante de passos, há algo que persiste. Algo que olha connosco para o espelho e pergunta, baixinho:
“E tu, de que é que te disfarças quando o mundo adormece?”


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🕯️ 3. A metade da noite

para quem atravessa o escuro e regressa inteiro

Há noites que não são escuras nem claras — apenas suspensas. O Halloween é uma delas. Uma dobra no tempo onde tudo parece respirar mais devagar: o som dos passos, o lume das velas, até o próprio pensamento.

Talvez por isso esta noite tenha um nome. Porque é preciso dar nome ao que não sabemos explicar.

Entre o riso e o medo há uma fronteira ténue — e é ali que gosto de ficar. No instante em que a criança finge ser monstro e o adulto finge não acreditar. Nesse espaço onde o faz-de-conta se transforma em espelho, e o escuro se revela cúmplice.

Penso nas máscaras — todas elas. As de papel, as de tinta, as que usamos para parecer fortes. Penso que talvez o Halloween seja apenas uma desculpa antiga para as retirarmos, uma de cada vez, e ver o que sobra.

Porque há sempre algo que sobra. Um olhar, um arrepio, uma lembrança que se senta ao nosso lado.

E quando a meia-noite passa e o silêncio volta a encher a casa, não é o medo que fica — é o brilho. Um brilho estranho, quase terno, de quem atravessou o escuro e regressou inteiro.


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💭 Notas do blogue:
Há festas que são espelhos e há espelhos que são portais. O Halloween talvez seja ambos. Uma noite para rir do medo e ouvir o que ele sussurra quando o riso cessa.

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