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Umberto Eco escreveu todo um romance para demonstrar a importância do acesso ao conhecimento. Jean-Jacques Annaud depurou a história e transformou-a num filme em 1986. E há um livro proibido por lá, motivo para crimes hediondos, mas também, de certa forma, a maneira possível de conquistar a liberdade. Uma biblioteca que apodrece sem leitores é um desperdício. Uma biblioteca que arde é uma catástrofe. Pensem em tudo o que se perdeu em Alexandria após a morte de Hipátia…
Não duvido que conhecimento é poder. E o controlo desse mesmo conhecimento é mais poderoso ainda, reservando a uns poucos o monopólio da verdade e, em última instância, da liberdade. É que as prisões são sempre bem mais do que muros e grades, não é?
E é por isso que os livros são preciosos, desde que haja quem os saiba e queira ler, que a literacia é bem mais do que saber juntar as letras. Também me parece certo que quem lê tem vontade de ler mais, que ler vicia, que aprender constantemente é objecto de treino e de empenho. No fim, quem lê talvez tenha vontade de escrever, talvez contribua para o conhecimento de todos com o saber que acumulou.
Por tudo isto, neste Dia do Livro que se celebra hoje, venho falar-vos do projecto que tem mantido o Gaivina longe da Voz. É um programa do Instituto do Livro e das Bibliotecas, em colaboração com a Direcção Geral dos Serviços Prisionais. Ontem, no Jornal de Notícias, vi a primeira referência: Escrita criativa ajuda reclusos a esquecer grades da prisão. E lá está o Gaivina e lá estão alguns reclusos e a psicóloga que tem ajudado. Um momento de evasões imaginárias, feitas de letras e de histórias, numa pequena cela convertida numa pequeníssima biblioteca. É um ponto de fuga para quem não pode fugir. E os livros – e a escrita – são a pequena porta de acesso a esse saber acumulado por gerações que se esconde, à nossa espera, em cada livro que hoje se celebra, em cada livro que ainda não foi escrito, em cada biblioteca nunca acabada, nem fechada, nem dominada por aqueles que têm medo do saber.
Não duvido que conhecimento é poder. E o controlo desse mesmo conhecimento é mais poderoso ainda, reservando a uns poucos o monopólio da verdade e, em última instância, da liberdade. É que as prisões são sempre bem mais do que muros e grades, não é?
E é por isso que os livros são preciosos, desde que haja quem os saiba e queira ler, que a literacia é bem mais do que saber juntar as letras. Também me parece certo que quem lê tem vontade de ler mais, que ler vicia, que aprender constantemente é objecto de treino e de empenho. No fim, quem lê talvez tenha vontade de escrever, talvez contribua para o conhecimento de todos com o saber que acumulou.
Por tudo isto, neste Dia do Livro que se celebra hoje, venho falar-vos do projecto que tem mantido o Gaivina longe da Voz. É um programa do Instituto do Livro e das Bibliotecas, em colaboração com a Direcção Geral dos Serviços Prisionais. Ontem, no Jornal de Notícias, vi a primeira referência: Escrita criativa ajuda reclusos a esquecer grades da prisão. E lá está o Gaivina e lá estão alguns reclusos e a psicóloga que tem ajudado. Um momento de evasões imaginárias, feitas de letras e de histórias, numa pequena cela convertida numa pequeníssima biblioteca. É um ponto de fuga para quem não pode fugir. E os livros – e a escrita – são a pequena porta de acesso a esse saber acumulado por gerações que se esconde, à nossa espera, em cada livro que hoje se celebra, em cada livro que ainda não foi escrito, em cada biblioteca nunca acabada, nem fechada, nem dominada por aqueles que têm medo do saber.
A liberdade conquista-se de várias formas. Até nesse gesto breve de manusear um livro neste País de Abril em que já não há censura no ler, no escrever e no pensar. Quem tem medo de um bom livro?
8 comentários:
Tem medo de um bom livro quem não queira que outros imaginem, pensem, que o conhecimento desses outros mundos pode gerar contestação ao mundo que se conhece. ;)
Boa ideia aquela que aqui divulgas em que o Gaivina participa (ele é um motivador nato :). A escrita é um espaço de liberdade para cada um ou então não nasceriam blogues todos os dias. ;)
Tens razão: a dimensão do fenómeno "blog" deveria ser suficiente para nos demonstrar como a escrita é uma urgência para tanta gente. E como é também um espaço de liberdade, de opinião. Só quem nunca leu nada sobre o que era e como era antes pode desvalorizar este nosso mundo em que ninguém está proibido de ler, de escrever, de saber; e só quem não percebe nada de nada tenta tirar o mérito a quem quer mais um bocadinho. E começo a ficar farta da treta do "não é vergonha ser trolha". Não, não é vergonha. Mas é melhor não o ser, ter tido a oportunidade para não o ser, pertencer a uma geração que pode aceder democraticamente ao conhecimento, em lugar de, como a minha avó, só ter ficado 6 meses na escola porque era preciso ir trabalhar. Ou a minha outra avó, mais as manias das "famílias bem", que nem pensar em ir à escola pública e nunca foi preparada para muito mais do que bordar e falar francês.
Um livro e um filme maravilhosos. :)
O projecto do Gaivina parece-me bem interessante. Houve um ano em que leccionei na Prisão de Caxias e ainda tenho guardadas algumas coisas escritas por alguns alunos (desde correspondência a poemas); alguns com verdadeiro potencial para a escrita. :)
Que saudades tinha de te ver por aqui, Velvet :))
E, sim, gostei quer do livro, quer do filme e pareceram-me uma boa "desculpa" para abordar o tema do Dia Mundial do Livro e do projecto em que o Gaivina se envolveu.
E penso que tu e o Gaivina talvez pudessem um dia falar dessa tua experiência ;-)
"Bem hajam!" Como se diz aqui na beira, onde estou de passagem...
Até que enfim apareceste :D
O Zé Prisas já referiu este trabalho que venho desenvolvendo no Blog dele...
Agora já cá estou de novo!
Mais Vozes
O Nome da Rosa é das melhores escolhas para o dia de hoje.
Jorge | | Email | Homepage | 04.23.07 - 8:51 pm | #
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Gostei do livro do Umberto Eco. Mas não sei onde o meti (talvez no sótão de casa dos meus pais). Há lá uma passagem que queria usar neste post e... nicles! Salva-se uma imagem do filme. Assim como assim, acho que há mais gente que tenha visto o filme do que aqueles que se deram ao trabalho de ler o livro. E é uma pena!
Hipatia | | Email | Homepage | 04.23.07 - 9:10 pm | #
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O livro tem de facto mais leituras do que o filme (mais precisamente, duas, segundo o autor).
Se te lembrares da página dessa passagem, apita que eu tenho-o aqui ao lado. :-p
Jorge | | Email | Homepage | 04.23.07 - 9:28 pm | #
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Achas?! Já lia há tantos anos que já nem sei quantas páginas tinha. Mas eram muitas
(olha lá, porque é que o teu blogue não actualiza no bloglines?)
Hipatia | | Email | Homepage | 04.23.07 - 9:49 pm | #
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Sei lá eu o que é isso do bloglines. :-p
Jorge | | Email | Homepage | 04.23.07 - 10:00 pm | #
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eheheh
Qualquer coisa que bloqueaste, pelos vistos
Hipatia | | Email | Homepage | 04.23.07 - 10:31 pm | #
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Força gaivina que tens ai uma tarefa árdua e uma realidade tão diferente daquela que conheces do mundo infantil .
claire | | Homepage | 04.29.07 - 1:40 pm | #
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