2006-12-21

E se?...


aqui

Sabes, o pior, o pior mesmo, é quando – depois de longas e estudadas análises racionais a todos os conceitos, todos os deveres e todos os direitos – acabamos a sentir que não nos livramos do preconceito. Trazemos ainda o gajo tatuado em nós, é marca de fogo, letra escarlate. E até sabemos que podemos e devemos dizer tudo, fazer tudo, sem cobranças, para além das tantas que já fazemos diariamente a nós mesmas. E, no entanto, trazemos o preconceito em nós. Em nome dele, julgamo-nos e ainda somos capazes de, no fim, julgar a outra. Talvez seja tudo uma questão de falta de hábito no jogo em equipa, dessa inconcebível capacidade do bicho macho para se proteger e ressalvar a gregaridade do género. Nós vamos logo de faca na mão e língua afiada e a vizinha tem sempre qualquer coisinha de que podemos dizer mal com inusitado fulgor. Depois, como somos nós que acabamos a parir a todos, géneros à parte, passamos no leite o que somos e o que ainda não conseguimos chegar a ser. E é por isso que, mesmo esperando pelo dia milagroso em que o Mundo seria, finalmente, governado pelo desgoverno feminino, feito de palavras e conversas, em lugar de murros e bombas, temo-o com igual desgarre: que faremos umas às outras nesse dia, se não gostarmos dos sapatos, ou invejarmos o vestido? E que reservaremos para as putas, aquelas que, sendo-o ou não, caíram para o lado debaixo da forma viciosa como ainda olhamos para o nosso género?

15 comentários:

vanus disse...

1- As mulheres controlam o mundo, sempre controlaram.
2- No dia em que o passarem a governar, já cá não quero estar. Não há pior para uma mulher que outra.

(Ao menos os homens precisam de nós, e ao menos a esses conseguimos controlar) :p

vanus disse...

Ah... a não se que passe a ser a fufalhada geral, mas aí também já cá não quero estar :D

Hipatia disse...

Olha, olha!... Eu a chegar de te responder lá no Chez Maria e tu aqui. E hoje, para ser bem chata, vens com argumentos com que eu concordo? Ora bolas! Estava a pelar-me por uma boa discussão :P

(a fufalhada geral deve ser assim uma espécie de fim dos dias, quando já nenhum cromossoma X acabar a ver uma perninha decepada para ser convertido em Y amputado, certo?)

TheOldMan disse...

Que Blog nos livre da "fufalhada geral".

Se todos nos aplicarmos nas formas de luta que tão bons resultados já deram, haverá sempre um homem para fazer o pequeno-almoço.

(I do my part!... both ways... )

;-)

vanus disse...

Lol Hipatia, vieste compor o ramalhete? :) O fufalhada geral, era numa de que as mulheres "todas" começariam a "precisar" das outras para o controle, um cenário onde "menino não entra"...e eu cá não me importo que nada que haja quem goste de 4 pernas, mas eu prefiro mesmo as 3 ;)


Mestre, acho bem...mas eu também gosto de os fazer ;)

Maria Arvore disse...

Eles têem de ser gregários porque são biologicamente mais novinhos. ;)

E passada esta alfinetada que não contenho porque me diverte, afirmo que não defendo
a substituição da ditadura dos homens pela ditadura das mulheres. Chama-me utópica mas
para mim existem pessoas com as "mesmas" capacidades que têm componentes diferentes para
praticar uma coisa: sexo.

Isto também quer dizer que não entendo atitudes em que "menino não entra" como em que "menina
não entra". E fufalhada geral também não me atrairia, porque como costumo dizer, se tivesse
nascido gajo era panasca.;)

E por último, lá por haver menos homens que mulheres não vale a pena estas degladiarem-se
numa competição desenfreada porque cada uma de nós é única (como eles, diga-se) e nada há ninguém que
nos substitua. Logo, no melhor espírito natalício, tudo é partilhável. ;)

Maria Arvore disse...

Ai Hipatia,
nesta lufa-lufa da minha casa para a tua ;) já me esquecia de te dizer que o Cap, no BOp, te deixou uma prendinha e eu já iniciei o contra-ataque joshiano. ;)

Anónimo disse...

Estou quase de acordo com tudo.
Os homens são mais gregários porque eram os únicos que podiam confraternizar em qualquer lugar: em casa, na caça, nas putas etc.
As mulheres existiam para lhes agradar,TODAS, mesmo as amigas da mulher. Daí a desconfiança.
Parece-me que é um problema cultural que talvez tenha resolução.
Bom Natal para todos que aqui costumam vir e para os da casa.
Beijinhos.

Hipatia disse...

Viste as notícias sobre a possível nova legislação Espanhola, Old Man? Passam a ficar estabelecidas quotas para o número de mulheres e de homens, não só nas listas políticas, mas até as empresas e os seus conselhos de administração. Eu nunca fui adepta das quotas e tenho ainda a ilusão de que o mérito algum dia será reconhecido. Mas...

E, sim, que venha dai o pequeno-almoço. Eu cá gosto de ficar no quentinho da cama até à última :))) No Verão faço eu ;-)

Hipatia disse...

Claro! Eu lá sou de deixar o ramalhete pela metade? eheheh

Mas, sabes, acho que me assusto com a ideia de um clube do bolinha no feminino. Eu, pelo menos, ia ter sérias dúvidas em desencostar as costas da parede. E, depois, eu gosto de fazer charme para o sexo oposto. Admito até que me faz sentir poderosa ver o charme a funcionar. Mas só sei fazer charme às três pernas...

Só que há tantas coisas onde acho que faz falta um dedinho feminino... E há tantas vezes em que parece que as mulheres não passam do degrau da equivalência. E há tantas outras em que parece que, para atingirem o topo, tiveram que adoptar comportamentos estereotipados do sexo oposto. E há ainda tantos anúncios da menina da bilha... E há...

Hipatia disse...

Li algures que, desde há uma série de anos, nascem mais rapazes que meninas em Portugal. Não sei se é verdade ou mentira, mas parece-me ideal chegar aos 70 e só ter fedelhos a dar sopa ;-)

Não tenho a menor dúvida que não se pode nem deve substituir um extremo pelo outro. Mas acho que ainda faz sentido reivindicar o nosso quinhão: não me parece, de facto, suficientemente equitativo. Senão vejamos a quantidade de profissionais que têm que acumular até um seguro automóvel feito especialmente para elas. Ninguém se lembraria de um absurdo daqueles para o género oposto, certo? E isso faz toda a diferença. Como faz diferença quando sentes na pele que, mesmo sendo até melhor habilitada, o lugar será dado antes a um homem, porque implica deslocações e não é por não teres família agora que não a vais querer ter no futuro… E esta última até já me aconteceu a mim!

As três Marias que lá postaste tiveram de enfrentar muito mais do que nós, Marias, hoje. Mas, naquela altura, era flagrante e instituído. Hoje continua a acontecer discriminação, só que sempre dissimulada e anormalmente etiquetada de politicamente correcta. E isso só acontece porque, para muitas, os braços nunca se ergueram para pedir mais.

Ah! Sabes, acho que mesmo sendo defensora de outras soluções e não me sentindo sequer preconceituosa em relação a cocktails alternativos, ainda prefiro a velhinha e natural procriação (especialmente na sua versão ir a treinos).

Hipatia disse...

Fiquei a pensar qual teria sido o "quase" com que não concordaste, Marta :))

Sem dúvida que é também cultural. E não é culpa apenas do macho sequer. Lembro-me, por exemplo, de quando era miúda e, quando era preciso levantar o rabo da mesa para ir buscar qualquer coisa, a nomeada era sempre uma das miúdas. Nem pensar pedir tal aos rapazes. Ou a forma como, em casa da minha avó, os homens eram sempre servidos primeiro. Claro que quem os servia eram mulheres...

Bom Natal!

Anónimo disse...

A parte com que não estou de acordo, porque espero que as coisas culturalmente mudem nas próximas gerações, é continuarem a ser cabras e mesquinhas no futuro. Acredito que vão passar a ser mais gregárias, inclusive por necessidade.
Beijinhos.

Hipatia disse...

E agora? Já dormiste?

Que tal correu o jantar? É que estavas a chegar do tal jantar, não era?

Hipatia disse...

Pois essa é a parte que acho que carregamos nos genes, Marta. Com sorte tens razão e, por força da cultura e da necessidade, talvez numa próxima geração esteja melhor.