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Olhando para trás, recordado o meu corpo adolescente que tanto odiei e olhando este corpo de agora que aprendi a amar, sinto que deitei tempo fora com uma insignificância. Existem inseguranças ainda, claro (que mulher não as tem?), mas aprendi a vê-las quase como uma precaução contra os excessos intempestivos. E evitam-me as imprudências, de certa forma, salvando-me de confrontos desnecessários com desvarios egocêntricos.
Sei que há dias em que me olho ao espelho e me sinto muito poucochinha. Só que aquilo que só a idade me ensinou é que essa insegurança tem muito pouco a ver com o meu corpo. Não podia continuar a culpar o meu corpo - como fiz durante muitos anos - pela forma deslocada como sempre me vi no mundo. E hoje em dia assusta-me bem mais estar padronizada, homogeneizada, sem pingo de criatividade ou garridice, sem chama.
Acho que tem a ver com o que chamam maturidade e é bem mais do que as cãs que me pintalgam os cabelos ou o quão mais difícil parece hoje perder ou ganhar um par de quilos. Mas há um conforto com a própria pele que antes não conhecia. A maturidade trouxe-me também essa independência e já não me assusta a autonomia enquanto cobiço o conforto de estar diluída na multidão. Mesmo que esteja, porque estou. Só que a busca já começou a ser feita no sentido inverso…
Sei que há dias em que me olho ao espelho e me sinto muito poucochinha. Só que aquilo que só a idade me ensinou é que essa insegurança tem muito pouco a ver com o meu corpo. Não podia continuar a culpar o meu corpo - como fiz durante muitos anos - pela forma deslocada como sempre me vi no mundo. E hoje em dia assusta-me bem mais estar padronizada, homogeneizada, sem pingo de criatividade ou garridice, sem chama.
Acho que tem a ver com o que chamam maturidade e é bem mais do que as cãs que me pintalgam os cabelos ou o quão mais difícil parece hoje perder ou ganhar um par de quilos. Mas há um conforto com a própria pele que antes não conhecia. A maturidade trouxe-me também essa independência e já não me assusta a autonomia enquanto cobiço o conforto de estar diluída na multidão. Mesmo que esteja, porque estou. Só que a busca já começou a ser feita no sentido inverso…
11 comentários:
Nem imaginas o quanto me identifico com este teu texto :)
Um beijinho
Mais uma a identificar-se ;)
Será a magia dos trintas?
(e o que eu odeio que me tentem convencer à padronização? conversas de "estavas melhor com menos uns quilos" e "vai para o ginásio, vai" dão-me vontade de engolir um bolo de chocolate :D)
Acho que tem a ver com a idade, Jcky :) Há coisas que só mesmo o tempo nos ensina e, por cada pormenor perdido, há mil e um encantos encontrados.
Beijinho
Eu o chocolate lá vou dispensando, claro. Mas vou ao ginásio duas vezes por semana porque me diverte: vou à hora de almoço, o prof (que não é nada de deitar fora), como não aparece mais ninguém, acaba por ser quase um personal trainer e deixo por lá os engulhos de uma manhã de trabalho. E esse tipo de comentário vai-me passando ao lado porque estou, de facto, de bem com o meu corpo. Até no que toca a sexo, já que há uns aninhos que acho que qualquer gajo com um pingo de juízo deveria preferir fazer amor com uma mulher e não com uma fedelha. É que quando nos achamos desejáveis, somos de facto desejáveis, não te parece? Vê-se na pele, nos olhos, no corpo todo... E nem é só uma questão de andarmos (ou não) bem fodidas. É preciso saber também foder, coisa que leva algum tempo e passa sobretudo por despir muitos fantasmas que a educação e a sociedade nos impuseram na mioleira. Ou então, levantar o dedinho do meio e mandar foder quem nos diz dessas coisas, hipótese que, como é óbvio, eu endosso :D
a mim o ginásio arrepia-me; só uma vez o frequentei com gosto, exactamente quando estava de bem com o meu corpo; depois e paradoxalmente, quanto mais quilos tenho menos gosto de lá ir.
gostei de ler-te e de te saber madura. de saber, não, de confirmar, porque a tua escrita é de maturidade.
um beijinho.
Linda Elipse, esqueces-te que eu te conheço? O ginásio não é para o corpo; é para a nossa cabecinha. Eu cá acho que estás a precisar regressar, descarregar no exercício o que te mói, descontar dos quilos que só nesta nossa época absurda são feios e sair de lá com um sorriso rasgado nessa cara laroca, com o corpo cansado e a mente desperta.
Obviamente que não vai funcionar em todos os dias, especialmente naqueles em que o mundo nos cai em cima da cabeça logo pela manhã. Mas nem todos os dias são assim e é uma hora que, garantidamente, será só tua. Serve para virar para dentro e, no instante seguinte, conseguir aguentar tudo o que está fora.
Confesso que na adolescência a chatice que tinha com o meu corpo era a eterna cara de miúda que não me fazia "crescida" aos olhos dos outros.
Mas não há como a maturidade para conhecermos "a fundo" o nosso corpo e para lhe dar uma plasticidade que não conseguimos aos 20. :)
E que se lixem umas gorduritas ou coisa que o valha que a sensualidade é possível mesmo com isso, uma segurança só possível com o acumular dos anos. :)
: )
Ai é difícil ganhar um par de kilos?
Não seja por isso que te queixes q eu dou-te a receita para q seja bem mais fácil! :)
Pois eu sempre achei que tinha ar de loira burra sem nem loira ser: durante muito tempo fiquei muito espantada e muito ofendida por algumas pessoas se surpreenderem por eu ter mais do que dois neurónios preguiçosos. Mas em relação à minha capacidade intelectual, estranhamente, nunca tive grandes inseguranças: sabia que não era nenhum génio, mas que tinha bem mais do que um Tico e um Teço e um mau feitio tremendo na altura de o provar.
Ganhar ou perder, Vague Maria: para uns é fácil ganhar (ai estou contigo), mas também há outros para quem é fácil perder. A esse nível, o corpo parece demorar bem mais a obedecer. Ou já não te lembras como era bem mais fácil o iô-iô há uns 10 anitos atrás?
Mais Vozes
Há quem diga que a única grande mudança que conseguimos fazer é passarmos a viver bem com quem somos...
Jorge | Homepage | 03.07.07 - 6:52 am | #
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E quem o diz está certo, não te parece, Jorge?
Hipatia | Homepage | 03.07.07 - 6:29 pm | #
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Tirando as naturais excepções, está certo sim. Embora a minha teoria seja mais elaborada envolvendo duas camadas. :-p
Jorge | Homepage | 03.07.07 - 8:19 pm | #
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Isso deve ser por dares passos difíceis sem tirar ilações
:P
Hipatia | Homepage | 03.07.07 - 9:33 pm | #
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Tiro-as tiro-as. Daí a camada exterior. :-p
Jorge | Homepage | 03.07.07 - 9:46 pm | #
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Ah! Deve ser à conta de um coiso qualquer que me escapa
Hipatia | Homepage | 03.07.07 - 10:03 pm | #
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Nah, nah, a camada exterior é a que muda. A interior é a constante. E cada um tem uma espessura diferente em cada uma delas. Genial, não? :-p
Jorge | Homepage | 03.07.07 - 10:19 pm | #
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A interior não é constante: vai perdendo lixo com os anos, felizmente. Pode até ficar mais fina, mas também fica muito mais ginasticada para aguentar todos os embates na e sobre a exterior
Hipatia | Homepage | 03.07.07 - 11:21 pm | #
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escapei ao aparelho para os dentes aos óculos ao corte das orelhas ao tratamento para a dislexia tenho 3 tamanhos de roupa e tento me afogar na piscina
ela anda a partir pedra e eu n | Homepage | 03.08.07 - 1:32 pm | #
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mudam-se os tempos, mudam-se as vontades... certo? faz parte de ser adolescente ter fases e fases de dúvidas, depois cresce-se, tem-se mais em que pensar, e começa-se a pensar e procurar outras coisas, mesmo que a remar contra a corrente que nos levou a determinado sítio!
fábula | Homepage | 03.08.07 - 3:57 pm | #
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Deixa, Claire Todas temos dias em que a piscina parece (demasiado) prometedora
Hipatia | Homepage | 03.08.07 - 7:36 pm | #
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Deveria ser sempre assim, mas não é Fábula. Há muita gente que desabrocha demasiado tarde, se chega a desabrochar alguma vez. Contra mim falo, claro, que levei anos a mais a encontrar a vontade certa e não tenho sequer qualquer garantia que ela não desapareça num suspiro.
Hipatia | Homepage | 03.08.07 - 7:38 pm | #
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