2005-04-30

Figas


aqui

Acreditando ou não nestas coisas da sorte e do azar, está na hora de pedir a vossa simpatia… porque, afinal, o seguro morreu de velho e eu quero ter (boas) novidades para contar para a semana. Umas novidades que explicam, inclusive, as ausências.

2005-04-29

Quebrando silêncios


aqui


Não consigo gostar do sistema de comentários do blogger. E não ter necos para pôr a acompanhar as palavras deixa-me (quase) doente.

Por isso, a partir de hoje, o tasco passa a ter três sistemas de comentários: um que não gosto; um que não funciona e outro a ter utilização preferencial.

Nada como arranjar sempre uma maneira de quebrar qualquer silêncio, certo?

Bom fim de semana para uns, até mais logo para outros...

2005-04-28

Música Brutal


Olga Sinclair - Tango

Descubrimos vos y yo
En el triste carnaval
Una música brutal
Melodías de dolor

Despertamos vos y yo
Y en el lento divagar
Una música brutal
Encendió nustra pasión

Dame tu calor
Bébete mi amor


Gotan Project - La Revancha del Tango



Tenho uma predilecção toda minha pelos resultados da melancolia, quer em textos, quer em música, quer mesmo nas pinceladas doloridas como as de "O Grito", do Münch (mesmo com um céu cor de laranja).

Mas gosto particularmente quando essa melancolia parece esconder um fogo em lume brando e, mesmo quando me acusam de só gostar de uma certa pop depressiva, recordo o meu entusiasmo perante um Piazzolla, por exemplo, ou um Poe, um Rafael Alberti ou um Ary dos Santos.

Suponho que me extravaso nos gostos para bem mais longe do que o universo pop. E é aqui que incluo, por exemplo, os Gotan Project e este universo de tangos e facas na liga, revisitado a partir de uns estúdios em Paris. Um olhar distanciado, mas cheio de calor, por uma Buenos Aires de amores condenados e paixões avassaladoras... Uma Buenos Aires que todos temos em nós, quando nos livramos de lendas castradoras de príncipes encantados e compromissos para toda a vida; quando fazemos da nossa melancolia um pecado prazeroso de consolos e mágoas e paixões. Quando já sabemos que "quem faz um filho/fá-lo por gosto"... ou, pelo menos, devia...

Haverá dúvidas que muitos de nós trazem já na alma um triste carnaval? Que nos podemos entregar à música como, certamente, já nos teremos entregue ao amor? E que o amor, tal como às vezes nos acontece, é também uma bruta música, um lento divagar, mescla de melancolia e fogo em labareda?...

2005-04-26

Personagens


aqui

Há personagens que podíamos habitar plenamente. Personagens onde nos revemos a cada instante. Como se fosse a nossa história que contam, mesmo não sendo. Como se o núcleo da história fosse nosso, ainda que os pormenores envolventes divirjam.

Há dez anos atrás vi, maravilhada, um pequeno grande filme chamado "Before Sunrise". E era eu, nos meus detalhes, no meu romantismo, na forma ingénua como embarcava nas promessas que a vida me apresentava. Eram as mesmas escolhas, a idade semelhante, o conhecer profundamente uma verdade que, afinal, não era só minha. Aquela podia ser a minha história, aquele podia ser o meu encontro, aquele podia ser o meu passeio pelas ruas de Viena.

Passada uma década, a sequela (Before Sunset) veste-me da mesma forma. Ainda estou ali eu, dez anos mais velha, dez anos mais cínica, dez anos mais madura e mais magoada. Como se um encontro do passado me tivesse mostrado que a perfeição é possível e, depois de a encontrar e perder, não me restasse muito mais do que deixar congelado um pedaço de mim. O pedaço onde encerro ainda todas as verdades fundamentais, tudo o que sei, tudo o que sou, o muito ou pouco que sei amar, que ainda sou capaz de amar.

E, no entanto, o filme devolve-me a esperança. Mesmo que a história não seja a minha e que a minha não tenha direito a reencontros. Mas há um acerto de contas com o destino, com dez anos de vida, com tudo o que pomos de parte para seguir em frente. E um olhar para trás e reconhecer que o seguir em frente, ainda que fosse o único caminho possível, não é necessariamente a forma perfeita de nos mantermos fiéis a nós próprios, senhores do nosso destino, senhores do nosso direito ao amor sem compromissos de obrigações pequenas e limitativas.

Mergulho neste dois filmes e na possibilidade de um amor incondicional, perfeito porque congelado numas quantas horas antes que o dia amanheça ou antes que o dia acabe. E as personagens contam a minha história, com outros pormenores. E eu fico à espera de os ver novamente, daqui a mais uma década, sabendo que, de alguma forma, estes actores e este realizador ainda estarão a contar a minha história.

Porque há personagens que nos habitam e não nos conseguimos livrar delas. Porque somos nós. Porque ainda há filmes que nos contam no faz de conta a história mais real.


aqui



(Tinhas razão, Loiro. Tinhas toda a razão...)

2005-04-25

In Memoriam

Menina dos olhos tristes
o que tanto a faz chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar


Vamos senhor pensativo
olhe o cachimbo a apagar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Senhora de olhos cansados
porque a fatiga o tear
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Anda bem triste um amigo
uma carta o fez chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

A lua que é viajante
é que nos pode informar
o soldadinho já volta
está mesmo quase a chegar

Vem numa caixa de pinho
do outro lado do mar
desta vez o soldadinho
nunca mais se faz ao mar


Reinaldo Ferreira / Zeca Afonso - Menina dos Olhos Tristes


E pelo fim da sangria da juventude deste país. Por todos os mortos da geração do meu pai, dos meus tios. Por todos os que foram e voltaram. Por todos os que só tiveram uma caixa de pinho no regresso. Por todos os que hoje ainda os choram. Pelos filhos sem pais. Pelos filhos dos filhos sem avós. Pela paz que enfim chegou.

Aerograma


aqui


Este é pelos meus: os que cá ficaram, os que por lá andaram, os perseguidos, os que nada fizeram.

Este é pelos meus: os que ainda virão, os que são agora, os que hão de continuar o que se inaugurou numa madrugada de Abril.

Pela memória. Especialmente pela memória dos que não viveram o tempo suficiente para saborear a liberdade sonhada.

E pela memória da revolução (quase) sem tiros. Para que ninguém esqueça que também se fazem revoluções com flores nos canos das espingardas.

2005-04-24

Greve


aqui


O meu blogue parece que está a fazer greve à dona. Quando tiver mais tempo, tento entabular as negociações.

Para já, vou tentar descobrir o que aconteceu ao Outras Vozes...

Alguém sabe o que se passa?

2005-04-22

Ataque de prima-dona


Bianca Castafiore Posted by Hello


Já por várias vezes me referi aqui a um certo temor que tenho da palavra escrita. Porque nunca consegue dizer tudo; porque há sempre um tudo gigantesco que nem é nosso, é só a percepção de quem nos lê.

A culpa não estará nas palavras. Estas chegaram tarde na História do Homem. Primeiro vieram certamente os gestos e os sons, os olhares, os dentes à mostra em mil e uma declinações.

Sou normalmente mal entendida quando brinco. Não quando estou a falar a sério. O discurso talvez seja mais claro e isso ajuda, pois tenho por hábito brincar com duplos sentidos, às vezes triplos, quádruplos...

Mas ao falar a sério e não ser levada a sério, fico profundamente irritada. Especialmente quando acho – como quase sempre – que estou cheia de razão; especialmente quando, ao recordar histórias velhas, escondi as unhas para não ultrapassar os limites.

Mas não me venham com qualquer discurso do tipo "eu dou-te um beijinho e isso passa". Desde os cinco anos de idade que essa comigo não cola.

E, sim, hoje estou irritada e vim para aqui deitar tudo para fora. Antes que rebente!

Se me irrita solenemente que me tentem comer por lorpa, com base em deduções falaciosas, só porque de repente alguém teve uma dor de dentes, mais me irrita a atitude condescendente de quem me tenta tratar como se ainda não tivesse saído do cueiros, tentando pôr paninhos quentes nos meus ataques de ira, achando que já está tudo bem só porque sim.

E irrita-me tremendamente que as palavras não expressem nem metade da minha irritação. Ou então não estaria agora tão irritada. Se se é bruto, é porque se é bruto, se se tenta ser minimamente civilizado em casa alheia também não serve.

Foda-se! Também tenho direito ao meu ataque de prima-dona.

E irritam-me comportamentos de fuga. Quem faz merda, pede desculpa. Pode nem resolver nada, mas pelo menos fica bem.

Quase normal





You Are 45% Normal

(Somewhat Normal)









While some of your behavior is quite normal...

Other things you do are downright strange

You've got a little of your freak going on

But you mostly keep your weirdness to yourself



Já estou mais descansada :)))

Que pena não poder ir a Beja para tirar o resto das dúvidas...


....


Mas a parte do "esconder a weirdness" era antes de ter um blogue, claro :)

_____

*(roubado descaradamente na Ruiva)

2005-04-21

A arte de não cair da cadeira


política à italiana Posted by Hello



Ou a minha homenagem às proezas equilibristas de Silvio Berlusconi na política transalpina.

Recomendo
isto (de onde retirei a imagem). E tem som :)

E há mesmo!


(recebida por mail) Posted by Hello



Esta foi a máxima do meu dia de hoje...

(... e por isso volto mais logo que é melhor.)

2005-04-20

Esteticamente falando...


CalendrierXVdeFrance2004
Posted by Hello


(...)
A bunda são duas luas gémeas

em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
(...)


C. Drummond de Andrade – A Bunda Que Engraçada



Talvez por lhe encontrar muito pouca valia, não aprecio grandemente um homem nu, em descanso, visto de frente. Haverá sempre os peitorais, a boca, os olhos, a potência provável... Mas, esteticamente falando, não me encanta.

Mas há algo num cu, que seja magro e bem esculpido, ainda que generosamente carnoso, que me recorda sempre uma bela escultura onde não me canso de pousar os olhos, enquanto os pensamentos me fogem...

2005-04-19

A proposta da Vague


pois :))) Posted by Hello



«Tu queres lançar mais um concurso sob o tema, 'Juízo para quê e em que circunstâncias - dispa as suas fantasias sobre o assunto'»

Ora confiram lá se a
menina não tem boas ideias...

Num tempo que o tempo desfaz


aqui


Ser corpo do teu corpo, e morrer
Ser lua da tua noite, e brilhar
Ser chama do teu fogo, e queimar
Ser sombra dos teus olhos, e amar
Ser palavra da tua voz, e sentir
Ser sangue da tua carne, e nascer

Como os loucos que correm num tempo que o tempo desfaz
Corro eu, em ti

Vanus



Louca? Não... não... não... dançando nas nuvens, onde o tempo se desfaz.

2005-04-18

Despojos antigos

No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas pela noite calada
Vêm em bandos com pés veludo
Chupar o sangue fresco da manada


Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada


A toda a parte chegam os vampiros
Poisam nos prédios poisam nas calçadas
Trazem no ventre despojos antigos
Mas nada os prende às vidas acabadas


São os mordomos do universo todo
Senhores à força mandadores sem lei
Enchem as tulhas bebem vinho novo
Dançam a ronda no pinhal do rei


Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada


No chão do medo tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos na noite abafada
Jazem nos fossos vítimas dum credo
E não se esgota o sangue da manada


Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhe franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada


Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada


Zeca Afonso - Vampiros


Para a Mar:

"Maçonaria vai entregar lista de informadores da PIDE à Torre do Tombo"



Fico a fazer equilibrismo entre duas vontades. Por um lado, o temor dos bufos ainda estarem entre nós, disfarçados, a contabilizarem segredos depois trocados por misérias e dor; por outro, a ideia de que não pode haver futuro se não formos capazes de fechar as feridas do passado.

A maçonaria guardou até este Abril o segredo de uma lista com 3600 nomes. Três mil e seiscentos bufos que se acolitaram por este País fora, sangraram vidas, mataram destinos nas celas da PIDE/DGS.

Mas tanto pode ser o pequeno pulha que contou um mero conto a troco da velha cunha, como pode ser alguém ainda alcantilado em lugares de destaque de um regime que, melhor ou pior, fez a sua transição para a democracia sem dinamitar verdadeiramente as raízes do Estado velho.

A lista vai ficar em segredo. Precisa ficar em segredo? Talvez precise. Revelar hoje o que não foi dito em 1974 e nos anos seguintes, talvez só levante entre as massas a velha vontade inquisitorial que permitiu, se formos a ver bem, que os bufos se transformassem numa força oculta dos vampiros do poder, perpetuando as chagas de um regime baseado na lei do bufo, na lei do medo.

Não sei até que ponto a democracia conseguiu apear os vampiros. A lei da cunha e do segredinho continua por aí. Trocam-se favores numa lógica velha, tão velha como este nosso Portugal. Fazem-se e desfazem-se carreiras com base no boato. Fez-se a última campanha política bufando segredos de alcova. Dar 3600 nomes a bufos do regime deposto não serviria apenas para causar mal estar? E os bufos de agora? Alguém os contabiliza? E quando se fecham de vez as feridas ainda mal suturadas do País que fomos, tão parecido ainda hoje com o País que somos?

Os vampiros ainda aí estão. Os bufos sempre foram as suas armas, as melhores armas, porque toupeiras silenciosas, mesquinhas, fazendo da convivência e da proximidade a porta para os segredos a revelar. Os bufos de agora terão, talvez, ares de doutor, em vez de serem o padeiro do cimo da rua. Mas as lógicas que permitem que os vampiros continuem a engordar, abafam as histórias até um qualquer interesse as levar a público. Décadas depois de se conhecerem os factos, porque foram agora – e só agora – bufados os escândalos da Casa Pia? E este é só um exemplo. Mais haveria, nesta terra de vampiros e bufos. Haver uma lista de bufos velhos aberta a toda a coscuvilhice, resolverá verdadeiramente as lógicas subversivas que continuam a perpetuar as suas existências?

2005-04-17

Regresso...



Sentei-me na varanda, sob um sol que teima em estar mais quente do que seria conveniente e olhei o mar. Deixei os olhos espraiarem-se sobre o azul lá ao fundo, enquanto um cigarro me tremia entre os dedos acicatados pela brisa fresca do poente. Sobre os joelhos, mais um livro. Devorei uns quantos esta semana: as várias leituras em atraso, que se iam acumulando na cabeceira, sem darem espaço a todos os que já se perfilavam na vontade. A brisa desfolha-o. Abre-se à toa numa página perdida. O tema repete-se: o divino em nós...

Olho mais um pouco o mar, olho as gaivotas barulhentas, procuro os cheiros na brisa. Volto para dentro do apartamento perdido num oitavo andar e estico-me no sofá. Tento regressar ao livro mas já não o faço. Adormeço num sono leve, um sono repisado, um sono reparador.

Esta semana dormi e li. Li e dormi. Dei passeios na borda d’água, molhei os pés no mar... E voltei a dormir um pouco mais. Condensei numa semana meses de cansaços e sonos meios perdidos e um desgaste progressivo que me afastavam de mim e das minhas vontades.

Dormi profundamente as noites silenciosas, preguicei a sesta de boa vontade, folheei mais um livro, ou uma revista, vibrei com o Sporting de Portugal a ensinar aos ingleses do football como é jogar (bem) à bola. E dormi ainda mais.

Tentei escorraçar os cansaços e as desoras e as esperas e o trabalho que se acumula e a sem vontade que me persegue. Tentei deitar ao mar a brusquidão, a deselegância de mais um bocejo, a apatia. Tentei perfilar ideias, dar-lhes um fio condutor. Voltei-me para o divino em mim, mesmo não o encontrando. Procuro a Deusa, a magia, a inspiração...

Venho sem grande vontade para escrever, a cabeça plena de ideias, o corpo (quase) restaurado e um pânico medonho da Segunda-feira já aí. Ainda não dormi tudo. Preciso dormir mais um pouco para me preencher de vontade para aguentar até Agosto.

Venho perdida, de longe, do lado de lá dos sonhos. Estou por fora das conversas, das novidades, dos ritmos que se fazem prosa – e às vezes poesia – nesta Net de onde também é preciso saber fugir. Esconjurei o vício por uma semana, substituindo-o por livros e sonos e passeios na praia. Agora a curiosidade cobiça os desencontros, as notícias em atraso, as novas.

Uma semana pode ser muito ou pouco tempo: na ausência que senti dos blogues, leio a eternidade; na vontade de voltar a um oitavo andar, voltado a poente, sem horários nem peias, encerro a sua finitude.

Estou, ainda, com a cabeça cheia de ideias e uma sem vontade para escrever. Falta de ritmo, até de stress, ou da mania de ter a Voz actualizada. Ainda em ritmo de passeio, deixo aqui o obrigada pelos comentários que por cá encontrei. Amanhã será dia para pôr as leituras em dia. Uma semana de leituras... E desfazer as malas e preparar-me, com muito pouca vontade, para o regresso obrigatório ao dia primeiro do depois das férias. E a certeza de que não quero esta Segunda-feira que já está quase ai. Ainda tenho muito para dormir. Ainda estou cansada. Ainda não li tudo o que tinha em atraso. Ainda não encontrei o divino, o litúrgico; ainda me sobra espaço para me encher de mar azul e brisas frescas e mais um tanto de sono e de sonhos e de livros.

Chego ao Porto com chuva. Adivinho um céu cinzento, pesado. A Terra agradece estas lágrimas perdidas e eu só quero o aconchego de uma manta sobre os joelhos e mais uma semana de mordomia no sofá. Não vai poder ser: a labuta já me espera, em horas que começo a contabilizar, numa contagem regressiva que me atira novamente para o ritmo alucinante a que consegui escapar por uns tantos de dias.

Não me chegou esta semana. Quero mais. Mais espaço, mais mar, mais brisas, mais gaivotas, mais areia fina. E mais sono e mais livros e mais textos à moda antiga, com cheiro a papel e tinta e folhas que voltejam na brisa do fim da tarde...




____
(A
foto – infelizmente – não é minha... A máquina fotográfica fez greve. O facto de me ter esquecido do cartão de memória talvez a desculpe...)

2005-04-09

Lembrete




Uma das minhas idiossincrasias é a mania de guardar a roupa de verão quando o tempo arrefece, muito lavadinha, muito passadinha a ferro, com muitos sabonetinhos para ficar bem perfumada, para estar prontinha a ser usada caso precise dela.

Agora a merda da máquina não acaba de lavar e ainda vou ter de passar a roupa a ferro: estava tão perfumada que até me enjoava.

Foda-se! Será que não aprendo? É sempre a mesma merda quando chegam as férias de Abril...


___
imagem aqui

2005-04-07

Ciúme

A mulher é capaz de comer um prato cheio de canapés, equilibrar um copo de vinho, travar uma conversa com várias pessoas em simultâneo, E AINDA detectar uma troca de olhares de três segundos entre o Seu homem e uma loura que se encontra no outro extremo da sala.

Se o homem for suficientemente louco para se rir durante essa troca de olhares, ficará sujeito a uma vigilância cerrada durante o resto da noite.

Beatificamente, o homem não se apercebe de nada disto.

Quando ambos entram no automóvel que os levará a casa, o homem repara que a mulher aparenta estar um pouco taciturna.

Ele diz tentando meter conversa:
- Foi uma boa festa.

Ela replica:
- Bem, não há dúvida de que TU pareceste estar a divertir-te muito.


Deborah McKingley – Amor e Mentiras



Vamos lá então a saber:

Quantas carapuças foram enfiadas com a leitura do texto supra?

eheheheh

A culpa é do JPC

He came riding fast like a phoenix out of fire flames
He came dressed in black with a cross bearing my name
He came bathed in light and the splendor and glory
I can't believe what the lord has finally sent me

He said dance for me, fanciulla gentile
He said laugh awhile, I can make your heart feel
He said fly with me, touch the face of the true God
And then cry with joy at the depth of my love

'Cause I've prayed days, I've prayed nights
For the lord just to send me home some sign
I've looked long, I've looked far
To bring peace to my black and empty heart

Ah, ah, ah
Ah, ah, ah, aaaaaah!

My love will stay 'till the river bed run dry
And my love lasts long as the sunshine blue sky
I love him longer as each damn day goes
The man is gone and heaven only knows

'Cause I've cried days, I've cried nights
For the lord just to send me home some sign
Is he near? is he far?
Bring peace to my black and empty heart
So long day, so long night
Oh Lord, be near me tonight
Is he near? is he far?
Bring peace to my black and empty heart.

PJ Harvey - The Dancer


Claro que eu não sei pôr música no blogue, ou então já andava há muito a dar música a muita gente. Mas, depois da provocação, andei para aqui a tentar descobrir uma maneira de pôr a PJ a tocar. A ver que tal sai...






De qualquer forma, há bónus, que não arranjei a música certa :)))


E digam-me se a outra funciona, eheheh

(Caliope, thanks*****)

2005-04-06

Feroz Sorriso

I
Transforma-se o amador na coisa amada com seu
Feroz sorriso, os dentes,
As mãos que relampejam no escuro. Traz ruído
e silêncio. Traz o barulho das ondas frias
e das ardentes pedras que tem dentro de si.
E cobre esse ruído rudimentar com o assombrado
silêncio da sua última vida.
O amador transforma-se de instante para instante,
e sente-se o espírito imortal do amor
criando a carne em extremas atmosferas, acima
de todas as coisas mortas.

Transforma-se o amador. Corre pelas formas dentro.
E a coisa amada é uma baía estanque.
É o espaço de um castiçal,
A coluna vertebral e o espírito
Das mulheres sentadas.
Transforma-se em noite extintora.
Porque o amador é tudo, e a coisa amada
é uma cortina
onde o vento do amador bate no alto da janela
aberta. O amador entra
por todas as janelas abertas. Ele bate, bate, bate.
O amador é um martelo que esmaga.
Que transforma a coisa amada.


Ele entra pelos ouvidos, e depois a mulher
Que escuta
Fica com aquele grito para sempre na cabeça
A arder como o primeiro dia do verão. Ela ouve
E vai-se transformando, enquanto dorme, naquele grito
Do amador.
Depois acorda, e vai, e dá-se ao amador,
Dá-lhe o grito dele.
E o amador e a coisa amada são um único grito
Anterior de amor.


E gritam e batem. Ele bate-lhe com o seu espírito
De amador. E ela é batida, e bate-lhe
Com o seu espírito de amada.
Então o mundo transforma-se neste ruído áspero
Do amor. Enquanto em cima
O silêncio do amador e da amada alimentam
O imprevisto silêncio do mundo
E do amor.


Herberto Hélder – Tríptico (in Colher na Boca)




E se me perguntassem o que é o amor? Não saberia responder. Não numa resposta plena, que me agradasse por inteiro. Nunca saberia espartilhar o sentimento apenas numa palavra. Mesmo quando dói é tão mais que dor...

Amar é risco, é entrega. É escolha. É transformação. É pôr a alma a nu para o outro. É enfrentar os nossos medos de rejeição. É sentir a vida no sangue. É ter o coração a bater-nos forte como nunca. É magoar e ser magoado e ainda assim perdoar ou deixar-se ser perdoado. É escolher o momento, sabendo que se vive a eternidade. É viver para além dos quadros e das músicas e dos livros. E encontrar nos quadros e nas músicas e nos livros o retrato do nosso sentir...

E, acima de tudo, é rejeitar o conforto da solidão.





Mas nunca me chegam as palavras...

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2005-04-05

unclean thoughts

(...)well you'd never known love and you'd never known pain
but you found out that they were just like wine and champagne
you could drink a little more, then you hurt a little less
and you get that butterfly feeling underneath your dress
and your promises will turn into lies
then you will fly
my little butterfly

now i'm lying here babe on your side of the bed
and i've got unclean thoughts flying through my head
and i'm thinking about love, yes i'm thinking about pain
and i'm thinking about some way that i might feel good again
yes i'm thinking about my little butterfly

Lloyd Cole - Butterfly


autsch


Sempre jurei que nunca o faria, até saber que há juras que não podem ser feitas. E fiquei deitada no lado da cama que não era meu, a sentir-me, de alguma forma, impura, por não ter sido capaz de manter perfeita a relação sem penetras.

Mais ainda do que a pele, ou o coito, que até nem chegou a haver, pesaram-me todos os pensamentos que me fugiam para longe. E, no corpo, só de pensar, as emoções voltejavam por baixa da roupa, até às entranhas. E eu voei para longe, com um breve "não dá mais".

Amor e dor em pas-de-deux. E a traição como o acorde onde bailam os espaços finitos onde já não cabe a utopia. E saber que há sempre um fim, que lhe encontro sempre um fim, que o construo enquanto pensamentos pouco éticos e sonhos pouco nobres assumem preponderância sobre o amor instituído. E estas pequenas mortes estão sempre anunciadas, quando os pensamentos nos traem a insatisfação da rotina.

Fujo ainda. Das consequências, dos remorsos, desta consciência de que trai a palavra dada.

Fujo da minha condição imperfeita. Do saber que abri as portas da mente a um estranho, à magia da novidade. E, pesando embora a consciência, doendo ainda a dor que abertamente infligi, negando todas as verdades que eram nossas, soltei as amarras da imaginação. E parece-me certo que as mulheres não traem com o corpo. Já traíram muito antes, quando a cabeça pôs um fim e abriu os braços à promessa nova, feita corpo novo também.

Com os anos, sôfrega de bebidas cada vez mais requintadas, bebe-se cada vez um pouco mais para que doa um pouco menos. E aprende-se a construir o dia seguinte sobre as ruínas onde se vão soterrando as utopias adolescentes.

2005-04-04

Por falar em kilts...




Assim vale a pena...

Não basta saber escolher a saia. É preciso saber escolher o escocês, ora!





(vou mas é dormir, que não consigo comentar em lado nenhum)


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Babando...


CalendrierXVdeFrance2004 Posted by Hello



Acabei de descobrir que sou fã de rugby. Ou, pelo menos, da selecção francesa do dito desporto. Agora só falta aprender as regras. Talvez um dos rapazes não se importasse de me ensinar. Parecem tão simpáticos e jeitosos... hmm...

Ai ai!

Isto chegou-me por mail e não vou dizer aqui quem mandou. Mas quero, sem dúvida, deixar o meu enorme obrigada pelo sorriso de orelha a orelha – e outras coisas mais – que me despertou...

(e há mais... mas para já não mostro, eheheh)

2005-04-03

Fast-news

A TV prefere a repetição à análise e o mito ao facto. Estampa os seus ícones na nossa psique tão bem como nas paredes das nossas cidades. A homogeneidade espalha-se como um fogo florestal através da TV, já que ninguém quer ser apanhado fora de moda. Qualquer centro comercial é TV "de passagem". Sons, cores e formas de TV que são as expressões sensoriais da nossa sensibilidade colectiva. Mas a arregimentação televisiva da nossa sensibilidade assume outras formas, como os risos e aplausos enlatados ou, num nível mais subtil, as votações electrónicas. A maior parte do que aparece nos noticiários ou documentários é pré-digerido e apresentado num formato estereotipado para uma dentada rápida, como fast food. Não terá a TV criado uma cultura de massas, fazendo desaparecer o espaço da reflexão privada e autonomia de escolha? (...) a TV pode muito bem estar a pensar por nós...

Derrick de Kerckhove – A Pele da Cultura


Vou manter a televisão desligada por uns dias... À espera que uma nova notícia deixe a morte do Papa passar para os arquivos.

Vou manter a televisão desligada, à espera que não me contamine a memória do homem em demasia com este fogo de artifício de supérfluo.

Parece que às vezes vamos tendo mais "fast food" do que gostaríamos. Os enlatados estão em todas as prateleiras e a autonomia perde-se enquanto um "grande-cérebro" vai pensando por nós.

E até o "1984" parece desactualizado algumas vezes, enquanto a visão de Orwell e MacLuhan se complementam e superam mutuamente.

Talvez a "cybercultura" nos devolva algum domínio: sempre nos sentamos atrás de um "computador pessoal", sendo que o "pessoal" nos obriga – ainda que só algumas vezes – a regressar ao "espaço da reflexão privada e autonomia de escolha".

Aqui, pelo menos escolho que leituras fazer...

Ancient spirits are still speaking

The relationship with our time is based on the voyage, we feel not to be so different than the voyagers of early times like Marco Polo and Vasco da Gama, the time-space coordinates have changed, speed and technology have shortened the stages and we are forced by this age to be more superficial than our ancestors, nowadays gaining self-knowledge through the sensible world costs a great fatigue and self-denial.

We walk along a path that has its origins in very far times. Our aim is to keep alive what the past has given us in order to remember who we are, what we are, where we are going. Ancient spirits are still speaking.


Ataraxia Posted by Hello


Je te donne mes jeux parce-que je sais
que tu t'en prendras bien soin.

Descends comme un Dieu entre mes bras
et acueille-moi toujours acueilli,

élève-moi jusqu’a faire de toi et de moi
une guirlande des sens
imbibée,

d'humus, air, eau et de chaque fibre
qui nous modèle.


Ataraxia – Vitrage



(No site dos Ataraxia, podem ouvir amostras desta música feita para os deuses e mortais, inebriante e viciadora...)

2005-04-02

As regras da casa

Langdon não precisava de ser simbologista para ler os sinais que Vittoria estava a enviar-lhe. Durante a sobremesa de creme de amoras com savoiardi e fumegante romcaffé, apertou as pernas nuas contra as dele por baixo da mesa, enquanto o olhava com uma expressão mais do que sugestiva. Parecia querer que ele pousasse o garfo, a erguesse nos braços e a levasse para o quarto.

Langdon, no entanto, não fez nada disso. Manteve, imperturbável, uma atitude de irrepreensível cavalheirismo. Também sei jogar esse jogo, minha menina, pensou, disfarçando um sorriso.

Dan Brown – Anjos e Demónios


Põe a mesa para dois. Escolhe o vinho. Abre a garrafa e deixa-o respirar. Vê a temperatura, que não gosta do vinho frio. Deita num copo, prova. Deixa que o sabor se passeie pelo seu palato, banha a língua, deixa-o escorrer pela garganta. Nota o sabor de amoras silvestres, um bocadinho de amêndoas e um quase baunilhado. É bom!

Olha para a tábua de queijos. Prova um, depois outro e ainda mais outro. Estão deliciosos. Evita as tostas. Nunca gostou de misturar o sabor do queijo com as tostas. Tenta não aligeirar o pecado da gula. Lambe um dedo...


É pecadora por inteiro e recusa-se a tornar leves os seus prazeres e apenas se assusta com um pecado mal feito, mal trilhado, incompleto.

Ele olha apenas. Ou assim parece...



sedução Posted by Hello


Neste jogo de sedução, quanto é jogo, afinal? Em que parte desligamos o cérebro? Quanto, afinal, não é apenas pele?

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2005-04-01

A recomendação do dia


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Bem sei que ainda não tenho esta categoria instituída aqui na Voz, mas o texto – de ir às lágrimas – merece bem a recomendação.

Está no blogue do Espumante. E vale mesmo a pena!

(Pronto, eu confesso! Nunca estive num urinol desses a assistir a tamanha ousadia de ginástica e prodígios de tiro ao alvo sem fungadela...)

Mudando de assunto...



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Chegaram-me, via mail, algumas definições (quase) definitivas de algumas palavras que, com frequência, usamos de forma empolada. Eu uso, pelo menos. E, talvez por isso, não resisto a pôr algumas dessas definições aqui.

Para memória futura...


Amor: Palavra constituída por um par de vogais, um par de consoantes e um par de idiotas.

Amigo: Diz-se da pessoa do sexo oposto que tem esse "não sei o quê" que elimina toda e qualquer intenção de querer levá-lo(a) para a cama.

Dançar: É a frustração vertical de um desejo horizontal.

Desilusão: Quando o belo traseiro não coincide com a cara que se virou.

Fácil: Diz-se da mulher que tem a moral sexual do homem.

Ninfomaníaca: Termo com o qual um homem define uma mulher que deseja fazer sexo mais frequentemente que ele.

Língua: Órgão sexual que alguns pervertidos usam para falar.


(confesso: gostei particularmente da última, eheheheh)

Direito a morrer em paz




Há tanta coisa no pensamento deste homem com que não concordo que nem sequer vale a pena mencionar.

E, no entanto, tenho-o em conta de um homem bom.

Merecia mais respeito. Merecia – porque acho que o conquistou – o direito a morrer em paz, longe das vistas, dos boatos, das imagens embaraçosas de um corpo que já não pode mais suportar a dimensão de um espírito que já não quer lá ficar.

Acho um desrespeito para com o direito de qualquer um à decência, à preservação da humanidade que nos é intrínseca, o que andam a fazer à imagem deste homem.

Deixem-no partir. Sem exposições dúbias. Arranjem mas é outra forma de encenar as políticas das nomeações e sucessões.

Este homem merecia mais do que acabar recordado como um corpo decrépito empurrado para os olhos do mundo desde uma janela, arfante, silencioso, débil e caduco.

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