2007-11-27

shhhh!...



São cada vez mais os amigos silenciosos.

Das máscaras


aqui

Nunca há problemas nem com os espelhos nem com as máscaras, desde que não haja vergonha de ainda mirar nos espelhos as caras a descoberto.

2007-11-26

A petição



Temos pelas nossas ruas tantas coisas a serem lembradas, algumas delas que já ninguém sabe porque são lembradas, outras que só foram importantes para aqueles que as mandaram pespegar num qualquer canto, que me espanta que as que deveriam ser recordadas ao "povo de brandos costumes" que, na prática, nunca fomos, continuem escondidas das paisagens urbanas.

Qualquer Nação que não se olha de forma completa, quer para o bem, quer para o mal, nunca terá um retrato real do que foi, do que é e do que quer ser no futuro.

Obviamente, este é o País onde alguns até se lembram de botar faladura sobre o Museu do Holocausto de Berlim. Espero que não sejam da mesma laia os que tardam em erguer uma pequena marca para recordar todos os caídos nos três fatídicos dias de Abril de 1506.

Depois, pode ser que algum dia ainda se fale de outros massacres que, tão convenientemente, permanecem esquecidos e escondidos. Eu não entendo para que serve uma memória amputada. E digo-o aqui do meu Porto, que só permitiu um auto-de-fé intramuros em toda a sua história, apesar de todas as pressões para que houvessem muitos mais: queria a memória perpetuada no palco iníquo onde teve lugar e iria exigi-lo a quem de direito.

Deixo lá em cima um adeus ladino. Por todos os que partiram ignobilmente naquele longínquo mês de má memória.

O link a seguir está no título do post. Assinar não custa nada. E, sendo certo que também não remenda nada, pode ser que, enquanto "costuramos e descosturamos" para corrigir mais um pouco "os panos do tempo", o consigamos fazer com alguma lisura.

2007-11-22

Pedido de reparação de danos


aqui


Minha cara Maria Árvore silenciosa,

Venho por este meio informar que estou com grave problema neste meu espaço, todo da sua responsabilidade.

Tal como a menina sabe, este sempre foi um blogue profundamente anónimo e anódino, um espaço perdido e de poucas e boas visitas. Uma pessoa habitua-se, sabe quem chega, sabe quem vai, vai atrás, perder-se poucas vezes, regressando a casa amiúde, apenas para estar no conforto aconchegante da sua intimidade partilhada para ai com umas cinquenta alminhas com igual propósito na vida, e basta. Afinal, o tempo não dá para mais. Nem a paciência.

Porém, à conta da menina, o meu sitemeter tem estado em profunda excitação, elevando-se duro e rígido às mais de duzentas visitas diárias. E eu, pessoa simples, banal, sem chegar a perceber que tanto buscavam nesta Voz, mesmo quando remetida ao profundo silêncio (que só durou um mês, mas isso agora também não interessa nada), estranhava, estranhava, estranhava...

Fique a menina sabendo que hoje apurei responsabilidades. E são suas. Todas suas. Estou em estado de choque, confesso-lhe. Anda uma pessoa para aqui a escrever como uma desalmada há mais de três anos e quer saber o que mais de três quartos das visitas vêm procurar? Eu digo-lhe! Vêm procurar poucas vergonhas da sua responsabilidade. A saber, estes dois contributos, com especial destaque para estas duas imagens.





Exijo reparação!

Tenho dito!

Maria Hipatia Ludovina da Silva, uma menina sempre muito bem comportada

2007-11-21

E lá convocaram outra


aqui

Às tantas poderá parecer estranho se eu confessar aqui que estou sindicalizada. Pois é verdade, estou mesmo. Com cartão e quota paga. Até hoje não me serviu para nada, mas parece que têm por lá uns advogados que podem eventualmente (com grande ênfase no eventualmente) servir para alguma coisa. Tirando isso, acho que os sindicatos já não funcionam. Ou que os sindicatos que temos não funcionam. Funcionariam se não estivessem tão alheados da realidade. Mas o pior é que estão. E já nem sei como ainda alguém os ouve, muito menos porque têm ainda tanto tempo de antena, apenas para desbobinarem conversa com muito pouca valia e menos pertinência ainda e organizarem-se de forma a que a greve se reflicta em fim-de-semana prolongado. Isto, claro, para a farândola geriátrica do costume, que já nada teme porque também já nada tem a perder, muito menos a conquistar.

E de cada vez que um sindicalista abre a boca, eu abro também a minha. Só que de espanto pelas parvoeiras que conseguem ainda encadear em discursos ensaiados para caberem exactamente nos mesmos minutinhos do costume das entrevistas e o tanto que se espreme das resmas de palavreado sem nenhum suco. E, quase sempre, mudo de canal ou viro a página, com um enfadado "lá está este gajo outra vez com a cassete do costume".

São muitos os motivos que se juntam para fazer dos nossos tempos um período de retrocesso ou, pelo menos, de abrandamento na conquista de direitos. E a verdade é que seria fácil – demasiado fácil até – culpar apenas os que têm poder e os que põem e dispõem da insegurança que mina a vida dos tuguinhas. Visto deste lado, até quase chega a parecer abuso o facto de a quantidade de direitos que a Função Pública ainda preserva lhe permitir chegar ao ponto de malbaratar uma ferramenta de reivindicação como a Greve Geral. E porque raios chamar greve geral a reivindicações sectoriais, que estão bem a marimbar-se para todos os (des)empregados de todas as fábricas que negociaram escandalosos despedimentos colectivos no último ano?

Mas a verdade é que, na prática, os tuguinhas já não querem saber de mais que o próprio umbigo; na prática, o esforço colectivo, com cedências e riscos, de uma posição de força à moda do sindicalismo de antigamente, já não é possível: os empregos estão diferentes, os patrões estão diferentes, os empregados estão diferentes. E, acima de tudo, o País mudou realmente. Só alguns sindicalistas (e alguns líderes partidários) é que pararam no tempo e nem se apercebem das verdadeiras múmias em que se transformaram.

2007-11-20

Keep on calling me (*)


aqui

Havia uma angústia agarrada ao brilho azul destes olhos que não sei se alguém conseguirá alguma vez imitar. Mas vou ver se conseguiram pelo menos chegar perto. E pela música, claro.



(*)Dead Souls lyrics

Lastro





A precisar minguar memórias...

2007-11-19

Coisas da voz

A man falls in love through his eyes, a woman through her ears.

Woodrow Wyatt


Pedro Rolo Duarte começa por perguntar a Pedro Mexia porquê tanto blogue. Pois eu, cada vez que ouço a voz do Pedro Mexia, não me espanto nada que ele prefira escrever.



(pelo menos há o Sérgio Godinho pelo meio...)

Parabéns!


aqui

Três anos de Divas & Contrabaixos :)

2007-11-17

Do direito de resposta


aqui

Informo que as DUAS caixas de comentários continuam abertas.

Ouve, minha amiga






Ouve, meu amigo
põe a máquina a gravar
queria só explicar aqui
que eu sou como o pano-cru
como pano-cru
eu ainda estou por acabar
e como o linho vem da terra
assim viemos eu e tu
e como tu eu faço e amo
e luto e dou
e como tu eu estou
entre aquilo que já fiz
e aquilo que eu fizer
eu sou de pano-cru



Pensavas que me esquecia de ti? Pensavas que aqui a Voz ficava sem palavras no dia de te dar os parabéns?

Somos pano-cru, ainda à espera de acontecer, mesmo que moldado por tudo o que já foi. E em cada ano que passa, mais tela em branco à espera do que é e do que será, para continuarmos a dar e receber tudo o que a vida nos trouxer.

Parabéns, minha amiga.





(e, sim, o link vai para a casa silenciosa)

2007-11-16

Mesmo muito atrasada...


aqui


Nestas semanas do demo que não sei quando irão acabar, ficaram parabéns por dar. E eu gosto de dar parabéns. É daquelas pequenas coisas que me permitem achar que, por aqui, há mais do que letras.

Por isso, mesmo atrasada, mesmo vergonhosamente em falta para convosco, aproveito agora – já de pijama, a sentir-me velha, deprimida e muito cansada, no fim de uma 6ª-feira interminável de que nenhum de vós tem culpa – para pôr por aqui mais do que só palavras e nomear os meus laços que, apesar de ter parecido, não ficaram esquecidos.

Segue, por isso, um beijinho amigo e muito saudoso para a Madrinha (salve dia 3 de Novembro), os parabéns pelos três anos em que a intermitente Viajante nos brinda com Espelhos e Labirintos (6 de Novembro), os parabéns também por mais um aninho Faz de Conta da impagável Jaquelina Pandemónio (7 de Novembro) e a beijoca encaminhada ao Jorge (via Ante & Post, que assim deve ser recebida) por mais um aniversário (salve 12 de Novembro).


E, acertando no dia pespegado ali no topo, mas só depois de fazer batota, parabéns por um aninho de Fabulosamente Louca.

2007-11-12

Madrigal


"Terciopelo verde" © Rosa Vázquez

¡Oh, voz de nube!¡
Oh, terciopelo!
¿Cómo nombrar tu música de musgo
sin disipar las brumas que te velan?

Viene la voz entre un aroma urgente
de jazmines de luna y se derrama
sobre el camino ciego de la noche.

Baja por escaleras de tristeza,
para perderse entre remotos pinos
y aliviarse de penas en los duros
espejos de la nieve desolada.

Deja en el aire en llamas su caricia
y al recorrer los círculos del viento,
un caracol incierto la recoge
y la devuelve, al fin, yacente y pálida,
muerta sobre un paisaje de silencio.

¡Y no saber cómo nombrarte,
para que vuelvas a llorar, subiendo
los senderos de luna y de jazmines!
¡Oh, voz de nube!
¡Oh, inasible perfil de ausencia y lágrimas:
verte morir
y no saber cómo nombrarte!
¡Oh, terciopelo!

Hérib Campos Cervera - "madrigal para la voz en fuga"


Um amigo mandou-me hoje este poema, de um poeta que nem sequer conhecia (o que só pode ser culpa minha, obviamente), falando de uma "voz en fuga" tão diferente da minha que nem sei bem se há qualquer ponto de comunhão, mas que, ainda assim, é tão linda que não resisto a colocá-la aqui nesta minha "voz em fuga".

2007-11-11

Tem piada…




O Papa criticou a Igreja Católica Portuguesa, porque parece que esta não anda a fazer um trabalho lá muito canónico no que toca a reunir o rebanho… Como se ele – o Papa –, mais as suas ideias estapafúrdias e pontos de vista de ostra, andasse a fazer muito melhor serviço. É para rir, certo?

Castanha assada e água-pé


aqui

Acho que finalmente mudei de Estação...

2007-11-10

(...)



So
Sleep, sugar, let your dreams flood in
Like waves of sweet fire, you're safe within
Sleep, sweetie, let your floods come rushing in
And carry you over to a new morning


Ao fim de anos, sei que a insónia é cíclica, que se apresenta em períodos estranhos, de maneiras mais estranhas ainda, que se instala sem pedir licença nem aviso. E que o mais breve sono se tinge de tragédias ou estafas e que todo o dia que ainda nem sequer amanheceu será um dia em câmara lenta, com os sons abafados como se a cabeça andasse mergulhada numa tina de água morna. E afinal é só cansaço. E a insónia. E antecipação da noite que ainda nem chegou: desesperar sem saber se o sono me fará companhia, me levará com ele, profundo, sem sons e sem esgares assustadores ou sem o contar de cada batida do ponteiro do relógio a picar o ponto da dor de cabeça garantida.

2007-11-06

Blogue Visitante





Ele diz que estamos condenados a ler-nos mutuamente e que gosta de me ler mesmo quando me dá a “veneta guerreira”. E visitamo-nos e comentamo-nos há mais de três anos e eu gosto de o ler, até quando lhe dá mais uma quase-apoplexia à conta da Fatinha. E vai dai ele nomeou-me para o prémio do blogue visitante. E vai dai parece que eu também vou ter que fazer umas nomeações, mas como agora não tenho tempo, aguardem até logo para ver em quem eu “enfiei a faca” (é do guerreira, não sei se estão a ver…) desta vez :)))


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Continuando...

- Cá vão as 20 vítimas:


2007-11-05

Activismo


Martha Stewart


Apenas lamento que o autor do blogue não assine com um nome identificável. Porque sim, o activismo exige nomes.

Daniel Oliveira


Vai-me desculpar, mas não concordo que o activismo precise de nomes. Pelo menos, não no sentido de que a existência de um nome ou apenas três letras ou um qualquer nick faça diferença para quem lê e concorda ou lê e discorda com uma qualquer opinião expressa num blog (que para emitir opinião noutro qualquer espaço é preciso bem mais do que ter opinião, certo?)

O mal da grande maioria do que seria possível chamar "activismo" em Portugal é o tanto que se submete aos nomes, aos fulanos de tais e aos amigos, mais os apaniguados e os apadrinhados e os amigos dos amigos dos amigos. Clubes restritos, que invocam grandes causas e depois…

Do lado de fora, para quem chega e bate à porta do "clube de mais um Bolinha com nome", o activismo enquanto causa organizada chega a feder apenas a política e a Política há muito que passou a ser palavrão para quem não se quer envolver em jogadas várias, mais os lances duvidosos e os apitos e as reformas chorudas e os jobs e tudo o mais que afasta quem defende causas daqueles que, na maioria dos dias, apenas parecem defender causas para ficarem bem na fotografia.

Até que ponto quem está na Capital percebe realmente como se movimentam as coisas em cidades mais pequenas? As portas abrem-se na velha tradição secular do Sr. Cunha e a possibilidade de concretizar um qualquer projecto fica sujeita a variadíssimos interesses. A causa perde-se; a acção enrola-se em acçõeszinhas e talvez se safe o mais esperto. Mas a militância, a vontade de agir, de ainda conseguir fazer qualquer coisa em prol da comunidade, só encontra obstáculos, a tal ponto que eu nem estranho que o activismo agora se aninhe no divã.

No fundo, acho que quem age não precisa dizer que age; não perde mérito por não ter tempo de antena. O activismo com demasiados nomes, especialmente quando tantos deles acham que valem bem mais do que valem realmente, afasta a maioria das pessoas das causas. Os nomes tornam-se empecilhos, fomentam clivagens, favorecem listas e listinhas. E as causas acabam soterradas em tretas.

A militância à pequena escala, com pequenos projectos, poucos fundos e um punhado de gente anónima mas bem motivada, é bem provável ser o último reduto de qualquer verdadeira militância. Porque a militância nos tons mais tradicionais há muito que não é prioridade para quem tem de enfrentar o dia seguinte com cada vez menos perspectivas e muito mais medo de perder o pouco que ainda tem.

E pergunto-me se ainda há grandes causas que façam realmente sentido numa sociedade cada vez mais de costas viradas para os seus políticos transformados em "classe" e todos os que se perfilam – já nem importa a cor, que aqui do lado de fora parecem demasiado iguais – para fazerem desse "activismo com nome" o trampolim para a remessa seguinte da "classe". E "classe" também acabou palavrão… Às tantas aconteceu o mesmo à "militância".

Não, não acho que o verdadeiro activismo precise de nomes. Acho aliás que precisa realmente é de menos nomes. Porque as causas deveriam motivar todos, até aqueles que preferem lutar por elas sem necessidade de protagonismo, sem prescindirem do seu anonimato, reencontrando as causas que façam as pessoas repensarem a política, consciencializarem que a Política é de todos, feita por todos e nunca, mas mesmo nunca, por uns quantos eleitos que só se lembram do povinho sem nome em vésperas de eleições.

Agora, se neste País se consegue fazer activismo sem nome… bem, isso já é uma história completamente diferente. Mas isso também não é novidade nenhuma.

2007-11-04

Para pedras


aqui


Em nome dos que choram,
Dos que sofrem,
Dos que acendem na noite o facho da revolta
E que de noite morrem,
Com a esperança nos olhos e arames em volta.
Em nome dos que sonham com palavras
De amor e paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio
E falam em silêncio
E estendem em silêncio as duas mãos aflitas.
Em nome dos que pedem em segredo
A esmola que os humilha e os destrói
E devoram as lágrimas e o medo
Quando a fome lhes dói.
Em nome dos que dormem ao relento
Numa cama de chuva com lençóis de vento
O sono da miséria, terrível e profundo.
Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filho de Deus que nunca mais nasceste,
Volta outra vez ao mundo!

Ary dos Santos - Kyrie


Parece que não havia mais nada que fazer com tanto milhão de euro...