2013-05-29

eu estive aqui e ninguém contará a minha história

«Yo estuve aquí y nadie contará mi historia. Ignoro cuanto tiempo permanecí frente a esa piedra, pero a medida que la tarde caía vi otras manos repasando la inscripción para evitar que la cubriera el polvo del olvido...» 

Luís Sepúlveda 

Conta Sepúlveda em "As Rosas de Atacama" que deu com uma inscrição anónima gravada numa laje de Bergen Belsen: "eu estive aqui e ninguém contará a minha história". E conta ainda que foi essa frase que o levou a escrever um belíssimo conjunto de contos sobre as histórias breves de vidas que não serão nunca descritas nos compêndios da História, mas que não são por isso menos importantes. Chamou a esse livro "Historias Marginales", nome que para mim faz mais sentido do que a sua versão portuguesa, por mais bela que seja a ideia de um deserto coberto de flores. É que é de margens e de esquecimento, de figuras que tiveram o seu quinhão de venturas e desgraças e, no entanto, são em tudo demasiado parecidas com todas nós, anónimas a mais das vezes, capazes de fugir e se esconder, levadas pela própria cobardia a actos de coragem que fazem, nem que seja apenas numa vida, a diferença. Sepúlveda pegou nessas vidas e perpetuou-as. Para que alguém pudesse contar a sua história; porque alguém contou a sua história. E fica assim a palavra escrita contra a poeira da memória, contra a brevidade das recordações. De alguma forma, todos somos histórias marginais na memória de alguém. Talvez um dia alguém conte também uma dessas histórias e mais uma rosa pintará de cor o deserto do esquecimento.

2013-05-28

Mia Couto

«Já era madrugada ainda eu não dera jeito no sono. As pálpebras cabecearam só quando o dia espantava. Olhando o nascer da luz realizei que nunca mais dera atenção ao astro-dia. No fundo, me despedira da luz nas praias de minha aldeia. De bruços sobre o verão, eu deixara o sol na savana do tempo.»

in "Terra Sonâmbula"


É Prémio Camões. Diz que ficou surpreendido. Eu não.

And you see me like fun

2013-05-26

Parabéns, avó


Na minha avó está hoje a essência do que sou, sendo parte dela, parte da mãe que pariu e que me pariu a mim. Nela contemplo a evidência genética do que sou, esta coisa em que me vou transformando enquanto as minhas rugas, ainda tão diferentes das suas rugas, se vão construindo em desenhos semelhantes. E foi mais um aniversário e não sabemos quantos mais ainda teremos, quanto mais tempo resiste a nossa matriarca na luta contra a única certeza. Agora só esperamos que se eternize em cada dia, mais um bocadinho de cada vez. Para quem já tem implantados os sulcos de 93 anos de vida e vidas, o Natal está já aí ao virar da esquina. E nós com ela, à espera que sim, que aguente, que fique, mesmo estando tão pequenina, tão frágil, tão vizinha dessa morte que todos os dias lhe pisca um olho e vai dar ainda um passeio a outra porta. Talvez ainda vá ver outro bisneto, outro pedaço dela que vai ficar por cá. Em nós, afinal, ela já está eterna.

Fui ver o Mick, trouxe autógrafo do Mark





Não me deixaram filmar nem tirar fotografias. Havia para lá umas agentes das SS munidas de ponteiro luminoso para identificar prevaricadores. Mas veio o autógrafo, pronto! E em português, o que adorei. Perdoo o acento no "Sofia" e tudo, que teve o cuidado de perguntar se era com ou sem ph.


2013-05-25

Ferreira Fernandes


«Cavaco Silva e o insulto do cronista 

Quem não se sente não é filho de boa gente. Cavaco Silva tem razão em indignar-se por aquilo que um cronista fez publicar ontem num jornal. Uma coisa é criticar, e todos somos passíveis de que não gostem de nós, mesmo injustamente. Mas há palavras e palavras. Pode dizer-se que Cavaco Silva não é brilhante a falar e que se engasga em público mais do que seria de esperar num político. Mas não se pode dizer aquilo. Quer dizer, poder dizer, pode-se: em matéria de opinião, pode dizer-se tudo. Mas isso em conversa de tribunal, onde a liberdade de opinião (e felizmente) está defendida. Dito isto, não se diz aquilo que foi dito e publicado, ontem, sobre Cavaco Silva. Uma coisa é chamar-lhe "burlesco" ou "cómico" ou qualquer outra palavra similar, tanto essas palavras estão - infelizmente, mas é assim - conotadas com os políticos. Mas o que o cronista disse ontem fere o homem público no âmago do que ele faz, desqualifica-o na sua função: "Sozinho, completamente sozinho, o dr. Cavaco Silva conseguiu arruinar a Presidência da República. A Presidência da República não tem hoje autoridade, influência ou prestígio", foi dito por Vasco Pulido Valente, ontem, e publicado no Público. É opinião e eu já disse aqui várias vezes que processar uma opinião é como tentar caçar o vento. Só enobrece Cavaco não ter perguntado ao Ministério Público se há ou não matéria para processo no maior insulto que lhe fizeram esta semana.»

hoje

2013-05-24

Será que vou de cana?



"Cavaco não gostou de ser chamado de «palhaço»"

TVI24

Acho que já lhe chamei pior:

2013-05-23

Andrea Gallo - buon viaggio, partigiano

«Sacerdote italiano comunista, defensor dos homossexuais, dos pobres, dos presos, das prostitutas e da liberalização das drogas leves, faleceu ontem em Génova, aos 85 anos.»

Expresso 23/05/2013


Quantos acompanham este blogue sabem bem que raramente reservo boas palavras para a ICAR. Mas, como todas as instituições, esta é constituída por pessoas e, para essas, a minha (má) opinião generalizadora terá de ser omitida em função do caso concreto. 

Exemplo disso mesmo era Don Gallo, padre salesiano que defendia um Concílio Vaticano III onde, finalmente, a ICAR enfrentasse questões essenciais como a pobreza da Igreja, a abolição do celibato e a ordenação de mulheres.

Andrea Gallo faleceu ontem e duvido que tão cedo apareça um padre disposto a fumar erva no meio da rua para defender o fim da criminalização dos utilizadores italianos de drogas leves, ou aceitar ser personalidade gay do ano, ou até mesmo afirmar que o que falta à ICAR é um Papa Gay.

Para mim, que o descobri há muito pouco tempo quando o fui procurar depois de ver um comentário italiano num dos muitos vídeos sobre a interrupção de Passos Coelho no Parlamento pelo "Grândola Vila Morena", fica a pena de nunca ter estado numa missa rezada por este padre, uma missa que, certamente, terminaria com Don Gallo de lenço vermelho na mão a cantar o "Bella Ciao" em plena igreja, com um coro animado de paroquianos que bem sabiam em que contexto este homem invocava hoje o hino anti-fascista italiano.

Talvez um dia destes o "Grândola" chegue ao fim das missas portuguesas. 

2013-05-21

Fobias

fonte


Tendo sido abençoada com uma saudável confiança na minha heterossexualidade, nunca me senti ameaçada pela sexualidade alheia. Deve ser por isso que nunca vou conseguir perceber o grau fóbico com que alguns reagem perante a homossexualidade. Eu não tenho medo que alguma coisa me pegue e nunca precisei fechar à chave a porta do armário para não ter que enfrentar o monstro. Mas, na verdade, tudo se resume ao facto de já me bastarem as minhas manias. Dispenso, por isso, as patologias alheias.

2013-05-20

Desencontros



E vai-se levando a vida, a coleccionar mais cicatrizes e sonhos roubados, a rotina instalada como um nevoeiro, que nem sequer escapa por lhe chamarmos apenas neblina.

Digitando


Nas estrias pressentidas que, teclando, impressas levemente na minha pele, sinto - mais do que um qualquer alívio provisório - a fogueira de um arrepio insaciado. 

2013-05-19

Viral


Maria Teixeira Alves*, irritada com a aprovação da co-adopção, caiu na asneira de pespegar num post um pleonasmo, referindo-se a "homossexuais do mesmo sexo". E num instante caiu o Carmo e a Trindade porque, obviamente, todos somos impolutos quando nos transformamos em correctores ortográficos dos outros. E a questão real é que havia obviamente por onde desmontar redondamente os argumentos de alguém que acha que as crianças estão melhor se institucionalizadas em lugar de se integradas numa família. Eu, que estou a léguas do pensamento da senhora, sinto-me ainda mais a léguas do golpe baixo e da piadinha fácil. Mas nem sei porque me surpreendo. Uma coisa é certa, quem nunca escreveu um disparate, que atire a primeira pedra. Como já teclei demasiados "peidos" em vez de "pedidos" em espaços bem públicos, recuso-me a ir por aí.


*já me conhecem: obviamente que há sítios para onde nem amarrada me apanham a pôr link.

Pecados

A JP lembrou-me isto:


Não Existe Pecado Ao Sul Do Equador by Chico Buarque on Grooveshark

É que em tempos em que todos os pecados ditos capitais, ou venais, ou o que quiserem, se encontram em grande forma, tingindo o mundo de vermelho sangue, não me chega a parecer pecado nem a gula, nem a luxúria. Quer num, quer noutro, encontro fontes de prazer. E, se um engorda, o outro bem que ajuda a queimar calorias...

Versões II

Versão inglesa: 

"Tradução" portuguesa: 

Mesmo o google tradutor, com todos os seus defeitos, se sai com um «Suazilândia lançou uma ofensiva contra as bruxas voando alto depois de proibi-los de pairar acima 150metres.» 


E mais não digo, que acho que não vale a pena.

Versões

«So we beat on, boats against the current borne back ceaselessly into the past»




«it was an extraordinary gift for hope, a romantic readiness such as I have never found in any other person and which it is not likely I shall ever find again.»

2013-05-17

Nevão em Maio


Há qualquer coisa que me fascina no Norte da Europa... não sei bem o que seja. É, não consigo mesmo perceber o que possa ser tão interessante lá pelos países do frio. Será a música? Será de estar para aqui a espantar-me por haver nevões em Maio no Portugalinho? Vou ali ver as runas e já volto...


2013-05-13

Peregrinação

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Em dias como hoje, ou quase todo o fim-de-semana, com excepção da bola (e a cada um o seu ópio), o País em geral e as televisões em particular, insistem em fazer de conta que eu não existo.

E o álbum novo é tão bom!

2013-05-12

Por um fio? será?

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"Alerta vermelho no Governo", diz o Sol e eu não concordo. Não há nada remotamente vermelho neste governo. A inspiração parece-me bem mais perto dos "camicie nere" do que outra coisa. Mas curioso é ver que a múmia está por dentro do assunto. E o mais provável é continuar uma múmia paralítica. Não me parece que seja desta.

Lá mais para o final do mês...

Futebolices



Sempre fui do contra. Bem, quase sempre fui do contra. Mas, no que toca a futebol, sempre tentei ser do contra. Não tendo nunca entendido a mania de tentarem limitar as escolhas a azuis, vermelhos e verdes, resolvi que seria dos de preto. Ora, como a Académica – mesmo morando no meu coração – estivesse sediada um pouco longe, concedi no preto e branco aos quadradinhos. Assim como assim, eram pequenos o suficiente para causar algum espanto quando lá vinha a pergunta da praxe: "és do Porto ou do Benfica?" (é que, durante muitos anos, o Sporting só estava entre os grandes para fazer número, como aliás amiúde vai continuando a demonstrar) e eu abria um sorriso para responder: "sou do Boavista". Depois de anos à míngua pelos motivos que se sabem, para o ano estou de esperanças, nunca verdes, claro: de preto e branco como de costume e o sorriso de antigamente. "Sou do Boavista, claro". A ver se a falta de dinheiro não me estraga os planos de, na época que nem sequer começou, voltar a defender os meus pequeninos e - sim - caceteiros do costume. Vai ser do melhor, especialmente se algum dos armados em grande ainda vier ao Bessa bater com os burrinhos na água.


Como sou boa menina e porque tenho leitores lampiões, abstenho-me de comentar os males de festejar de véspera.

2013-05-11

LOL

«Precisávamos tanto de ser salvos e o melhor que arranjámos foi o Carlos Abreu Amorim»

Leiam o resto aqui. Vale a pena pela gargalhada. Ainda me engasgo todas as vezes na última frase, lembrando os tempos em que lia CAA pelos blogues.

Até ao lavar dos cestos




Todos os anos o Benfica é "campeão de inverno" e, lá pelo Natal, costuma andar a festejar o título. E todos sabemos como costumam acabar as contas. Este ano, quando tudo parecia ser já mais do que fogo de vista, vão ao Dragão depois de, por infantilidade, não terem dado importância suficiente ao Estoril e na esperança de que o Estoril não lhes tenha estragado as contas. Falta saber é se o FCP neste jogo não aparece manco. É que tem andado mesmo tortinho, não é? Dar o título aos rivais em casa era capaz de deixar os andrades engasgados por anos.

2013-05-10

2013-05-09

“Oportonity City”



«O filme promocional oficial da Cidade do Porto – “Oportonity City” – ficou em 2º lugar na categoria “Tourist Film”, no “Film, Art & Tourism Festival”, que decorreu recentemente na Polónia. Este festival é uma extensão do International Tourfilm Festival. Os concorrentes são avaliados por um júri internacional composto por especialistas das áreas da indústria cinematográfica, da publicidade e do turismo.»

2013-05-06

A ver se funciona...

Ufa!

















fonte




Ao fim de anos a resistir, finalmente fui obrigada - e logo pelo fim previsto do Google Reader - a actualizar o template do blogue. Lá se foi o velhinho azul e a imagem do universo. Deve ter ido muito mais, mas ainda não descobri. Mas ganhei a possibilidade de ter ali ao lado uma lista rápida dos blogues que mais gosto de ler, sempre actualizada. A ver como nos damos, esta nova casa em tons cinzentos - mas insisto nas letras azul cueca! - e eu, que tão vadia tenho andado destes poisos.

2013-05-05

Dia da Mãe

 fonte


Há algo de profundamente errado quando os putos de 13 ou 14 anos deixam de pedir às mães um novo telemóvel ou um novo computador e começam a pedir antes um curso de alemão ou chinês. E as mães deste país, cumprindo o fado, preparam-se para mais uma geração sangrada, talvez já não para as caixas de pinho que vinham do outro lado do mar ou os bidonville das cercanias de Paris. Mas sangrada.