2007-04-30

Pormenores


aqui

Não sei se escrevo de forma feminina. Talvez escreva. Talvez seja apenas esta minha disposição para falar do meu umbigo, ou a forma egocêntrica como desbasto os assuntos, ou esta coisa breve e a prazo de vir falar, dizer qualquer coisa, depois de ter andado a cirandar pelos blogues e ficar a achar que não tenho nada novo para dizer no fim de mais um dia interminável.

Ou às tantas é porque não sou gajo e não sei escrever de outra forma, mesmo quando me arrepanho ao futebol. Ou então é mesmo esta falta de tempo que me assola e destroça e pouco sobra além da velha lógica de toca e foge de que acusam muitas vezes as mulheres no geral e a mim em particular.

E suspeito que entrar nesta minha casa é como espreitar à fechadura, entrevendo alguma intimidade, estados de humor, irritações e alegrias. Ou talvez até o fundo escuro seja intimista e as letras azul-turquesa não derramem cor suficiente e a empatia se torne uma possibilidade real, já que ninguém é assim tão diferente...

Mas por uma fechadura nunca se vê a totalidade e é no não visto que se escondem os detalhes. Aliás, não é que não saiba que me desvelo por cá. Não é que não tenha consciência que vou falando de coisas que me atingem, me preocupam, me deliciam. Mas assusta-me que por vezes tentem ver para além do umbigo que quero mostrar. Ou que alguém ache que vê…

12 comentários:

SoNosCredita disse...

"E suspeito que entrar nesta minha casa é como espreitar à fechadura, entrevendo alguma intimidade, estados de humor, irritações e alegrias."

é isso que todos gostamos de ler... saber que também os outros têm 'coisas' idênticas...

:)

SoNosCredita disse...

'coisas' = pormenoridades!

vague disse...

entendo-te perfeitamente. incomoda-me (um pouco, não me tira o sono) q alguém some dois mais 2 e ache q tem q ser quatro neste ambiente tão etéreo...

Hipatia disse...

Sim, claro, SóNosCredita. Mas é preciso ver onde estão os limites. E, sabes, se espreitar o início do blogue, encontro por lá textos bem mais "verdadeiros". É como se agora me impusesse, quase sem dar conta, limites que me tolhem. E talvez seja isso que me faz descartar em muitos dias as tais "pormenoridades": sobra o resto e, ultimamente, quase já não sei porque sobra, ou porque resisto :(

Hipatia disse...

Não é o que os outros pensam ou deixam de pensar; é antes eu achar que podem pensar, percebes? Quem se limita sou eu e não os outros a mim.

(estou a gostar de ler a tua história em fascículos, Vague)

vague disse...

Sim, mas repara que indirectamente os olhares dos outros limitam, pois é por causa deles q nos limitamos nesse não querer q nos julguem por uma amostra incompleta por mais afirmativa q seja no q quer q seja. O não dito e o oculto(o oculto até da própria natureza desta relação, como olhos, voz, atitude) são fontes preciosas de níveis de conhecimento e compreensão mútua. Que não se julgue q se conhece alguém só por isto, embora, sim, embora haja tb a certeza de q 'isto' fornece pistas. Mas pistas sem provas é menos q o meu folhetim :)
(a ver vamos se o consigo imaginar...)
;)

Hipatia disse...

Lembras-te quando me viste a primeira vez? De me achares calada e assim? É também isso: essa coisa de, por vezes, sermos só metade ou sermos o dobro ou não sermos sequer nada. No nosso caso, já sabemos o que há para lá do "daqui" e, no entanto, ainda nos surpreendemos uma com a outra, não é? E, quando assim acontece e é saudável, nada contra. Mas não impede que eu me limite porque já não sou apenas a Hipatia do blogue anónimo e anódino. Até por coisas tão simples como temer que os amigos fiquem em cuidado se escrevo algo mais negro :)

vague disse...

bom, posso dizer q te subscrevo inteiramente! :)

Hipatia disse...

Perde-se alguma liberdade. Mas às vezes nem é mau de todo ;-)

vague disse...

a propósito de uma frase tua de q gostei particularmente, fiz post. é q acertaste na mouche, pá!

Hipatia disse...

Quanto a isso, já estamos conversadas, não é?

Beijo

Anónimo disse...

Mais Vozes

também me acontece que as pessoas pensem sobre o que escrevi coisas que não tinha pensado dizer de modo algum, mas essa troca de "leituras" diverte-me. num mundo virtual tudo é hipotético e nada é literal, mas tudo pode ser literal e nada ficcionado, p'ra todos os efeitos a primeira premissa é a mais correcta.
eu não supus uma vez que tu e a Marie eram a mesma pessoa? não te divertiu a ideia? então? não te assustes com qualquer suposição... só tu és a dona da tua verdade, certo?
fábula | | Email | Homepage | 05.01.07 - 12:06 pm | #

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Claro que tens razão Fábula. E eu até sei isso tudo. Não me assustam algumas das suposições. Mas às vezes assusta-me quem as tenta fazer. Porque alguns parcem não saber distinguir nada, assumindo a literalidade em tudo.
Hipatia | | Email | Homepage | 05.01.07 - 3:42 pm | #