2005-03-31

Afagando o ego





You Are a Pundit Blogger!



Your blog is smart, insightful, and always a quality read.
Truly appreciated by many, surpassed by only a few
.





Talvez isto me ponha de melhor humor :)

(Juro que me limitei a responder com sinceridade às perguntinhas!)

Primavera


Primavera


For The Love Of Life
For The Love Of Life
In The Light Of Life
In The Love Of Light
And The Strong Survive
For The Love Of Life
And The Strong Will Rise
In The Endless Light
For The Blood Of Life
For The Love Of Life
In The Bloodless Light
For The Love Of Light
In The Blood Is Light
In The Light Is Life
For The Love Of Life
For The Love Of Life

In The Endless Light
In The Blood Of Life
Now The Strong Will Rise
For The Love Of Light
In The Bloodless Light
Now The Strong Survive
For The Love Of Life
For The Blood Of Life
And The Heavens Come
For The Strongest Ones
In A Universe
Made Of Blood And Love
In The Blood Is Light
In The Light Is Life
For The Love Of Life
For The Love Of Life

Swans - Love of Life



Pelo que disse ali na caixa de comentários abaixo, penso que todos saberão que hoje ainda não me apetece responder-vos. Ou melhor, apetecia-me ter vontade de vos responder, mas, na realidade, só me apetece ir dormir.

Quem me conhece, sabe bem que não gosto de sobrecarregar os outros com os meus problemas. E talvez não tenha sido boa ideia fazer da Voz um "saco de boxe" (desculpa o roubo, Azulinha). Mas precisava escrever. Escrever muito mais para mim do que para os outros. Para alinhavar ideias.

Estou por aqui e tenho lido tudo. Só não me apetece o diálogo. Bem sei que é egoísmo e, por isso, peço desculpas.

Vou virar-me do avesso, como faço sempre. Interiorizar, pesar, retemperar. Depois volto aos diálogos. Para já estou a precisar deste silêncio. Não me levem a mal a falta de cortesia de tanto comentário simpático que deixei sem resposta.

Soube-me bem ler-vos. Obrigada!

Até amanhã.

(a ver se é só mais este até amanhã...)

2005-03-30

Culto dos Mortos

Às vezes penso nos suicidas e em como, algures antes de todo o tempo, antes de toda a história, antes mesmo de ser eu, também desejei ter uma lápide nesse céu, mas não tinha arma, nem engenho, nem a vontade certa.

No céu dos suicidas


Hoje vi a primeira andorinha. Fez um voo rasante sobre o vidro da frente do carro e seguiu. Ainda lhe estou a ver o veludo negro das asas e o eterno peitilho branco. E lembrei-me, por vários motivos, da voz do Carlos do Carmo a cantar que, por morrer uma andorinha, não acaba a Primavera.

Mas, pelo menos no que toca a mim, este início de Primavera parece ter sido escolhido para várias partidas. Como se, depois de resistirem a este Inverno tão gelado e seco, se lembrassem de partir com as primeiras chuvas. Já conto três... E quase me sinto vestida de branco e negro, como se fossem essas as cores que esta Primavera me calhou trazer. E Maio ainda nem chegou...

Depois, venho até aqui... E eu, que não acredito no além, em vida depois da morte, em encarnações ou reencarnações, ainda encontrei a Duende ali em baixo a questionar o culto dos mortos.

Concordando com ela em parte, porque os ritos são para os vivos e não para os que partem, como são as flores e são as preces, como as lágrimas servem para lavar apenas o nó que nos amordaça a dor e a consome em traqueias atrofiadas, penso que discordo num sentido mais geral.

É que, para mim, a eternidade possível passa exactamente por esse pequeno culto dos mortos que, cada um de nós, pode fazer à sua maneira: lembrando.

O meu culto dos mortos é exactamente esse: preservar na memória cada momento, cada instante precioso, de todos os que amei e já não tenho. Agarro-me firmemente, teimosamente, à ideia de que, enquanto formos vivos na memória de alguém, então não morremos de facto. Porque ainda não nos deixaram partir. Porque eu não sei deixar partir essas memórias.

Um dia cobraram-me uma vida. A minha vida. Fizeram-me prometer que iria sempre tentar viver com todas as minhas forças. Por mim e por quem me cobrava tal promessa. E eu prometi e tenho essa dívida para carregar, qual espada sobre a minha cabeça, até hoje, provavelmente até ao fim dos meus dias. E, se não tenho grande empenho em pagar a maior parte das dívidas que a vida me vai apresentando, esta assumo como uma dívida de honra. E vivo. Melhor ou pior, mas vivo.

Mesmo tendo sentido já tanta vez a vida como um fardo, porque há memórias preciosas e porque há promessas que têm mesmo de ser cumpridas, não me resta senão viver. Viver e lembrar. Para afugentar todos as finitudes e qualquer degredo do esquecimento. Para ver chegar a primeira andorinha, mesmo que a veja sempre trajada de luto.

E hoje fico por aqui, que não estou boa companhia para ninguém, nem sequer para mim. Amanhã respondo a todos. Já vos li. Só não tenho em mim capacidade para escrever mais do que isto hoje.

Até amanhã.

Sem desculpas



Não lhe falava desde o Natal de 2003. Uma vergonha!

E também por vergonha não lhe falava. Porque não há razão que desculpe a sem razão de algumas palavras engatilhadas em fúria, disparadas sem dó.

Agora não sei o que dizer...

Talvez dizer apenas que, por vezes, não basta só pedir desculpas. Porque essas até podem ter sido pedidas. Nem basta sermos desculpados. Como não basta sequer o afastamento, o deixar que a vida siga o seu curso, que cada um siga o seu caminho.

A mim não basta. Não basta esta certeza que já não há mais tempo para dizer um simples olá; não basta aquietar a consciência pelas soluções encontradas; não basta fingir que não me atingiu.

A morte fez-me voltar para dentro de mim mais uma vez, para pesar o bom e o mau, para me deixar como um céu coberto de nuvens cinzentas que ameaçam o aguaceiro que nunca mais virá.

Sabia que estava doente. Sabia o seu e-mail. Deixei o tempo passar, achando que haveria sempre tempo. E nunca há...




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2005-03-29


Aguaceiro Posted by Hello

Anjos Caídos

(...)
Têm todos os anjos

o vício:

da queda?



Maria Teresa Horta – Os Anjos I



Irrita-me a perfeição. Deve ser por isso que gosto da ideia de anjos caídos, anjos falíveis, anjos enxovalhados pelos vícios do prazer.

Mas gosto tanto de anjos...


...

E, se ofereci um anjo à minha irmã, este é para mim...


2005-03-28

Parabéns, mana!


Estrelas Posted by Hello


Fossemos infinitos
Tudo mudaria
Como somos finitos
Muito permanece.


Bertold Brecht - Se Fossemos Infinitos


Uma das coisas que mais me assusta, é a forma como te tomo por garantida – e garantia – na minha vida...

E se me faltas?

Iupi!!!!!!





Não podia deixar de me juntar à festa...



Parabéns, Zu!

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2005-03-27

Banho (ou o novo desafio)

Lembrei-me do conselho da minha tia Clara, "atende sempre a porta com a carteira pendurada no braço: se for algum chato, dizes olha que pena, vou já sair!; se for algum amigo, largas a carteira e dizes: olha que bom, cheguei agora mesmo!"

Alice Vieira – Bica Escaldada


Ela andava para trás e para a frente a preparar as coisas para o banho mais do que merecido no final de mais um dia de trabalho. Abria gavetas, fechava gavetas, punha tudo à mão enquanto a banheira ia enchendo de água bem quente.

Estava cansada. Tensa. Os dias às vezes podem ser muito complicados. Sozinha em casa, sabia que só aquele banho poderia fazer o milagre de a deixar relaxada o suficiente para descansar umas horas. Depois, logo se via o que lhe apetecia fazer...

Desligou o telemóvel. Não havia nada que a irritasse mais do que ser interrompida durante o seu ritual do banho. E parecia que todos tinham a pontaria para telefonar exactamente no momento em que o corpo dela acabava de mergulhar na água. Dessa vez, estava prevenida, obrigando o aparelho ao silêncio que se impunha.

Mas, nesse dia, já com um pé dentro da banheira, não foi o telemóvel que tocou. Foi a porta. Ainda pensou recusar a resposta, mas a curiosidade, a preocupação também, não lhe permitiriam deixar de espreitar para ver quem desta forma interrompia o seu retiro.

Vestiu um robe às três pancadas sobre o corpo já despido e foi à porta ver quem seria. Uma porta como deve ser, claro, blindada, que permite abrir apenas uma nesga atrás da qual o corpo se esconde e apenas um par de olhos se torna perceptível.

Do lado de fora, estava a visita inesperada, ainda que esperada tanta vez. Vinha ainda mais charmoso do que ela o recordava, mais sorridente e bem disposto, mais perfumado. E ela ficou ali, pasmada, sem saber o que dizer. O conselho da Alice Vieira parecia-lhe inapropriado, mas um "lavas-me as costas" também estava muito fora de contexto.

Ficou para ali sem saber o que dizer, para além do breve olá. E agora? Por momentos, voltou a ser adolescente, as frases e as palavras todas enroladas, não saia nada de congruente, nem decente, muito menos indecente o suficiente para pôr logo ali os argumentos às claras.

Então, abriu a porta, o robe ligeiramente descaído, e deixou que ele inventasse o que dizer...



banho



E cá está! Este é o novo desafio. Contem-me o que vem a seguir.

Afinal, que vai ele dizer?




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(a data do post foi mesmo aldrabada, mas amanhã não vai dar tempo para postar)




2005-03-26

Baptismos



Tenho um casamento amanhã. Um casamento religioso, que também será dia de baptismo de duas crianças. E sentimentos contraditórios sobre o assunto. Porque são as primeiras duas crianças da minha família a serem baptizadas em três gerações. Porque, se morassem na cidade grande, passavam despercebidas. Porque ainda há terras neste Portugal que discriminam crianças a propósito da religião...

Sei bem que um bocado de água na cabeça não lhes fará nunca qualquer mal. Mas não gosto da imposição que leio no acto. E agora eu vou para o cabeleireiro – coisa que odeio, já que não suporto que me mexam na cabeça – tentar pôr um ar menos despenteado e esperar que toda a água que, no entretanto, vai caindo do céu, não estrague as possibilidades de chegar com um ar composto ao Ribatejo...

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imagem aqui

2005-03-25

Páscoa II

Descending then ascending, the fall then the call
Climb ever upward to join the world once more
See the serpents rising, angels on a chain
Come to meet together, come to make their claim
Black Easter

Hear the chants of old powers, the weak fall on their swords
Nature is above all morals, destiny a shameless whore
Fallen angels, like black flowers, bloom and are ripe
Gather round the lords and princes, bringer of a promised light
Black Easter...


Sol Invictus – Black Easter



Tanta gente já me desejou boa Páscoa e já desejei boa Páscoa a tanta gente que até de mim mesma omito o sem significado que encontro na expressão. Talvez por não ser Católica, por não ter interiorizado nada do catecismo.

Antes de continuar, talvez seja melhor explicar que sou agnóstica. E nem o sou apenas por escolha livre, pensada, interiorizada. Sou uma agnóstica plena, sem direito ao quinhão de Paraíso prometido, já que os meus pais não me baptizaram. Decidiram – e estou-lhes agradecida por isso – que seria uma decisão minha, quando tivesse entendimento suficiente para fazer a minha escolha.

Num País que não questiona o baptismo na infância, imposição paternal e social, isso fez, muitas vezes, toda a diferença para mim. Mas, admito, outros tantos poderão ter uma formação católica e crenças católicas enraizadas e, a esses, desaconselho a continuação da leitura deste post. É que, mesmo não sendo um post anti-crença, é, sem dúvida, um post anti-crença empacotada. Mas esta é, tão só, a minha opinião.

Admito que "catecismo" é uma das palavras onde encontro um tom mais pejorativo. Sinto-lhe sempre os contornos de uma qualquer cartilha formatadora de pensamentos, como se Torquemada nunca tivesse morrido, como se Florença nunca tivesse ardido face à inclemência obtusa que lançou as vaidades para a fogueira.

Confunde-me até hoje esta necessidade da Igreja reservar para si o património absoluto das verdades, como se Deus não passasse de um mero pretexto nos jogos de poder bem terrenos.

A minha ideia do Divino é tão pouco regulamentadora, emboca de uma forma tão entranhada em noções de liberdade que, de forma alguma, se poderia traduzir em meia dúzia de patacoadas ensinadas de forma igual, compulsiva, sistematizada, a fedelhos que preferiam (sempre achei que preferiam) estar em casa a ver os Desenhos Animados.

Não questiono a Fé. Isso nunca! Todos têm direito a acreditar no que querem, como querem. Mas questiono as religiões. Ou, às tantas, nem sequer são as religiões, que me agrada até a velhinha ideia de "re-ligar" onde a palavra religião se consubstancia. Talvez questione apenas esta necessidade tão pragmática e tão pouco espiritual de transformar a Fé dos Homens em espectáculo mediático, cheio de tectos com anjinhos com pilinhas minúsculas, ou com tribunais persecutórios, ou com a sede de poder e a necessária prostituição a que isso obriga com os interesses materializados até hoje no Estado mais rico do Mundo e as suas políticas terrenas, ou ainda a congeminações degradantes, como o horrível "A Paixão de Cristo".

E nem é só a Igreja Católica, como é óbvio. Mesmo que essa não se possa eximir de nenhum dos flagrantes atentados à liberdade espelhados nos compêndios da História. Liberdade física, de pensamento, de Fé.

Olhamos ali para o lado, para o Médio Oriente, por exemplo, e temos mais demonstrações de como o catecismo de uns leva à morte de mais uns poucos. E nem importa bem que o Divino seja Uno, seja o mesmo com outro nome, que a Fé seja bebida com igual sofreguidão.

Não há nada como um Papão para meter medo aos Homens. Odeio, detesto, abomino, a forma como todas as religiões monoteístas organizadas transformaram o Divino em Papão. Um Papão que não pode ser desobedecido, contestado, questionado, ou a punição deixa de ser acaso, passa a sina, pena perpétua, sem expiação.

2005-03-24

Esperança de Vida

E para que não veja-te na vida
Raiando tantas vezes,
De hoje em diante comporei meus anos
De vinte e quatro meses.


Bernardo Guimarães – Ao Meu Aniversário


Andei pelos blogues a cirandar e, confesso, não me apetecia escrever muita coisa. Talvez já estivesse em estágio para o dia 24 e as emoções conflitantes que sempre me desperta.

Não gosto da ideia de ficar um ano mais velha e, ao olhar para trás, ver tudo o que desperdicei. Não gosto de olhar para a frente, para os anos que hão de vir, com a certeza que são ainda menos.


Não gosto particularmente de balanços, nem de balanças, nem de rugas. Queria ter a energia de há dez anos e as certezas de agora. Queria temer menos o desconhecido, voltar a ser inconsequente, como se não houvesse contas para pagar. Queria apreciar todos os momentos com a ingenuidade de umas lentes cor de rosa e infantis, ver o mundo sempre belo, sempre grande, possível, passível, de salvação.


Pesam-me os anos que se transformaram, de alguma forma, em embrutecimento, secura. Sobram-me alguns anos de esperança. E a eles me agarro com todos os cordéis da utopia.

Esperança de vida... gosto da expressão, por bem mais do que a duração em que a encerram. Porque não quero chegar aos setenta e tais das estatísticas sem esperança. Porque não quero chegar ao fim da vida já sem saber viver.

Há dias em que me apetecia parar o relógio até conquistar um qualquer objectivo. Um daqueles nossos objectivos secretos que, com os anos, nos habituamos a deixar no cantinho dos sonhos ainda não realizados.

Há outros dias em que me sinto em plena forma, mais forte e mais sã do que alguma vez na vida. Sou mais feliz hoje. Estou mais madura. Soubesse eu ontem o que sei hoje e havia muitos trilhos diferentes, caminhos a que voltaria as costas, encruzilhadas em que viraria na outra direcção.

E, no entanto, sei que só me é possível apreciar o passado pelas escolhas que me construíram, fossem em prazer, fossem em dor. Dizem que não adianta chorar sobre o leite derramado... Não adianta, não! Adianta aprender onde colher ainda os frutos da vida, especialmente aqueles que nos surpreendem pelo seu gosto doce e inesperado.

Em todos os aniversários, fico num estado de espírito periclitante entre a alegria esfuziante e a melancolia castradora. Este é apenas mais um. É um marco como outro qualquer, mais uma marca no meu calendário, mais uma cã.





O meu desafio para hoje:

Sobreviver a mais um aniversário.

O meu desafio para vós:

Encherem-me de mimos, estragarem-me de mimos, que adoro ser mimada.


2005-03-23

Seca

O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejectos.

Cacique Seattle, da tribo Suquamish (1855)



Hoje o dia voltou a acordar com prenúncios de chuva e abriu depois um sorriso solarengo da Primavera inaugurada. Ainda não foi desta que a chuva veio para ficar. Temo, cada vez mais, que já nem fique. À nossa volta, os campos ressequidos esperam lágrimas nutritivas que não são choradas por um céu cada vez mais revoltado com os Homens.

Tudo o que fazemos à Terra, fazemos aos filhos da Terra. E a nossa velhinha casa, o nosso pião azul e branco a rodar tranquilo e tão confortavelmente contra o breu do cosmos, às vezes revolta-se. Só que já nem chora...

Páscoa




- Pai, o que é Páscoa?

- Ora, Páscoa é ...... bem... é uma festa religiosa!

- Igual ao Natal?

- É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.

- Ressurreição?


- É, ressurreição. Marta, vem cá!

- Sim?

- Explica a esta criança o que é ressurreição para eu poder ler o meu jornal descansado.

- Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendido?

- Mais ou menos........ Mamã, Jesus era um coelho?

- Que é isso menino? Não me diga uma coisa destas! Coelho! Jesus Cristo é o Pai do Céu! Nem parece que este menino foi baptizado! Jorge, este menino não pode crescer assim, sem ir à missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã! Já pensou se ele diz uma asneira destas na escola? Deus me perdoe! Amanhã vou matricular este fedelho no catecismo!

- Mamã, mas o Pai do Céu não é Deus?

- É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.

- O Espírito Santo também é Deus?

- É sim.

- E Fátima?

- Sacrilégio!!!

- É por isso que na Trindade fica o Espírito Santo?

- Não é o Banco Espírito Santo que fica na Trindade, meu filho. É o Espírito Santo de Deus. É uma coisa muito complicada, nem a mamã entende muito bem, para falar a verdade nem ninguém, nem quem inventou esta asneira a compreende. Mas se perguntar à catecista ela explica muito bem!

- Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?

- (gritando) Eu sei lá! É uma tradição. É igual ao Pai Natal, só que em vez de presentes, ele traz ovinhos.

- O coelho põe ovos?

- Chega! Deixa-me ir fazer o almoço que eu não aguento mais!

- Pai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?

- Era, era melhor, ou então peru.

- Pai, Jesus nasceu no dia 25 de Dezembro, não é? Que dia que ele morreu?

- Isso eu sei: na sexta-feira santa.

- Que dia e que mês?

- ??????? Sabes que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na sexta-feira santa e ressuscitou três dias depois, no sábado de aleluia.

- Um dia depois portanto!

- (gritando) Não, filho - três dias!

- Então morreu na quarta-feira.

- Não! Morreu na sexta-feira santa... ou terá sido na quarta-feira de cinzas? Ah, miúdo, já me confundiste! Morreu na sexta-feira e ressuscitou no sábado, três dias depois! Como!?!? Como!?!? Pergunte à sua professora de catecismo!

- Pai, então por que amarraram um monte de bonecos de pano na rua?

- É que hoje é sábado de aleluia, e a aldeia vai fingir que vai bater em Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.

- O Judas traiu Jesus no sábado?

- Claro que não! Se ele morreu na sexta!!!

- Então por que eles não lhe batem no dia certo?

- É, boa pergunta.

- Pai, qual era o sobrenome de Jesus?

- Cristo. Jesus Cristo.

- Só?

- Que eu saiba sim, por quê?

- Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele tinha no apelido Coelho. Só assim esta coisa do coelho da Páscoa faz sentido, não acha?

- Coitada!

- Coitada de quem?

- Da sua professora de catecismo!!!


(recebida por mail, desconheço o autor, mas está genial!)


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a imagem aqui


2005-03-22

Glory Box

I'm so tired of playing,
Playing with this bow and arrow,
Gonna give my heart away,
Leave it to the other girls to play,
For I've been a temptress too long.
Hmm just,

Give me a reason to love you,
Give me a reason to be,
A woman,
I just wanna be a woman.
From this time, unchained,

We’re all looking at a different picture,
Through this new frame of mind,
A thousand flowers could bloom,
Move over, and give us some room.

Yeah,
Give me a reason to love you,
Give me a reason to be,
A woman,
I just want to be a woman.
So don't you stop, being a man,

Just take a little look from our side when you can,
Sow a little tenderness,
No matter if you cry.

Give me a reason to love you,
Give me a reason to be,
A woman,
It's all I wanna be is all woman.
For this is the beginning of forever and ever,

It's time to move over,
So I want to be.

I'm so tired of playing,
Playing with this bow and arrow,
Gonna give my heart away,
Leave it to the other girls to play.
For I've been a temptress too long.

Hmm just,
Give me a reason to love you.


Portishead – Glory Box (Dummy)



Há dias assim. Em que o prenúncio de chuva se ausenta e vem outra vez o sol. E em que o cheiro da Primavera agora se instala, ainda coalhado pelos cheiros da terra molhada de ontem.

Há dias em que acordamos com um sorriso nos lábios e quase nos sentimos idiotas por uma parcela de felicidade roubada na ocasião.

Há dias que compensam outros tantos dias. Dias em que não pedimos licença para a alegria, da mesma forma que os dias tristes se instalam sem pedir perdão.

Há dias em que quase apostamos, caso fossemos capazes de recordar os sonhos, que andamos a dançar no Paraíso toda a madrugada.

Há dias (quase) perfeitos. Dias em que o meio da semana não nos pesa. Dias em que estamos de bem com a vida.

Há dias em que me sinto feminina e isso me vai muito bem...

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imagem aqui

2005-03-21

O meu problema tabagista


imagem aqui


Tenho uma notória incapacidade para manusear um certo tipo de papel, nunca tendo sido capaz de fazer um rolinho que não se desfizesse, especialmente se fosse preciso lambuzar o dito.

Sendo fumadora assumida de uma marca esquisita, constatei este fim de semana que fumo muito mais pregos já feitos do que se me desse ao trabalho de enrolar a coisa.

Estou pronta para virar mais uma convertida ao self-made cigarrinho. O pior é que o dito precisa ser enrolado. E eu enrolo-me toda. Será que alguém me explica de forma clara qual é o truque? Já vi que até pode ser alvo de equação. Agora só preciso é de aprender a técnica...

2005-03-20

Não vi papoilas





Não, não as vi! Nem uma, para contar depois. Não vi os campos tingidos de rubro, nem o céu azul seco de nuvens. Não vi girassóis bailadores, nem vi sequer o ondular da erva que se faz pão. Não vi das rolhas, nem da cortiça, nem as garças, nem as rapinas esvoaçantes.

Não vi papoilas, não.

Mas vi sorrisos. Sorrisos abertos em lábios rubros, vi alegrias bailadas em olhos claros. Vi da gente, com palavras e mais com gestos. Corpórea mensagem agora identificável.

Não vi papoilas, não.

Mas vi das mãos e vi dos corpos. Vi de como a presença ganha espaço, cria espaço, cria laço. Vi da labareda acesa e vi do calor. Vi das gargalhadas tintas de tinto.

Não foram papoilas, não.


Foi reunião.


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imagem aqui

2005-03-18

Eu um dia ia perceber...

.

... porque tenho dois sistemas de comentários :)))

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(serve de teste ao "Outras Vozes")

O "caso" Joana

A palavra "vítima" é exacta, dura, inequívoca, e não precisa de adornos para exaltar a sua razão. Mas a banalidade, a versão unilateral de um grupo, acrescenta-lhe hoje a designação de "danos colaterais" e, por artes de berliques e berloques, as vítimas transformam-se em algo de indecifrável, a dor é minimizada e, com isso, o vitimador exime-se de qualquer responsabilidade.

Luís Sepúlveda - Uma História Suja



Tenho este "caso", entre tantos outros, atracado na garganta. É uma revolta, um nojo, uma impotência. Recordo ainda como me senti, há seis meses atrás, ao ouvir o primeiro comunicado da PJ: "morta por motivos fúteis". Motivos fúteis? Como pode uma criança ser assassinada por motivos fúteis?

Já ouvi várias versões para esses tais motivos fúteis, desde os € 15 euros à forma como encontrou a mãe e o tio quando regressou a casa. Mas o segredo de justiça, com que até concordo em teoria, impede-nos de saber mais do que boatos. No entretanto, a presumida assassina tem tempo para acusar a polícia de espancamento...

E o que me irrita mais é que nem sei bem se não concordo com uns bons tabefes na tromba desta hipócrita que, há seis meses atrás, estava a dar entrevistas chorosas para os jornais.

Deixo-vos a seguir o que escrevi há seis meses. A muitos níveis, o sentimento continua exactamente o mesmo. Nem sei como chamar a esta fulana. Não tenho sequer como a nomear. Puta não chega mesmo!

_______

Desde o início que assumi que este blog seria sobre banalidades, as minhas banalidades. Mas não no sentido de "banalidades", tal como as encara Luís Sepúlveda. Antes no seu sentido etimológico mais profundo, o do "ban", da circunscrição feudal, sendo que eu sou aqui o feudo, o espaço é meu, as minhas palavras são o meu território.

São banalidade com berliques e berloques e, no entanto, por mais ridículo e sem consequências que o possa ser, são banalidades comprometidas. São banalidades com grau de exactidão. As vítimas, para mim, não serão nunca danos colaterais. Os palhaços vitimadores não serão nunca eufemismo.

As palavras estão banalizadas, apupadas nos seus sentidos. As palavras estão escravas de interesses e são armas com gatilhos encravados. As palavras já não explodem, implodem na mentira. As palavras - e os discursos - ganham naftalina, quando se exaurem os seus significados, se enfeitam textos que nada dizem.

Olho os discursos políticos e pergunto-me onde estão as palavras. Vejo lá as letras e os ditongos a formá-las, as sílabas, os sons representados. Mas sinto as palavras sem sentidos exactos, sem contornos de verdade. E são tantas as palavras, tantas, tantas... Em toda e qualquer entrevista, todo e qualquer comunicado à imprensa, nos debates "políticos" que já não querem saber da "polis". E o sem sentido das palavras gastas, que correm o risco de já não dizerem rigorosamente nada, que perdem exactidão, são contaminadas pelas tricas de gente que faz da palavra a arma do interesse mesquinho, comprometido, prostituído.

As minhas palavras são banais. Mas quero-as ainda exactas. Armas puras nos sentidos, capazes de dizer as coisas banais de forma inequívoca, sem vítimas e sem vitimadores. Palavras-armas sem lobbies, contra a indiferença; contra o embrutecimento. Palavras-armas contra a minha voz em fuga e o meu alheamento das causas que as vão motivando ainda...

Mas há dias em que fico sem palavras, porque as histórias são demasiado sujas. Não encontro uma sequer que consiga precisar o que sinto. Que dizer de uma mãe que mata uma filha e desata a dar entrevistas chorosas para os jornais e televisão? Não tenho mesmo palavras. Chamar-lhe "puta" - palavra mais que banalizada - não chega sequer próximo do que sinto.


(neste blogue, aqui)

Publicidade (não) Enganosa

Exposição aberta ao público...




(...ou da facilidade como podemos todos ser artistas.)

2005-03-16

Beijos

.
(foto aqui)


Viver plenamente os seus desejos e, ao fazê-lo, modificar subtilmente a natureza destes, é o objectivo de todo o indivíduo que aspira a desenvolver-se. Mas o desejo é soberano e inextirpável, mesmo quando, como dizem os budistas, se converte no seu contrário. Para alguém se poder libertar do desejo, tem que desejar fazê-lo.

Henry Miller, in O Mundo do Sexo

Lembro-me de um amigo – um daqueles amigos que fazem todas as mulheres morrerem de inveja, porque era lindo de morrer, meigo, inteligente, com aquele ar suficientemente perdido para querermos dar colo e suficientemente forte para nos amparar - que jogava póquer de dados sempre a fazer pares comigo no bar da Universidade e com quem ia beber uns copos e falar a noite inteira.

Íamos juntos para todo o lado... Éramos inseparáveis. E éramos só amigos, essa bela falácia em que todos gostamos de acreditar.

Um dia, numa das idas à Ribeira, eu disse-lhe que estava com frio. Então, ele tirou o casaco dele e vestiu-mo. E, enquanto me estava a vestir o casaco, deu-me um beijo no pescoço que foi uma das coisas mais excitantes que senti até hoje...

Foi um beijo demorado, com a pressão certa, a língua inquiridora por entre uns lábios entreabertos espalmados sobre a minha jugular. Foi um beijo delicioso. Daqueles que nos deixam com as pernas bambas, excitadas, a pedir mais.

Acho que estraguei uma bela amizade naquela noite. Mas ganhei um pouco mais, ainda que breve. No entretanto, descobri que há beijos mágicos e que nem todos os pontos erógenos são demasiado evidentes.




(Quem se atreve a mais este?)

Vague

Duende

Jacky

Mar


Sharkinho


Azul (ok, ok, este foi antes do desafio... mas fica aqui tão bem!)

Cap

Jorge Morais

Viajante


Noite







2005-03-15

Deus Est Machina


A internet caiu. Dezenas de milhões de internautas ficaram desesperados: nada de sites, nada de e-mails, nada de chats.

E então foram para suas janelas e viram como o Sol estava bonito.
Posted by Hello


Li uma vez um conto de Arthur C. Clarke em que uma nave, ao tentar reentrar na atmosfera terrestre, corre o sério risco de se perder para todo o sempre nos confins do Universo porque todos os computadores haviam avariado. A solução da tripulação foi engenhosa e, ao mesmo tempo, recupera um dos instrumentos de cálculo mais arcaicos: utilizam um simples ábaco para estabelecer as trajectórias. Mesmo que houvesse uma margem de erro nas trajectórias assim calculadas, era suficientemente pequena para evitar a tragédia.

Gosto de pensar que o ser humano, em situações de aperto, é capaz de ir um pouco mais além do que uma máquina que, provavelmente, se limitaria a pedir um reboot. E não vejo necessidade em fazer das máquinas o lobo mau das criancinhas do futuro.

Eu acho que o Homem continuará a ser o lobo mau dele mesmo e as máquinas por lá andarão para o ajudar a entrar e a sair das enrascadas em que se mete. Como qualquer utensílio, desde que o Homem aprendeu a usar a sua inteligência para os inventar.


Só que, às vezes, de tão agarrado aos seus utensílios, o Homem esquece-se de olhar para a Natureza e ver que o Sol, por enquanto, ainda continua a brilhar...

2005-03-14

Recorrência

Podem me prender
Podem me bater
Podem, até deixar-me sem comer
Que eu não mudo de opinião
Daqui do morro
Eu não saio, não

Se não tem água
Eu furo um poço
Se não tem carne
Eu compro um osso
E ponho na sopa
E deixa andar
Fale de mim quem quiser falar
Aqui eu não pago aluguel
Se eu morrer amanhã, seu doutor
Estou pertinho do céu

Zé Keti e Nara Leão - Opinião

Porque será que, tantas vezes, sair do "morro" é bem mais complicado do que apenas mudar de endereço?

Por causa do monstrinho de olhos verdes...

http://artpad.art.com/?idcw4210uz7w


(nem te atrevas a dizer que o título foi bem apanhado...)

Para o Cap


:) Posted by Hello

"http://artpad.art.com/?idbh4uz388g"

(que não sei como se põe aqui a imagem, mas o Cap já resolveu a situação...)

2005-03-13

Quem conta um conto...


Big Fish Posted by Hello


O Tim Burton sempre foi um dos meus realizadores favoritos, pelo universo fantasista embocado nos seus primeiros anos como animador da Disney, que sempre deram aos seus filmes uma “imagem” particularmente incomum, mas também pelo sentido de humor rebelde, negro e bem distinto, quase surreal.

Sensibilidade visual e sentido de humor! Sim, sempre foi disto que gostei em Tim Burton. E este “Big Fish” é, talvez, um dos expoentes dessa capacidade para nos maravilhar e transportar para um mundo diferente.

Mas é, talvez, também um dos primeiros filmes em que essas capacidades estão ao serviço de uma história mais “real”, mais verdadeira. O “Ed Wood” era sobre uma personalidade de carne osso (duas, se pensarmos também no Bella Lugosi) e, no entanto, não tem esta dimensão de verdade “pequenina” e pessoal de gente comum. Porque o Edward Bloom, ainda que seja uma figura maior do que a vida, não deixa de ser um qualquer John Doe com uma imaginação prodigiosa. Tão “pequeno” na sua realidade de pai ausente, que o filho se recusa a acreditar quase até ao fim, que o pai é, de facto, um ser grande, espantosamente tridimensional, capaz de acrescentar apenas uns pequenos pontos a cada história e, no entanto, pelo fim do filme, vemos como o seu universo era bem menos exagerado do que alguma vez o filho foi capaz de o supor.

Quem chegamos a admirar no filme? O filho, tão terra a terra, tão pragmático nas suas certezas, ou o pai, debilitado, cheio de defeitos enquanto figura paternal incapaz de dar espaço no centro do palco a um filho que, para se fazer homem, tem que fugir para uma Paris distante e conceber seu próprio filho? Acarinhamos mais este “Edward” (as minhas personagens favoritas de Burton parecem condenadas a chamarem-se sempre Edward) pela sua vontade de viver sem peias, pela vontade de fazer da realidade algo maior, maior do que o quotidiano banal que nos aprisiona, maior do que a vida sem um qualquer “twist”. E o filho entende-o também por fim, de tal forma que será, finalmente, capaz de se transformar num pai que alimenta a imaginação do seu próprio filho, em lugar de a cercear.

Estamos, todos nós, quase sempre condenados à partida a uma vida banal. E, no entanto, somos capazes de grandes rasgos de imaginação, de fantasia. Na maior parte das vezes, a estes golpes de génio que nos ocorrem, damos o desconto de “sonhos” ou “ilusões” ou qualquer outra coisa “menor”. Esquecemos que quem conta um conto, sempre acrescenta um ponto e que, se não fossemos capazes de imaginar o “diferente”, se não houvesse entre nós quem seja capaz de ultrapassar as limitações do real tal como ele é, então nunca seriamos capazes de evoluir como gente, como espécie....

Este pequeno filme maravilhoso, com relvados verdes e botas penduradas à entrada das aldeias, com gigantes e siamesas, poetas que se fazem ladrões, bruxas que são princesas, lobisomens e peixes impossíveis de apanhar é o mundo normal colorido pela imaginação. É o nosso mundo banal visto pelos olhos da magia. E, neste pequeno momento que representa na nossa vida, entre a altura em que o filme começa, até ao derradeiro momento em que surge o “The End”, somos levados para dentro da imaginação de Edward Bloom e de Tim Burton e apetece, no fim, repetir a viagem...

2005-03-11

11 - M


11 - M Posted by Hello

Perder num gesto a vida sem saber
porquê, qual a razão desta viagem
traçada por um deus que não conheces
num ziguezague do destino


Fernando Pinto do Amaral



A Mar já disse tudo...

2005-03-10

Arranjei um fã

Não perderei muitas palavras com esta mensagem...
Hipatia rima com apatia, e este epídeto é um favor para caracterizar a sensação de vácuo linguistico que perpassa por todos os teus textos...
Tenta, tentas, lês, lês muito, inspiras, transpiras, torpemente traduzes as influênccias que vais debitando maquinalmente sem, em altura alguma, se encontrar uma nesga, um resto, um pouquinho de brilho.
Escreve, continua a escrever, que é bom mas, para ti...


(não lhe ponho cá o nome (ainda) que é melhor. O gajo ainda ficava com um "epídeto" qualquer)



Um fã que acha que eu só devia escrever para mim e, no entanto, pelos vistos não me desampara a loja?

Ai que estou tão orgulhosa de ser assim – como é que é mesmo? – vazia, torpe e sem brilho.

Pelo menos não sou idiota para andar a encher de lixo mesquinho as caixas de correio dos outros.

Olha, amigo, tens bom remédio. Volta para debaixo do caixote do lixo que te pariu e remete-te à tua insignificância.

Para a próxima, vem nome e endereço electrónico, prepara-te. Que é para ficarem todos a saber de onde esperar críticas tão pouco assisadas. E escusas de piscar o olhinho no fim das mensagens que bateste à porta errada. Se queres fazer olhinhos, mostra lá o olho do cu ao gajo que andas à procura para te enrabar. É que daqui não levas nada, além de desprezo.

Uma ideia azul - o novo desafio

De vulva a pénis ou a prepúcio, passando por testículos ou clitóris, viva o péssimo gosto! Parece que procuraram de propósito palavras feias, carambas! Mas sinceramente, os nomes que a linguagem popular lhes dá não são melhores. (...) Que palavras serão preferíveis? Acho isso digno de mais um concurso de ideias da Hipatia ;))))))

Azulinha, in Charquinho


Ora não é que a Azulinha nos propôs um desafio? Bem sei que já andava em discussão lá por terras de S. Charco, mas pelos vistos o moço tirou férias e a ideia parece-me substancialmente empolgante para a trazer aqui para a Voz.

Penso que já todos devem ter reparado que eu cá gosto de palavras. Aliás – se todos atenderem bem ao tamanho das postas de pescada que por aqui vou deixando (e até mesmo em alguns sistemas de comentários) – eu nem exagero nada quando se me dá para as usar...

E, no entanto, na linguagem do amor, nunca fui grande coisa no que toca a palavras, muito menos para inventar apelidos e alcunhas para os alvos das minhas atenções, afectos e tesões. Causa-me certa espécie chamar ao dito cujo do Mr. XPTO, Mr. XPTOzinho ou algo parecido. Até porque pôr um "inho" no alvo de tanta panca masculina pode ser uma excelente forma para o "inho" nem de pastilha azul (não Zu, não és tu a pastilha... Pelo menos não aqui) lá ir. Deve ser de ver mal... estas coisas das dioptrias transformam-me antes numa muda tacteadora...

Admito que me chamem "doce". Mas pouco mais. E, mesmo esta, tem dias. É que faz-me sentir um pote de calorias e glicoses e carboidratos e coisas que tais, mas a dieta é sempre tão relativa, não é? Tem, no entanto, a vantagem de me recordar que o exercício físico nos faz sempre bem e que devemos dedicar-nos a ele com regularidade...

Agora já não gosto nada que se ponham a chamar-me gatinha, lindinha, princesinha ou outras coisas assim. Nem à minha pessoa – que de "inha" tenho pouco – , nem sequer a qualquer parte mais específica da minha anatomia. Não gosto particularmente de nenhum dos "inhos" habituais. Só uso em último caso. Nomes técnicos, ainda pior, que é cada um mais cabeludo do que o outro.

Sendo assim – e sem me fazer de novas – aproprio-me descaradamente da proposta da Azulinha. E deixo-vos então aqui um novo desafio:
  • Vamos arranjar palavras novas – e bonitas de preferência – para construirmos a nova nomenclatura para quando nos dá para arrulhar?

2005-03-09

9 Golfinhos

.
(recebida por mail)

Como se mede uma sensibilidade? Será possível atribuir-lhe um peso, talvez umas 21 gramas, como à alma?

Como se mede a gentileza? Terá peso algum?

Como se pesa a lisura, a franqueza? Haverá balança para o brio, para a dignidade?

Cada um de nós terá a sua balança, o seu sistema de medidas, os seus pesos melhor ou pior calibrados.

Eu ontem medi uma sensibilidade pelo meu sistema de pesos e medidas. E, mais razões não houvesse, ontem teria ficado fiel a uma amizade que quero construir com cuidado, carinho e franqueza.

Porque há sempre uma questão de trocas, nestas coisas. E dói quando nos devolvem menos do que aquilo que damos, que oferecemos de bandeja.

Ontem medi a sensibilidade de uma pessoa pela capacidade com que fugiu ao óbvio e ao facilitismo. Pela forma como não usou as interpretações possíveis das minhas palavras para me devolver em embaraço a franqueza com que tento exprimir-me.

Ontem alguém conquistou plenamente o meu respeito. Por me ter respeitado a mim. E não foi preciso fazer de conta que as palavras têm sempre várias interpretações possíveis. Bastou a sensibilidade, a finura de caracter, a disponibilidade para pensar no "outro" com primazia sobre o "eu".

Ontem, tirei o meu chapéu à decência de um homem. Um homem que nem me conhece. Conhece apenas as minhas palavras. Um homem que, de forma franca, me expôs uma situação potencialmente embaraçosa, sem rodeios nem artimanhas. E eu, sempre egocêntrica, desejei para mim a mesma dose de caracter, a mesma sensibilidade para com o outro.

Ontem, ergueram bem alto a parada. Porque há pessoas que merecem o mesmo tipo de correcção, a mesma abertura de alma e de espírito, a mesma linearidade sem subterfúgios.

Ontem abocanhei o pedaço mais extraordinário de uma personalidade com a sofreguidão de quem se vê perante a atitude exemplar.

Reparem na imagem lá de cima... Onde uns lêem corpos, outros sabem que há corpos, mas também vêem golfinhos.

Ontem, se já mais motivos não houvesse, houve alguém que conquistou uma amiga. Eu. Sei bem que sou poucochinha e espero ser merecedora da lisura e hombridade com que quiseste e me soubeste tratar.

Este é para ti. Só para ti. Espero que saibas bem que és o destinatário.

2005-03-07

Sensualidade

Estou
e num breve instante
sinto tudo
sinto-me tudo


Deito-me no meu corpo
e despeço-me de mim
para me encontrar
no próximo olhar
(...)


Mia Couto - Manhã



Queria sentir-se bonita e feminina. Vestiu uma saia preta que abre nuns ligeiros folhos logo acima do joelho. E uma camisola preta, sem mangas, com um decote grande e fundo, em V. Pôs-lhe uma camisa preta semi-transparente e brilhante por cima. Acrescentou um colar preto, com duas voltas ao pescoço e o resto a descer pelo centro do seu peito, para lá da camisa. Meias de liga, daquelas que se colam à perna, sapato fininho, com tacão (porque a fazem sentir-se mais feminina do que umas botas, com meias curtas). Largou a mochila e meteu as tralhas numa carteira pequenina (as carteiras pequeninas são mais femininas, têm menos ar todo-o-terreno). Cabelo vermelho escuro, unhas vermelho escuro, batom vermelho escuro (tratar de combinar as cores, para não parecer uma pintura abstracta). Nos olhos, eye-liner preto, sobre uma sombra verde clarinha, a contornar o olho e a puxa-lo ligeiramente para cima, muito rímel. O "Rush", da Gucci, de companhia, entranhado na pele e na roupa, o seu cheiro favorito. Vermelho também o frasco. Gosta de misturar os vermelhos nos seus pretos. E o cheiro é quente, diferente… vermelho. Tal como queria sentir-se.

Acabou por descobrir que não basta querer...

2005-03-06

Roupinha de ir à caça...


Sharon Stone Posted by Hello


Sou só eu ou há mais quem ache que existe um certo protocolo instituído para a roupinha de sair à noite? Como se, cada vez mais, as mulheres se "despissem" para ir à caça? E que, estas mulheres, são cada vez mais novinhas?

Sei lá! Talvez seja eu que estou mesmo a ficar cota. Se calhar sou eu que acha que, para parecermos sensuais, não precisamos de estar seminuas.

Porque não antes um decote relativamente composto, que podemos ir alargando? Sou só eu que gosto de botões? Sou só eu que gosta da forma como apenas deixam percepcionar, sugerindo, bem mais do que qualquer top sem alças?

Talvez este seja o meu novo desafio... É que é uma coisa que me deixa mesmo curiosa. Como é na hora de nos vestirmos para nos sentirmos sexys? Muita roupa? Pouca roupa? Transparências? Renda?

Eu confesso que não é tanto o que mostro que me deixa mais sensível à minha feminilidade. É antes o que escondo. E como escondo. E também a forma como, dependendo de várias variáveis, me seria prazeroso deixar entrever.

Quem se atreve a opinar?

2005-03-05

As nossas feridas


Azul Posted by Hello


No “Bleu”, do Krzysztof Kieslowski, a personagem da Juliette Binoche, Julie, é uma viúva a tentar levantar os cacos em que a sua vida se transformou e que vão muito além dos cacos finais causados pela morte acidental do marido. A cena em que ela seduz o amigo é exemplo disso: um experimentar as sensações, um tentar descobrir se ainda está viva. Não é uma viuva chorosa, mas parece estar morta por dentro devido a todos os sopapos que a vida já lhe deu. Volta-se para si, portanto, na busca do que ainda existe ou pode vir a existir. Será nessa busca interior que irá, ou não, encontrar a redenção. Uma casa nova e anónima, uma rua anónima, vizinhos anónimos e a busca de um caminho novo, livre de todas as memórias e mágoas. Em solidão. Porque isso também faz falta e não será, nunca, motivo suficiente para qualquer epíteto de louco.

É tão fácil quem nunca viveu uma perda violenta e extemporânea lançar as pedras e esquecer os telhados. Porque ainda não se chegou a compreender que há dores que não passam, há mágoas que não têm cura, há um acumular de dores que nos fazem remeter para nós, para que as nossas feridas possam ser lambidas a sós, levando todo o tempo necessário, sendo que esse tempo possa ser a vida inteira...

Muitos de nós já sentimos essa perda, muitos de nós já nos refugiamos no nosso anonimato para lamber as nossas feridas levando o tempo que julgamos necessário. E tentamos recomeçar de novo. Às vezes, conseguimos em pouco tempo. Outras vezes, temos os nossos mortos dentro de nós e limitamo-nos a disfarçar as dores em segredo. Não somos bichos. Somos gente. E os nossos mortos são a nossa história e deveriam ser respeitados e guardados com carinho. Uma parte de nós.

2005-03-04

4 de Março

Mãe! Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas
que ainda não viajei!
Traz tinta encarnada para escrever estas coisas!
Tinta cor de sangue verdadeiro, encarnado!
Eu ainda não fiz viagens
E a minha cabeça não se lembra senão de viagens!
Eu vou viajar.
Tenho sede! Eu prometo saber viajar.
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa.
Depois venho sentar-me a teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens,
aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não
viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego
muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa.
Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva
exatamente para a nossa casa, como a mesa. Como a mesa.
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!

Almada Negreiros - Mãe


Hoje a minha mãe faz anos. A ela devo quase tudo o que sou. A ela me prende um nó-cego bem atado, muito apertado, de mãos que foram o meu primeiro afago, o meu alento, o meu parto. Mãos que são ainda a ponte para o regaço onde me sinto em casa, onde me refugio, onde encontro forças para continuar.

Parabéns, mãe!

Mesmo que o cale tanta vez, por estas palavras me serem antes sentidas do que soletradas, gosto muito de si!

2005-03-03

Mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no futuro e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre


Gosto de mãos. Muito. Tenho um fascínio absoluto por mãos bonitas. Pelos gestos com que nos mimam, entremeados nas palavras, ou porque nos mimam mesmo.

Gosto de um discurso onde as mãos falam, completam o indizível. Gosto de dedos longos, unhas cuidadas, mãos macias com a temperatura certa, que se juntam às nossas sem qualquer réstia de moleza, balofice, ou aquela humidade conspurcadora de suores empedernidos.

Gosto da ideia da mão que trabalha, que segura, que aperta. Da mão que agride, que afaga. Gosto da ideia da mão que tecla, que faz a ponte, entre o que sentimos, imaginamos, e as teclas onde depomos tanto de nós.

Gosto quando me perco numa conversa por entre os bailados dos gestos sugestivos, do não dito, do que só a postura do corpo sabe dizer, quando as palavras mentem ou se perdem ou se omitem.

Gosto de mãos, como gosto de olhos. De os ter defronte a mim, para entre eles deixar bailar a minha intuição e, concluir no fim, se gosto de alguém, se posso gostar de alguém.

Gosto de mãos porque me inspiram, porque me respiram, porque começo a medir o mundo também pelo tacto. Gosto de mãos porque são refúgio e são identidade, todas diferentes, todas fascinantes.

Estas são as minhas mãos. Deixo-as aqui em baixo. Esticadas, procuram os amigos; crispadas, tentam acalmar as minhas fúrias. Elas são o princípio de mim e também onde me findo. São o instrumento da pesquisa e o depositário das conclusões.

Não estão abertas. Não se franqueiam as mãos a qualquer um. Mas estão ai. Para um primeiro passo, para apontar um caminho.

As minhas mãos, que me fornecem gestos, os gestos com que completo o meu discurso. As mãos que, com um sorriso, ou uma expressão de olhos, nos alargam os horizontes para fora das palavras. As palavras, sempre tão impotentes, onde, tantas vezes, se incendeiam reacções em cadeia.

Deixo-vos ai as minhas mãos. Só isso. E fico de fora (ou quase) do mundo das palavras hoje. Talvez porque ontem li demais...


mãos Posted by Hello

2005-03-02

Jogo Viciado

(...)
Roubam-me Deus

Outros o diabo
Quem cantarei

Roubam-me a Pátria
e a humanidade
outros ma roubam
Quem cantarei

Roubam-me a voz
quando me calo
ou o silêncio
mesmo se falo

Aqui d'El Rei.


Zeca Afonso - Epígrafe para a arte de Furtar



O meu bisavô era natural de uma pequena Freguesia. Uma Freguesia pobre às portas de uma cidade rica. Uma Freguesia onde os homens desciam aos fundos da terra para tentarem arrancar o pão de um carvão cada vez mais escasso.

Era uma Freguesia de analfabetos e pobres, sem esperança nem futuro. Mas de gente honrada e lutadora. A muitos desses homens a minha família calou a fome dos filhos com um bocado de sopa. Até hoje, o meu bisavô, não foi esquecido.


Por acasos do destino, esta é um das Freguesias do Concelho onde trabalho. E, porque tenho lá um pedaço das minhas raízes, sinto um imenso orgulho por saber que foi das poucas onde Humberto Delgado ganhou, quando se candidatou à Presidência da República e assim afrontou Salazar.

Claro que não era suposto ganhar. Claro que foi "engano", já que, por todo o país, os votos de Delgado eram contabilizados para o candidato do Regime.

Mas havia um rapaz, um daqueles que comeram sopa em casa dos meus bisavós. Era bem novo ainda, calado. E todos os urubus fantoches do establishement achavam que ele estava do lado deles. Foi-lhe por isso permitido assistir à contagem de votos. E ainda nem bem estavam fechadas as contas e já ele berrava à janela "ganhámos!"

Não foi um grito em nada semelhante ao amorfo "ganhámos" de Sócrates. Não! Longe disso...

Era o grito de revolta do povo sob a forma de homem novo, berrando contra as ripas do velho regime que começava a tremer. Sofreu as represálias à moda da altura, como é óbvio. Mas lá, naquela Freguesia, Humberto Delgado ganhou contra quem viciava o jogo.

E a que propósito vem isto? Quase nada. Ou talvez por causa de muito. Talvez por me saber num país onde ainda há quem tenta viciar mesas de voto. Um país que ainda tem gente que pensa à moda antiga. Só que já não há, infelizmente, muita gente que arrisque a vida por um "ganhámos" que faça sentido e ponha o povo em festa antes da chegada dos acólitos da penumbra.

Em 1958*, ganhou uma Freguesia, perdeu-se um Homem. Um homem novo ainda. Um exemplo de coragem. Hoje, o PSD ganhou mais um deputado e não ganhou nada, que já há muito que tinha perdido tudo.

Para quê? Não faz sentido esta vergonha. Não faz! Pelo menos aos meus olhos. Mas se calhar isto sou eu que, no colo do meu bisavô, aprendi que o refrão do "Canto Moço", do Zeca Afonso – mas tinha de ser baixinho, muito baixinho, em surdina –, se cantava assim: "Vão parar à PIDE e vão parar à PIDE e vão, vão, vão, vão; Vão parar à PIDE e vão parar à PIDE e vão, vão, vão, vão"...

Claro que o meu bisavô também lá foi parar. Afinal era anarquista. Afinal dava de comer a quem não tinha medo de berrar.

Hoje, o meu bisavô deve ter dado uma volta zangado, muito zangado, no outro lado da vida...


________

*Obrigada, Duende

2005-03-01

Obrigada!

And hold your tongue about your life
Or dead hands will change the plot
Will make your loving sound like snakes
Like you were never hot

Peter Murphy – Marlene Dietrich's Favourite Poem

Quando me atrevi na aventura dos posts eróticos, nunca pensei que a participação fosse tão grande, que tanta gente aderisse, que tantos tivessem a coragem para colocar em palavras aquilo que a moral vigente tenta calar. Só que eu não podia concordar mais com o Cap "a luxúria não pode ser um pecado".

Desde o início que me assusta esta exposição com tema livre a que o blogue me obriga. Antes – e já escrevi tanto e tão mais exibido das entranhas – tinha a desculpa de um tema a que não me era permitido fugir em demasia. Aqui, estamos a nu perante nós e corremos os riscos inerentes ao tipo de mirone que nos possa entrar em casa.

E, no entanto, a exposição estará sempre tanto na mente de quem espia, como na mente que elabora. Não é pecado falar de amor. Não pode ser. Não é pecado assumirmo-nos como criaturas com hábitos e com desejos, como animais com cio e que seguem o cio. Mesmo que as palavras que descrevem o desejo se pintem da cor ilusora da vergonha que nos tentaram ensinar a sentir, eu prefiro mil vezes o rubor saciado da completude, do saber que existimos em metades, que nos damos para sermos o "um" iniciático e radioso da comunhão absoluta.

Temi pelos resultados do desafio. Não apenas aqui na minha Voz. Antes por todos os espaços onde as letras se juntaram para dizer desejo, sensualidade, tesão. Temi por aquele temor primitivo que nos obriga a retiradas estratégicas para os pudores a que nos querem obrigar. Temi pela frase lá em cima em citação, que não foi à toa escolhida. Porque há sempre línguas bífidas a tentarem contaminar a beleza, o arrojo, a forma como a pele se faz também caminho para as nossas palavras.

Em cada texto que até aqui navegou, sinto a verdade de almas que sabem que podem ser quentes, que podem ser também o combustível. "Hot"? Sim, está lá em cima também...

Ainda bem que não se refrearam as teclas. Ainda bem que não foi necessário prender os sentimentos nos medos, nos tabus, nos fétidos escombros dos moralismos que merecem cada desatar dos nós entrançados a que cada um se atreveu. Para que não haja forma de nos aprisionarem os sentires, os desejos, as paixões. Somos sempre livres se não nos aprisionarem a alma...


Mesmo no espaço da ilusão, da magia das palavras, ou na aventura da história imaginada, não pode haver grilhetas no sexo. Não fomos feitos para pássaros enclausurados em gaiolas de medos. E, na nossa sensualidade, na nossa sexualidade, não devia haver nunca peias, nem limites, nem imposições.

Na intimidade dos corpos que se dão despojados de interesses escusos, nesta sociedade cada vez mais sujeitada a interesses tão pouco prazerosos, no suspiro de um desejo feito palavras, feito versos, feito sexo, viajo convosco num agradável passeio pelos sentidos.

Temi a nossa exposição. Admirei a vossa coragem. Agradeço do coração a forma linda como todos vieram contribuir e comentar esta aventura saborosa que vai permanecer ali ao lado esquerdo, sempre em aberto para todos os novos sonhos que se fizerem eroticidade, excitação, verdades nossas, mesmo que ficcionadas.