2010-01-31

31 de Janeiro


aqui



Ao cimo da antiga Rua de Santo António, depois chamada do 31 de Janeiro, fica a Igreja que dá nome à freguesia onde nasci.



(oh manhã distante e breve, de que já quase nada sobra da ousadia!)

2010-01-28

Põe-te em guarda


Found at bee mp3 search engine


Grande parte da investigação criminal faz-se para a comunicação social, com o intuito óbvio de criar artificialmente o alarme social necessário à aplicação de medidas de coacção mais severas e de condenações mais duras.

As violações cirúrgicas do segredo de justiça traduzem-se quase sempre em vantagens processuais para a acusação e em prejuízos para a defesa.

Em muitos casos os arguidos já chegam condenados à audiência de julgamento, sendo eles que têm de provar a sua inocência e não a acusação que tem de provar a sua culpabilidade.

A culpa necessária à condenação já fora previamente demonstrada na comunicação social, e de tal maneira, que ao julgador não resta outra alternativa que não condenar os arguidos, senão acaba ele mesmo condenado a preceito por certos órgãos de informação, através da já consagrada fórmula tabelar - «polícia prende, juiz solta».


António Marinho e Pinto
Bastonário da Ordem dos Advogados



No meio disto, os sérios e honestos e bons profissionais - que tenho a certeza que ainda há - são arrastados para o lodo. Todos os anos se fala do mesmo e nada acontece. Todos os anos ficamos mais em guarda: os que ainda querem fazer bem; os que, do lado de fora, já nem esperam que dali venha bem algum.

2010-01-27

Il fumo saliva lento...



Son morto con altri cento, son morto ch' ero bambino,
passato per il camino e adesso sono nel vento e adesso sono nel vento....

Ad Auschwitz c'era la neve, il fumo saliva lento
nel freddo giorno d' inverno e adesso sono nel vento, adesso sono nel vento...

Ad Auschwitz tante persone, ma un solo grande silenzio:
è strano non riesco ancora a sorridere qui nel vento, a sorridere qui nel vento...



O sítio em si era maior do que qualquer fotografia me faria supor. Reconheci-lhe imediatamente alguns dos pormenores, de tantas vezes vistos em imagens de filmes, de livros. Ficava estranhamente desabrigado e, naquele dia de Março, das árvores que estavam à vista, escorriam estalactites de gelo como lágrimas. Parecia-me tudo cinzento, como se a fuligem se tivesse entranhado nos caminhos, nos edifícios, no próprio céu, nas lajes, naquele tempo parado. Não quero lá voltar. Nunca mais e não importa quanto tempo passe. Mas eu posso escolher não voltar. Demasiados não tiveram escolha em lá chegar sem nunca conseguirem partir. Ou talvez tenham partido no vento.

Vozes e outras vozes



O haloscan vai finar-se em Fevereiro e, por isso, finei com o halscan no blogue. Tentei salvar todos os comentários para a área de comentários do blogger e, com mais erro ou menos erro, mais duplicação ou menos duplicação, penso que consegui guardar tudo. Também fiz um "comment backup" para o caso de ter falhado alguma coisa, mas aquilo vem tudo desorganizado e não tenho tempo para andar a calcorrear cerca de 4500 comentários um a um.

Por qualquer lapso, ficam desde já as minhas desculpas. É que afinal o melhor deste blogue sempre aconteceu nas caixas de comentários e não queria mesmo perder nada do que por lá se passou nestes anos todos de partilha.

Quanto aos amigos que estavam habituados à caixinha pequenina e ágil, terão que habituar-se à janela chata e complicada, que não vos perdoo se, à conta disso, prescindirem de deixar rasto aqui no tasco. É que, a partir de hoje, só há vozes, que as outras vozes já se puseram na alheta.

2010-01-26

Dizem




dizem que a paixão o conheceu
mas hoje vive escondido nuns óculos escuros
senta-se no estremecer da noite enumera
o que lhe sobejou do adolescente rosto
turvo pela ligeira náusea da velhice

conhece a solidão de quem permanece acordado
quase sempre estendido ao lado do sono
pressente o suave esvoaçar da idade
ergue-se para o espelho
que lhe devolve um sorriso tamanho do medo

dizem que vive na transparência do sonho
à beira-mar envelheceu vagarosamente
sem que nenhuma ternura nenhuma alegria
nunhum ofício cantante
o tenha convencido a permanecer entre os vivos

Al Berto - "Dizem que a paixão o conheceu"

2010-01-25

Avatar


aqui


Porque gostei do Avatar? Porque é bonito. Ponto. A história é simples? É! Uma coboiada em que os índios finalmente ganham? Sim! Mas é bonito, não é? É, pois! Se recomendo? Recomendo sim, de óculos malucos e pipocas e tudo, que é assim que deve ser visto, muito verde, muito azul, uns olhos amarelos de gato ternurentos e a simplicidade daquelas histórias impossíveis em que, apesar do banquete de cor, afinal é preto e branco e sem cambiantes de cinzento. Ou porque há aquela coisa da teia da vida ou das preces que são ouvidas, ou os passos que são pintalgados de luz como se fosse uma qualquer yellow brick road a caminho de qualquer cidade esmeralda, feita árvore centenária. Ou porque as bestas não são bem bestas e a bestialidade tem antes um exosqueleto de metal e armas, tão parecido com aquela outra coisa do Matrix numa outra forma de desdenhar das máquinas. Ou a fuga sensorial para um mundo de faz de conta, que convém não esquecer que o real é sempre bem pior do que os filmes bonitos, os que nos entram pelos olhos dentro faustosamente coloridos, deixando o cinzentismo para depois da pipoca, ou dos óculos. É que a distopia não pode caber aqui, nestes óculos que nos levam para os verdes, para os azuis, para a magia de Pandora. Essa distopia está noutras histórias, que não são tão bonitas, nem coloridas, tira os óculos e vê felicidade, põe os óculos e está lá obedece. É que o filme do Carpenter não era bonito, nem a 3D. E nem acabava particularmente bem para o herói, apesar do dedo do meio bem erguido. E o herói nem sequer era bonito, com olhos amarelados de gato e azul estrunfe, com uma cauda tipo scart para o ligar e desligar da vida a cores. Mas também são precisas coisas simples e bonitas, para nos deixarmos ir com a cor e até comer meio saco de pipoca. A vida segue já a seguir.

2010-01-24

Que faríamos então?


(recebida por mail, desconheço a origem)

Pergunto-te o que faríamos, quando os silêncios já movem mundos com a energia que transmitem e um rubor faminto se espalha pelos corpos partilhados. E sinto o teu sorriso dizer-me que sopraríamos sussurros sobre as peles quentes, espantando a madrugada. Então - depois das palavras estarem todas ditas e depois dos olhares coscuvilharem as almas -, construiríamos laços de silêncio.



(repost; mas só do texto)

Ano do Tigre


Revista Macau


Como sei que as meninas I e Deep são da mesma colheita que aqui a Hipzinha, deixo-lhes as previsões chegadas lá do outro lado do Mundo.

(E obrigada, Noite!)

2010-01-22

Carta de Marear


(Midnight Choir)

Love me just like tomorrow relentlessly long to exist
Love me with a touch of the sorrow
That burst open to disappear with the mist


Leva-me a ver o mar, quando o mar que há dentro de mim rebenta em ondas. Leva-me para esse mar, quando ondas em mim já se quebram em praias perdidas no meu corpo. Leva-me até o teu chegar ser o meu chegar, fazendo do meu corpo praia, fazendo das minhas escarpas ondulação, fazendo dos nossos corpos maresia.

2010-01-21

WTF!


(clicar para ver melhor)


Ao fim destes anos todos, será que alguém acha que era agora que me dava para o plágio?

2010-01-20

PDI


(esta é minha)

Uma das coisas que os anos me foram ensinando é que não é preciso chegar sem remendo a qualquer lado. Um dia até conseguimos perceber que não precisamos sequer chegar inteiros. Basta, quase sempre, chegar.

A cabra


aqui

Já aqui contei que uma vez me ofereceram um livro chamado "Desperta a Cabra Que Há Em Ti". Pois fiquem a saber que, a partir de hoje, a minha cabra tem até despertador.

2010-01-18

Só isto


aqui

Não me interessa que me digam que o meu dinheiro vai ser desviado para os bolsos dos corruptos, ou que há mais militares do que médicos no terreno se a ajuda continuar a aparecer. Nem me importa sequer que me agridam violentamente com cada história com que se fabricam notícias e cada imagem a escorrer sangue. Ou que o que dei sirva para muito pouco. Ou que eu não seja mais do que uma gota. Mas sempre ouvi dizer que as gotas fazem um mar. E, quando damos, é também por nós que o fazemos. Quando estendemos a mão a quem sofre, é o nosso sofrimento que mitigamos, o desconforto de nos sabermos a salvo, da arbitrariedade que nos anula no sofrimento absurdo de outro humano tão parecido connosco, tão diferente na sorte. Por todo o cinismo que os anos colaram em mim, é também por isso que dou ainda. Para sentir que preservo a minha humanidade, que afinal o calejada que estou não impede que chore por gente que nunca vi, crianças que nunca abracei, velhos de quem não sei o nome. Se não estiver por eles hoje, quem estará um dia por mim?

Para lambareiros saudosistas


aqui

«A Imperial comprou a Regina, que entrou em falência em 1996, e relançou a marca na Páscoa de 2002.

O relançamento da Regina "foi um sucesso que ultrapassou todas as nossas expectativas", salienta a administradora da Imperial. "A Regina marcou muitas gerações. É uma das mais emblemáticas marcas de Portugal. Mesmo ausente do mercado seis anos, a Regina ficou sempre no imaginário dops portugueses".»


in, Expresso, 20/03/2009



Vejam aqui como podem comprar on-line. Quem é amiguinha, quem é?

Às vezes


Sometimes, Found at bee mp3 search engine

O Bartolomeu lembrou-me ali em baixo numa caixa de comentários este tema dos James e um concerto para onde fui quase arrastada e de que acabei a gostar muito. Por isso, vem para a primeira página.

2010-01-17

Parabéns, Miguel!


aqui


Fazemos assim: tu olhas para a gaja e eu olho para ele e não falamos mais do assunto :)

(Tem um dia feliz!)

2010-01-14

Exclusividade


aqui

A amizade tem fortes e longos braços e abraços e tentáculos e é um casulo onde só entram aqueles a quem quero bem. Não importam os defeitos, os feitios, as valias, as opiniões. Os meus amigos são meus.

2010-01-13

Haiti


Found at bee mp3 search engine

Se a imensidão do drama e o aumento exponencial de vítimas torna a hecatombe tão grande que não a conseguimos sequer imaginar, que se imagine então a dor calada nos silêncios defuntos e moribundos. Choremos com eles e por eles, mas que amanhã se faça alguma coisa para ajudar: que o preço de um pão, de um cigarro, de um café, encontre outro destino.

Simples




Às vezes, nem é preciso grande fogo de artifício. Só aquele aconchego de uma intimidade terna e doce que nos surpreende de mansinho.

2010-01-12

Shhh...


Julia Thorne

Não, não vou olhar-te agora! Nem farejar sôfrega o ar que me roubas enquanto examinas o olhar que não te quero dar. Não, não vou! Nem vou deixar que me toques, ou percorras o meu pescoço a passo lento, ou deixar que o nó do teu polegar se passeie levemente pelo contorno do meu peito. Não vou! Nem deixar que me derretas com o bafo morno que sopras por entre os dentes sobre os meus lábios. Ou pensar na tua língua, no que me faz a tua língua. Ou no bem que sabes. Ou no bem que me sabes sentir. Não vou, já te disse! Não vou olhar, nem derreter, nem descoalhar. Vou fechar os olhos e dizer que não. Dizer muitas vezes que não. Tantas vezes que tenhas de convencer-me. Com os teus olhos, com o teu cheiro, com o sopro morno do teu ar, com esses benditos dedos e a língua e forma como me prendes ao teu corpo. Não vou! Não vou sentir sequer contra o quente da minha barriga a tua força, enquanto digo não e me encaixo na tua virilha. Não vou! Não vou depressa nem olhar. Não vou olhar-te agora, já disse! Vou fechar os olhos e deixar que me convenças, que me leves, que me leves mais. Já posso olhar agora, amor?

2010-01-11

Votos


(clicar para ver melhor)



Aqui há tempos, espetei ali ao lado com uma coisa para os leitores que passam pelo Voz em Fuga dizerem se gostam ou não do blogue. Na verdade, a geringonça era suposto estar associada a cada post, para aferir como cada um dos textos era avaliado, mas dava-me cabo da estética da página e acabou por ir ficando só na lateral. Confesso que nunca lhe prestei grande atenção e, de vez em quando, lá dava conta que tinha tido mais um voto. Mas o estranho mesmo é que nunca me tinha apercebido que, se passasse com o rato ao lado das estrelinhas, aparecia um botãozito com a indicação dos posts mais votados. E espantoso mesmo é ver quais são os escolhidos, até porque sempre pensei que de alguma forma reflectissem as buscas que trazem até aqui incautos e, afinal, não têm nada a ver com a "best sex scene" ou com os "smiles eróticos".

Obrigada, gente! Eu também gosto daqueles dois textos.



(e descontem um voto, que era eu a ver se aquilo ainda funcionava)

1, 2, 3, diga lá outra vez

.

«Bento XVI enviou uma mensagem por videoconferência, apelando à defesa e promoção da família "baseada no casamento entre um homem e uma mulher".»

in, DN



O homem não fode nem sai de cima (tirando quando lhe saltam em cima umas malucas vestidas de vermelhinho para lhe combinar com os sapatos) e quer que os seus ministros façam o mesmo (excepto quando eles fogem com miúdas de 18 anos ou quando alguns explicam a PP que a pederastia afinal está em qualquer lado) e sai-se com coisas destas e espera que o pessoal não se ria da (das?) figura?

Pés gelados


aqui

Comprei umas palmilhas de cortiça, confiando no belo do produto nacional e, vai-se a ver, nem com palmilhas, nem com dois pares de meias, me safo: todo o santo dia os pés gelados e, senhores!, se os pés não aquecem, não há nada quente no corpito aqui da menina. As palmilhas, afinal, não sei se me convencem. Será que as meias para ski cabem nas botas? Duvido que consiga convencer alguém das vantagens de trabalhar de pantufas e botijinha de água quente. É que com o resto posso bem, mas o raio dos pés gelados…


(Oh Manel, tens alguma sugestão?)

2010-01-10

Filmes da década?


aqui

Que raio de listas são estas? É que mesmo expurgando o pedantismo mais do que evidente de algumas escolhas, ainda sobram muitas mais que não se entendem, especialmente pelas ausências. Na caixa de comentários, já alguém deu pela falta da trilogia de "O Senhor dos Anéis" (goste-se ou não, marcaram a década) e tantos mais que foram postos na borda do prato que, sinceramente, não chego a perceber o que será um filme digno de representar uma década. Resumindo-me aos que tiveram direito a ir aos Oscares (que já deixaram muita coisa boa de fora), onde estão por exemplo: Os Outros, Traffic - Ninguém sai ileso, O Pianista, Gangs de Nova Iorque, Mystic River, Sideways, Crash, Before Sunset, Good Night and Good Luck, Haverá Sangue, As Invasões Bárbaras, Infância Roubada, Monster’s Ball, Y tu mamá también, Hotel Rwanda, Corpse Bride ou O Fiel Jardineiro? E, sim, mesmo concordando com algumas escolhas e por isso não os referindo aqui, até a minha listinha é manhosa e incompleta. Mas eu não sou crítica de cinema.

Tempos pornográficos


aqui

Da mesma forma que, num repetente, todos viraram defensores das virtudes de crianças pré-adolescentes serem confrontadas com a origem do mundo segundo um pintor oitocentista ou se gritou censura porque num corso carnavalesco alguém não quis ver mulheres nuas, também se criticam fotografias de orgasmos em exposição. Não, nunca será por puritanismo. Isso não! Só não consigo perceber muito bem porquê. Será por o modelo não lhes cair no goto? Ou se for lá um polícia fechar a exposição e uma delegada do MP mandar retirar as fotos já vão todos correr a defender a "obra de arte"?

2010-01-08

Tico, acorda o Teco!

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«A deputada do PSD Teresa Morais defendeu hoje que a união civil registada entre homossexuais seria uma solução “equilibrada e tolerante”, e que o instituto casamento deve manter a identidade enquanto união entre homem e mulher.»

in, Público



Vocês desculpem, mas é que eu continuo sem perceber esta trapalhada(*). Que raios é o tal de "instituto" que deve manter a identidade? É que, daqui a pouco, devem estar a propor que regresse o "pai de família" e assim as coisas mantinham a identidade dos bons velhos tempos em que o casamento era para a vida, se confundia com o matrimónio e resultava a mais das vezes em dois infelizes.


O que vale é que já está e agora vai começar o ruído com outra treta qualquer.


(*)voltar ao tema não tem nada a ver com o facto de ser tão teimosa como uma mula quando se trata de defender coisas em que acredito, obviamente.

2010-01-07

Do casamento

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«Que eu saiba, o casamento vive dias difíceis de atractividade ao comum dos mortais - a mim, por exemplo - apenas por culpa de quem desde sempre teve o seu exclusivo. Que tal dar oportunidade a outros? Pode ser que o salvem.»

Bernardo Pires de Lima



Decididamente, eu nunca o saberia dizer melhor (e em tão poucas palavras).

2010-01-06

Da tolerância


aqui


Todos os modelos de organização contêm dimensões de exclusão. E, em certa medida, atrevo-me a dizer que o grau evolutivo de determinada sociedade se mede também pelo seu grau de tolerância ao diferente, ainda que a tolerância implique implicitamente uma relação de desigualdade, havendo um agente activo que tolera e um agente passivo a quem cabe ser tolerado. No limite, se houvesse igualdade real de direitos e deveres entre partes, a tolerância passaria a ser um conceito vão. E, ainda assim, não será bem mais frutífero aceitar (e tolerar) uma qualquer forma de discriminação positiva que concede, mesmo que a contragosto, direitos iguais para quem é (ainda) visto como diferente da norma-padrão? E porque será que um conceito – o casamento, para o caso – se transforma numa forma de exclusão simplificada, quando se aceita que se reúna – desde que sob outro nome – toda uma panóplia de direitos e deveres sob uma qualquer forma de contrato, mas intolerantemente se espera que se brinque com conceitos, arranjando novas denominações para uma realidade que, se a tolerância o permitir e os interesses instalados autorizaram, passará a ser exactamente a mesma coisa? Não chego a perceber como casamento passou, de conceito que casa, a conceito que separa, por mais fundamentação aparentemente racional e tolerante que aceita que se chame união, mas não permite que se chame casamento.

Teoria dos jogos

"um dó li tá quem está livre livre está"

Colo não colo, corro não corro espaço regaço de corro não corro, colo não colo.

2010-01-05

Para o ano, não há!


aqui


Uma miúda é simpática e coisa e tal e manda mensagens de Feliz 2010 para os números dos amigos que guarda religiosamente e transporta de telemóvel em telemóvel ainda mais religiosamente, para descobrir que a) o nosso número foi apagado; b) que telefonar também não é boa ideia, que ao fim de 10 minutos de conversa ainda não identificaram a miúda simpática, que manda mensagens e coisa assim.

O rochedo ainda rola

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«Deixo Sísifo no sopé da montanha! Encontramos sempre o nosso fardo. Mas Sísifo ensina a fidelidade superior que nega os deuses e levanta os rochedos. Ele também julga que tudo está bem. Esse universo enfim sem dono não lhe parece estéril nem fútil. Cada grão dessa pedra, cada estilhaço mineral dessa montanha cheia de noite, forma por si só um mundo. A própria luta para atingir os píncaros basta para encher um coração de homem. É preciso imaginar Sísifo feliz.»

Albert Camus, O Mito de Sísifo



Fez ontem cinquenta anos que morreu. Conheci-o lá para os meados dos anos oitenta do século passado. Não pelo Estrangeiro, que é por onde acho que quase todos lhe chegaram. Foi Sísifo quem me cativou. Até hoje, sei que o rochedo ainda rola e que encontramos sempre o nosso fardo. E não há como acreditar em qualquer alternativa a esta ideia magnífica de que é na nossa luta de cada dia, aqui e agora, que nos resumimos até sermos capazes de imaginar que Sísifo é feliz. Dono do seu fardo sem desculpas nem promessas em algo externo ao nosso eu e às nossas circunstâncias (ok, o Ortega também frequentou a minha adolescência e mais vale acabar o post antes que meta qualquer referência às Mãos Sujas ou ao Sangue dos Outros) como motor da felicidade possível. Não há Paraíso sem espinhos. Mas o Paraíso está em nós e na felicidade suprema de o realizarmos sem mediadores, ou o adiarmos para um dia que pode nunca vir.

2010-01-03

hmm...


aqui

Dou uma volta pelos blogues e sobra-me uma pergunta: haverá alguém que tenha tido um bom 2009?

2010-01-02

Luz


aqui

Gosto de olhar o céu ponteado de luz. Sabê-la distante. Sonhar um dia em que as distâncias sejam transponíveis num suave piscar, em que o tempo e o espaço se curvem a nosso favor. Imaginar que há mundos paralelos. Pensar em buracos negros como caminhos, em lugar de sorvedouros sem fim. Pensar a hipótese de outras rotas, descobrimentos sem encobrimentos das verdades, viagens ancoradas em astróides, encontrar a medida certa para um espaço sem fim, ou curvo, ou em expansão, ou em regressão. Imaginar o estrondo silencioso de todos os big bangs iniciais e a velhice brilhante de luzes que, às tantas, já se extinguiram. E gosto de imaginar que, lá longe, há uma hipótese de vida.

2010-01-01

... do resto da tua vida

A principio é simples, anda-se sózinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no borborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vaza
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.



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Bom 2010!