2007-02-28

Excessos



Apanhei ontem nas notícias, já nem sei bem em que canal que me vai faltando a paciência para ver de fio a pavio a "informação" tal como a entendem as televisões generalistas, a história de uma família que corre o risco de perder a guarda do filho de oito anos que, habituado desde a nascença a empanturrar-se apenas de merdas calóricas, já pesa quase cem quilos. E penso como somos uma sociedade de absurdos, farta em abundância e parca em bom-senso: de um lado, gordos cada vez mais gordos; do outro, gente que não se importa em matar-se para manter um índice de massa corporal minúsculo. E já nem falo dos países em que crianças passeiam enormes barrigas insufladas pela fome. Falo da sociedade que tudo tem ao seu dispor, menos juízo.

2007-02-27

Feio-Giro ©


Michael Wincott

Existe qualquer coisa que me fascina quando um crânio parece não querer ficar preso sob a pele que o protege, como se o desenho da caveira, a linha do maxilar, as maçãs do rosto, tomassem vida própria. São normalmente rostos inesquecíveis, mesmo que o nome se nos escape, corpos esguios e angulosos, presenças com substância. Quando acrescentam uma fabulosa cabeleira negra e uma voz rouca e quase assustadora, temos o típico bad guy dos filmes. E roubam quase sempre as cenas aos protagonistas simplórios. Como o Michael Wincott, a minha modesta contribuição para a série dos feios-giros da Luna.

2007-02-26

Bocejo


aqui

Está uma miúda já perfeitamente embalada nos braços de Morfeu a sonhar com o seu Adónis e, de um momento para o outro, toca o telemóvel e do outro lado está um passareco com problemas técnicos com o blogue. Ora bolas! Bem que se tenta voltar para o Morfeu e para o Adónis e, no fim, só sobram os Oscars. Raios! Duas horas e meia de sono, olheiras até aos joelhos e um bocejo do tamanho do universo todo dia. E nada mais resta do que hoje ir para a cama com as galinhas…

Obrigadinha, Gaivina. Grunft!

(e juro que não durmo com coisas daquelas e muito menos tenho adereços pirosos no meu quarto; mas a gaja é ruiva e escapou à moda da bulimia, o que me pareceu bem o suficiente)

Avó e neta violadas na Avenida



Uma tentativa de violação foi quase perpetrada ontem ao final da tarde, depois de em plena Avenida da Liberdade, uma adolescente envergando um blusão com capuz vermelho ter sido abordada por um membro do gang Lobos Maus.

A menor saiu de sua casa na Rua Ferreira Borges, em Campo de Ourique, cerca das 16 horas, transportando dois sacos do Minipreço com avios que sua mãe fizera para os ir entregar à sua avó que se encontrava engripada na sua residência, no 1º andar do nº 33 da Rua do Salitre.

Depois de sair na paragem de autocarro da Avenida da Liberdade, a rapariga avistou junto à esplanada um rapaz com 1,80 m, 78 quilos de peso, moreno e de olhos verdes e pensando tratar-se de um modelo ou de um actor de telenovelas acercou-se dele para lhe pedir um autógrafo.

Foto: Antonio/Olhares

O moço confirmou que frequentava um curso para famosos para se candidatar a castings para televisão mas que enquanto a vida dele não era isso operava nos Lobos Maus, um bando conhecido por limpar casas na cidade e fazer uma perninha na segurança e protecção às prostitutas da Baixa lisboeta. Conforme a própria confirmou à nossa reportagem, entusiasmada com as perspectivas que a conversa abria, aceitou ir por ele à Loja do Cidadão, nos Restauradores, para lhe arranjar os papéis para a renovação do BI já como Cartão Único enquanto ele colocaria as compras em casa da sua avó e esperaria lá por ela.

O meliante, chegado à malfadada casa da avó da menina, convenceu a senhora a abrir-lhe a porta com o seu habitual método de se passar por técnico da TvCabo para verificar a instalação e ao deparar com uma cinquentona muito bem conservada, em camisa de dormir e roupão de flanela que até lhe fez lembrar a tristemente falecida Anna Nicole Smith mas em moreno, pousou os sacos logo no chão da entrada e atirou-se à senhora com tal garra que a mesma, depois de uma espera de trés horas, foi assistida ao final da noite no Hospital de S. José, por ter sofrido escoriações várias de que resultaram 3 pontos na vulva e mais 9 no esfíncter.

Quando duas horas mais tarde a adolescente do capuz vermelho foi atendida e chegou a casa da avozinha, sentiu um intenso cheiro a feronomas no ar e encontrou o rapaz com o roupão da avó vestido mas completamente desapertado, exibindo claramente as partes baixas ainda revestidas de uma pelí­cula branca. Sentiu-se despeitada, como nos confidenciou e telefonou de imediato à sua mãe a contar o sucedido, a qual, por seu turno, ligou de imediato para o marido, que era agente da polí­cia, para tomar conta da ocorrência.

Instigada também pelos seus sentimentos de combate ao banditismo e criminalidade que grassam na nossa cidade, a menina do Capuchinho Vermelho telefonou também para a TVI e para a nossa redacção a transmitir a notí­cia o que lhe assegurou ser poster da nossa edição do próximo domingo, assim como um contrato para um anúncio televisivo de uma cadeia de supermercados.

(Este texto é o resultado da resposta da Maria Árvore a um desafio do Gaivina)

Claire, igual a si própria...












"Um carneirinho vitima de um encantamento de uma bruxa conversa com uma pré adolescente envergando um traje escarlate."

Pois, foi assim que a
Claire pegou no desafio, no seu jeito brincalhão... Como é perguiçosa para escrever, afinal é uma pintora, resolveu a coisa desta forma...

O Rouxinol


aqui

Conta Hans Christian Andersen que havia um pequeno rouxinol que vivia nos jardins do Imperador da China. E que chegavam visitantes de todo o mundo para admirar o Palácio do Imperador e os seus jardins. Mas saiam de lá maravilhados apenas com o cantar do rouxinol. Tão maravilhados que escreviam loas e trovas ao canto do rouxinol e livros e artigos e histórias. E esses textos chegaram às mãos do Imperador da China, que não conhecia o pequeno rouxinol, mesmo vivendo ele no seu jardim. Mas mandou buscá-lo e, ao vê-lo, quedou-se pasmado perante um pequeno e simples pássaro cinzento. Nunca o imaginaria tão vulgar. Mas o rouxinol cantou e nunca mais o Imperador soube viver sem o seu cantar... de tal forma que obrigaram o rouxinol a viver na corte, dentro de uma gaiola dourada, ainda que ele clamasse que o seu canto só ficava bem entre o verde das árvores e o azul do céu.

Então um dia ofereceram ao Imperador um maravilhoso rouxinol mecânico, cravado de pedras preciosas, banhado a ouro e a prata, que cantava quando lhe davam corda uma das canções do pequeno rouxinol verdadeiro. E o Imperador e a corte ficaram maravilhados perante a beleza de tal jóia, especialmente quando confrontada com a simplicidade do pequeno rouxinol cinzento e modesto. Tentaram pô-los a cantar em conjunto, mas a experiência não resultou: o pequeno rouxinol cantava livremente o que lhe ia na alma; o rouxinol mecânico cantava sempre o mesmo programa previamente decorado e ensaiado à exaustão, mesmo que cantasse sempre afinado e em bom ritmo e em perfeita correcção. Mas o Imperador preferiu o pássaro mecânico, até porque ele cantava sempre a mando, sempre o mesmo trecho, quantas vezes as pedidas e sem dar mostras de cansaço. Além disso, o pequeno rouxinol gostava de se escapar, desatento, pela janela fora. O Imperador achou, portanto, que fazia a melhor escolha ficando com o pássaro mecânico e fê-lo cantar de novo e de novo e de novo... até que a corda do seu mecanismo emperrou.

Anos depois, o Imperador adoeceu e não havia quem desse algo pela sua recuperação. Sozinho, no seu leito de doente, apetecia-lhe ouvir música. Mas o seu lindo pássaro dourado, coberto de pedrarias, não cantava, esgotado o repertório e as cordas do mecanismo, por mais que o poderoso Imperador lhe ordenasse uma música. Então, inesperadamente, pela janela aberta do quarto, entrou o mais maravilhoso dos trinados, que encheram o pobre e doente Imperador de canções de esperança e de conforto. E o corpo fraco do Imperador recuperou as suas energias, à medida que o pequeno e vulgar rouxinol lhe dava vida de novo com o seu canto livre, sem precisões de mecanismo de relógio, puro e belo na forma, no estilo e na vontade. Diferente a cada momento; belo e perfeito por isso mesmo.


(O Gaivina lá descobriu qual era o conto...)

2007-02-22

O bug


aqui

Manuel Oriental, 32 anos, sem filhos, a viver em casa dos pais desde que se divorciou há três anos, parecia sofrer de grave e duradoira dependência de vários giga bytes de música descarregados de vários sites sob cognome que preferiu não revelar. Os sintomas de Manuel Oriental eram variados, sendo que entre os mais comuns se encontrava uma insónia crónica motivada pela ausência de boa música e um enfado crescente quando não encontrava novidades após horas de buscas infrutíferas pela rede.

Os especialistas contactados admitiam que a dependência de Manuel Oriental pudesse vir ainda a crescer e degenerar numa compulsão de difícil controlo.

Quando questionado, Manuel Oriental admitiu que tinha uma fixação numa artista menor, cujo rosto rastreou por toda a world wide web, na ânsia de apor uma face ao que chama um trinado especial, uma melodia deliciosa, uma voz de encantar. Acontece que as buscas de um rosto para aquela melopeia doce deram origem apenas a um encontro com uns quantos pixel do que chamou uma cara em obras. Para Manuel Oriental foi um golpe violentíssimo, já que não conseguia acreditar que o seu anjo de voz melodiosa afinal tivesse aspecto de bug de sistema.

Por indicação de amigos, Manuel Oriental tentou encontrar cura no remédio da moda, uma tal de "pílula loira" que dizia que cantava, com as curvas todas no sítio certo, um decote até ao umbigo e uma boca sempre entreaberta. E Manuel Oriental, homem há muito em sabática da vida, confessou-nos que aquela imagem, mesmo com retoques de photoshop, o fez por instantes esquecer o bug que o atormentava. A pulsão pelo novo ícone tornou-se forte, acentuando as características de personalidade que começavam a incapacitar a sua vida social.

O sofrimento de Manuel era agravado pelo facto de se deparar por todo lado com fabulosos actos de vassalagem à loira que mimava o canto no rebolar das ancas e no estertor do solfejo mal aprendido. Manuel ligava o rádio e lá estava a loira de espanto; ligava a tv e lá estava também; procurava músicas na Internet e lá vinha outra vez o mesmo faz de conta que eu canto enquanto me olhas aqui para a fotografia. Para o Manuel começava já a ser um abuso de loira, um excesso de ilusão, uma afronta ao seu ouvido delicado.

Manuel, um crente que gostava de embalar os sonhos com música, embarcando nos braços de Morfeu ninado em harmonia, decidiu-se por um basta súbito que apanhou todos de surpresa, incluindo os especialistas que há muito examinavam as suas dependências várias em busca de cura. Foi então que Manuel Oriental desligou o rádio, desligou a tv, fechou os olhos e, enquanto a noite o chamava para o sono, só lhe calhou trautear a música do bug feioso e desengonçado.

No dia seguinte, toda a música que sacou não tinha uma cara bonita mas tinha, sem dúvida, o poder de levar o Manuel para bem perto das estrelas verdadeiras. Boa música, boa voz, cara feia, competência para além das curvas: finalmente Manuel Oriental estava curado e com o remédio onde primeiro se viciou.



(se descobrirem em que conto me inspirei, conto-vos outra história...)

2007-02-21

Gazeta dos dias vividos














O jornal “Correio da Manhã” pode ser uma fonte inesgotável de temas e desafios para a escrita. Constitui-se como um verdadeiro repositório do sórdido, do fenomenal e, por vezes, do transcendente; uma espécie de espelho da nossa sociedade. Isto sem menosprezo pelos jornalistas que se vêem obrigados a seguir uma linha editorial, muitas vezes contra a sua vontade. Mas, “trabalho é trabalho”.
Pegando nesta linha de pensamento, a Cláudia Sousa, uma mediadora do livro e da leitura na Beira Alta, fez um jornalzito chamado “Gazeta dos dias vividos”; composto de colagens de variadíssimos artigos de periódicos, claro está, com a presença de algumas tiradas do “Correio da Manhã”. Foi este o ponto de partida para um exercício de escrita criativa que teve lugar na “Livraria da Praça” em Viseu.
Agora imaginem, um artigo intitulado “Carneiro com 4 cornos” com a respectiva fotografia colado na folha de cartolina deste jornal improvisado. Desafio: Escrever a história para além da notícia. Um mutante? Um carneirinho vítima de um encantamento de uma bruxa? Extraterrestre? (qual é a tua versão da história?)
Outro ângulo, para um novo desafio proposto pela Cláudia: Transformar uma história tradicional num artigo de imprensa. Que tal o “Capuchinho Vermelho”?
Podia ser algo como:
“Hoje pelas 10 horas da manhã, uma pré-adolescente envergando um traje escarlate, deparou-se com um exemplar de Canis Lúpus numa vereda contígua à estrada nacional 116...”
Dá vontade de brincar com as palavras, não dá?

Uma nota triste: A casa das palavras, a “Livraria da Praça” em Viseu, vai fechar as suas portas no mês de Março. Obrigado amigos. Obrigado Fernando, por nos teres dado a diferença entre comprar livros e saborear as palavras.

Dia de pandemónio


aqui

O ano passado não acertei com a data. Este ano faço questão de não errar. Porque há sempre algo que nos traz de volta; porque há sempre alguém que nos importa assim tanto que, sem medir o esforço, nos dedicamos a abrir o blogue e deixar os dedos passearem sobre as teclas. E, sim, os dedos ainda sabem por onde ir; as palavras ainda aqui bailam, mais silenciosas mas presentes ainda. Com presença suficiente para o poucochinho que sei e posso cá de longe, com tanto quilómetro de permeio e as ausências e silêncios e esta coisa de estar sem estar realmente por aqui. Mas venho! Venho pela amizade… Haverá motivo melhor para interromper silêncios que esta vontade de te dizer, na data certa, parabéns Jaquelina Pandemónio?

2007-02-20

Fica aqui, Maria Árvore


Oh I wish I was a punk rocker with flowers in my hair
In 77 and 69 revolution was in the air
I was born too late into a world that doesn't care
Oh I wish I was a punk rocker with flowers in my hair

When the head of state didn't play guitar,
Not everybody drove a car,
When music really mattered and when radio was king,
When accountants didn't have control
And the media couldn't buy your soul
And computers were still scary and we didn’t know everything

When pop-stars still remained a myth
And ignorance could still be bliss
And when God Saved the Queen she turned a whiter shade of pale
When my mom and dad were in their teens
And anarchy was still a dream
And the only way to stay in touch was a letter in the mail

When record shops were still on top
And vinyl was all that they stocked
And the super info highway was still drifting out in space
Kids were wearing hand me downs,
And playing games meant kick around
And footballers still had long hair and dirt across their face

I was born too late to a world that doesn't care
Oh I wish I was a punk rocker with flowers in my hair

Que saudades, Maria Bonita!



Deixo-
te um beijo grande (enorme!) de parabéns, minha querida. E a secreta esperança de que ainda saibas o caminho para as casas de quem te quer bem e não te esquece.

Lá onde eu moro...












No bairro onde eu moro, os emigrantes juntam-se numa pressa de esquecer, tentando comemorar o Carnaval...
Eles são muitos, vindos dos recônditos desse enorme país que é o Brasil. Alguns há, que só conheceram o Oceano aqui, quando roubados à boiada de Goiás , pelas circunstâncias da vida. É neste “caldo” de muitas cores que eu vivo.
Uns querem ficar, elegendo a legalização como meta de vida; promessa de melhor existência no “El Dourado” da Europa que somos... Outros, apenas se regem pela aventura de um planeta de portas abertas, vivendo sem questionar; pois o que importa é curtir o momento.
Enganadora esta miragem de uma prosperidade sonhada. Em breve reconhecem os milhares de Portugueses que ao seu lado vivem existências igualmente duras e injustas.
Mas o contacto entre culturas vai-se fazendo e os pares de amantes de distintas origens vão surgindo, à velocidade do Amor.
É um mundo suburbano que vai ganhando corpo na nossa sociedade desbragadamente egoísta.
Se vos falo disto na Voz, é porque existe outra Voz, que nem sempre escutamos.

2007-02-15

Dedicatória



I sleep no more
I dream no more
There's nothing here
To wake up for
I talk no more
I sing no more
Don't function like
I did before

Jay Jay Johanson - She Doesn't Live Here Anymore

2007-02-11

Casulo de imagens













Enquanto esperamos pelo resultado do referendo, aqui fica uma sugestão para os tempos livres: O “Casulo de imagens”.

Uma oficina de Miguel Horta, onde se cruzam as artes plásticas com as artes do palco.

Usando a técnica dos slides directos, sugere-se um ponto de partida muito pequeno, uma película de acetato, para o começo de uma história construída colectivamente. Usando tintas de vitral, marcadores, pequeníssimos objectos (encontrados dentro e à volta da Culturgest), essa narrativa vai tomando corpo em diapositivos. No final, os slides serão projectados, entendendo-se o seu sentido cénico. Com a ajuda de grandes panos brancos (lençóis) os participantes transformam-se em projecções vivas das suas imagens experimentando o movimento em palco.
Um desafio à imaginação e capacidade organizativa do grupo que terá duas horas para construir a sua narrativa.

A primeira sessão, só para adultos, terá lugar na Culturgest dia 10 de Março pelas 14.30h.

Convém fazer a inscrição atempada para:
raquelribeirosantos@cgd.pt (mais informação em www.culturgest.pt – serviço educativo).

A ideia desta sessão só para adultos surgiu após vários protestos que afirmavam não existir nenhuma iniciativa para os “grandes”. Os “baixinhos” terão a sua oficina durante as férias da Páscoa (consultar programa on line). Qualquer dúvida, esclarecerei na caixa de comentários.


2007-02-09

SIM porque sim


aqui

É melhor acender uma vela do que maldizer a escuridão.
Provérbio


Porque há alturas em que ninguém pode perder a voz; porque prefiro o movimento à estagnação; porque só um caminho me parece realmente potenciador da mudança que ninguém ousa questionar como necessária; porque as palavras é o vento que as leva e de boas intenções sempre esteve o Inferno cheio,

Domingo não terei qualquer dúvida ou remorso e vou:

VOTAR SIM!

Silêncio na casa da Voz




Acordei. A casa estava vazia.
Ela tinha levado as roupas todas e o seu livro de cabeceira. Deixou a sua vasta biblioteca; não teve tempo para a empacotar... as urgências da vida são mesmo assim.
Agora, estou só nesta casa, desajeitado como todos os homens são. Não entendo nada da máquina das palavras e sinto falta Dela. O pior, é que todos os dias me chegam as palavras dos amigos: poderei eu responder em nome dela?
Acho que Hipátia se cansou ou, se calhar, secou-se-lhe o rio das palavras aflitas... Não sei... Estou sozinho no meio da sua casa sentindo o peso enorme que é ocupar um espaço grande; eu que vivia fechado naquele pequeno quarto de onde só saia quando a preguiça me deixava.
-Que vos posso dizer? Hipátia não está em casa e não vale a pena deixar recado. Mas posso ajudar? Eu... até me ajeito neste ofício de olhar a vida...
Não vá embora! Volte! Ensine-me a ocupar esta casa. Podemos escrever qualquer coisa juntos.
...Ou, talvez, ela mude de ideias...

2007-02-02

Silêncio



Yo que crecí dentro de un árbol
tendría mucho que decir,
pero aprendí tanto silencio
que tengo mucho que callar
y eso se conoce creciendo
sin otro goce que crecer,
sin más pasión que la substancia,
sin más acción que la inocencia,
y por dentro el tiempo dorado
hasta que la altura lo llama
para convertirlo en naranja.

Pablo Neruda - Silêncio

(fui...)

2007-02-01

Pirotecnia

Você é A Team : Você gosta de trabalhar em equipa. Amigo dos seus amigos, tem grande espírito de camaradagem e adora dar uma boa gargalhada. Porém, para quem está fora do seu grupo de amigos você acaba por parecer um bocado bizarro. Oh, mas o que é que há de mal numa explosãozita inocente para animar o dia?


Até os testesinhos-manhosos-leva-tudo-pela-mesma-medida já sabem que eu gosto de ver o circo a arder? Issa!...


(visto na
Jacky)