2006-01-31

Brokeback Mountain


aqui


O preconceito está normalmente associado a uma atitude ignorante que dá origem a uma opinião ou a um conceito formado por antecipação, geralmente de forma precipitada, sem conhecimento ou análise profunda dos factos. É usado primeiramente para emitir opiniões irreflectidas, teimosas, sobre tudo o que é julgado como "diferente" ou "anormal" segundo os parâmetros de cada um, sendo que este "um" se encontra integrado num comunidade, também ela moldada e sociabilizada em função de preconceitos, figuras muito úteis para manter uma certa "ordem" na convivência dentro dessa comunidade. Antigamente até queimavam mulheres nas fogueiras por escaparem a essa tal "normalidade". Num contexto sociológico, implica normalmente o julgamento do "outro", do "desconhecido", do temido porque "diferente" ou temido por seguir "normas diferentes" das do sujeito. E, sim, envolve os medos de cada um, medos primários, a mais das vezes moldados pela sociedade em que nos inserimos, pela cultura e pela religião, no sentido de resguardar a "normalidade" social de tudo o que é diferente e, nesse sentido, visto como "anormal".

Eu tenho muito pouca paciência para quem julga - com ares de psiquiatra de livro de bolso - se outra pessoa é ou não mentalmente sã, especialmente se tal se prende numa avaliação imediata da sanidade de alguém em função das suas opções sexuais. "Sanidade mental" é um conceito para ser usado com cuidado, muito cuidado. Não é para ser arrebolado para um texto que mais não pretende que catalogar a capacidade mental de alguém em função da aparência ou da forma como vive a sua intimidade, especialmente a intimidade sexual.

Um dia destes, ainda acabamos todos mórmons do Utah, a julgar a "sanidade mental" do galinheiro pelo grau de histerismo das galinhas...

E se ser americano já me parece suficientemente mau, ser um mórmon do Utah parece-me profundamente intragável. Antes o meu Portugalinho cheio de defeitos, desde que ninguém dê ouvidos aos tais que se chamam liberais e de direita e mais o raio que os parta.

2006-01-30

And goodnight, Matilda, too




Tom Waits - Tom Traubert's Blues (Waltzing Matilda)

Não! Não queria ser feita de madeira e deixar de sentir dor. Ou deixar de sentir prazer. Ou o quente e o frio. Ou o áspero e o suave. Ou uma lágrima. Ou um sorriso...

Suponho que todos temos dias maus, doloridos, cheios de pormenores sórdidos ou demasiado tristes. E todos temos uma forma de lidar com eles. No meu caso, escrever é a forma de domar a negritude que, por vezes, quer tomar conta de mim.

Hoje não foi um bom dia. E está a precisar de mais um desabafo. Daqueles tristes, como às vezes trago por cá. Porque nem todos os dias são bons dias e nem sempre é possível falar, ou sequer chegamos a saber falar. Porque há dias mudos, de silêncios enlutados.

E quando já não há palavras? E quando por dentro só há negrume, uma cacofonia de sons imprecisos, ruídos que maceram, imprecisos ditongos sem sentido? E quando nada faz sentido? Quando só olhos marejados e não há sons? Só grossas lágrimas geladas, demasiado dolorosas, cravadas a dor num rosto disforme pelo tanto da perda?

E quando não temos nós palavras, nada faz sentido dizer, nada faz sentido dentro da nossa cabeça, quando corremos a pôr um ramo feito de flores mortas aos pés de um esquife de uma criança morta e uns olhos irados contra o destino, flagelados pelo real, nos transmitem o que nem sabemos racionalizar?

E não há palavras. Não há! Uma única que justifique que uma criança morra antes dos seus pais. Não há palavras!

Eu fugi hoje do silêncio. Sem respostas, sem sons, sem sentidos. Estou dormente ainda. E não sei o que dizer...

Há dias em que não sei ser feliz na escrita. Acho que tem a ver com os motivos porque escrevo. Escrevo para mim. Porque preciso. Porque não escrever deixa-me encarquilhada em sentimentos a precisarem de libertação. Porque é quase uma necessidade física. Escrevo em busca de alívio, como panaceia. Escrevo para poder continuar a ser uma pessoa contente. Escrevo como um grito. E hoje só tenho vontade de gritar.

Ter leitores desse lado, com a palavra certo e o encanto da partilha é o bónus. Saber-me aqui escondida entre iguais é a surpresa que nem pensei que estaria ao meu alcance. Não tenho tempo, nem vontade, para gerir mais do que isto e, ainda assim, há um isto assim grande. E sinto-me profundamente egoísta pelo tanto que recebo em troca de tão pouco..

E hoje grito aqui o que não gritei quando devia. E é quase como se soubesse que aqui também faz sentido, porque, desse lado, alguém saberá gritar comigo.

Moi?

What Your Underwear Says About You

When you're bad, you're very bad. And when you're good, you're still trouble!

You're comfortable in your own skin - and don't care to impress anyone.


Bad? Trouble? Como é possível ter dado um resultado destes? Toda gente sabe que sou um anjo...

2006-01-29

Na terra dos sonhos


(resposta ao desafio da Elipse)


No país dos sonhos, estavam sentados lado a lado e falavam de tudo com bonomia. Amordaçavam o espaço que os separava com grinaldas de sorrisos e contavam segredos como se nada os fizesse divergir.

No país dos sonhos, ouviam Jorge Palma a falar da terra que há-de ser sobre a terra que nunca pode vir. E alimentavam-se de palavras, que eram sempre o bastante para encher a barriga e não havia contas, nem filhos, nem patrões, nem desconcertos e desgovernos e eleições.

E ficavam na terra dos sonhos sempre que queriam fugir. Estão lá ainda, lado a lado, sentados nas suas cadeiras brancas, a ver a manhã branca a florir radiosa nos seus tinta graus à sombra e o chapéu de sol emprestado pela vizinha.

Fugiram para lá ontem e não querem regressar. No hoje, há uma mesa de permeio e uma zanga sem fim. E há contas para pagar e desgovernos e inflação. E faz frio. Demasiado frio para ainda sobreviverem os sonhos.

2006-01-28

Quando a Voz...


aqui


A minha mãe fala. Tem uma voz de veludo, macia.
O meu pai, fala lá do fundo com o som das coisas sérias.
Quando a minha mãe ri, parece que no quintal esvoaçam mil pombas.
Quando o meu pai se ri, acorda o mais profundo, que está para acontecer..
Quando a minha mãe chora, fico com medo e agarro-me a ela com braços de vida.
Quando o meu pai chora, faço-lhe festas nos cabelos e vejo nele um homem único.
Quando a minha mãe conta histórias na noite, saem-lhe flores pela boca e durmo agarrada ao seu perfume.
Quando o meu pai me conta histórias, elas tornam-se reais e as suas invenções ficam a viver, para sempre, no meu quarto, ao lado dos brinquedos.
Quando me acorda, a voz dele é doce e sem tempo.
Quando ela me acorda, traz palavras apressadas anunciando o primeiro beijo do dia.
Mas as suas vozes pela manhã sabem sempre a café com leite.
Quando a minha mãe sussurra, os segredos ficam guardados para sempre.
Quando ele me diz alguma coisa ao ouvido, toda a gente de lá de casa fica a saber.
Quando a minha mãe espirra, parece um passarinho a piar.
Quando o meu pai espirra, acorda todos os pássaros lá do bairro.
Quando eles dizem que sou bonita, o som é igual mas com sabores diferentes.
Como gosto das diferenças.
E eu? Qual será a minha voz?


Apeteceu-me comemorar a minha entrada para o "Vozes", com este pequeno textos para crianças....

2006-01-27

Neblina


aqui (vale a pena ver toda a colecção na página de Richard Cooper)


Eu sou do Porto das neblinas. E essas são as cores do Porto que mais amo.

Escrever é, no fundo, lutar contra as minhas neblinas, exorcizá-las, tentar encontrar um rumo para a voz. É também um compromisso: o que sei, o que consigo.

Pesa-me quando me obrigam a ficar calada, presa numa nuvem de silêncio que não escolhi. Todo o dia fica nublado. E quero apenas o raio de sol que vence as nuvens; ou um relâmpago vigoroso e irado. Ou o grito que me apetecia hoje, ao ver esta máquina infernal a condenar-me aos silêncios.

Pintem-me os dias de nuvens baixas, ou de nuvens altas, ou de breves fogachos de vapor que o aquecer do dia manda embora. Mas não me pintem os dias dos silêncios sem palavras, nuvens tormentosas que não fazem parte do meu cenário encantado.

Orgulho e Preconceito


Congratulations,

you're Mr. Darcy! Though you seem reserved or aloof in public, once people see the real you, they can't find a single bad thing to say. You should be yourself more often! Also, like your counterpart Elizabeth, you tend to jump to conclusions about people, so avoid those preconceived notions and happiness shall be yours! Please invite me to Pemberley sometime...


Which Character from Pride and Prejudice Are You?
brought to you by Quizilla


Mr. Darcy só há um; o Colin Firth e mais nenhum!

Telegrama


(recebida por mail)


Disco duro às portas da morte. Aguarda salvação ou enterro definitivo. Dona de disco vai meter-se à cama, que já arranjou o remédio para a gripe.

2006-01-25

A culpada!


aqui


Não podia deixar de aproveitar o dia de hoje para contar a todos quem é a grande culpada por me aturarem aqui pela Voz. E dizer ainda que o blogue da Vanus faz hoje dois aninhos.

Parabéns, miga!

Outra vez!


aqui


Este ano a gaja não me larga! Será que tenho ar de passarinho? Ou será que, à conta do post da fé, querem fazer-me acreditar que "três foi a conta que Deus fez"? Irra!

2006-01-24

Festa!


aqui


A partir de hoje, o Gaivina é membro da Voz em Fuga.

Já não és o "sem blogue" e, como podes ver, não te dei escolha, Gaivina. Tens os dados no e-mail. Toca a escrever!

2006-01-23

Jugo


aqui


Parece que já passou. Que já está. Que posso descontrair agora. Queria saber como deixar este pesadelo esvair-se de dentro de mim. Precisava chorar, talvez. Ou rezar, quem sabe. Precisava arranjar uma forma para empurrar goela abaixo este fel que teima em queimar-me a garganta. Escorre por mim o desgaste do dia, da semana, do mês. Começo agora a tentar poisar os pés no chão, cansada das correrias, exaurida do medo, a tentar pôr em ordem o trabalho que fui deixando a reboque da vida. Os pés recordam-me as asneiras, as noites mal dormidas, o rigor na alimentação esquecido. Que quando o espaço é de quem gosto, esqueço-me facilmente de mim. A pancada vem sempre à posteriori. Reagi, levei tudo à frente, resolvi, acertei, pus em ordem. Depois, muito depois, quando já nem há motivos, o mundo cai-me em cima da cabeça. E estou muito cansada...

Tirando as palavras, não tenho mais refúgios. E é nestas alturas que me custa tanto não ter fé para acender uma qualquer vela, sussurrar uma qualquer prece e esquecer.

Olha quem faz aninhos!


aqui



Teddy Thompson & Rufus Wainwright - King of the Road



Pensavas que me esquecia? É só mais um, Mary John. Não dói nada ;)

Espero que seja um dia "fabulástico"!

Beijo grande de parabéns :)




(que tal a "tangueta"?)

2006-01-22

Macacos à solta


Júlio Pomar



Vila de Sintra 10 horas da manhã. De repente, o telefone da esquadra da Portela começa a soar freneticamente. Pouco depois surgiu a ordem de serviço. A presença da autoridade era requisitada. O caos tinha-se instalado no centro da vila, repleta de gente. Toda a zona do Palácio até à estação dos comboios tinha sido invadida …por macacos.


Bem, tudo começou na minha loja de animais domésticos, ali bem ao lado do Museu.


João, o meu empregado, notou que um dos nossos belos macacos ficara com o punho preso no arame que fechava a gaiola onde o bicho estava encerrado. João abriu a porta da gaiola e libertou o nosso amiguinho, que, prontamente, saiu a correr. Antes que se desse conta, mais dezanove macacos, matraqueando excitadamente, seguiram o seu líder até ao centro da sala. Os macacos mantiveram um breve conselho de guerra. Pareceram decidir que seria injusto deixarem os seus amigos em cativeiro. Num ápice, abriram as outras quatro gaiolas. Mais oitenta macacos se juntaram ao grupo libertador, no centro da sala.


O João tentou desesperadamente agarrar alguns deles…Tarefa impossível. Um pestinha esperto abriu a porta da sala, encontrando o caminho que levava ao saguão. Aí, as escadas de emergência conduziam a uma janela aberta…à Liberdade. E cem macacos barafustastes subiram pela escada acima até ao telhado.


Naquela manhã, o senhor Almiro, dono de uma mercearia próxima, mostrava a sua mercadoria à Dona Isaltina, cliente habitual e difícil, mas para quem tinha encontrado uma forma hábil e frágil de lhe enfiar os produtos que vendia. Nisto, um bando de macacos entrou ruidosamente pela porta do estabelecimento, lançando-se directamente à secção de frutas, provocando um grito agudo na fiel cliente: Ai Santa Maria da Agrela que não há ninguém tão santa como ela! É evidente que todo stock de bananas desapareceu rapidamente. Também se esvaneceu correndo Dona Isaltina pela rua abaixo.


O senhor Almiro que não é homem de perder a cabeça, fechou a porta da loja e toda e qualquer saída daquele lugar. Quarenta minutos depois, com a ajuda da autoridade, ele e os quarenta macacos foram removidos sãos e salvos.


Não sei se vocês sabem, Sintra tem uma Academia de Música; nessa bela tarde de Outono estava a funcionar. O professor, velho e batido na arte de lidar com crianças, tentava ensaiar os seus alunos para o espectáculo a ter lugar lá pelo natal. Conseguira aquietar vinte e sete meninos cantores. Fez soar o diapasão, levantando o dedo para marcar o compasso, quando um dos meninos irrompeu numa risada.


- Hi! Hi! Hi! Desculpe-me Soutor. Mas está um macaco em cima do piano.


Claro que está! Um minuto depois estavam quatro meninos em cima do piano. Mas o macaco estava agora pendurado no candelabro da academia. Outro macaco balançava-se alegremente na cortina de veludo vermelho.


O ensaiador do coro manteve-se calmo. Já lidava com crianças há muito tempo, uma dupla de macacos era coisa de somenos. Organizou os meninos em grupos utilizando a capa do piano e das poltronas. Em poucos minutos, os macacos que não podiam competir com os meninos, foram capturados e amarrados nas capas.


Na mesma rua há um quartel de bombeiros e, naquela manhã, estava tudo calmo e sereno.


No pátio jogava-se à bola e, lá em cima quatro bombeiros jogavam à sueca.


- É a tua vez, joga lá a carta! - Disse um dos jogadores impaciente. – Para onde é que estás a olhar?


O outro bombeiro abanou a cabeça como se quisesse clarificar as ideias.


- Acabam de passara a correr cinco macacos. E um deles levava uma bola!


Aí começou a confusão!


Entraram dois bombeiros danados.


- Quem é que roubou a nossa bola?


Nesse momento, todos os chuveiros do balneário foram ligados no máximo. Um bombeiro correu a ver o que se passava. Ficou parado, petrificado, olhando a cena: dez macacos a tomarem banho de chuveiro. Foi uma correria dentro do quartel. Agarra esse macaco! Pega pelo rabo! Aquele está agarrado ao extintor, meu Deus!


Nisto soa o alarme. Os homens correram para os seus lugares no carro: o mesmo fizeram os dez macacos.


Os bombeiros não tiveram de ir muito longe. Tinha sido uma chamada da Periquita, onde era necessário um laço para retirar uns macacos que insistiam em comer queijadas no alto dos armários. Mas quando os bombeiros chegaram ao local, o dono da loja abanou a cabeça dizendo:


- Não é possível, eles estão a trazer mais!


Ah! Acabei por receber todos os meus macacos de volta…Três meses depois…
Bem…Quer dizer…
Menos um…
Esse foi visto a última vez de mão dada com um pintor chamado Júlio.

Dizem até, que vive por lá no atelier dele…



Gaivina



(e pronto! siga a marinha, que o exército está bêbado!)

Parece que...


por BZ, "roubada" no Substrato

...vamos ter de gramar o gajo.

O Desejado já não pode vir


Óleo de Carlos Alberto Santos

É preciso enterrar el-rei Sebastião
é preciso dizer a toda a gente
que o Desejado já não pode vir.
É preciso quebrar na ideia e na canção
a guitarra fantástica e doente
que alguém trouxe de Alcácer Quibir.

Eu digo que está morto.
Deixai em paz el-rei Sebastião
deixai-o no desastre e na loucura.
Sem precisarmos de sair o porto
temos aqui à mão
a terra da aventura.

Vós que trazeis por dentro
de cada gesto
uma cansada humilhação
deixai falar na vossa voz a voz do vento
cantai em tom de grito e de protesto
matai dentro de vós el-rei Sebastião.

Quem vai tocar a rebate
os sinos de Portugal?
Poeta: é tempo de um punhal
por dentro da canção.
Que é preciso bater em quem nos bate
é preciso enterrar el-rei Sebastião.

Manuel Alegre - Abaixo el-rei Sebastião


Que mania esta nossa de, em cada geração, inventarmos mais um D. Sebastião! E continuamos a construir um País de miragens, com Desejados que nunca o são. Salvadores da pátria de pés de barro, boca aberta para o tédio e a frustação. Matemos em nós o Encoberto! O Desejado já não há-de vir. Nunca veio, afinal.

2006-01-21

Optimismo


aqui



Forrest Gump Theme - Alan Silvestri


"Life is like a box of chocolats"... Nunca sabemos qual é o recheio até o provarmos. Era qualquer coisa assim que dizia o Forrest Gump, não era? E faz sentido. Especialmente porque, se afastarmos todas as surpresas do caminho da vida, então apenas teremos a monotonia como miragem. Espero conseguir, por muitos anos ainda, encontrar em mim essa capacidade para me maravilhar com o desconhecido e o inesperado.

E é por isso que não acredito em vitórias apenas anunciadas.

Dias de reflexão


Sempre achei piada a estes dias de reflexão. Na sexta-feira até às 23:59 é um rodopio nas rádios e televisões a transmitirem os últimos comícios. De súbito começam as notícias da meia-noite e parece que viajámos no tempo. Fala-se de outras coisas, aparecem notícias de géneros normalmente afastados dos alinhamentos. Hoje durante o dia, toda a gente pensa numa coisa, mas não é falada. É quase como uma véspera de Natal: a antecipação dos presentes, sem poder rasgar um pedacito do papel de embrulho.


Vinha para escrevinhar qualquer coisa sobre o dia de hoje. Mas, como de costume, já
alguém o disse muito melhor do que eu.

2006-01-20

Como é que é?


(recebida por mail)


Será que estavam a usar o teu tradutor, Riquita?

(desculpem o atraso)


Ivo Jeremias


Mais uma preciosidade do Ivo. Uma que já devia estar cá há mais tempo. Mas antes tarde do que nunca, certo?

(É que este blogue também é teu, Gaivina)

Vintage


aqui


Há muito muito tempo, quando os dias eram assim frios, as manhãs até doíam e as noites nos apunhalavam os pescoços com dedos gelados, a 125 não era opção para os passeios que teimávamos dar. Mas o carro do pai era a moeda de troca de todas as boas acções que não queríamos fazer, de todo o comportamento padronizado que nos fazia rebelar.

Lembro-me de juntarmos cada tostão. Dos cigarros que deixamos por fumar, das vezes em que o almoço de um serviu para dois, dos copos que não fomos beber com os amigos, numa fúria compulsiva de poupança. Cinco contos, dez, trinta, cinquenta e sete… e fomos às compras.

Com orçamento reduzido e sem grandes pretensões, deu-nos o dinheiro à justa para comprar um mini amarelo. Estava podre, cheirava a mofo, só andava depois de aquecer e de muitas manobras com o "ar". Havia inclusive uma fuga qualquer de água quente junto aos pés do passageiro, que nunca quis investigar com medo do que pudesse descobrir.

Mas foi nesse carro que aprendi a conduzir. Como foi o carro que me ensinou o quanto custa empurrar, cada vez que lhe dava uma frescura e parava no meio de lugar nenhum, quase sempre baixo uma torrente de chuva fria e com água quase pelos joelhos. E com ele parti à aventura em tardes mansas, quando era suposto estar na escola, pelo meio dos caminhos perdidos, em lugares onde até Judas perdeu as botas.

Não há muitas coisas de que tenha saudades desse tempo em que dependia da semanada para fazer fosse o que fosse. E, no entanto, o dinheiro parecia chegar para quase tudo. Mas tenho umas saudades tremendas de um mini amarelo a cair de velho, com ferrugem e a espuma dos assentos à vista. Eram quatro paredes e um tecto sobre rodas. E eram nossas.

2006-01-19

Respondendo a um desafio

You've been lying in bed for a week now
Wondering how long it'll take
You haven't spoken or looked at her in all that time
It's the easiest line you could break

She's been going about her business as usual
Always with that melancholy smile
But you were too busy looking into your affairs
To see those tiny tears in her eyes

Tiny tears make up an ocean
Tiny tears make up a sea
Let them pour out, pour out all over
Don't let them pour all over me

How can you hurt someone so much your supposed to care for
Someone you said you'd always be there for
But when that water breaks you know you're gonna cry, cry
When those tears start rolling you'll be back

Tiny tears...

You've been thinking about the time, you've been dreading it
But now it seems that moment has arrived
She's at the edge of the bed, she gets in
But it's hard to turn the opposite way tonight

Tiny tears...



Cá está ela... A música das músicas, a que foi a "minha música" tantos anos que lhes perdi a conta. E a voz do Stuart e a pose em cima do palco, por entre o fumo de cigarros sucessivos. E a companhia, as companhias... E as viagens, Vilar de Mouros, Coimbra, Lisboa, onde calhasse sabe-los. E saber ainda que era mais um concerto que não podia perder...

Mesmo lágrimas pequenas fazem um oceano, fazem um mar. Mesmo quando se ama muito alguém, conseguimos magoar. E o tempo que já não há para o nosso bem-querer, tempo que se desperdiça em acasos e programas e ocupações e uma agenda sempre demasiado ocupada para aquilo que verdadeiramente importa.

Mesmo as lágrimas pequenas fazem um oceano, fazem um mar.

E é então que, como que num lampejo, nos resolvemos a olhar, olhar mesmo, o que está ali debaixo do nosso nariz e há demasiado tempo não éramos capazes de ver. Porque há dias em que nos é impossível olhar para o outro lado, já que o risco de nos perdermos a nós mesmos é intolerável.

Até as lágrimas pequenas são salgadas. Até as lágrimas pequenas fazem um oceano, fazem um mar.

E, por sorte – uma sorte maravilhosa, a que nos esquecemos de dar valor – nem todas as lágrimas pequenas, as tais que fazem um oceano, que fazem um mar, são lágrimas de tristeza.


(em forma de "repost", que não tenho tempo para mais)

Para além da net...



aqui


Já cá ando há algum tempo e até já me atrevi, várias vezes, a ver caras que estão por trás de nicks. E a deixar ver a minha. De cada vez que uma dessas oportunidades surge, sinto um nó no estômago, porque não sei – nunca se sabe – como vai ser. Se vou gostar e fortalecer uma amizade; se vou perder um amigo.

Sempre entendi os meus nicks como bonecos que transporto comigo para, umas vezes, passar uma opinião; outras, um simples estado de humor. Alguns bonecos estão mais próximos do que sou; outros estão mais longe. Todos são uma parte de mim, mas não a totalidade. Um deles, achei que era demasiado "eu" e quase deixei de o usar. Às vezes, apetece-me uma "roupa nova" e surge mais um... Sem grandes traumas que logo me identificam. Porque, através destas "roupagens", iniciei laços de amizade e, quando tal acontece, torna-se fácil saber quem escreve como e sobre o quê, a forma como o faz. Também é verdade que umas pessoas têm mais jeito do que outras para detectives de nicks e que a informação corre depressa por aqui...

Mas, muitas vezes, os laços virtuais não chegam. Por isso arrisquei mais e atrevi-me ao contacto físico. Foram sempre surpresas... Isso agrada-me, porque quer dizer que os "meus bonecos", apesar de tudo, funcionaram e acho que sempre consegui surpreender de alguma forma e nem sequer falo de aparência física. Eu não acertei em quase nada do que imaginei dos outros. Também me agrada, porque a novidade surge com ar de complementaridade, traz riqueza aos laços que se estreitam. Algumas pessoas que cirandam por este espaço são minhas amigas agora. Amigos que quero manter. Já não são só nicks. Têm nome próprio e aparência física e ocupam espaço no meu coração.

Mas também há alguns nicks que penso que não quero conhecer e nem falo de pessoas com quem ainda não estabeleci laços de amizade virtuais. Tenho medo, muito medo, que se perca a magia, porque há "namoros" que só aqui fazem sentido. A alguns, tenho medo de desiludir, pelo que esperam de mim, por aquilo que posso não ter capacidade para ser; outros, não quero conhecer por puro egoísmo, porque gosto de os imaginar "à minha maneira" e tenho medo, muito medo, que não sejam o que espero; outros, ainda, porque temo gostar mais da pessoa do que do boneco e a crítica ao texto nunca mais possa ser destituída de elogio à pessoa. E o contrário também é válido.

E isto vem a propósito do quê? Bem, o mês passado fui "descoberta" por um amigo. Ainda não percebi como, que nem sabia que frequentava os blogues. E agora sinto (ainda) mais a falta de o ler...

Que dia!


aqui

E, agora, vou finalmente dormir!!!


(amanhã tento pôr as "conversas" em dia... er... quero dizer, hoje... bem, às tantas é mesmo amanhã... ai o caracinhas!!!!)

2006-01-18

Sentidos


aqui


A perda de um sentido será sempre uma amputação, mesmo que o corpo – e a mente – cedo lhe arranjem o substituto possível e o engrandeçam.

Se grandes pavilhões auriculares e bocas musculadas fossem a realidade conhecida, não se levantariam questões. Mas a natureza fez-nos com mais sentidos para dar mais cor – e sabor, e cheiro e sensações e paladares– a todos os diálogos.

E eu, que me esforço aqui para comunicar só por palavras, não esqueço que miro um écran e que são os meus dedos que teclam. Como não esqueço que sonho a cores. Como não esqueço que, quando ouço música, fecho os olhos e imagino aromas e gostos e sensações e imagens...

Estou feliz por ter todos os sentidos activos, mesmo que empobrecidos por, cada um deles, ao lidar com o ruído que os outros provocam, não ser a única forma possível do meu eu se situar no espaço e no tempo...

2006-01-17

Miminhos


Coil - Cardinal Points

O post que dedico a este e a este senhores, à conta de uma troca de mimos :)

Junto-me à corrente



Visto aqui, aqui e em mais alguns sítios, que não recordo agora :))



(Espumante, pode parecer, mas não foi de propósito... bem, quase nada :))

Pois está muito bem!


aqui




E até mereces os parabéns! Eu vou lamentando não ser da espécie que precisa de ter qualquer coisa direita para se sentir acrescentada...


PS - Não arranjei nenhuma ruiva sardenta para dar os parabéns. Alguma coisa contra morenas?

Kiss, kiss, bang, bang (*)

The Movie Of Your Life Is A Black Comedy

In your life, things are so twisted that you just have to laugh.
You may end up insane, but you'll have fun on the way to the asylum.

Your best movie matches: Being John Malkovich, The Royal Tenenbaums, American Psycho


Porque será que já nem estranho?

(Mas também deve ser por isso que adorei o Kiss, Kiss, Bang, Bang. Que grande filme!)


_____
(*) Kiss, kiss, bang, bang (2005), the Shane Black, com Val Kilmer e um "fabulástico" Robert Dawney Jr.

2006-01-16

Eu quero é ir para “a terra”!


Pisão = pedra embrulhada num pano. Uma brincadeira de Carnaval. Tem um esquema para ser atada e controlada de longe. Os brincalhões escondem-se e simulam o bater COM MUITA FORÇA na porta da vítima (por vezes deixa grandes mossas nas portas....). Escolhem-se altas horas da noite para esta brincadeira, que hoje em dia ainda tem lugar, no meio de muita risada, pois a vítima é escolhida pelo seu mau feitio. A vítima, ou vocifera e vai buscar a caçadeira, ou tem um belo "fair play" e convida os foliões para beber um copo...


No final de cada semana de aulas, habitualmente sexta-feira, Daniel escutava sempre a mesma frase dita por João, seu colega de carteira:

- Amanhã vou para "a terra"!

E "a terra" de João era longe, Canas, Canas de Senhorim, de que ele falava muitas vezes, até nas composições que a professora pedia na sala de aula. Assim, chegado o fim de semana, lá partia João com os pais rumo ao norte…

Daniel pensava então:

- E a minha terra? Se nasci aqui em Lisboa ...então sou daqui.

A cada segunda-feira, no regresso de João, Daniel sorvia com avidez as narrativas e descrições do seu amigo, passadas lá em Canas: Falava-lhe do Carnaval com os seus divertidos pisões, terminando a festa em despique bravo nas "quatro esquinas". Da sua avó sábia, mestre na arte do queijo, que sempre arranjava um momento para cozer magníficos bolos que ele comia regalado nas tardes chuvosas. Ou daquela história divertida da porca preta que resolveu fugir mesmo no dia da "matança" e, embora perseguida por uma família inteira através dos quintais, ganhara a sua liberdade. Talvez viva, ainda, lá para os lados do Mondego com um simpático javali. E aquela serra, todinha, vestida de branco…

Ainda por cima, Canas tinha um Rossio, algo muito familiar para Daniel, menino Lisboeta.

Daniel ficava a pensar em Lisboa, com as suas praças e avenidas apressadas, com uma expressão triste de quem não pertence a lugar nenhum.

Havia aquela coisa estranha, de que todos os Lisboetas eram sempre de outro lugar.

E Canas? Uma ideia começou a germinar na cabeça de Daniel:

- Quando for grande, quero é ir a Canas!

Até sonhou com aquela Canas imaginária.

Um dia, chegava o pai vindo do trabalho, Daniel perguntou-lhe:

- Pai, porque é que nós não "vamos à terra"?

- Porque a nossa terra é aqui. Respondeu o pai.

- Mas esta cidade parece não me pertencer...

- Vou-te contar um segredo… A nossa terra é onde está o nosso coração e, o nosso coração, sabe sempre o seu lugar.



Uma coisa Daniel não sabe, mas eu sei, como contador desta história, e vocês leitores também, porque a estão a ler: Um dia, Daniel irá finalmente a Canas. Lá conhecerá a irmã de João, Inês, encontrando o amor naquela bela rapariga nascida ali mesmo na Póvoa. O seu coração fará uma escolha, descobrindo finalmente a terra porque tanto ansiara.

Pois, como seu pai tinha dito:


- O Coração conhece bem o seu lugar.



Gaivina

2006-01-15

Who the hell am I


aqui


Tenho andado com uma questão a fazer ondas dentro dos miolos e não há maneira de lhe dar descanso. Talvez não haja descanso a ser dado, que isto não somos todos iguais e uns beberam mais chá em pequeninos do que os outros. Mas aflige-me que alguém que chega às caixas de comentários da Voz tenha o desplante de questionar - e em inglês (não faço ideia do porquê do inglês, mas adiante) - quem raios é a Hipátia.

Ora a Hipátia é um nick. O meu nick. Roubei-o do nome de uma matemática que viveu há muitos séculos e foi directora da Biblioteca de Alexandria, naqueles velhos tempos em que os Homens achavam que ter bibliotecas era mais importante do que construir estádios, ou aeroportos, ou avenidas. E não pretende ser mais que um nick onde escondo - nem sempre lá muito bem - a identidade da pessoa que existe para lá da net.

Uma das grandes vantagens da net - e também um dos seus maiores defeitos - é que por aqui escolhemos ser quem quisermos. A verdade fica sempre na penumbra, algures entre aquilo que somos, aquilo que gostaríamos de ser e aquilo que tentamos ser e apresentamos como fronha para o Mundo.

A Voz é só (mais) um recanto nos exercícios dos egos que são os blogues. O meu recanto. Mas, de cada vez que clico no enter para publicar seja o que for, deixa de ser apenas o meu recanto. Fica a público para ser lido, partilhado, citado e criticado.

Como vamos tentando transformar isto numa comunidade, a tendência é para, quando resolvemos comentar seja o que for, o façamos no sentido da "boa crítica". Pelo menos, é o que faço. Se não tenho nada de bom a dizer, prefiro não comentar. Não tenho por hábito ir para as caixas de comentários dos outros achincalhar quem escreve. Posso não concordar e, aí, darei a minha opinião. Mas não será uma opinião transformada em insulto, como é óbvio. Tenho mais o que fazer do que andar a insultar os outros na própria "casa".

Depois, há a questão das citações. Sempre usei citações. Gosto de ter as palavras de outros como rede dos diferentes textos sem rede que vou escrevendo. E nas citações até incluo as imagens que escolho e publico com cada texto. Não estão lá só para enfeitar. Têm uma função ilustrativa qualquer, nem sempre bem conseguida, mas isso já são outros mil réis.

Já fui citada por outros, também. E tiveram sempre a decência de remeter para este umbigo, referindo quem tinha escrito qualquer bojarda (por aqui não há nunca muito mais do que isso), sem que me sentisse por isso ofendida. Umas vezes, citaram-me para concordar comigo; outras só porque gostaram. E chegará o dia em que, provavelmente, o farão para discordar do que disse. O que também está bem. Porque eu cito muitas pessoas só porque não concordo com o que disseram, ainda que cite muitas mais porque disseram bem melhor o que me apetecia dizer.

Obviamente, ninguém parece questionar quando cito palavras de um autor consagrado. Ai parece não haver mal nenhum. Está lá a fonte e, se o gajo até já morreu ou está mais para defunto do que outra coisa, quem se lembraria de questionar tal?

Mas, se me atrevo a citar outro blogger e - oh heresia! - ainda ponho em causa as suas doutas palavras, vem logo a sobranceria de um "who the hell are you". Um qualquer "como te atreves a questionar o que digo, oh verme desconhecida". Pouco importa que tenha sido citado um post que já citava outro. Pouco importa que tal seja hábito até do nickinho empertigado.

A desconhecida Hipátia - que não anda pela net a lamber cus suficientes de quem anda por aqui metade do tempo a cultivar relações e outra metade a bater punhetas mentais à custa de uma qualidade de escriba que alguém lhe disse que tinha - é um nick como outro qualquer. Escreve. Publica. Tem leitores. E até tem comentadores. E não se acha demasiado importante.

Who the hell am I? Por aqui sou a Hipátia. E bastaria. Ou deveria bastar para a maioria dos nicks que, pela net, partilham comigo o prazer de escrever.

2006-01-14

Vamos lá dar a volta a isto!


aqui


A Capuchinho Vermelho vai toda contente pela floresta fora quando, num dos lados do carreiro, vê uma sebe a mexer. Precipita-se para trás da sebe e depara-se com o Lobo Mau agachado com os olhos muito abertos.

- Olá Lobo Mau - diz a Capuchinho - que grandes olhos tu tens!

- É para ver quando te aproximas de mim, Capuchinho! - responde o Lobo, levanta-se de repente e desaparece a correr.

Mais à frente a Capuchinho volta a ver um arbusto a mexer e, curiosa, vai ver o que se passa do lado de trás. Depara-se de novo com o Lobo Mau.

- Olá Lobo Mau, mas que grandes orelhas tu tens!

- É para ouvir quando te aproximas de mim, Capuchinho! - responde o Lobo Mau, levantando-se de repente e voltando a fugir a toda a pressa mata adentro.

Continuando o seu caminho, despreocupada, eis que, mais uma vez a Capuchinho Vermelho repara num outro arbusto a mexer. Mais uma vez vai espreitar e vê do outro lado o Lobo Mau, com os dentes cerrados e os olhos bem abertos.

- Oh Lobo Mau, mas que boca tão grande!

O Lobo Mau não se contém:

- É para te mandar pró caralho, que é a terceira vez que tento cagar e tu não me deixas!!!


É tão lindo quando vemos que, ainda hoje, as histórias da nossa infância continuam a dar pano para mangas!!!!

E estavam à espera de quê? Que viesse falar sobre o Cavaco Silva?

who's afraid of the big bad wolf, the big bad wolf, the big bad wolf... lalalala...

Contos de Fadas


Mais uma vez ela contemplou o Príncipe, com olhos turvos. Depois lançou-se ao mar, e sentiu que o corpo se dissolvia em espuma.

Hans Christian Andersen - A Sereiazinha



aqui


Penso que todos os finais felizes de todas as histórias ficaram congelados no tempo. E ninguém conta nunca o que veio depois.

Suponho que todas as histórias tenham um desses momentos de felicidade completa, absoluta. Se pudéssemos congelar esse momento com um magnífico e elaborado letreiro The End, nunca haveria lugar à contaminação com o frio real das verdades comezinhas que estragam os contos de fadas. Mas será que ainda seria vida, esta verdade suspensa no tempo, sem continuação?

Mesmo nas histórias infantis, sempre preferi as mais tristes: O Pequeno Abeto, A Caixa de Fósforos, Snegurka, A Menina de Neve, O Soldadinho de Chumbo, Os Sapatinhos Vermelhos... E sempre preferi a versão original da Pequena Sereia: ela também não tem direito a ganhar a felicidade eterna e congelada no minuto, mas ganha uma alma...

2006-01-13

Ausências


It's nice to come home
For a weekend
The children have grown
How I've missed them


Josh Rouse - Women and Men



Custa-me pensar que muitos homens ficam. Que ficam pelos motivos errados, mas que são, às tantas, também os mais certos. Como questionar as ausências doloridas? Como questionar a saudade? Como questionar o amor?

E, por uma data deles que faz tudo errado, há muitos mais que o fazem pelos motivos certos.

Portadora de uma visão enviesada, nunca me lembro de pensar no que sentirá um homem por não ver os filhos crescerem no dia a dia. Nunca me lembro de questionar o porquê dos filhos ficarem sempre com a mãe. Nunca os vejo como perdedores das relações defuntas...

E esqueço-me demasiadas vezes como pode ser dolorosa a solidão. Que amizade e companhia também podem ser sustento. Que hábito também dá paz. Que a rotina também pode ter o seu mérito.

Tenho tanto medo ver gente a acabar a pedir pouco à vida! Mas, como me disse o Frogas um dia, "ser velho ou velha numa cama vazia deve de ser xxxxxx"...




2006-01-12

Sinais positivos


aqui


- Então, como te sentes?
- Quando sair daqui, quero um bacalhau à lagareiro.
- OK, já vi que estás muito melhor!...

2006-01-11

(in)justiça


aqui


Uma morte rápida e sem sofrimento? Não! Antes ficar a mijar e a cagar para a fralda e, a haver justiça, vendo justiça ser feita - enquanto se baba, ranhoso -, a quem tanto injustiçou.

2006-01-10

Frágil


aqui

If blood will flow when flesh and steel are one
Drying in the colour of the evening sun
Tomorrow's rain will wash the stains away
But something in our minds will always stay

Perhaps this final act was meant
To clinch a lifetime's argument
That nothing comes from violence
and nothing ever could
For all those born beneath an angry star
Lest we forget how fragile we are

On and on the rain will fall
Like tears from a star
Like tears from a star
On and on the rain will say
How fragile we are
How fragile we are

On and on the rain will fall
Like tears from a star
Like tears from a star
On and on the rain will say
How fragile we are
How fragile we are
How fragile we are
How fragile we are



Sting - Fragile



Para a minha irmã.

2006-01-09

Saudades do Mar


aqui

E vais contar-me outra vez aquela história de quando andavas no mar, avô? Lembro-me quando me levaste a ver o teu barco. Que grande era o teu barco preto, avô. E tinha aqueles lençóis muito brancos no teu quarto a que não chamavas quarto; e uma janela redonda que só dava para o mar. Conta-me como era, avô. Lembravas-te de mim quando estavas no mar? E, agora, aqui na praia, contas grãos de areia como se fossem ilhas e as ondas como se fossem o ir e voltar?

Conta-me a história de como tens saudades do mar...

_____
Nem só na Voz se lançam desafios...

Já está!


aqui

Feliz aquele que administra sabiamente
a tristeza e aprende a reparti-la pelos dias

Ruy Belo - A Mão no Arado



(Mas ainda tenho medo...)

Olha mais um prémio!

Luna de Ouro "O que eu gosto mesmo é de uns bons forwards com powerpoints recheados de homens textos bonitos":


Então o Crónicas é que faz anos e a Voz é que leva o prémio, Luna? Não me parece bem!

Vai dai, cá está o meu presentinho, com um arremedo de lua. Espero que gostes de mais este... er... texto :)

Parabéns!

2006-01-08

Efeméride

O meu coração é um pássaro numa gaiola, agitando as asas na ansiedade da expectativa.

Ian Caldwell e Dustin Thomaso – A Regra dos Quatro


Faz hoje vinte anos que me apaixonei pela primeira vez. Ou, pelo menos, que me descobri apaixonada pela primeira vez.

Desde ai, só tenho complicado as coisas…

2006-01-06

Sexo explícito


Gaivina

O frémito, o quente, o arrepio.
O espasmo macerado, a eclusa.
O tremor, o temor, a consciência.
O grito.

O sal enfim. E o degelo...




Gaivina


Uma das coisas que mais gosto no sexo é o tanto que ele tem de implícito, na forma como os jogos, os olhares, os sorrisos, se medeiam e medem, como o não dito povoa os silêncios de tensão e tesão.

Gosto do jogo da sedução, da mesma forma que gosto do sexo brincalhão, profundamente lúdico e prazeroso, fazendo qualquer corpo belo nos seus tiques próprios, nas cores e nos cheiros do gozo pleno.

No sexo somos - ou deveríamos ser - profundamente livres. Talvez tão absurdamente livres que, depois, não saibamos transportar essa liberdade para o resto da vida. E porque nunca soubemos lá muito bem o que fazer com a liberdade e sempre a tivéssemos tentado enclausurar num qualquer espartilho doutrinário ou dogmático, vestimos o sexo de nojo e o prazer de tabu.

Existe sexo explícito? Claro que existe. Existe qualquer imagem de sexo demasiado explícita? Não me parece. O sexo é natural, enquanto a busca de prazer for partilhada e feita por adultos consentâneos. Nenhuma das imagens do sexo assim vivido pode ser demasiado explícita, porque não haverá nela nada contranatura.

Somos seres sexuados, hedonistas. Queremos dar e receber prazer. Saciarmo-nos sem limites. Não é feio, não é pecado. Se for forte, então é porque é intenso e também há dias para sexo assim. Como os há para a meiguice dengosa e frágil. E há um mundo de tentativas a explorar, partilhas implícitas de gozos bem explícitos.

Não há desenho que aponha vergonha ao sexo per si; a vergonha está nos olhos de quem olha e apenas sabe ler o pudor em que os dogmas nos tentaram aprisionar.

Por isso, Gaivina, não acho nenhum dos teus desenhos demasiado forte para ter lugar neste blogue. Nem sequer ousados e muito menos despudorados. São vida. Fazem parte da nossa vida. E pecado seria não a viver no que tem de melhor para nos oferecer.



Gaivina



Adenda: Troquei a ordem dos posts de hoje, porque a "oferta" que o Gaivina faz a todos nós merece!

Mito por mito



Nem a profusão dos argumentos consegue convencer. E fica provado porque é que os homens(*) nunca, mas nunca mesmo, entendem - ou serão algum dia capazes de entender - como pensa uma mulher.

Resumir tudo a um "Size matters" é redutor. Demasiado redutor para mais do que uma gargalhada.

E se eu, em linguagem bem coloquial, disser por aqui que o caralho mais lindo que vi na vida, vinha - infelizmente - acoplado a um gajo que não sabia foder, todas a mulheres entenderão do que falo. Alguns homens, nem por isso...


____
(*) também sei generalizar

2006-01-05

Psssttttt...


(recebida por mail)


Só para avisar as meninas que têm a caixa de correio cheia e/ou demasiado pequena, que acabaram de perder uma prenda. Veio devolvida ao remetente e... oh p'ra mim a ver se me importo!

E, sim, isto era para a Fausta Paixão e para a Lata Spray :))

Palestina


Ernesto Timor (my place)


O dia ainda não vestiu a noite,
Mas os automóveis acendem as luzes vermelhas dos travões.

Alguns condutores chupam pastilha elástica,

Acordam o silêncio que os acompanha no lugar do morto.

Se o lugar é do morto

E tu estás morta
O lugar é teu

Às vezes por isso ainda te amo
Às vezes por isso ainda te quero
Às vezes por isso ainda me venho
Às vezes por isso ainda te digo

Talvez que sempre que me vim foi na tua boca,
Talvez que sempre que me vim embora
As pernas desobedeceram a uma cabeça oca

Na Palestina construíram um muro que te matou
Aqui construíram um muro que diz que ainda vives

Ivar Corceiro


Este foi o poema que o Ivar - em concurso para o Escritor Famoso (*) - dedicou em Novembro à Rachel Corrie. Elegi de imediato este como "o" poema em que queria votar. Pela dedicatória, pelo direito a não esquecer, pela obrigação de recordar quem tenta fazer a diferença e paga por isso o maior dos preços.

Na altura, comentei por lá como recordava a morte desta jovem e a força da vergonha de mais um muro sem vergonha. De como Gaza e toda a Palestina são, hoje, desgraçadamente cruéis, escondidas, vergonhosas. Os factos são conhecidos. A História - a tal com H, bem diferente das estórias que nos querem contar -, essa será feita um dia. Talvez quando não formos mais do que pó e a Rachel já for também como o pó do deserto que acoberta, mas não esconde, a cegueira do ódio, da guerra, da sede de poder das corjas assassinas.

E isto vem a propósito do quê? Ora! A propósito do Ariel Sharon, claro, e do texto que o Daniel Arruda escreveu (*). E da elite que pretende governar Israel, desgovernando toda uma região. E eu nem chego a perceber bem como é possível. Não foi, afinal, aquele o povo que mais provou do fel deste tipo de ideário?



ADENDA: Obrigatório ir ler este site, que o Ivar recomenda ali nas Outras Vozes.

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(*) link ali à esquerda
(**) ver link no post infra, que hoje estou preguiçosa

Tem dias...




But I'm a creep
I'm a weirdo
What the hell I'm doing here?
I don't belong here


(Descaradamente "roubada" ao Daniel Arruda, do Troll Urbano. Cliquem na imagem e viagem com os Radiohead)


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imagem originalmente aqui

2006-01-04

Vício


Bem sei que este que vos escreve (...) não é nenhum doutor bem empregado que ocupa um quarto do seu dia útil a cultivar relações de conveniência para manter a sua aparência de gajo indispensável no meio. Não senhor. Este que vos escreve anda por aqui como muitos outros andam, em busca de palavras, encontrando muitas vezes pseudo-palavras que flúem na esfera como postulados da escrita e da opinião.


Torres Ferreira
- Coisas Boas




aqui

Tenho alguns. Terríveis. Fumar é um deles. E, cada vez que me sento em frente a esta máquina infernal, os cigarros seguem uns atrás dos outros, ao ponto de lhes perder a conta.

Os outros vícios são mais privados ou, pelo menos, não sinto que os partilhe com muita gente: alguma música em qualquer forma e um bom livro em qualquer feitio; um chá bem quente em frente ao mar invernoso, enquanto leio o jornal; os muitos cafés sem açúcar que me aguentam o dia; as gargalhadas a despropósito, saboreando piadas que parece que só eu vi. Ou uma ida ao cinema, sem pipocas, em especial sessões tardias e com lugar marcado. Mas também o DVD de aluguer, para ver esparramada no sofá, embrulhada no quente de uma manta. Essa é a altura para outro vício, um feito de dramalhões alheios que me permitem chorar até lavar a alma com desgraças que não são minhas.

Depois há ainda os vícios que o recato me impede de descrever e esses são tão melhores quanto mais a imaginação se permitir livre. Não se partilham à toa, para encher texto ou deitar conversa fora. Contam-se em segredo, sussurrados, como um sopro quente ou um breve beijo.

E há a net e esta mania de conhecer gente nova, deixar-me surpreender de mansinho por palavras perdidas onde me perco também.

As palavras podem ser tão vãs, tão vazias... Mas são um vício. Um vício que me prendeu há muito. Há mesmo muito tempo. Tanto tempo que nem me recordo de não saber ler, de não saber escrever. E se as palavras podem ser um vício, se podem ser uma arma, são também o instrumento perfeito para dizer o que os olhos não vêem, mas o coração sente.

Sou viciada em palavras. Mais depressa largava os meus cigarros do que esta necessidade de fazer das palavras que encadeio as pontes para quem quero sentir próximo.

2006-01-03

Parabéns, carago!


aqui


Será que posso dar palpites para o nome ou, depois de ter escolhido o nick Hipátia, qualquer fé que pudessem ter no meu bom gosto ficou completamente comprometida?

Olé!


aqui

12) – Melhor blog na categoria de "comPILAções, onde o erótico vai por cima, o satírico vai por baixo e o burlesco vai por onde der mais jeito"



Olha um
prémio! A Voz teve um prémio. Um 12º lugar. Mas é prémio, ora! E ainda por cima, um daqueles prémios que dá para meter onde der mais jeito, certo?

Ah pois é! Tungas! Um prémio, lalalala :)))



(Tem taça,
Espumante? Se tiver, quero só cheia, s.f.f.)