2009-06-29

Almoço no Shopping


Marianne Maric

Suponho que há um tipo de gajedo de trinta e muitos, quarenta e poucos cheio de peneiras e manias, sobretudo um certo grupo de gajedo que, por força de maior habilitação académica e do desregular dos costumes de antigamente, deixou de depender de macho para o sustento do lar e da família, sendo que a maioria até caiu no logro de constituir família lá para os vinte e muitos e parir os filhos da praxe e agora que está sem gajo e os filhos já começam a estar encaminhados, quer é aproveitar o tempo que entretanto acha que desperdiçou.

Isso é facilmente demonstrado por qualquer grupo de amigas que tenha a mania de se reunir para um qualquer almoço das quintas ou jantar das sextas. Há normalmente nesse grupo de fêmeas um ar altivo e condescendente e um aspecto de banho de loja e perfumaria, mesmo que a loja seja a feira e o perfume de amostra. Reúne-se para pôr a conversa em dia, falar dos pimpolhos e dos preços, dizer mal do Sócrates, da economia e do restante gajedo que naquele dia não apareceu. E muito especialmente para falar de homens. É assim uma espécie de folhetim à moda da Margarida Rebelo Pinto, mas em tempo real, desancando nos Gustavos e nos Guilhermes e nos Rodrigos e nos Gonçalos. Às vezes também há uns Pedros ou uns Joões, mas dificilmente há uns Zés ou uns Tós e Tonis então são mesmo carta fora do baralho. E os pimpolhos, por sua vez, também têm todos nome de dinastia afonsina.

Riem sempre muito. E cochicham. E põem pose de fêmea predadora, do eu agora é que estou bem, desde que entre a horas a pensão de alimentos e não volte a subir a taxa de juro e a gasolina e que venham rapidamente os saldos nas sapatarias. Costumavam ir muito à praia e ao solário, mas agora que parece que faz mal e envelhece a pele e não há ordenado para os cremes, passaram a ir antes ao ginásio e a carregar a garrafinha de água das formas luso e quejandos, enquanto pedem a saladinha disto e daquilo e não admitem nem sob coacção que no jantar da véspera se mandaram a uma rojoada ou uma feijoada à transmontana.

O alvo do fel das conversas é quase sempre o sexo oposto, o tal que, no entretanto, aprenderam a galar descaradamente, deitando a rede a ver se vem o peixe e assumindo que boys will be boys, haja ou não paciência para os aturar, desde que os possam passear nas trombas das amigas e lhes encontrem alguma valia na cama, na carteira e na companhia. E os alvos (excepto se forem tenrinhos e com menos uma década no mínimo, mas isso não é para qualquer uma), enquanto o tempo também lhes passa por cima e lhes impõe o medo de ter a gaita em permanência a apontar para os sapatos, aturam ou fazem de conta que não sentem essa condescendência feminina e um certo desespero na caça. Vão-se deixando caçar amiúde, mas com tempo limitado. Alguns são caçados várias vezes e também caçados com a amiga. Mas muitos mais preferem antes caçar uma qualquer pitinha nova facilmente encorajada pelo BMW em 2ª mão, que dá pouco trabalho e provavelmente nem sabe quem é o Sócrates ou o preço da gasolina, ou que há lojas para além da Zara e não come só saladinha.

Seria de esperar que, ao fim de tanto ano de vida e de tanta cabeçada, o gajedo nas bordas dos quarenta já se tivesse organizado melhor; que fosse capaz, para lá de todas as lérias contadas à volta da saladinha no almoço das quintas ou no jantar das sextas, de assumir a sua inteireza de fêmea, uma espécie de consciência do seu valor absoluto e do funcionamento constante de todas as partes do mecanismo - desde que devidamente oleadas, com ou sem intervenção mecânica. E os rapazes que serão sempre rapazes, mesmo que já carecas, ou barrigudos, ou de qualquer outra forma disfuncionais, não fossem ainda o motivo de todos os esforços, declarados ou não, ou de todas as conversas com um mínimo de conteúdo. Ou sequer que a solidão não aparecesse tão estampada nas caras deste gajedo a tentar competir com as pitinhas rijinhas recém-saídas dos cueiros, apregoando uma suposta e falsa confiança por baixo dos cremes e dos blushes e do sorriso em contramão do desespero de se verem a envelhecer sem gajo e sem norte e sem vida, para além daquela vida que ainda precisam construir não para elas, mas em função dos outros.

2009-06-27

Oh Luna...



Não percebi muito bem qual era o "it" do Cedric Diggory com mais uns aninhos que postaste outro dia. Mas depois – e mesmo com as divergências que já tivemos quanto ao Mr. Darcy e porque sempre achei imensa piada aos "feios/giros" –, resolvi ir investigar. Parece que agora é vampiro. É isso que acontece aos mágicos adolescentes quando batem a caçoleta? Ok, piadinha aparte, descobri que o puto canta. O puto é puto e… bem, é isso: demasiado tenrinho e um nariz um bocado da ladecos, mais umas sobrancelhas que hão-de um dia fazer sombra às do falecido Álvaro Cunhal. Mas, sim, é engraçadinho. Agora, tenho mesmo é de admitir que não imaginava que tivesse dentro um vozeirão. E gostei da musiquinha.

2009-06-25

Pares 2

the pogues - a pair of brown eyes

Found at bee mp3 search engine


And a rovin' a rovin' a rovin' I'll go
For a pair of brown eyes

Pares


aqui


Porque haverá na Natureza esta necessidade de emparelhar todas as coisas e, depois, deixar em todas elas um espaço para a diferença, num mundo dizigótico por determinismo, quase imposição?

2009-06-22

Fase


aqui

Passamos por fases estranhas. Eu estou numa dessas fases. O blogue sempre se fez de texto na ponta da tecla; eu estou com vontade de texto na ponta da caneta a aflorar o papel. Talvez alguma coisa ainda venha parar aqui à Voz um dia destes; talvez nunca saia das folhas do pequeno caderno A5 onde andam a ser rabiscadas umas letras. Mas é uma fase intimista que não quer nem precisa de outros olhares. Uma fase que precisa de margens e rodapés e cabeçalhos e apontamentos em letra bem pequena, quase soletrada. E ideias esparramadas a todo o comprido que quase de certeza nunca vão dar em nada. E até erros ortográficos de quem já se começa a esquecer de como é um exercício de caligrafia, em que as letras e as palavras assim formadas já não estão formatadas na memória. Será, provavelmente, mais um conjunto de cadernos para esconder depois na arrecadação até ficarem mirrados e amarelados. É só uma fase. Veio comigo de férias. Está ali o caderno à minha espera e o ecrã em branco não há forma de lhe fazer sombra. Ou de originar vontade. Ou de ser sequer um rival. E o tempo, que nunca sobra, acaba por me obrigar a escolhas. Mais uns dias, talvez, e a compulsão irá embora. Então, terá entrado Julho e, como todos os anos, as visitas far-se-ão mais escassas. Depois, em altura de férias, talvez não se notem tanto as ausências. Até lá, um pé aqui e dois num caderno de linhas. E vou-me cosendo, ou costurando. Como de costume: quando chega a ser demais, precisamos parar um pouco até deixar a vontade regressar.

2009-06-20

PETA, vegetarianismo e moscas

Parece que uma neta de Che Guevara, de seu nome Lydia, decidiu contribuir para uma campanha da PETA a favor de uma dieta vegetariana. Podem ler a notícia aqui. Embora eu não pretenda tornar-me vegetariana durante os próximos tempos, penso que é uma campanha louvável.Por outro lado, parece que a mesma PETA condena Obama por ter matado uma mosca durante uma entrevista na Casa Branca, pedindo-lhe inclusive que tenha uma atitude mais humana para com estes bichinhos.
Quanto a vocês não sei, mas a minha atitude perante uma mosca chata seria precisamente... matá-la.
Sempre achei isso muito humano!

2009-06-16

Outras vozes

"Toda violação da verdade não é apenas uma espécie de suicídio do mentiroso, é também uma punhalada na saúde da sociedade humana."
(Ralph Waldo Emerson)


2009-06-12

Coisas patetas

Ontem ao almoço.

(Ela) - Então não comes uma frutinha?
(Ele, a apontar para uma peça de fruta fora da fruteira) - Olha, vou comer esta pêra que aqui está ostracizada.
(Ela) - Tu sempre gostaste de minorias!
(Os dois) - Ahahahaa!

2009-06-10

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas

Pois é, hoje é um dos tais feriados.
E se nos vestíssemos todos de Portugal? Hã?

(Ou só há amor à pátria quando há jogos de futebol?)

Imagem de Stukinha @ Flickr

2009-06-08

Quer-me parecer...

... que a abstenção nas eleições europeias de ontem se deve ao facto de o país (quase) inteiro ter resolvido ter esta semaninha de férias. (Eu cá, cumpri o meu dever cívico logo pela manhã.)
Também me quer parecer que esta vai ser a semana menos produtiva de sempre. Menos para os centros comerciais algarvios. Sim, porque a malta que quis ir para a praia (pelo menos hoje) não levou com tempo de jeito. E o que se faz em dias assim? Dá-se um divertido* passeiozito no centro comercial. Eventualmente, quiçá, lá se há-de comprar alguma coisa.
E quer-me parecer outra coisa. Como os leitores deste blogue estão todos de férias e/ou nas compras, não vou ter cá ninguém para comentar, por isso posso dizer as merdas que eu quiser. Certo?

*ironia, santa ironia


2009-06-07

Até já!


(esta também é minha)


Iupi! Mini-férias!

Qualquer reclamação e terão certamente uma resposta Fabulosa! :D

2009-06-05

Hoje é o Dia Mundial do Ambiente

Imagem de fpsurgeon @ Flickr

Sugestão: filme Home - O Mundo é a nossa casa, cujo objectivo é alertar para as ameaças ambientais. (Ainda não o vi todo, mas gostei muito do que vi até agora. Vale mesmo a pena.)


2009-06-04

Sem acordo


aqui


Hoje ouvi uma senhora muito composta a falar sobre – e a dizer mal, obviamente – o novo acordo ortográfico. No entretanto, parece que havia no tal acordo piquenos problemas que agora me escapam, quaise que não sei quê e uma profusa variedade de declinações do novo verbo tar. Aliás, até me parece que a senhora estaria a ser entrevistada pelo tefone. E, sim, falava sobre o novo acordo ortográfico com uma voz cheia de autoridade.


(acho que isto de andar a ouvir rádio me começa a fazer mal…)

2009-06-01

Apre!

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«Ministério dos Negócios Estrangeiros avançou que se equivocou quando anunciou que havia um cidadão português no voo da Air France desaparecido esta segunda-feira. O português estaria na lista de voo mas não chegou a embarcar. Também na lista divulgada por um porta-voz da companhia aérea francesa não consta qualquer cidadão luso.»

in, JN



Não há cu para a parvoíce do "felizmente não havia nenhum português". Um português qualquer, nem importa bem qual, para podermos ter a televisão a sangrar durante horas. Podia ser um qualquer filho da puta – ladrão, pedófilo, salafrário de qualquer espécie – se fosse português já estava bem. Assim, como os outros duzentos e tal desgraçados – crianças incluídas – não eram portuguesas, já não há mal em terem desaparecido e estarem todos provavelmente mortos. "Felizmente o português que era para embarcar não embarcou. Felizmente! Felizmente só morreram dos outros." Poupem-me!

Foi bonita a festa, pá!




Para o ano há mais (espero).