2006-12-29

Faraway (so close)



Em cima de um móvel no quarto, tenho uma fotografia com dois nicos lindos (tão mais pequenos do que quando os vi pela última vez!) que me põem um sorriso na cara cada vez que me levanto e cada vez que me vou deitar. A marcar o livro que estou a ler – como marcou antes o livro que lia e antes ainda outro e outro – uma fotografia com uma amiga, tirada por outra amiga, num Verão passado lá muito ao Norte, com a Espanha ao virar da esquina.

Na memória, guardo sempre duas micas em cima de uma cadeira à espera das primeiras badaladas do ano novo, enquanto todos os outros se perfilavam ancorados no chão. Já foi há dois anos que nos juntamos para a passagem de ano pela última vez: o ano passado porque não podia ser, este ano porque eu não vou poder ir. Vou mais a sul, estar com alguém de quem existe uma fotografia muito pitoresca – "ele e a manta", poderia chamar-se assim – tirada em casa da minha amiga. Faz parte de uma colecção de momentos, nunca de sabor repetido mas que gosto muito de repetir, numa sala de uma casa tão longe de onde estou sempre e tão perto de onde gosto de estar. É a casa da minha amiga, uma que já foi minha gémea.

Mas não somos gémeas, claro, mesmo que eu goste de pensar que somos uma espécie de irmãs, até quando discutimos e nos zangamos, como só se consegue fazer com quem nos é muito próximo, muito querido. E já nos conhecemos há uma pipa de tempo, bem antes do primeiro encontro num dia já distante de uma Campanhã que já está até diferente, quando celebramos com um abraço apertado a amizade que começou aqui na net. Isto, obviamente, depois dela relevar o facto de eu, antes mesmo de lhe escrever a ela, já trocar palavras com o marido.

A minha amiga tem um feitio do caraças. Deve ser um dos principais motivos porque gosto dela: nunca gostei de gente indelével, sonsa e sem espírito. É maior do que eu um pedaço e a sorte é que os bracinhos não são demasiado violentos. É só preciso tomar atenção aos pedantes, para não voarmos para longe. E imagino-a sempre enfiada em encrencas, mesmo quando não está, o que faz nascer em mim uma mania de me meter onde não sou chamada, o que quase sempre não é boa ideia, porque também tenho um feitio do caraças e uma capacidade inata para a pirotecnia. Mas acabamos quase sempre a rir-nos juntas: de nós, uma da outra, do mundo, das coisas boas e até das coisas tristes. E ainda há, obviamente, os lombinhos com tâmaras que mais ninguém faz igual. E só de estar aqui a escrever sobre isso já nasceu água na minha boca…

A minha amiga – que me conhece tão bem! – sabe como eu ia gostar de estar hoje com ela. Talvez a comer os lombinhos e a beber tinto, chegando depois quase de gatas à cama, bem disposta e com a conversa toda posta em dia. E era o que eu ia fazer: ia sair cedo, meter-me no carro e correr até ao abraço da minha amiga. Ia dar-lhe os parabéns e matar estas saudades. Dar-lhe uma lembrança pequenina que andei a catar com cuidado e ver a felicidade dos nicos com qualquer papel colorido só porque sim, enquanto a nina me perguntava pelo batom e pelo perfume para que o pai endoidasse mais um pouco com as manias coloridas e fedorentas que a bimba do Porto lhe mete na cabeça da cria. Mas depois abríamos outra garrafa e às tantas faríamos até um brinde...

Só que os meus planos saíram todos furados. Não vai poder ser. Não vou poder ir hoje… Mas vou ainda assim – aqui de longe – levantar um copo cansado, desacompanhado, à tua, miga. Pela saúde e pelo contentamento, enrolados em parabéns; pelo novo ano que começa e que tem de ser melhor; e por nós as duas, amigas ainda, apesar de e de e de. À cabeçada, se for preciso. Mas amigas.

Parabéns, Vanus.

2006-12-28

Ciao 2006


aqui

Como todos os anos, andava para aqui a pensar como faria o balanço deste ano aziago e sem saber muito bem por onde começar. É que, no meio de muito azar, este não foi um ano mau. Apesar de e de e de e de… Sim, que não foi fácil e este final, então, tem sido violento. Mas, olhando para trás, para o ano todo, consigo ver muita coisa boa. Talvez seja aquela parte da minha personalidade refilona que não consegue deixar de ser optimista. Que sofre e se pela e, no fim, é capaz de dizer que, apesar de e de e de, não foi assim tão mau. Ou então apenas me habituei a olhar em frente com a idade. É que esta coisa de achar que estão menos para vir do que aqueles que já ficaram para trás deixa-nos com uma perspectiva menos piegas. É preciso seguir em frente e pronto. Melhor ou pior, enquanto nos for possível seguir em frente e, no rescaldo, ainda encontrar algo de bom, devia ser motivo para nos reciclarmos. Já não vamos inventar um eu novo ou uma vida nova. Mas podemos ainda não desistir desta. E eu encontrei em mim a vontade de não desistir. Apesar de e de e de…

Há uns tempos, chegou-me por mail um pedido curioso: "descreve-me numa palavra". E eu descrevi, claro, que sou incapaz de resistir a um coisa destas. Mas, mais do que isso, resolvi também eu pedir para que uma série de pessoas me descrevessem. E, na volta, vieram as respostas. Suponho que transpareça no que escrevo uma boa parte do que sou. Mas há nas descrições que me fizeram um tantinho de exagero que só pode mesmo ser resultado do olhar benevolente com que os amigos me vêem.

De qualquer forma, há também um certo reflexo da minha postura este ano que já se acaba e que fui deixando em forma de textos, imagens e música aqui pela Voz.. Sim, fui irreverente. Tanto quanto soube ou pude, desaforadamente e algumas vezes até de forma exagerada. Mas é uma das coisas que quero levar deste ano para o ano que ai vem: uma certa capacidade para o inconformismo e a vontade de a pôr em prática. Desassossegada e insatisfeita, sempre a pedir mais, refilando sem parar contra o mundo, contra a vida, contra mim, não quero assentar no que tenho; prefiro procurar sempre o que há-de vir. Isso talvez faça de mim alguém por vezes demasiado ingénuo e infantil, uma teenager, como lhe chamaram e eu agradeço, porque não parece tão mal, tão imaturo. No entanto, talvez seja em parte consequência desta postura a forma como transparece na maneira como me escrevo e reescrevo esta condição de estar viva e sentir-me viva. Nesse sentido, talvez haja alguma verdade em quem diz que sou desafiadora. E deve ser bem mais do que pelos desafios (ultimamente tão escassos) que fui deixando pela Voz. Ou eu assim quero pensar. No fim, talvez seja uma questão de franqueza: para comigo e para com os outros. É que, por mais difícil que seja olharmos para nós com a distância suficiente para uma análise válida, se tentarmos ser sinceros para connosco, não comprometendo o que nos parece o correcto nem os poucos valores que conseguimos ainda preservar, então, no rescaldo, a nossa sinceridade terá de transparecer na forma como lidamos com os outros. E eu gostaria, acima de tudo, de me manter fiel àquilo em que acredito, àqueles em quem confio, a todos os que quero bem. Apesar de e de e de e de…

Por tudo isto - e porque não sei se ainda poderei abeirar-me de um computador este ano - desejo-vos umas excelentes entradas em 2007 e que o novo ano vos traga tudo o que precisam e desejam.

Feliz ano novo, gente!

2006-12-27

Irra!



(pronto, está bem... para a semana ponho as leituras em dia)

Penas

Hope is the thing with feathers
That perches in the soul,
And sings the tune--without the words,
And never stops at all,

And sweetest in the gale is heard;
And sore must be the storm
That could abash the little bird
That kept so many warm.

I've heard it in the chillest land,
And on the strangest sea;
Yet, never, in extremity,
It asked a crumb of me.

Emily Dickinson - Hope

... ou tão só abrir os braços a cada soluço de esperança.

2006-12-26

É o simplex, claro...


aqui

TLEBS... Que linda designação: pequena, concisa, fácil de apreender... Tão simples, não é? Vê-se logo como vai dar pouca confusão...

2006-12-22

Feliz Natal!!!!


(recebida por mail)

Foi sempre o meu sonho ver o Pai Natal a voar. E nem sei bem porquê (às tantas à conta do post abaixo), achei que era este o postal de Natal que me apetecia deixar na Voz.

Um abraço para quem gosta, beijos para quem prefere :)

2006-12-21

E se?...


aqui

Sabes, o pior, o pior mesmo, é quando – depois de longas e estudadas análises racionais a todos os conceitos, todos os deveres e todos os direitos – acabamos a sentir que não nos livramos do preconceito. Trazemos ainda o gajo tatuado em nós, é marca de fogo, letra escarlate. E até sabemos que podemos e devemos dizer tudo, fazer tudo, sem cobranças, para além das tantas que já fazemos diariamente a nós mesmas. E, no entanto, trazemos o preconceito em nós. Em nome dele, julgamo-nos e ainda somos capazes de, no fim, julgar a outra. Talvez seja tudo uma questão de falta de hábito no jogo em equipa, dessa inconcebível capacidade do bicho macho para se proteger e ressalvar a gregaridade do género. Nós vamos logo de faca na mão e língua afiada e a vizinha tem sempre qualquer coisinha de que podemos dizer mal com inusitado fulgor. Depois, como somos nós que acabamos a parir a todos, géneros à parte, passamos no leite o que somos e o que ainda não conseguimos chegar a ser. E é por isso que, mesmo esperando pelo dia milagroso em que o Mundo seria, finalmente, governado pelo desgoverno feminino, feito de palavras e conversas, em lugar de murros e bombas, temo-o com igual desgarre: que faremos umas às outras nesse dia, se não gostarmos dos sapatos, ou invejarmos o vestido? E que reservaremos para as putas, aquelas que, sendo-o ou não, caíram para o lado debaixo da forma viciosa como ainda olhamos para o nosso género?

Quase!


aqui

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.


Mário de Sá-Carneiro


E nem me esqueci dos miosótis, estás a ver?

Parabéns,
Zu!

2006-12-20

Apre!

Ramones - Merry christmas i don't want to fight tonight


Já não vomitam as musiquinhas do costume?

Onde é a festa?


aqui

(...descarada como sou, já me vou fazendo de convidada...)

Na verdade, há muito que me faço de convidada nessa tua casa-blogue, de onde não consigo já escapar. Deve ser feitiço de Blog, a maneira viciante que tens de contar todas as histórias que me apetece sempre ler.

Beijinho de parabéns, Old Man.

2006-12-19

Mudaste! Mudaste!


“Mudaste! Mudaste!”
Muda a mulher porque as mamas se lhe cresceram desmesuradamente na novidade aflita de um bebé.
Muda o homem nessa outra barriga sedentária dos copos, que lhe surgiu, porque nunca acordou para aquele corpo que o habita.
Muda a criança, porque simplesmente cresce com olhos de futuro.
Muda o meu amigo porque reencontrou o sorriso no desejo de uma mulher.
Muda a minha vizinha porque naquela noite o marido, finalmente, provou o arroz doce.
Muda a minha gata porque pariu uma ninhada de felinos que me mijam o patamar.
Muda a maré todas as noites junto ao Mar.
Mudam as estrelas de céu e todas as constelações.
Mudam corações isolados e tristes que julgam sempre não ser amados.
Muda? Muda?
Muda fico eu quando te desnudas mostrando o peito ao léu.
Muda fico eu, e assim permaneço, enquanto o teu peso se debruça contra o meu.


(Miguel horta)

Tão longe!


aqui


Tenho andado para aqui a queixar-me, muito ou pouco, não importa agora. Mas a queixar-me, ainda assim. Há também um ar de desmaio em quase tudo o que escrevo e, quando sinto assim as palavras queixosas, melancólicas e abatidas, tendo a encolhê-las, desarmando a exposição prolongada ao seu feitiço.

É que estas coisas das palavras apenas, especialmente por esta altura, deixam-me um travo tristonho nos sorrisos. Como sempre, sinto tudo demasiado pouco, sôfrega que sou de pedir o sol para ver se me calha a lua. Não queria só palavras. Queria quem as diz e as escreve. Queria o calor dos abraços apertados e beijos doces que reservo para uns quantos. E queria que o Porto não me parecesse, por estas alturas, tão longe de sítio nenhum, tão longe dos meus sítios, que são, essencialmente, os meus afectos.

É que eu acredito mesmo que nenhum de nós é uma ilha e, hoje, sinto como se eu fosse só o farol perdido na extremidade mais distante da ilha mais longínqua do arquipélago mais remoto. Tão longe, mas tão longe, que nem cá chega o cheiro das rabanadas, ou o brilho de qualquer estrela pespegada no topo de uma árvore de Natal enfeitada com carinho. E queixo-me, queixo-me… Ou, então, fico-me pelos meus silêncios, para os quais já nem a falta de tempo serve de desculpa.

Queria tanto que todos vós – aqueles cujas palavras já têm sorriso e olhar; ou aqueles de quem as palavras não vejo a hora de enfeitar de sorrisos e olhares – estivessem aqui ao lado, talvez ali na Maia, ou até mesmo já lá mais ao fundo em Espinho…

Os postais – que ainda não mandei – não me chegam. E a culpa de ainda não ter enviado nenhum, quando o IncrediMail anuncia mais outro a chegar, ainda me deixa mais de rastos: já sei que vou acabar a mandar palavras vãs, escritas à pressa. E sei bem como as vou sentir sem calor. É que eu não queria só palavras e postais este ano. Eu queria-vos. A todos! Alinhados para um abraço, desalinhados para os sorrisos, tresmalhados aqui bem perto. Porque raios morais todos tão longe? Porque raios não vos consigo teletransportar até ao meu abraço?

E até sei bem que sou uma ingrata que, como sempre, protesto de barriga farta, cheia que está do vosso carinho que vai chegando todos os dias. Mas eu nunca soube pedir pouco à vida. Nem às palavras. E é por isso que me queixo. E é por isso que teimo em calar-me. É que as minhas palavras estão pobres demais, estão em maior crise que o País ou a minha carteira no após compras de Natal.

Mas – aqui tão longe – espero que saibam que são a arma que me resta para vos sentir perto. E é por isso que ando para aqui aos trancos e barrancos à cata de palavras que façam sentido (e sentimento) para vos desejar Feliz Natal e significar mais do que a expressão vazia.

Os postais ainda hão-de partir…

2006-12-18

Carta ao Pai Natal


aqui


Querido Pai Natal,

Como de costume - e tu bem sabes - fui uma menina muito bem comportada. Mesmo assim, raramente me satisfazes os desejos e nem percebo bem porquê. Pelo menos, enganas-te sempre na data e nunca nada vem parar ao sapatinho. Depois, como já está fora de prazo, acabo eu a pagar as contas dos desejos que vou tendo ao longo de ano. Acho mal. Acho muito mal. Eu sou tão boa menina!...

De qualquer forma, Pai Natal - e como já tenho o carro, o sofá e o escritório, ficando só por negociar um computador novo - este ano resolvi ser modesta nos pedidos, para ver se não te esqueces de mim.

Este ano, Pai Natal, só quero paciência. Isso mesmo: uma boa dose de paciência. E, se te atreves a meter-me um baralho de cartas no sapatinho, fica já sabendo que é desta que cortamos relações!

Maria Hipátia Ludovina da Silva, uma menina sempre muito bem comportada.

2006-12-17

Consoada no Blog

Deixa-me falar do Natal na tua casa? Eu sei que tens a lareira acesa à espera das minhas palavras.
Talvez passe a Consoada aqui no teu blog-casa; eu que tenho os filhos longe e os meus outros amigos passam o ritual afastados de mim, lá nas suas vidas.
Podia falar-te da minha Mãe e dos meus inúmeros irmãos... Queres?
Ahh... e quando a mana, que se portava mesmo mal, não acreditou que levasse carvão dentro da meia pendurada na chaminé: Não é que levou mesmo naquele Natal...
...E todos a falar ao mesmo tempo, risadas com sabor a cacau quente?

Mas o Natal mais duro que vivi foi aquele a seguir à minha separação.
Coloquei um pinheiro verdadeiro no centro do meu ateliê. Uma semana antes, eu e eles, os meus filhos, decorámos a arvore. A miúda, mais pequenina, lá conseguiu colocar a estrela no topo, empinada num banquinho de madeira.
Lembro-me que não sabia cozinhar e que liguei à minha sogra a perguntar como se fazia “bacalhau à Braz”. Foi rapidamente baptizado, pela minha filha, como “Bacalhau Meleca”, tornando-se muito popular nos Dezembros que se sucederam.
O presépio foi feito por nós, em barro, peças originais. O São José mais parecia o Gandaf do “senhor dos anéis”, coisas do meu filho.... Mas era o nosso presépio.
Abrimos prendas no meio das telas. Dissipámos os doces numa pressa comemorativa, mas havia um travo triste no ar.
Serei eu capaz de reinventar o Natal dentro de mim?

2006-12-16

K.O.


aqui

Deitei-me já era de dia, levantei-me já era de tarde, corri ao supermercado donde sai já era de noite. Agora vou correr a acabar de me arranjar e correr para não chegar atrasada…

Começaram os Jantares de Natal!

2006-12-14

A fúria da tesoura


(mas não te preocupes muito, loiro: ainda sobraram alguns caracóis…)

Estava eu naquela minha sina anual (já com o prazo expirado) de dar um jeito à peruca e entrando (como de costume) numa infrutífera negociação com a tesoura (e a navalha! desta vez até de navalha lhe deu!) em mão alheia para um qualquer tipo de acordo quanto à quantidade de cabelo que deverá sobrar e aquele que um qualquer degenerado zeloso quer extirpar do meu couro cabeludo, quando me apercebo finalmente do porquê de tamanha sanha sobre a minha cabeleira.

Do meu lado direito, sentava-se uma ex-rendimento mínimo qualquer, talvez agora casada com um futebolista e, portanto, munida de forte mau gosto e farta carteira, que se entretinha a espalhar extensões loiras num cabelo já pintado de um loiro acinzentado de inenarrável textura, distraída a contar as pedrinhas coloridas que lhe enfeitavam a camisola, as calças, o cinto, as meias e até as botas;

Do lado esquerdo, estava o Zé Pimba, t-shirt vermelha e laranja, argolinha de oiro com brilhante na orelha, cabelo já grisalho e a escassear, que punha extensões de maneira a ficar com aquele ar de motoqueiro de Sachs que empata e fode o trânsito ao Domingo;

Mais lá à frente, apresentam-se duas manas jaquinas, uma de bota-galocha rosa-choque às florinhas, a outra com umas botas daquelas que parece que calçamos o pequinois (como as que a
Luna também gosta muito, não sei se estão a ver…), cujo objectivo na deslocação ao Salon era… extensões, obviamente!

Por fim, chega uma velhota enrugada, cabelo pintado de lilás e eu já temo o pior, imaginado extensões capilares (a cinco euros cada, parece) de um qualquer verde bisga, para estar de acordo com o mau gosto geral. Mas não: afinal só queria fazer as unhas e escolheu um verniz bege. Até sorri para a velha!

No entretanto, percebo finalmente porque e como desapareceu tanto do meu cabelo: já ninguém quer cortar; os cabeleireiros não têm cabelos para cortar; só há gente a querer implantar madeixas e depois dar um jeitinho.

Ou isso, ou está tudo a preparar-se para a Festa do Azeite, onde "só entra quem tiver peúga branca".

Raizosparta a todos! Estou outra vez careca!

2006-12-12

Ui, ui!

Mr O'Donell shakin his ass


A fazer zapping enquanto os discursos enrolados na RTP1 me começavam a causar calafrios, eis que me deparo com isto no AXN. Ok, o resto era tudo gajas a abanar o cu e as mamas, mas este senhor quase me fez sentir vingada das gajas pluma. No entretanto voltei aos outros... acho que vou dormir!

2006-12-11

Dedicatória sem links

(…)
Solamente

pienso
que he sido tal vez digno de tanta
sencillez, de flor tan pura,
que tal vez soy vosotros, eso mismo,
esa miga de tierra, harina y canto,
ese amasijo natural que sabe
de dónde sale y dónde pertenece.
No soy una campana de tan lejos,
ni un cristal enterrado tan profundo
que tú no puedas descifrar, soy sólo
pueblo, puerta escondida, pan oscuro,
y cuando me recibes, te recibes
a ti mismo, a ese huésped
tantas veces golpeado
y tantas veces
renacido(…)

Pablo Neruda – A todos, a vosotros

A ti, que me perguntas se estou zangada contigo por pouco dizer; a ti, que sentiste um rasto de desassossego mal disfarçado nas minhas letras e me mandaste os e-mails que às tantas precisava ler; e a ti, que pegaste no telefone para um tiquinho de conversa que soube bem.

Obrigada, meus queridos.

2006-12-10

A insultuosa presença


aqui


Os nomes dos indignos saltam e repetem a sua insultuosa presença, os traidores, ainda longe do inferno dantesco a que pertencem…

Luís Sepúlveda – Uma História Suja

Estou aqui contente com a morte de alguém. É uma coisa estranha, muito estranha, como se carregasse na minha carne ou na minha memória um 11 de Setembro de quando tinha dois anos e ainda mal sabia o que era o Mundo. Como se o Chile achincalhado, mordido nas canelas pelos poderes dantescos dos interesses de uns poucos e depois espremido e sangrado, até já quase nada restar, pelo louco homicida que se sentou na cadeira do poder, fosse meu para chorar, em toda a sua horrenda tragédia.

Se fechar por breves instantes os olhos, a imagem que vejo é de um louco decrépito, alheado completamente da realidade, a sair de um Tribunal. Se procurar mais fundo em mim, vejo uma qualquer fotografia de homem fardado em que sempre tive vontade de pintar a cauda e os cornos do diabo.

E resta também um gosto de frustração. Porque o monstro morreu, mas os crimes permaneceram calados e escondidos e não houve condenação.

Mas está morto! Que o enterrem bem fundo. Que não lhe sobre mais que um buraco bem fundo e que a carcaça seja comida rapidamente. Demorou a extirpar este tipo do reino dos vivos. E foi-se louco. Devia ter ido consciente, lúcido, cuspido pelo sujo que representou.

Mas deixamos de estar sujeitos à sua "insultuosa presença". Foi tarde. Demasiado tarde. Muito mais tarde que Allende. Mas talvez hoje, finalmente, Allende descanse em paz, por fim vingado pela Morte que a ninguém perdoa.

Que dizem os meus olhos?



Passion

67%

Mysterious

58%

Eyes full of Pain

33%

Diamond Eyes

25%

You scored as Passion. You are very passionate whether that passion is good or evil has yet to be determined. You have great power over others and they seem to flock to your service. You are very competitive almost to a fault. Perhaps you should let someone else win for a change?

What do your eyes reveal about you?(PICS!) created with QuizFarm.com


Ser apaixonado nos argumentos é ser competitivo? Talvez... Eu defendo os meus como posso e como sei: umas vezes melhor; outras vezes pior. Mas sei perder. Ninguém sobrevive sem aprender a perder, por mais que custe...

2006-12-06

Sofanadelas


aqui

Ando há três anos (pronto, já devem ser quatro…) para comprar um sofá. O caraças é que tenho uma sala mesmo estranha, trapezoidal, onde nada parece caber direito e onde quase tudo parece ficar de ladecos. Esse não seria o grande mal, que eu também não caibo em qualquer coisa e tenho um feitio de ladecos desde a nascença. Mas, pá!, porra!, não havia maneira de encontrar um sofá que gostasse. E não havia maneira de achar que aquilo ia ficar bem na minha sala.

Esta semana encontrei o sofá perfeito finalmente. Obviamente que queria um sofá azul. O sofá novo é preto. Depois do carro, já nem estranho. Mas é lindo. Lindo!

Bem, ainda não está bem, bem comprado… Mas hoje fui experimentá-lo para aquilo que realmente importa: que tal caibo lá eu. E está à medida para todas as sofanadelas com que já estou a sonhar. E a babar também, claro. Ou vão dizer-me que nunca vos aconteceu adormecerem no sofá e acordarem com um ameaço de baba estrategicamente equilibrado num dos cantos da boca?

2006-12-05

Lastro


Sigmar Polke - Woman at the mirror


Com o passar do tempo, vamos acumulando demasiado lastro, demasiadas contas, demasiadas responsabilidades, demasiadas histórias, demasiados vícios...

Como se a sofreguidão com que tentamos viver não chegasse nunca e a insatisfação se acolitasse na sombra à espera. E pode ser qualquer coisa a confrontar-nos.

Presto atenção aos sinais e estes só me dizem como aprendi a descartar o simples, enfeitando tudo de elaborações mais ou menos complexas. Na ânsia de me proteger da vida, descubro-me quase incapaz de viver. E apenas partilho jogos, cada vez mais insatisfatórias, cada vez mais ritual sem conteúdo. E o jogo nunca é apenas meu. Estou a ficar demasiado velha para tanta espera e já nem é tanto o corpo cansado: é a alma que se enrodilha e encarquilha. O pior é que, do outro lado, vejo apenas os mesmos medos.

2006-12-04

Ai que quase não chegava a tempo...


aqui

Parabéns, menina!

E a lei prescreve...

W.H. Auden - Law like love

Law, say the gardeners, is the sun,
Law is the one
All gardeners obey
To-morrow, yesterday, to-day.

Law is the wisdom of the old,
The impotent grandfathers feebly scold;
The grandchildren put out a treble tongue,
Law is the senses of the young.

Law, says the priest with a priestly look,
Expounding to an unpriestly people,
Law is the words in my priestly book,
Law is my pulpit and my steeple.

Law, says the judge as he looks down his nose,
Speaking clearly and most severely,
Law is as I've told you before,
Law is as you know I suppose,
Law is but let me explain it once more,
Law is The Law.

Yet law-abiding scholars write:
Law is neither wrong nor right,
Law is only crimes
Punished by places and by times,
Law is the clothes men wear
Anytime, anywhere,
Law is Good morning and Good night.

Others say, Law is our Fate;
Others say, Law is our State;
Others say, others say
Law is no more,
Law has gone away.

And always the loud angry crowd,
Very angry and very loud,
Law is We,
And always the soft idiot softly Me.

If we, dear, know we know no more
Than they about the Law,
If I no more than you
Know what we should and should not do
Except that all agree
Gladly or miserably
That the Law is
And that all know this
If therefore thinking it absurd
To identify Law with some other word,
Unlike so many men
I cannot say Law is again,

No more than they can we suppress
The universal wish to guess
Or slip out of our own position
Into an unconcerned condition.
Although I can at least confine
Your vanity and mine
To stating timidly
A timid similarity,
We shall boast anyway:
Like love I say.

Like love we don't know where or why,
Like love we can't compel or fly,
Like love we often weep,
Like love we seldom keep.


Vejo as notícias e os debates e as tretas do costume… E fica tudo como de costume, não ficando em lado algum.


2006-12-03

Estou tão tristinha!


aqui

Tristinha duas vezes. Zero de alegrias. Snif!!


(Pior mesmo só se fosse de outra raça de gatinho...)

2006-12-02

Um soneto de Natalia

Um soneto de Natália Correia a João Morgado (CDS-PP), relembrado aqui no Voz, em época de referendo.

«O acto sexual é para ter filhos» - disse o deputado do CDS-PP em anterior debate sobre legalização do aborto. A resposta, EM JEITO DE POEMA, que fez rir todas as bancadas parlamentares, veio de Natália Correia. Aqui fica:


Já que o coito - diz Morgado -
Tem como fim cristalino,
Preciso e imaculado
Fazer menina ou menino;
E cada vez que o varão
Sexual petisco manduca,
Temos na procriação
Prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
Lógica é a conclusão
De que o viril instrumento
Só usou - parca ração! -
Uma vez. E se a função
Faz o órgão - diz o ditado -
Consumada essa excepção,
Ficou capado o Morgado.

Um blog de gaja


aqui


Entro direitinho na categoria do blog de gaja (e esqueçam agora por momentos que a doçura do Gaivina também se espalha por aqui em textos), daqueles blogs que tresandam mesmo a gaja e dizem tesão e orgasmos e sexo e desejo e sei lá mais o quê. E ainda digo palavrões e escrevo os nomes do desejo em vernáculo, sem pudor em dizer caralho e admirá-lo assim, belo e erguido; ou dizer cona, sabendo e deixando saber que tenho uma; ou mamas, ou pele, ou pêlos, ou cheiros, ou vida.

E é que é isso mesmo: falo de vida sem pudor. Recuso-me ao estereótipo cansativo da menina sonsa e bem comportada que só no MSN liga a webcam ou então só fode mesmo em palavras, para que ninguém lhe veja as fuças. Ou os blogs de gajos estafados, já sem força para mais, refugiados na política e no futebol e atulhados do refugo da mentalidade que lhes ensinou que não se mostram os sentimentos, que parece mal, cai mal, e escrevem posts atrás de posts que se lêem em três minutos e a seguir viram para o lado e ressonam nos arquivos.

E com tanto texto que tantos depreciam como "de blogues de gaja", resta-me saber que os meus (alguns, alguns…) são lidos por homens e mulheres de mente arejada. De gente que não põe rótulos, tirando uns quantos carinhosos, que ainda estou a habituar-me ao Ludovina.

Mas até é mais do que isso. É que eu cá acho que esses críticos de pacotilha, mais sonsos e preconceituosos do que a maior da sonsas, mais encarquilhados em medos do que qualquer paciente de terapia, escrevem sempre mais do mesmo porque ainda ninguém lhes inventou um viagra para a imaginação. E, claro, tão doutas personagens nunca se atreveriam a contar que sim, que também tomam, que de vez em quando (pelo menos) é preciso dar mais do que duas de letra.

E este blog de gaja, perdido e sem papas nas teclas, com dois sistemas de comentários e mais o mail pespegado no topo, só teve que lidar, em mais de dois anos de existência, com um saltitãozeco à caça de qualquer coisa a que ele, coitado, às tantas chamava engate, mas a mim só fez gargalhar.

E nem gajos nem gajas, nem coisas disfarçadas, nem pinga-amores ou pobrezinhos à procura de colo. Nada. Nicles. Népia. O blogue de gaja que fala de sexo e tesão e caralhos e fodas e desejo, é um blogue sem ataques reptilianos, tirando uma serpente das do costume, facilmente reconhecível pela dor de corno e, ainda assim, sem presença suficiente para entrar para a estatística.

Ter um blog de gaja é bom! Tão bom!

Claro que, no entretanto, há sempre alguém que me diz que eu assusto e não tenho ar de aguentar com abelhudos minguados nem na minha vida, nem na minha caixa de comentários, muito menos no meu e-mail. Ah! O MSN só lá tem amigos e a webcam não funciona…

Às vezes até me sinto discriminada… é que gosto tanto de ser gaja e escrever coisas de gaja…

2006-12-01

O porquê do referendo

(...)é dispensável dizer que a lei actual é letra morta (devido à confluência de vários poderes) e, por mais voltas que se dê, não é possível ressuscitá-la. Em consequência é necessário encontrar uma solução – uma nova lei para ser cumprida que ultrapasse os “traumas” actuais. Há quase 10 anos, em finais de 1997, a Assembleia da República, aprovou essa necessária Lei de despenalização do aborto (com o meu voto favorável, enquanto deputado do PS). Depois da aprovação da Lei, António Guterres, então primeiro-ministro, e Marcelo Rebelo de Sousa, então líder do PSD, acordaram que esta só entraria em vigor após referendada. O referendo realizado teve os resultados que todos conhecemos. A partir desse momento, goste-se ou não de referendos, a aprovação de qualquer Lei de despenalização do aborto deixou de ser uma matéria da competência política do Parlamento. Só por referendo se pode resolver esta questão. Ora, não sendo possível aplicar a lei actual (e não vale a pena argumentar com o irrealista “devia ser cumprida”) que resolveria satisfatoriamente esta questão; nem sendo politicamente ajustado encontrar uma solução no quadro da Assembleia da República, não resta outra solução senão promulgar uma nova lei, sufragada em referendo e que, vou ser crédulo, possa ser aplicada. Por isso, vou votar sim no referendo.

Tomás Vasques - Hoje há conquilhas, Amanhã não sabemos (28/10/06)


Tenho lido tanta coisa à conta do referendo e tanta coisa sobre porque deveria ser a AR a assumir a alteração da lei que temo que poucos se tenham dado ao trabalho de descobrir os porquês. É que botar faladura é sempre fácil. Escalpelizar os motivos é bem mais complicado.

Por mais confortável que fosse para nós esperarmos sentados por uma lei que, eventualmente, até podia ser vetada e, na prática, alterada daqui a uns tempos, quando mudassem os equilíbrios de poder, a verdade é que já não pode ser assim.

Só espero que, desta vez, a percentagem de eleitores a deslocarem-se às urnas represente, de facto, pelo menos os 68,06% dos votantes que não se deram ao trabalho de aparecer nas mesas de voto em 1998.

Quando nem metade dos eleitores vota, como acreditar nos resultados? Como esperar que sejam vinculativos 31,94% de votos, de toda a população votante (e alheada, quase sempre) deste nosso cantinho em que tantos ralham e tão poucos têm razão?

Tango-festa

Gotan Project - Santa Maria (Del Buen Ayre)


Sempre achei que um tango te ia bem. Não um tango qualquer, envelhecido. Antes um tango actualizado ao tom dos tempos. Mas tango ainda assim: uma tristeza que não chega a ser fado, um ritmo que não chega a ser excessivo, um passo borratado em paixão.

Parabéns,
Fausta Paixão.

2006-11-30

Coisas...


aqui

Hoje apanhei com o homem a dizer umas coisitas. Acho que nunca antes lhe tinha prestado atenção à voz. E olhei também para as mãos. E ainda há a cara… Eu sei bem que com esta idade já não me devia ir só pelas aparências, mas bolas!, é mais forte do que eu. Imagino-o com roupas normais a aparecer-me à frente e está ali o tipo de cara em que nunca seria capaz de confiar. E aquelas mãos… E a vozinha que… Bem, talvez no fundo tudo se resuma àquelas orelhas.

Que diferença para a cara simpática do anterior!

Por causas

Não, eu não creio na inocência imaculada

António Ramos Rosa


Penso que todos precisamos defender aquilo em que acreditamos. É um direito e um dever, uma forma de estar, a única que nos permite continuar a manter a cabeça erguida e andar em frente com a certeza de que o mundo, melhor ou pior, se faz de convicções e da forma como estas se desenrolam sobre o pano social.

Todos os que me lêem sabem bem que este é um blog marginal, que sempre quis ser um blog marginal. Também por isso é onde deixo livremente a minha voz e, por conseguinte, será sempre um espelho daquilo em que acredito, aquilo que defendo, os meus julgamentos pessoais sobre o certo e o errado e até a forma como, no fim, tenho de conviver com as consequências das minhas convicções.

E é à conta disso que passou a estar ali ao lado aquele quadradinho amarelo, que encontrei no
Arrastão. É um convite aos bloggers e eu aceitei, mesmo que evite tanta vez colar-me a iniciativas que possam trazer até este URL perdido uma visibilidade com que não quero lidar.

Mas é que, por mais perdida e escondida que ande esta Voz, ela é também senhora de um voto. Talvez seja até capaz de –
ao escrever sobre aquilo em que acredita – levar alguém a perceber que a IVG, não mais crime, poderia ser finalmente compreendida, talvez evitada, já que ninguém se atreve a questionar que existe e vai continuar a existir, como existe sempre tudo o que mexe com noções intimas de liberdade.

Pela despenalização, este blog usa desde hoje um logo. Vai continuar a usá-lo até ao Referendo.

2006-11-29

O meu corpo


Quando acordo
encho-me logo
com o fresco da manhã.

Brinco todo o dia
com o meu corpo.

Salto,
corro e bebo água em grandes goles
sentindo-a rodopiar dentro da barriga.

Trago sempre o meu corpo comigo
e a sua sombra, também.

Mas é à noite,
quando toda a casa está em silêncio
e o meu gato
dorme enroscado aos meus pés,
que me lembro Dele.
Sim!
Do meu corpo!

Deitado na cama
sinto o coração bater de mansinho:
escuto-o com a minha mão.

O meu peito
sobe e desce
a cada respirar:
até parece uma borboleta batendo asas.

Então,
todas as pequeninas coisas
que compõem o meu corpo,
aconchegam-se
antes de adormecer.


Nota: Poema/desafio de Miguel Horta, criado para as oficinas complementares à exposição de Rebecca Horn, “Bodylandscapes” (Centro de Pedagogia e AnimaçãoCentro Cultural de Belém)

2006-11-28

Pequenos vícios IX


aqui

Os meus sorrisos…

(há dias em que o contentamento é uma miragem, mas vou treinando sempre: um dia chego lá!)

Pequenos vícios VIII


aqui

Os meus silêncios…

(não mos levem a mal; às vezes preciso virar-me para dentro)

2006-11-27

Batimento cardíaco


aqui

Há muitos anos atrás, o meu coração partiu-se. Partiu-se de tal maneira e em tantos bocadinhos, que pensei que nunca mais teria um coração só meu, concertado e capaz. Mas o tempo - o tempo que foi preciso e pouco importa - foi juntando um a um cada caco amputado, soldando cada pedaço com memórias misturadas de esquecimentos, dores a servirem de fio onde a esperança era a agulha. E a vida costurou e descosturou, passajando o meu coração de boneca de trapos, resvalando pela ladeira dos dias, dos meses e dos anos. Hoje trago um coração partido soldado pelo tempo, mais forte, mais arejado. Desdobra-se em batidas surdas, galopando no meu peito e já só tem fome de futuro.

2006-11-26

Tantas vidas

"Não acaba o que morre, mas o que se esquece."

O texto de Fernanda Câncio sobre a morte da jornalista (e blogger) Maria José Margarido teve o poder de me apanhar de surpresa. As homenagens são muitas vezes palavras vãs debitadas com solenidade. Ali não. E restou – pelo menos para mim – a ideia de que foi "uma de nós", não alguém distante que escrevia num jornal. Ficou apenas a ideia de alguém que queria, precisava, escrever. E eu – e acho que todos os que têm um blog – podemos de facto relacionar-nos com isso. Esta necessidade de contar e recontar pedaços de estórias que são vida, apenas e sempre que nos recusamos a esquecer. Como a mulher na estação de Atocha. Como a editora que quis voltar às reportagens. Como a colega (e amiga, suponho) que assim contou, em mais do que uma distante homenagem, nas palavras sentidas do adeus que teve de ser. Demasiado cedo. E, sim, suponho que para quem tem esta urgência de escrever, de contar, ficam sempre demasiadas vidas por decifrar.

__________
(...)
este interposto objecto

e o seu leve peso de eternidade

Mário Cesariny

2006-11-23

Contingências


aqui

Ando em guerra com o portátil. Quer dizer, em guerra com o ex-portátil, já que desde há uns meses (altura em que pifou a bateria) passou a ser mais um estorvo em cima da mesa da sala, ao lado dos livros que ainda não li e as facturas que, atendendo ao saldo da conta no Banco, tenho a certeza que já paguei, mas ainda não conferi. Ao lado dele, reside também uma bateria, à espera de substituição, coisa que está difícil porque parece que o modelo não era exactamente nem o mais comum, muito menos o mais recente. Depois, ainda houve o problema da placa gráfica, mais ou menos resolvido ao murro, mas que deixou uma barra de ferramentas que só funciona quando lhe apetece. Ontem, para finalizar, tentou pifar o gravador de CDs, o que torna a minha tentativa de fazer back-ups do que está no disco um bocadinho mais complicada. A pen, coitadita, lá vai servindo de contentor provisório. No entretanto, se o gajo abre sem estar a funcionar a barra de ferramentas, descobri que metade dos blogues não abrem. E é reiniciar o gajo uma e outra vez, a ver se a gaja acorda. Vou-me agarrando ao Bloglines para manter as leituras em dia e passando-me dos carretos quando nem na Voz consigo entrar. No entretanto, também descobri que existe o Bloglines Plumber, a que achei muita piada no início, mas a quem agora já nem posso ver. Resta-me o computador em casa dos papás, mas o tempo que tem feito faz-me desejar chegar rapidamente à minha alegre casinha, tirar os sapatos e refastelar-me no sofá. Ando, por isso, pelos blogues à vontade de um desgraçado de um caixote cheio de manias e da minha sem vontade para fazer desvios no fim do dia.

Depois, há aquela coisa de ser Novembro que é, cada vez mais, um mês para pôr as patas de coelho à porta e o olho contra o mau olhado no batente: há dois anos, foi diagnosticado um tumor à minha mãe; o ano passado um endometrioma à minha irmã e, este ano, um melanoma ao meu pai. A mãe está bem; a mana ficou só com um ovário; o melanoma parece que afinal é só um sinal. Mas desde o início do mês que por estes lados começamos a achar que mais vale passarmos a saltar Novembro nos calendários. Pela lei das probabilidades que nem existe, mas que eu tenho inventado nos últimos tempos, para o ano calha-me a mim. Será que posso escolher com antecedência o susto? Uma unha encravada, uma cárie, um jantar com o Ministro da Saúde? Começa-me a servir qualquer coisa, que já acho que por aqui anda encosto e dos graúdos. Será que passa se eu for à Bruxa?

Pequenos vícios IV


aqui

Ter sempre qualquer coisinha para ler...

Pequenos vícios III


aqui

Deixar que o mau humor matinal se dissipe enquanto o cheiro do café acabado de fazer percorre a casa...

2006-11-21

A direita está na moda?


(recebida por mail, original daqui)

Com tanto discurso para um lado e para o outro e tanto "palramento" entre liberais, conservadores, direita, esquerda e o mais que lhes apeteça, gosto da moda feita assim, especialmente quando as botinhas os deixam crescer alguns centímetros... é que, tirando o Guterres, porque será que os homens pequenos (baixos? pequenos? hmmm...) querem estar todos do mesmo lado? Bem, há sempre o nobre amigo deste... Estou confusa!

2006-11-19

E depois dos bispos…


aqui

Mergulho o corpo no quente da água que me aquece o frio do dia que passa e da saudade que fica. E apenas sobra a imaginação que me leva até ao teu corpo, os teus braços, os pelos do peito onde gosto de roçar o meu peito que se alegra, engrossa, engolfa de sangue os mamilos que te acenam, para que os abocanhes ainda mais um bocadinho. E é quando pressinto como o teu corpo corresponde, quando imagino como o teu corpo engrandece cada poro de cheiro a sexo e o sexo que se levanta em saudação, que remeto o tesão para o quente da água e os dedos que tacteiam a falta que me fazes, neste domingo sonolento e chuvoso em que só a imaginação preenche o meu corpo do teu, os meus lábios do teu sabor…

Como é que é?


aqui

Mas esta gente não se cansa de dizer disparates? Então agora recorrer à procriação medicamente assistida entra na categoria de "infidelidade consentida"? Eu juro que só paro de rir destes absurdos quando estas alminhas atávicas me conseguirem dar relato pormenorizado do que aconteceu a cada ejaculação que tiveram na vida. E não me venham com tretas, que os Bispos, lá porque são bispos e depois foram pedir penitência, também devem ter desperdiçado muito espermatozóide em muita punheta. E esses – às tantas felizmente – são espermatozóides realmente desperdiçados. Doar um óvulo ou esperma viável e ajudar um casal infértil a conceber, deveria ser visto como um milagre. Nunca um pecado, porra!

Alguém precisa de um óvulo? Está a apetecer-me ser infiel. Consentidamente e sem baixar a cueca, claro.

Parabéns, Rosarinho


Bente Rytler - Chello

São dois anos de Divas & Contrabaixos. Quero mais!

2006-11-17

Os dois fantasmas


aqui

Moravam os dois fantasmas, “dos livros que ainda não foram lidos”, lá num casarão perdido no meio da Vila. Uma mansão mais parecida com as “casas dos Brasileiros”, bem típicas lá de Aveiro.
A casa era ampla e tinham muito espaço para deambular. Ainda por cima estava vazia pois ninguém a queria habitar.
Voltejavam com os seus lençóis brancos, percorrendo a casa toda numa inquietude de quem procura alguma coisa. E o seu lugar favorito, dentro da grande casa, era a biblioteca escondida lá nos fundos.
Bem tentou o proprietário alugar aquela casa, mas quem por lá passava pouco tempo ficava.
Era um desassossego durante a noite...
Som de coisas partindo-se, correntes de ar percorrendo a casa, vindas de lugar nenhum e livros tombando no chão da biblioteca. Sem nenhuma explicação...
- Ninguém pregava o olho!
Até que um dia, surgiu na vila um casal disposto a alugar aquela casa amaldiçoada. Eram gente de longe com um filho de olhos muito grandes, cheios de vontade de conhecer as coisas do mundo.
O caseiro, encarregado da transacção, ainda perguntou ao casal depois da decisão:
- Mas não têm medo da casa e da sua assombração?
Logo ali contou a história daquela triste mansão.
Tinha sido a casa de dois irmãos gémeos e professores, por sinal. Tinham vivido ali durante muito tempo e, dizem, nunca conseguiram ler a biblioteca toda até ao final. Morreram os dois no mesmo dia, vai-se lá saber porquê. Sem terem lido todos os livros da sua biblioteca.
O menino ficou logo curioso com a biblioteca, enquanto os pais assinavam o contrato de arrendamento.
Passado algum tempo já estavam instalados naquele velho sobrado de águas largas e árvores frondosas.
Acostumados aos ruídos da grande cidade não deram por nada, dormindo a sono solto. Mas quando a casa fez sentir seu silêncio, começaram a reparar nos sons nocturnos que vinham da vasta biblioteca.
Era um restolhar de papéis, livros caindo no soalho, janelas e portas fechando e abrindo lá no coração da noite.
Começaram logo a pensar nas palavras do velho caseiro...
Mas o menino tinha olhos grandes. É sabido que olhos grandes servem para ver o mundo até na mais completa escuridão.
Assim, uma noite em que os pais se revolviam nos lençóis sem conseguir dormir, o menino dirigiu-se à fonte de todos os ruídos: a Biblioteca.
Entrou, sentiu a corrente de ar e viu um livro aberto no chão. Tinha talvez tombado de uma das grandes estantes... Pegou nele e leu precisamente a página que estava aberta:
“Assim que entrou em casa, Gepeto agarrou logo nas ferramentas e pôs-se a esculpir e a construir o seu boneco.
Que nome lhe hei-de dar? – Disse de si para si. – Quero que se chame Pinóquio”
- Mas eu conheço esta história... Pensou o menino.
E continuou a ler, desta vez em voz alta, recostando-se num cadeirão.
As correntes de ar cessaram e até teve a sensação de que alguém lia o livro ao mesmo tempo do que ele, espreitando por cima do seu ombro. Quando terminou a história foi-se deitar numa casa agora mergulhada em sossego. O pai já ressonava com a mãe agarrada ao seu corpo.

Neste ponto, terei que dar uma explicação aceitável sobre os nossos fantasmas dos “livros que ainda não foram lidos” ou, se quiserem, dos “livros que ainda estão por ler”.
Como é sabido, os fantasmas não têm dedos. Como hão-de consultar uma biblioteca? Ora bem... Só provocando correntes de ar ou outras coisas menos materiais para fazer tombar os livros das estantes... Caído o livro no chão, basta só uma pequena aragem para mudar de página...nem sempre é fácil. O problema reside em tirar os livros que ainda não foram lidos das prateleiras. É necessária uma boa dose de esforço e de sorte.
- Este menino veio mesmo a calhar. - pensou logo um dos irmãos fantasmas, sentindo a concordância do outro que agitou o seu lençol afirmativamente.
No dia seguinte, ou melhor, na noite seguinte, o menino dirigiu-se à biblioteca assim que escutou o som da escova de dentes percorrendo energicamente a boca do pai.
Já lá estava alguma agitação... A janela abriu-se de repente e o acervo da estante superior agitou-se destacando uma lombada.
- Grim? Interrogou-se o menino.
- Pois bem, estão seja...
Sentou-se confortavelmente no cadeirão da biblioteca e começou a ler, sentindo de novo aquele arrepiozinho agradável de quem não está só. Mas os “contos de Grim” são extensos e o menino começou a ficar com sono. Então poisou o livro, aberto, sobre a grande mesa da biblioteca e foi-se deitar. A casa estava calma e cheirava a sono.
Na manhã seguinte, foi dar uma espreitadela à biblioteca. O livro que havia deixado aberto, estava agora fechado com a contracapa para cima.
- Ahhh...Então leram.- pensou, cheio de vontade que chegasse a noite. Mas o pai já estava lá fora às apitadelas, convocando-o para um dia de escola.
Chegada a noite, sentindo que os pais já se recolhiam no quarto, entrou na biblioteca assombrada: e lá estava um livro tombado no chão!
Pegou no livro e leu... Matilde Rosa Araújo.
Chegou rapidamente à conclusão que aqueles dois fantasmas se tinham esquecido de ler os livros das suas infâncias. Só assim se justificava aquele tipo de escolha. Não leram nada quando eram meninos... Pensou.
De qualquer forma estava a divertir-se bastante com aquelas leituras nocturnas.
Leu um pedacinho do livro e deixou-o ficar aberto em cima da mesa.
Claro está, durante a noite, os fantasmas leram o livro todo.
A partir daquele momento, o grande casarão passou a ser uma casa serena.
Um dia, o Pai, vendo o filho descer as escadas perguntou:
- Onde vais a esta hora?
- Vou dar de ler aos fantasmas. - respondeu a criança.

Agora tenho uma pergunta para vocês, leitores.
E quando se acabarem os livros da grande biblioteca? Será que podem levar convosco estes dois fantasmas, que ainda não leram tudo, para vossa casa?
À velocidade a que os livros tombam no chão da biblioteca, daqui a pouco acaba-se a literatura para a infância.


Um texto de Miguel Horta

Parabéns, Maria Árvore



Achei que tu - que com tanto empenho nos vais mostrando como os homens, sempre tão ridículos, conseguem ser profundamente deliciosos, mesmo e quando até se esquecem de tirar as peúgas -, ias gostar que eu assinalasse o teu aniversário com música e dança. Os balões da festa vieram de bónus, claro. Mas se não houvesse balões de bónus...



aqui

Mas não que não quisesse ser horizontal.
Não sou árvore com minha raiz no solo
Sugando minerais e amor materno
Para a cada março refulgir em folha,
Nem sou a beleza de um canteiro
Colhendo meu quinhão de Ohs e me exibindo em cor,
Desconhecendo que me despetalo em breve.
Comparados a mim, uma árvore é imortal
E um pendão nada alto, embora mais assombroso,
O que eu quero é a longevidade de uma e a audácia do outro.

À luz infinitesimal das estrelas,
Flores e árvores trescalam seus frios perfumes.
Eu me movo entre elas, mas nenhuma me nota.
Chego a pensar que pareço o mais perfeitamente
Com elas quando estou dormindo —
Os pensamentos esmaecem.
É mais natural para mim deitar.
Céu e eu então animamos a prosa,
Hei de servir no dia em que deitar afinal:
E as árvores aí talvez em mim tocassem e as flores comigo se ocupassem.


Sylvia Plath - Eu Sou Vertical (Trad. de Vinicius Dantas)


Parabéns! Muitos!

2006-11-16

A cantar de galo


aqui


Obviamente que julgo sempre o outro em função do que o outro me parece. Num primeiro contacto, só isso é possível e todos o fazemos afinal. Mas não é a essa versão de alguém que, no fim, me obrigo a vincular uma opinião sobre determinada pessoa. Esforço-me para que - para lá dos meus conceitos e preconceitos - reste um indivíduo e nunca, mas nunca mesmo, a sua aparência, muito menos qualquer julgamento que possa fazer em função dessa mesma aparência, ou sequer o aparente lugar que essa pessoa julga merecer ou deter em termos de estatuto social.

E também não nego sequer que, em muitos dias, sou profundamente snobe. Ou preconceituosa. Ou teimosa até. Ou sequer que o sou ainda com mais vontade quando me deparo com o pedantismo alheio, já que o meu, como é óbvio, custa muito mais a enxergar.

De qualquer forma, penso que muitos assumem que, porque não conhecem uma determinada pessoa, esta não possa ser reconhecida em todo um outro conjunto de círculos sociais. Só que não será nunca porque não faz parte do nosso leque de conhecimentos que alguém pode ser entendido como não-célebre e muito menos como não-válido ou um não-capaz de expressar uma opinião com valia e credibilidade.

Em última análise, seremos antes desconhecedores. E eu, banal que sou, escondida que quero estar num blog anónimo e anódino, nunca tive a pretensão de conhecer tudo e todos, ou a ousadia de descartar aprender qualquer coisinha com alguém só porque lhe desconheço a árvore genealógica.

E há dias em que vejo tanta gente a descartar o desconhecido (por falta do nome, da obra, do nick, do nome do pai, da mãe, da criada, do emprego, do que comem ao pequeno-almoço, do que bebem ao jantar, do lugar onde desbaratam recursos a dizer que trabalham quando afinal só teclam, da raça do cão e do periquito, do tique no olho esquerdo e da verruga no pé direito...) que fico apenas com a sensação de estar perante um cenário de medo. Talvez apenas medo de que o chão (ou, mais acertadamente ainda, o poleiro onde se alcantilaram) lhes seja roubado de debaixo dos pés. E fico pasma: é que me parece tão fraco poleiro que nem chego a atinar com tamanho pânico.

2006-11-14

Ahhh!


aqui


Já tanta gente sabe quem é que escreve com o nick Hipátia que acho sempre divertido cruzar-me com quem, sabendo bem quem eu sou, não atina a descobrir quem sou. E o mesmo em sentido contrário, claro. Confuso? Nem por isso. Tenho antes tendência a achar que é libertador.

2006-11-13

LOL



Hi,

I'm the Bloglines Plumber. Bloglines is down for a little fixer upper. We will be back shortly. Bloglines will be all better when I'm done with it.

Thanks,The Bloglines Plumber

Ainda não tinha encontrado este caramelo (suponho que, até agora, tenho tido sorte). Mas fez-me soltar uma alegre gargalhada. Se é para nos darem uma má notícia, ao menos que seja de forma divertida. Fiquei ainda mais fã.

Paralelos


"The End" Apocalypse now
Colocado por nicobus


Vão tratar de fugir rapidamente, a tempo de prevenir que nas próximas presidenciais o custo da guerra seja ainda mais elevado. Vão deixar tudo no caos, na desordem, numa guerra fratricida e sem esperança, mais um cancro a espalhar metástases por toda a região. Como antes. Como sempre. Terra queimada. Carne putrefacta. Mais bombas e bombistas e corpos e desespero. Vão fugir depois da merda? A merda já está feita. Como antes. Cada vez mais igual. E, para já, para lá da contagem dos corpos e dos pedaços de corpos, as mulheres já pagam mais um naco da ração do costume do sofrimento: perseguidas por um regime que se ergue sobre os escombros e baseia o seu poder numa interpretação míope do Corão, são obrigadas a regressar à idade da pedra dos direitos civis. Já começou. Só falta a retirada apressada. Só falta mais um instante de insanidade…

Kata ton daimona eau tou(*)? O epitáfio de Morrison parece-me profundamente lúgubre neste momento…

((*)fiel ao seu espírito)
_______
Adenda: Sobre a actual e previsível situação futura das mulheres iraquianas, ler este post.

2006-11-12

Parabéns, Jorge Morais


aqui

Fiquei sem saber se direccionar para aqui ou para aqui os parabéns. Acabei a decidir-me por este. Mas é só mesmo para dizer que não cheguei atrasada. Olha como acerto no dia, já viste?

Que tenhas um dia doce!

(Pensavas que levavas uma lolita? Levas bolo, mas é!)

2006-11-10

Lá terá de ser!



A vida espiritual dos Homens, os seus impulsos profundos, o seu estímulo à acção, são as coisas mais difíceis de prever, mas é justamente delas que depende a morte ou a salvação da Humanidade.

Andrei Sakarov

Tão bem recomendado que não vou perder...

2006-11-09

Cenários


aqui

Nesta realidade um dos crimes mais graves é a tentativa de hackear um Ghost (espírito), pois o hacker que conseguir tal proesa possui o poder de fazer o que quiser com aqueles que hackeia. O hacker pode utilizar isso para raptar, apagar e alterar memória, obter informações, controlar o individuo, etc.

Rodrigo Adry
sobre o filme Gost in the Shell



Tenho encargos e, à conta delas, acabo prostituída ao horário fixo e aos desmandos de uns quantos. Era fácil ter ideais antes de ter contas para pagar. Agora resigno-me, como todos, agrilhoada à necessidade de garantir o vil (e escasso) metal que me paga a casa, põe comida na mesa, luz, água, gás, televisão, internet, gasolina e todas as tretas onde, por mais que tente, parece sempre impossível poupar.

Conformada? Nunca! Mas manietada sim. Porque há coisas que não me posso dar ao luxo, infelizmente, por mais que - tantas vezes, em tantos dias - me apeteça mandar tudo para trás das costas, mandar uns quantos para o caralho e fazer de conta que sou livre.

E é por isso que ranjo os dentes, escrevo um post e, amanhã, bem cedo, estarei a bulir outra vez, à espera que a semana passe depressa e que, no fim do mês, continue a chegar algum.

Sinto-me uma marioneta e há muito que já nem distingo os bonecreiros. São já quase uma entidade abstracta, que me levam cada vez mais e mais dinheiro e nem adianta culpar um apenas (o Estado, o Banco...) que aparece logo outro para me tentar enrabar mais um bocadinho.

2006-11-08

Hei!


aqui

You don't have to say anything, and you don't have to do anything. Not a thing. Oh, maybe just whistle. You know how to whistle, don't you (...)? You just put your lips together and... blow.


fiu... fiu...

2006-11-07

'Trivial e croquetes'


aqui


Não tenho a menor dúvida que todos pomos o cuecame a corar à janela da marquise. Só que uns lavam e secam em segredo a cueca puída e só estendem do lado de fora as rendinhas a que dão uso uma vez por ano; outros, pouco querem saber se a cueca tem selo e lá está ela bem visível; outros ainda são como aqueles que dizem que nunca se peidam; e há também os que apenas parecem querer cheirar o traque alheio. No fundo, no fundo, o mais fácil é mesmo vermos o cu dos outros. E verdade é que ninguém nos obriga. Mas que há dias em que tem piada, há. Como há dias em que nem percebemos porquê. Nas costas dos outros, acabamos a ver as nossas. Pudemos é achar que não, que somos é uns anjos e os anjos até nem têm costas. Cu, então, nem se fala...

E, depois, acabamos a saber que, por entre exercícios de paciência que, em alguns dias, se assemelham quase a exercícios de masoquismo, sobra sempre alguma coisa boa. Como ler-te há dois anos. Como saber que vou ao Faz de Conta e leio este genial post sobre dois aninhos na blogosfera.

Parabéns, Jaquelina Pandemónio. Que as tuas palavras nunca fiquem gagas e faz de conta que todos os gajos que vêm para aqui cagar postas de pescada, afinal trincaram rosas. Ou põe uma mola colorida no nariz.