2013-06-30

you are free to do as we tell you



Às vezes acho que as causas motivadoras desapareceram e talvez por isso os partidos e os sindicatos nos pareçam hoje tão anquilosados. Não basta só reclamar contra a merda dos políticos que nos sobram; é ver que a causa está na merda em que se foi transformando o sistema que os pariu. E mesmo que continuemos a acreditar na frase de W. Churchill de que “a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas”, também temo que esteja hoje demasiado desacreditada e fragilizada na sua última encarnação para controlar as forças geradas por um dos mais velhos pecados: a avareza. E esta última crise tem-nos demonstrado vezes sem conta como um capitalismo desgovernado nos leva apenas em direcção ao precipício.

Ora, com os políticos que temos, só falta saber qual o primeiro a dizer que é preciso dar mais um passo em frente. Aliás, no caso concreto português, temos um homem que está farto de nos sugerir vários passos em frente e o resultado está à vista. O precipício tem agora mais um número: 10,6% do PIB. Ao leme em direcção ao abismo continua Vítor Gaspar. E podemos sempre alegar que não é bem um político, que é um técnico, que ainda há tempo e que no fim do ano as contas vão dar certo. Mas eu acho que Vítor Gaspar realmente acredita nas suas ideias económicas e que provavelmente nem entende porque os seus modelos, tão bonitos no papel, nunca batem certo com a realidade. Como também o acredito um bom técnico. Só que às tantas estávamos era mesmo a precisar neste momento de um brilhante político na pasta das finanças e já não sei se acredito que há uma coisa dessas. Para tal era preciso que não achasse o sistema tão minado, o compadrio entre grupos económicos e forças políticas tão sem açaimo, a corrupção tão galopante e a falta de uma ideia com força suficiente para dar a um qualquer político - ainda por nascer e fora do sistema entrincheirado que são os partidos - a força suficiente para se libertar das formas velhas e falidas e encontrar a forma nova de uma democracia regenerada para voltar a pôr ordem no sistema que devia servir o povo e não fazer do povo seu servo.

Depois e para complicar o que já parece quase impossível, ainda temos que até as próprias ideias estão sujeitas hoje em dia às regras da oferta e da procura, do melhor marketing, da visibilidade mediática. E de cada vez que a o marketing foi assim aplicado à política, tivemos que lidar com propaganda e esta sempre foi a melhor das ferramentas de todos os regimes que nada têm a ver com democracia.


Não, o progresso não está garantido. A única coisa que podemos ter como garantida nos próximos anos é uma crise sem estertor. E talvez seja só mais um dos tais casos em que é preciso bater no fundo. Mas o fundo não é bonito e vai doer e não devia ser admissível não termos ainda encontrado os anticorpos que não nos façam morrer antes das várias tentativas de cura. 

2013-06-28

Trimestre

Revolver by Isobel Campbell & Mark Lanegan on Grooveshark

Lá se foi mais um. Precisava dormir três meses e, ainda assim, acho que não chegava para recuperar deste cansaço que poisou, largou amarras e agora se transformou em lastro colado aos meus dias.

2013-06-25

Brasil



«O clima das manifestações está tão forte, que hoje no trânsito eu espirrei, o motorista do lado disse: "SAÚDE" o de trás gritou "EDUCAÇÃO" e todos cantamos o hino nacional.» 

 Jô Soares



2013-06-24

2013-06-23

Terra-Gate

madness you are, interrogate into hate operate into hate
tomorrow it's too late
and it's terra into terra-gate

 

Tirando o facto de esperarem que uma pessoa fique sentadita e quietita no seu lugar (PIL sentado? Esta gente passa-se!), foi um concerto do caraças! E, sim, como antes quando o Punk saiu à rua para mostrar a revolta de uma geração perdida, talvez faça todo o sentido ser agora que me calhou ouvi-los. Não são os Pistols nem nunca o quiseram ser. Já não é a mesma música. Já ninguém é o mesmo. Mas, caraças!, "Grandpa Rotten" ainda sabe bem como se faz!





2013-06-21

Pussycat


Uma gaja vai na vidinha dela dentro do seu carrinho em filinha pirilau e vê um maluco (literalmente) a descer a rua e a dar cabo dos espelhos laterais dos carros que estão à frente na tal da fila, virando-os para fora. Vê virar o primeiro, o segundo, o terceiro e sabe que a seguir é o bichinho de que é alegre proprietária a ser alvo de ataque. Uma gaja que é gaja tira o cinto, trava o carro e, obviamente, vai proteger a sua propriedade. Mas uma gaja que é gaja tem agora que enfrentar um maluco que quer porque quer dar-lhe cabo do espelho do carro e resolve empurra-la para fora do caminho. O pior é que esta gaja, que é muito gaja, foi criada com gajos, tem pavio muito curto e, ao sentir o empurrão do maluco, nem pensou duas vezes: fechou o punho e disparou de direita. Mas uma gaja que é gaja já não é fedelha e tem unhas compridas – pintadas de roxo, por sinal – o que não dá jeito nenhum para dar murros. Resultado: o maluco enfardou e fugiu, o espelho foi protegido, mas tenho três meias luas embutidas na palma da mão e os dedos sem conserto. Já desinfetei os golpes e pus gelo, se estavam em cuidado. Agora estou para aqui a pensar que tenho que aprender a atacar à gaja indo de unhas… mas viradas para fora.

Verão?


Qual Verão?

2013-06-20

Tempo



Tenho outro trimestre quase a chegar ao fim e ando sem tempo para nada. Como trabalho por objectivos, ando na luta, que ainda não se baixaram os braços. Mas porque nem tudo é mau, parece que vou ver outro concerto. Um que nunca pensei que fosse ver na vida. Um com dois músicos que pensei que tivesse nascido demasiado tarde para ter a sorte de ver ao vivo. 

2013-06-15

(des)avaliados

«Todos nós tivemos professores sofríveis. Uns eram cientificamente impreparados. Outros faltavam. Muitos não tinham qualquer competência pedagógica. A tantos faltava interesse e motivação. Por cada professor digno desse nome, tive dois que não mereciam estar numa sala de aula. E, todavia, estavam.» 

Rui Rocha - Delito de Opinião



Tive bons e maus professores. Felizmente, tive mais bons do que maus professores, começando por uma brilhante professora primária a quem devo muito do que consegui. As bases que me deram desde a escola primária foram suficientemente boas para compensar até algumas das azémolas que me apareceram pela frente. E porque tive maus professores a enxovalhar o brilhante serviço de tantos outros, defendi acerrimamente a sua avaliação, para que não ficassem com lugar os que o tinham por tudo menos mérito, enquanto os mais novos e tantas vezes mais competentes iam ficando sem emprego ou continuavam de casa às costas. Não foi implementada uma avaliação que separasse o trigo do joio e temo que muito por culpa dos professores que se comportaram à data como classe acéfala. Agora, estão na calha para o desemprego, sem consideração e sem respeito, sem avaliação, sem nada: só bode expiatório para um governo que quer deles fazer exemplo para que ninguém tenha a veleidade de protestar contra este ataque concertado à Função Pública que, um dia destes, se vai obviamente estender também ao sector privado. Um ataque a todos nós. Um ataque que só dá sinais de que vai piorar. E é por isso que, desta vez, todos precisamos ser professores: se eles caem agora, iremos todos a seguir.

O mundo caquinho de vidro

2013-06-12

Vida a preto e branco



Enquanto o Verão finge que chega para se provar logo a seguir sol de pouca dura, começo a ponderar as virtudes dos auto-bronzeadores cada vez que dou com o trombil (e as pernas, credo! as pernas...) logo pela manhã no espelho a que não consigo escapar porque a caminho do sítio a que ninguém consegue escapar pela manhã (se fizerem muito caso, eu digo que me estava a referir à retrete, mas é só se fizerem mesmo muito caso). É que eu a cores e se não estiver pintada tenho ar de alma penada acabada de sair da tumba. Assusto-me a mim mesma! Ninguém merece e logo pela manhã, ainda com a bexiga demasiado cheia. Sim, que o medo e as bexigas cheias raramente dão bons resultados e, com um olho aberto e outro ainda fechado, ver um fantasma desgrenhado não é exactamente o melhor dos bons-dias. Porque raios não me devolve o espelho imagens a preto e branco? É que nunca se notam tanto os defeitos, bolas! E a última vez que experimentei um auto-bronzeador fiquei amarela. E pior que uma alma penada a cores, só mesmo uma alma penada com ar de sofrer de icterícia.

WTF?

2013-06-09

2013-06-07

Ir ao sonoro



Quantas versões da mesma história é suposto vermos? Não importa! Assim como assim, acabo a ver todas e, desta vez, tenho o Ralph Fiennes para aguçar o apetite.

2013-06-06

Não lhe deve caber um feijão!



Somos uma gente alheada da sua cidadania, que entregou a democracia com enfado a uns quantos que põem e dispõem a seu prazer e seu interesse dos benefícios do poleiro (quantos "boys" é que foram mesmo nomeados em 2 anos?) e que se queixa, queixa e nada faz. Ainda por cima uma gente que costuma engolir qualquer patranha por verdade, sem nada questionar num sem-esforço de mascar e deitar fora. E é por isso que nem sei como ainda me espanto com um PM que diz não ter medo do povinho, porque ele, obviamente, não se sente povinho nem pensa que tenha que prestar contas ao povinho que o elegeu. Pergunto-me antes se os portugueses de quem PPC diz não ter medo vão, nas próximas eleições, voltar a preferir dar uma volta pela praia, ou ver a bola, ou calcorrear quilómetros num qualquer centro comercial atulhado de cheiro a sovaco ou, pior ainda, ficar em casa a insultar a televisão. É que talvez tenha chegado a hora de mostrar a quem nos (des)manda que, sim, têm de ter medo, têm de prestar contas, que a democracia é mais do que aprender a ser um ás no jogo do compadrio. A democracia é do povo, não é de uns quantos que o iludiram e tentam continuar a iludir com discursos em que ninguém pode alguma vez confiar. Mas, como em tudo, o povinho já esqueceu o que o povinho que veio antes lhe ensinou: apanha-se sempre mais depressa o mentiroso do que o coxo. Pena, pena é que, quando se acabam de lavar os cestos, o melhor que se consegue apurar é que a memória do povinho anda demasiadas vezes manca. Esperemos que, por uma vez, não se esqueça que este senhor acha que não precisa ter medo, que não precisa enfrentar o julgamento da democracia e do povo que insulta enquanto simula uma qualquer oração à santa das eleições perdidas.

(...)

 

Now I'm looking up from a ten-foot hole 
see nothing but blue sky, shining on my soul,
as I untie the cord and untwist the knot 
we could get where we're going, 
if I could just make it stop.

2013-06-05

Não faço a mínima ideia de quem é o autor!

Mas não resisto a partilhar aqui. Falta só dizer que me apareceu via FB e que se o autor passar pelo Voz em Fuga que se anuncie, que isto é bom de mais para ficar anónimo.

«Maria - Oh Aníbal, já leste os jornais? 
Aníbal - Li. 
Maria - Leste a entrevista ao Sousa Tavares? 
Aníbal - Oh Maria, o Sousa Tavares já morreu. 
Maria - O filho…! 
Aníbal - Mas o nosso filho deu uma entrevista? 
Maria - Não! O filho do Sousa Tavares que morreu. 
Aníbal - Morreu o filho do Sousa Tavares???? Temos que mandar flores. 
Maria - Foda-se Aníbal, Vê se me entendes: O Miguel Sousa Tavares, filho do Sousa Tavares que morreu, deu uma entrevista!!! 
Aníbal - Ah!!! Aquele que é jornalista!! 
Maria - Sim e advogado. 
Aníbal - Nunca gostei de advogados… e muito menos de jornalistas. Desse Sousa Tavares não se aproveita nada! 
Maria - Sim ok! Foi esse que deu a entrevista. 
Aníbal - É interessante a Entrevista? 
Maria - Então tu não leste? 
Aníbal- Ando aqui às voltas com jornal que deve ser de ontem. 
Maria - Qual jornal? 
Aníbal - O Tal e Qual. Maria - Mas esse jornal fechou há uma série de anos… 
Aníbal - Foi? Bem que me estava a parecer estranho o Joaquim Letria estar tão bem conservado… 
Maria - Não há paciência Aníba! Presta atenção. O Sousa Tavares chamou-te palhaço! 
Aníbal - Foi? Que mal educado. 
Maria - É so isso que tens para dizer? Não vais fazer nada? 
Aníbal - Vou! Tenho o número de casa do pai. Vou lhe dizer para ver se põe o filho na ordem…. 
Maria - Mas o Sousa Tavares já morreu. 
Aníbal - Mau Mau! Então como é que deu a entrevista? 
Maria - Puta que pariu esta merda! Para o que estava guardada!… 
Aníbal - Não precisas de te chatear. Se não conseguimos falar com o pai, falamos com a mãe… Conhece-la? 
Maria - Oh Anibal desce a terra. A mãe morreu há montes de anos! 
Aníbal - Não estava a falar da tua mãe! 
Maria - Nem eu, foda-se! Estava a falar da mãe do Sousa Tavares, da Sophia de Mello Breyner. 
Aníbal - Sim. Essa mesmo. temos o número? 
Maria - Foda-se! A mulher morreu!!! Percebes? 
Aníbal - Mais flores? Não temos dinheiro para isto… 
Maria - Esquece! 
Aníbal - Então e um tio dele? 
Maria - Um tio???? Qual tio? 
Aníbal - Por exemplo, aquele que é actor! O Sr. Contente! 
Maria - O Nicolau Breyner? 
Aníbal - Esse mesmo. Temos o número dele? 
Maria - Mas por alma de quem é que vais ligar ao Nicolau Breyner? 
Aníbal - Para lhe fazer queixa do sobrinho. 
Maria - Mas o Sousa Tavares não é sobrinho do Nicolau Breyner. De onde te saiu essa ideia? 
Aníbal - Tem o apelido da mãe, mas foste tu que falaste nele… 
Maria - Pois! Tu também tens o mesmo apelido da Ivone Silva e ela não era tua tia, pois não? 
Aníbal - Quem é essa? Não estou a ver. 
Maria - Não estás ver e não vais ver porque também já morreu. 
Aníbal - Foda-se! Mas o que é que se passa hoje? É só mortos! 
Maria - E eu devo ir a seguir… 
Aníbal - Não digas isso. É pecado. 
Maria - Pecado é ter que te aturar meu Palhaço. Ooops!!! Esquece a entrevista!»