2019-05-26

¡No pasarán!

Há anos que voto contra alguém ou alguma coisa. Hoje a coisa chama-se extrema-direita. E mesmo diminuída fisicamente com um braço engessado e com uma cruz de ladecos, já está.

2019-05-20

Alabama

Assustam-me os diferentes relatos que vão chegando de sociedades fundamentalistas e o desrespeito crescente pela figura feminina. É um regresso à barbárie com base numa estrutura obstinadamente patriarcal, dogmática e neurótica. Pergunto-me se as mulheres assim acabrunhadas reconhecem ainda que o domínio imposto advém vezes demais do medo e que, necessariamente, tem de haver um reconhecimento de que o sexo da força bruta é, a muitos - demasiados! - níveis o sexo menos evoluído. E, no entanto, até as bestas tiveram mães...

2019-05-15

Dos absurdos em véspera de Europeias

Não concebo nem admito certos comentários racistas e xenófobos aos portugueses. Só se não conhecermos a História.  Ou a tivermos deturpado para encaixar numa visão do mundo alucinada.

Que povo somos, afinal? Não fomos sempre um País em movimento para algum lado, migrantes de e para toda a parte?

Com fronteiras mais ou menos estáveis desde o século XII, ainda fomos malhar mais um bocadinho nos árabes que restavam para chegar a sul. Depois, fizemos ali umas guerrinhas na fronteira e raios, Olivença até é nossa. De seguida, vamos de ir ali até ao Norte de África. Não chega e continua-se por África fora e mais além. Brasil? Ena! Pouco importa que até já lá houvesse gente, que até se fez bom dinheiro com o tráfego esclavagista banhado a ouro. E as migrações continuaram, mesmo depois de já não haver nada para descobrir, desde os pés rapados oitocentistas que iam até ao Brasil fazer fortuna e regressavam depois para construir casas gigantes e comprar um título de Barão. Ou em África, que até se dizia portuguesa. Ou, depois, o Império já mais ou menos todo perdido, mandar os analfabetos e deserdados fazer pela vida na construção de França, da Alemanha, do Luxemburgo, do Canadá, dos EUA, da Venezuela, um pouco por todo o lado.

Agora, o povo que nunca respeitou fronteiras, ou credos, ou fosse o que fosse quando andava a fazer pela vidinha, não quer imigrantes, que não há que chegue para os "nossos", que a juventude vai embora que não tem trabalho e blá, blá, blá. E os tantos de portugueses que continuam a partir? Os licenciados que vão, os outros todos que continuaram a ir, não são migrantes, claro, porque são dos "nossos", coitadinhos, e até vão de avião.

Um País de emigrantes a acenar com a bandeira da xenofobia é um absurdo. E o pior é que é uma bandeira velha e de resultados já bastas vezes comprovados como funestos.

Depois, a História, apesar das suas fronteiras, não foi justa nos movimentos migratórios da riqueza, nem da sua distribuição. E não foi menos porque uns quantos de pobres saltaram fronteiras para lutar pela vida, mas antes porque um punhado de poderosos foi à terrinha dos outros fazer pela própria vidinha.

Num Mundo economicamente globalizado e financeiramente interdependente, fechar fronteiras migratórias já não resolve nada. É só meter a rolha a jusante e temo que, no fim, o dique acabe por rebentar bem mais acima. Mas, como sempre – e as crises anteriores assim o demonstraram – há sempre alvos fáceis para a retórica. Cá estão outra vez os imigrantes. Daqui a nada vamos fazer o quê? Arranjar umas janelas de cristal para partir numa única noite de folia e deixar que o ódio endémico, sem nada resolver, sirva apenas de escape para as amarguras várias, quase todas sem terem nada a ver realmente com a cor da pele, ou o credo, ou a nacionalidade, muito menos a fronteira?

E agora que resolvemos não ter filhos, vamos acabar como? Velhos, sem segurança social e sem ninguém que nos mude as fraldas 

2019-05-04

Meu menino!

Às vezes fico a olhar e penso que entregamos nos teus ombros, ainda tão pequeninos, todo o futuro que esperamos melhor. Meu menino, criado entre gente cansada, tardio e bem vindo! A ti entregamos a manhã, a tarde, a noite, a madrugada, a familia, a amizade, o cheiro da terra molhada dos nossos outonos e o verde de todas as primaveras, o sorriso e o choro, o direito de gritar, de rir, de crescer. E de ser feliz!