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A política há muito que passou de ser praticada (não digo feita, apesar de tudo...) por um punhado de gentalha cheia de técnica e manhas. Já não é vocação; é um trabalho bem pago, com muitos trabalhinhos por fora. Talvez devido à alternância, isso é especialmente evidente entre os actuais tecnocratas prontos para o poleiro dos dois maiores partidos. Mas para os lados nada me parece muito melhor. E irrita-me profundamente o cheiro a putas velhas que tudo lança, das madamas escondidas nas sombras a contar as notas e a puxar os cordelinhos. Ou o cheiro que vem do caldeirão decrépito e enfezado, onde uns fósseis com gravata (se mais à direita) ou sem gravata (se mais à esquerda) dizem que zelam pelos interesses dos trabalhadores, quando não sabem o que é picar o ponto há décadas. Ou o excesso de zelo em fazer o jeito ao patrãozinho dos fabricadores de notícia (não lhes chamo jornalistas, claro, porque duvido que a maioria tenha competência para tanto e também ali já quase não há vocação). Como nauseia o bedum que se desprende da manhosice de uma certa oligarquia do pilim ou do tijolo, de bolsos fartos para promover campanhas e mão aberta para cobrar favores. Ou a pestilência organizada de jogos semi-secretos, em opus daqui e dali e todas as outras tramas emaranhas com origem num trono onde ultimamente se senta um calhau, contra (quando interessa) os interesses dos que um dia se disseram livres para esculpir a pedra bruta. Como depois há os caciquismos vários, com a dimensão e cheiro equivalente ao tamanho do bolso que os comanda, metendo o dedo onde podem arrancar tostão, cobrando bem caro qualquer assinatura que desate os laços que enlaçam o povinho. Ou as negociatas regadas a álcool, drogas e sexo. E alombam sempre em cima do povinho e o povinho paga. São uma praga imunda, que alastra. Rodam votos, rodam cabeças, fica sempre o mesmo fedor. E não há maneira do País (e do povinho acossado e espoliado) conseguir livrar-se dos chulos, até porque chulos há muitos e, como sempre, há os que se ficam pelas ruas bem visíveis e os que se escondem nos gabinetes. Em alguns desses gabinetes, não se trabalha sequer: contam-se piadas e mete-se o IRS, enquanto no gabinete ao lado se bufam as últimas novas do serviço. Ou se fazem listas de quem tem opinião política e não respeita a máxima velha que retorna agora engalanada do "manda quem pode, obedece quem deve". E a verdade é que isto tresanda. Tudo tresanda. E não é fado nem resignação. É poeira, cortina de fumo. O que importa jamais será revelado: queimaria como incêndio de verão, sem poupar nada que lhe aparecesse pela frente. E por isso mesmo não arde: são todos bombeiros em casa alheia, sempre que lhes cheira que podem ficar sem parte da ração.
5 comentários:
Há um movimento de grve nos blogs para hoje. Se desejares participar passa lá pelo WeHavekaosinthegarden e copia a imagem
obrigado
abraço
Não fiz greve mas o computador fez por mim. De qualquer forma, se tivesse o pc a funcionar em condições, ainda assim não faria "esta" greve arregimentada e fora de horas, com visíveis interesses políticos e nenhum respeito pelos trabalhadores. Quanto a esses, pelo menos os poucos que vi aqui pelo Porto, aproveitaram para se baldar e só isso. É triste quando a greve já não merece maior cuidado. Quando for preciso, que mecanismos terão ainda os trabalhadores, já que este é assim malbaratado?
Aqui há tempos tive o gosto de ler uma crónica do Vasco Pulido Valente sobre uma coisa que também me preocupa, e não é pouco. Até me vieram as lágrimas aos olhos de alguém importante falar no assunto. E é isto: a cena de a maior parte dos políticos da geração socratiana (ele incluído) não terem mais profissão nenhuma que... a de político.
Ou seja, a política tornou-se uma carreira, ao invés de um serviço público, prestado por pessoas de valor, que se distinguem nas suas áreas de formação, e que até abdicam dos seus bem pagos salários durante um quadriénio para servirem a pátria (esta parte é metade minha, metade VPV, que já nem me lembro bem do que ele disse).
Isto faz-me confusão. E uma comichão do outro mundo. Há aí gente que nunca trabalhou em nada, nunca teve um emprego normal, só cargos políticos ou relacionados. Claramente, para isso não precisam de um curso, mas isso já é outra história. O pior é que o poder é viscoso e agarra-se à pele de quem com ele convive muito tempo. Corrompe. Tolda a vista para a realidade.
Por acaso isto é coisa que defendo há uns anos (eu e também há aí uns líricos que também defendem), que é a limitação de mandatos, em qualquer cargo de nomeação / eleição política. Institua-se uma base de civil servants, que não são nomeados quando entra governo (ou seja, boys). Corremos um risco de Humphreys, mas o actual regime de boys (que alternam conforme ganha ou perde o seu partido, mas também se eternizam porque ficam na prateleira 4 anos - e ganhar bem - até ao seu partido voltar) parece-me bem pior. A gente nem sabe de onde eles vêm.
E acabava-se a carreira política. Fim. Acabava o limite de mandatos, voltavam à sua vidinha.
Era bom ou não? Ei. Não é perfeito, mas era giro ;)
"Yes Minister" :D
E, olha, eu votava por ti ;-)
Mais Vozes
já nem há direita nem esquerda, hoje é tudo ao centro... não consigo identificar ideais políticos nos partidos, vejo apenas que há governos e oposições e o resto... bem, o resto é conversa! :p
fábula | | Email | Homepage | 05.30.07 - 8:02 pm | #
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Pois eu suspeito é que há demasiada conversa, menina. Claro que por baixo do pano, bem longe da vista
Hipatia | | Email | Homepage | 05.31.07 - 1:03 pm | #
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Se isto tem sido escrito por Dupond eu assinaria por baixo como Dupont como não foi digo apenas que é impossível não pensar como tu .
( Desculpa lá a comparação patética e despropositada mas estive á pouco a ouvir falar da nossa judiciária )
frogas | | 06.02.07 - 4:25 am | #
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Se foi um inglês a falar da PJ, devia estar a dizer mal
Sabes, o que me irrita mesmo a sério é conseguirmos suspeitar tanto sem conseguirmos provar nada. E só suspeitas não valem
Hipatia | | Email | Homepage | 06.02.07 - 7:43 pm | #
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