2014-06-10

Horta à janela

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Ah, meu Portugal! 

Ele há dias em que só tenho vontade de atirar tudo para trás das costas, largar a cidade já demasiado grande e partir para uma vida nova, lá onde ainda as águas se abrem em piscinas no meio do rio ou onde um engarrafamento se mede pelos dois carros que resolveram sair à rua à mesma hora. 

Fugir para onde as pessoas ainda vivem em casas e têm quintais e roseiras a colorir a ombreira da porta. Estacionar a minha vida lá de onde toda a gente fugiu e onde eu jurei que saberia ser feliz, houvesse investimento e emprego e mais do que a paisagem. 

Viver no meio da lonjura e ter uma casa branca, com roseiras por baixo das janelas e com ombreiras das portas coloridas e um jardim com uma macieira perfumada e um banco debaixo de um caramanchão florido e uma noite que ainda deixa ver estrelas e onde o barulho é feito apenas de cigarras e grilos, pássaros e árvores balançadas pelo vento, ou algum riacho mais caudaloso. 

Mas os sonhos não enchem barrigas nestes pedaços do País cada vez mais despidos de gente, onde já quase só sobram os velhos e não há esperança na raia fronteiriça do esquecimento. E não posso ir!

2014-06-04

We were watching T.V.

Pergunto-me se Tiananmen é ainda espinho encravado na realidade da propaganda e na realidade que, afinal, veio depois. E penso que talvez os rostos e corpos já tão distantes no tempo e na geografia nunca puderam ser apenas números. Aquela realidade televisionada para que todos vissem nunca deixou que a barbárie fosse apenas um roda-pé na história.