2008-08-24




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E agora o blogue e eu vamos ali continuar as férias.

Da geriatria

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«quem estiver sinceramente interessado em «trocar umas ideias obre o assunto» não precisa de usar as «caixas de comentários» dos blogues. Estas são, maioritariamente, destinadas ao gozo da irresponsabilidade anónima»

Tomás Vasques



Há mais de um ano que a corrente é dominante: toda a gente a dizer mal dos anónimos, daqueles que preferem escrever com um nick. Como se todos os que elegem manter o seu direito a usarem um nick fossem irresponsáveis, não tivessem direito a opinião e/ou não a soubessem defender e fundamentar; ou como se a opinião só valesse alguma coisa quando, do outro lado, se descortina quem escreve e se consegue desenhar a árvore genealógica dos poleiros ou a lógica das afinidades, das amizades e compadrios.

E, ainda que suponha a quem Tomás Vasques se pretende dirigir (e não sendo Tomás Vasques sequer um exemplo desta chusma, mas hoje escreveu aquela frase e, deste lado, transbordou o copo da paciência), também acho de profundo mau gosto esta generalização dos anónimos como uma cambada de trolls idiotas e sem valia.

Há quatro anos – hoje é mesmo a data – quando iniciei o Voz em Fuga, o nick era de uso corrente e habitual. As caixas de comentários (e eu tenho duas) estavam cheias de trocas de ideias e argumentos e contra-argumentos, bem como eram diárias as referências cruzadas entre blogues que queriam, realmente, trocar opiniões.

Hoje em dia, quando surge um link num post da grande maioria dos blogues de maior exposição, já nem é preciso segui-lo para saber para onde vai e ao que vai. E as opiniões que não façam parte da matilha – ou da matilha concorrente – passaram a não ter lugar, como se fosse possível (e vão tentando-o) evitar que tivessem direito a existir.

Quatro anos depois do dia em que a minha vontade de comunicar e de expressar opinião sobre tudo e mais um biscoito me fez abrir um blogue com nick (sempre usei nicks na net e já cá ando há muito tempo) em vez de nome próprio, os blogues anónimos parecem-me por vezes alvos de uma tentativa orquestrada para os escorraçarem para longe da validade da opinião.

Ora, que eu saiba, a opinião não precisa de título nobiliárquico ou sequer nome de plebe para valer pelo que é. E a opinião é algo que assiste a qualquer cidadão; faz aliás parte do exercício da cidadania. E a maioria dos cidadãos goza de um saudável anonimato.

Mas há por ai uma moda de que a opinião só vale quando se conhece fulano de tal. Tal e qual como em alguma política ou jornalismo manhosos do Portugalinho, com os seus executores transformados em classe com privilégios intocáveis e sempre tão amiguinhos, quando não se entretêm a mandarem-se às jugulares uns dos outros em artigos de opinião nos pasquins ou nos blogues do costume.

Antes as opiniões dos anónimos! Muitas vezes é ai que ainda se descortina alguma originalidade e vontade de fazer diferente. É que os fulanos de tais só me parecem a brigada do reumático do costume e ainda estou longe de me deliciar com assuntos geriátricos. E esta moda do ataque ao anónimo também já começa a entrar nessa última categoria.

Quatro


aqui


Um dia cheguei a casa e criei um blogue. Ou melhor, comecei a criar um blogue...


2008-08-12

O desafio da Vague



And when the cab ride ahead seems too long
We go fuck in the bathroom


(Foi a primeira de que me lembrei e por isso deve estar bem. É que o Tico e o Teco andam tão cansados, que já só dificilmente acendem seja o que for. Mas as férias estão a chegar, caneco!)


2008-08-11

Trumbo



«The blacklist was a time of evil, and that no one on either side who survived it came through untouched by evil. Caught in a situation that had passed beyond the control of mere individuals, each person reacted as his nature, his needs, his convictions, and his particular circumstances compelled him to. There was bad faith and good, honesty and dishonesty, courage and cowardice, selflessness and opportunism, wisdom and stupidity, good and bad on both sides.

When you who are in your forties or younger look back with curiosity on that dark time, as I think occasionally you should, it will do no good to search for villains or heroes or saints or devils because there were none; there were only victims. Some suffered less than others, some grew and some diminished, but in the final tally we were all victims because almost without exception each of us felt compelled to say things he did not want to say, to do things that he did not want to do, to deliver and receive wounds he truly did not want to exchange. That is why none of us - right, left, or centre - emerged from that long nightmare without sin.»


Dalton Trumbo (discurso na Screen Writers Guild, 1970)

2008-08-09

Década Perdida

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«É que os anos 80, não só para mim, creio, não foram uma década. Foram A Decepção. Foram tantas que não sobrou paciência para as decepções subsequentes.»

José Quintas



Estou com o José: não alinho pelos elogios fáceis a uma década que não sou capaz de dourar. Olho para trás e vejo demasiadas decepções, demasiada gente que se perdeu. Já uma vez escrevi sobre isso aqui no blogue: os que sobreviveram aos anos oitenta, de entre todos os que conheci, não foram certamente os melhores. E dos que de nós ainda cá andam, nenhum pode em consciência elogiar aqueles como os melhores anos da nossa vida. Posso até escrever posts sobre um café e um recuado e um grupo de amigos que aí se reunia. Posso até ter saudades desse café e desses amigos. Posso até guardá-los para sempre na minha memória, alguns deles num recanto de coisas boas, muitos outros num recanto de coisas que poderiam ter sido bem melhores. Mas aqueles foram anos perdidos que nos entopem ainda, com todas as promessas não cumpridas e todas as merdas que fizemos e que são ainda peçonha sobra a vida – envenenada para sempre –, que tivemos de continuar a viver.

Parabéns!


aqui

Começamos a ter uma verdadeira noção da idade quando passam a fazer modelos "novos" dos carrinhos que costumávamos conduzir. Lembras-te do teu?

(Mais) um beijo!

11:02





2008-08-08

Coisa de verbos




Não sei se gosto da palavra "esquecer". Eu prefiro antes dizer "não lembrar". Assim sei que, algures na memória, está um pedaço de vida importante. Não me quero lembrar dele; mas prefiro saber que não o amputei da minha história.

2008-08-06

Hiroshima, Mon Amour




Encanecer

Mas quando um ano acaba e outro vem,
Embora a minha fronte e os meus cabelos
Envelheçam na marcha para o fim
E um sabor de renúncia e de cansaço
Vibre, cantando, aqui, dentro de mim,
Rebenta-me no peito uma esperança


António Botto, in "As Canções de António Botto"


Chamo-lhe curiosidade. A minha. Faz-me ficar atenta, desperta. Enche-me até hoje de prazer ao descobrir que cheguei a uma nova encruzilhada e, ainda assim, ser capaz de traçar um caminho.

Chamo-lhe sentido de humor. O meu. Há dias em que funciona e permite-me o desconcerto de me rir de mim e rir comigo e rir com os outros.

Chamo-lhe sentido prático. O meu. O tal que me leva ao cabeleireiro tingir os cabelos, para que as cãs não me pesem os anos que não sinto.

Chamo-lhe ainda esperança. A minha. Aquele optimismo pachorrento que, tanta vez, me faz sentir o corpo vivo e a vontade certa para os recomeços.

Como chamo também apatia. A minha. Uma que tolhe os movimentos, que se enfeita de gestos gastos e de rotinas onde aponho muitos dias sucessivos.

Chamo-lhe cansaço. O meu. Um que me impele para os silêncios no fim da tarde, para a necessidade de não pensar em nada, para o não querer sentir nada, para o deixar o tempo passar.

Chamo-lhe ainda medo. O meu. Muito medo de perder algum controlo sobre os passos que me sustentam. Ou medo da doença. Ou medo das perdas. Ou medo da solidão.

Chamo-lhe preguiça. A minha. Uma que me impede de telefonar mais vezes, escrever mais vezes, pôr conversas em dia mais vezes, sempre à espera da oportunidade que há-de vir e que, cada vez mais, me assusta quando não vem.

Chamo-lhe acasos. Os meus. Quando me confronto com questões sem resposta ou respostas sem questões. Quando o tecto me desaba ou um piano me cai em cima da cabeça. Ou quando a palavra do outro, a palavra certa, me perfura e magoa ou embala e conforta.

Chamo-lhe paz. A minha paz. Quando nada disso me importa e me sinto de bem com o mundo, cheia de força, cheia de sorrisos, cheia de fome de vida. Ou ainda que cheia de engulhos, com vontade plena de combater cada um deles, certa que a vitória é minha.

Chamo-lhe sofreguidão. A minha. Esta vontade de sentir plenamente, afogar-me em sensações, construir-me da curva do espaço-tempo e sonhar a imortalidade.

E talvez lhe chame também fé. Uma fé à minha maneira, apeada de dogmas e deuses vingativos ou sofredores, sempre castradores e injustos. Uma fé na fé, às vezes na utopia. Uma fé em mim, conquistada pelos anos que me pesam no corpo, mas deixam-me a mente ginasticada e, em alguns dias, em plena forma.

Se encanecer é envelhecer, então eu prefiro que me mirre o corpo, que me esclerosem as articulações, mas que as sinapses se mantenham vivas. A minha idade está mais na minha cabeça do que no meu corpo. Mesmo quando o corpo reclama. Mesmo que tenha até razões para reclamar.



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(acho que 2005 foi um bom ano)

2008-08-04

Faltam 15 dias!

Quando é que despertarei de estar acordado?

Álvaro de Campos



Admito que começo a sentir-me culpada de ver comentários nas duas caixas de comentários que mantenho em permanência. E já nem sei se basta garantir-vos que leio, leio sempre, leio tudo. Só não tenho tempo para comentar. Depois das férias, se tudo correr bem, estarei de volta ao ritmo normal. Mas ainda faltam duas semanas de agonia e mais três de boa vida. Ainda alguém tem paciência para mim? Se já nem eu tenho…

Agora, uma coisa importantíssima: que leituras de Verão me recomendam este ano? Apenas precisam ser leves, que não posso ocupar os 20 kg de bagagem com os 3 volumes do Arquipélago Gulag ou Os Miseráveis, mesmo que em versão de bolso. Agradecida.

2008-08-03

Dar música



Aqui no bairro - que é um ovo - essa malta multiplicou-se à frente dos olhos de quem sempre os conheceu, até ao dia em que a maioria resolveu rumar à "mourolândia" para iniciar belas amizades com esses daí que tão bem conheces. Vamos antes ouvir música?

Vidinha 2




Isto também não pode ser só trabalho, que uma mulher não é de ferro. Além do mais, não sei se já repararam, mas sempre que mete um grelhador qualquer homem vira cozinheiro. Ou vários cozinheiros, dependendo da quantidade de convivas :D