2009-02-28

Casa


aqui

No gigantismo do Cosmos, uma galáxia perdida. No recôndito dos seus braços exteriores, uma pequena estrela sem nada de original. À sombra dessa estrelinha, um pião azul e branco, ferro, rocha, poeira... Uma ilha habitada. Este planeta é a nossa casa e neste recanto de Universo, rodeados de cor e movimento, esquecemos com facilidade como a vida é, em si mesma, um acaso, um lampejo de génio da natureza, uma anomalia. Erguemos os olhos para o veludo gelado e estéril dos céus e sonhamos não estar sós. À espreita, à escuta, procurando o tal contacto que pode nunca chegar. Utopias feitas contra a solidão de bicho gregário que elabora deuses e quer ser imortal. E sonhamos caravelas novas em rotas para o infinito, enquanto a casa se faz prisão e o azul nos tortura os olhos de mocho que só sabem sonhar o impossível. Frágeis. Únicos. Improváveis. Não somos mais que pó. Pó de estrelas que se perdeu no lugar mais ermo. E se fez energia, movimento, reacção. Acaso, genes, enganos evolutivos que se provaram certos. Vida. Talvez um dia nos baste. E talvez nesse dia seja possível largar o lastro que nos sustêm.

Neste ano em que se celebra a astronomia, penso no tão longe que continuamos das estrelas, agrilhoados ao lastro que nos prende à Terra. E é menos do que ciência, ou engenho, ou vontade.

Embelecando

.

«O sistema informático da Procuradoria-Geral da República (PGR) sofreu um ataque de pirataria tendo sido detectada uma intromissão não autorizada no computador de um dos procuradores titulares do inquérito ao ‘caso Freeport’»

in, Sol



Ena! Agora é o computador que tem um trojan. E é só um?

Congressos


aqui

A crise também chegou às reuniões partidárias, cada vez mais mornas, sem interesse e sem piada. Lá se vai o tempo em que os congressos acabavam à batatada.

Vozes de outros blogues

A Razão do Mário Crespo

A primeira vez que lembro do Mário Crespo foi algures no início dos anos oitenta. Penso que ele estava a fazer uma reportagem num país africano e, em directo, alguém lhe mandou um valente empurrão que o fez voar para fora do écran com um sonoro e involuntário "FODA-SE!".
O Foda-se do Mário Crespo foi um sucesso na época, porque até então não se tinha ouvido um repórter a soltar palavrões em directo, mesmo que involuntários. Desde essa altura que acho piada ao Mário Crespo – um gajo que coloca Fodasses involuntários no ar é um gajo que merece todo o meu respeito, neste paizinho onde os Foda-se se dizem à boca calada ou à porta fechada, e cada vez menos em directo.
Recentemente o Mário Crespo escreveu um Foda-se. Foi no Jornal de Notícias. Desta vez não foi um Foda-se involuntário, foi mesmo à séria. Mais uma vez achei piada ao Mário Crespo. E como gajo que merece todo o meu respeito, aqui segue o seu mais actual Foda-se. Que pena não existirem mais Mário Crespos por aí…

(...)
Façamos de conta que o "Magalhães" é a sério e que nunca houve alunos/figurantes contratados para encenar acções de propaganda do Governo sobre a educação. Façamos de conta que a OCDE se pronunciou sobre a educação em Portugal considerando-a do melhor que há no Mundo. Façamos de conta que Jorge Coelho nunca disse que "quem se mete com o PS leva". Façamos de conta que Augusto Santos Silva nunca disse que do que gostava mesmo era de "malhar na Direita" (acho que Klaus Barbie disse o mesmo da Esquerda). Façamos de conta que o director do Sol não declarou que teve pressões e ameaças de represálias económicas se publicasse reportagens sobre o Freeport. Façamos de conta que o ministro da Presidência Pedro Silva Pereira não me telefonou a tentar saber por "onde é que eu ia começar" a entrevista que lhe fiz sobre o Freeport e não me voltou a telefonar pouco antes da entrevista a dizer que queria ser tratado por ministro e sem confianças de natureza pessoal.
(...)
Mário Crespo

Texto completo no Blogue A Razão tem sempre Cliente

2009-02-26

Lua nova


aqui

Há dias em que me sinto a afundar e chego a casa a boiar em cansaço e exaustão. E nem o cheiro da Primavera basta, mesmo que me force a recordar que os dias vão crescendo e esquentando e que o rio já não vai cinzento e que a humidade vai por fim desentranhar-se dos ossos e dos humores. Não chega a ser surpresa, claro. E com o anúncio de um fim-de-semana chuvoso, a astenia primaveril reserva o seu pedaço no meu calendário de luas.

Já cheira...

2009-02-25

E hoje não vou falar de futebol

Azure Ray - No Sign Of Pain

Da arte


aqui

O JPT lembrou bem! Por acaso recordam-se do que foi dito na altura sobre a possibilidade do Museu de Serralves fazer esta exposição?

Outras vozes.
Em fuga, ou não...


Partindo das suas reflexões solitárias, os filósofos recomendavam que seguíssemos as nossas consciências íntimas e não os sinais de aprovação ou condenação do exterior. O que interessa não é aquilo que aparentamos ser aos olhos de um qualquer grupo, mas sim aquilo que sabemos que somos. Nas palavras de Schopenhauer: «Uma reprovação só poderá magoar-nos na medida em que atingir o alvo. Quem souber que não merece uma reprovação pode e deve encará-la com desprezo.»
in Status Ansiedade de Alain de Botton

Ratas ao léu


(clicar para ver melhor)


Quem tentar entrar no antigo blogue da Maria Árvore encontra esta mensagem. Houve algum puritano – ou alguns, é difícil saber – que entendeu comunicar ao Blogger conteúdo obsceno. Este não é o primeiro blogue a que isto acontece, nem será o último. Há por ai muita mente cheia de medo da pornografia e cheia de hábitos higienistas. Alguns deles frequentam e mantêm blogues. Convém não esquecer.

2009-02-24

Puritanismos


Philip Hichcock


Acho quase sempre que a exposição gratuita do corpo pode ser um exagero, especialmente aquela legitimada pela paródia, ou do só porque sim. Já não acho o mesmo quando existe um objectivo claro para a exposição, que sempre me pareceu válido combater o tabu. Como penso demasiadas vezes que está validada a exposição do corpo feminino, que aparece vezes demais para vender até um garfo, não havendo uma contrapartida igual de exposição do nu masculino, como se ainda fosse feio ou pecado ou crime expor a genitália masculina. E os velhos símbolos da abundância romanos, ou a origem do mundo segundo um pintor oitocentista, ficam presos na visão encarquilhada de uns poucos, agrilhoados aos preconceitos de séculos de uma certa moral que se pretende reflectida nos bons costumes. Não chega a ser censura. É pior do que isso, porque a censura é facilmente combatida com a liberdade. É uma visão entranhada do que é feio ou do que é pecado. E pergunto-me se no Magalhães de Torres aparecessem só caralhos erguidos haveria tanta gente a falar. Como me pergunto o que diriam - ou se diriam alguma coisa - se em Braga o livro apreendido apresentasse uma imagem de dois homens (duas mulheres e ninguém diria nada, claro) em pleno acto sexual.

Pornográfica, afinal, não é apenas uma certa forma de ver o mundo, legitimando assim a validade de algumas imagens e não de outras?

2009-02-22

Crepúsculo

P J Harvey - Dear Darkness

Found at bee mp3 search engine

Seguindo o rasto dos corpos que se aproximam num espaço de respiração sustida. E as mãos, descendo de mansinho, cruzando-se possessivas sobre um peito que por fim suspira um breve ai.

Amanhã

Nick Cave & The Bad Seeds - The Ship Song
Found at bee mp3 search engine


Chega um momento em que volteiam a par, sôfregos, bebendo as gotas do orvalho do dia novo. E a manhã seguinte é sempre promessa, uma Tara ao romper do sol.

Sai mais um!

Sai mais uma resposta a um desafio. Vocês adoram meter-me em sarilhos, não é? Desta vez é a fabulosa menina tonsdeazul que me convida. E para que me convida ela? Convida-me a:
1. Colocar uma foto individual (tirada por outra pessoa, e não por mim).
2. Escolher um artista, ou banda, preferido.
3. Responder às questões com os títulos das canções do artista escolhido.
4. Escolher 4 pessoas a quem passar o desafio.

As perguntas do desafio e as respostas com os temas dos... dos... Deolinda! (Não é que sejam a minha banda favorita, mas são a minha melhor descoberta musical - e compra - de 2008.)

a) És homem ou mulher? Garçonete da casa de fado
b) Descreve-te. Eu tenho um melro
c) O que é que as pessoas pensam de ti? O fado não é mau
d) Como descreves o teu último relacionamento? (Último? O actual já dura há tantos anos que... ok... ok...) Ai rapaz
e) Descreve o estado actual da tua relação. Fon-fon-fon
f) Onde querias estar agora? Lisboa não é a cidade perfeita
g) O que pensas a respeito do AMOR? Não sei falar de amor
h) Como é a tua vida? Contado ninguém acredita
i) O que pedirias se pudesses ter um só desejo? Canção ao lado
j) Escreve uma frase sábia. Mal por mal

Não vou passar a 4. Passo só a quem me convidou a partilhar este cantinho com ela. Vá lá Hip, estou curiosa para saber qual a tua banda favorita e ver como te desenrascas com a foto!

Equilíbrio




No corpo, as emoções voltejam por baixo da roupa até às entranhas. Convulsam nervos e tendões. Espelham-se na pele arrepiada. Um pouco mais e é excesso. Um pouco menos e não me serve.

2009-02-21

Parabéns, JP!


aqui

Que treta é essa da velhice, Jaquelina Pandemónio? Então não são só "pedaços de papel celofane a embrulharem chupa-chupas lambidos"? És jovem enquanto continuares a coleccionar farrapos de alegrias, brilhos nos olhos, sorrisos a caminho de gargalhadas. E nós a fazermos-te companhia.

Tentem não seguir a tradução...

... a ver se conseguem!

2009-02-20

Oh meus amigozzz…


aqui

Experimentem pôr lá esta no écran do Magalhães. Talvez assim a senhora procuradora-adjunta lá do sítio já achasse que a piada tinha piada, não? Eu ia achar, confesso, se ao procurar "mulheres" me saísse algo assim tão cor-de-rosa. Mas, pronto, já percebi que o Magalhães só vem em azul.

Afonso Tiago continua desaparecido




Os seus amigos e familiares, aproveitando a agendada visita do Presidente da República à Alemanha, lançaram uma petição on-line, de maneira a garantirem que não há um enfraquecimento dos esforços para que seja encontrado o jovem desaparecido em Berlim. Por ele, pelos seus familiares e amigos – e também por cada um de nós, que pode um dia estar na mesma situação – sigam este link, assinem e divulguem, por favor.

2009-02-19

Da procriação como argumento

Já que o coito - diz Morgado -
Tem como fim cristalino,
Preciso e imaculado
Fazer menina ou menino;
E cada vez que o varão
Sexual petisco manduca,
Temos na procriação
Prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
Lógica é a conclusão
De que o viril instrumento
Só usou - parca ração! -
Uma vez. E se a função
Faz o órgão - diz o ditado -
Consumada essa excepção,
Ficou capado o Morgado.

Natália Correia


De cada vez que ouço um gajo (é quase sempre um gajo, não sei se já repararam) a invocar o argumento da procriação contra o casamento de pessoas do mesmo sexo (como antes fizeram contra a despenalização da IVG), passo-me! E talvez seja defeito meu, mas tenho sempre vontade de perguntar a essa gente se é capaz de dar acordo de cada espermatozóide produzido. Será que sabem onde foi parar cada um, desde que começaram a ter força nas mãozinhas para baterem umas punhetas?

Depois, olho à volta e vejo que a maioria das pessoas vai optando por um, no máximo dois filhos. Há muito que já não serve uma sardinha para alimentar um batalhão e agora os putos já nem são precisos para empurrarem o arado. Também deixaram de morrer cedo, coitadinhos, naqueles velhos tempos em que todos os dias badalavam os sinos pelos anjinhos. Agora nascem e crescem e vão à escola e dão despesas e exigem cada vez mais tempo, disponibilidade, dinheiro. No país real, os filhos evitam-se para que venham apenas os desejados e não todos aqueles só desejados por Deus Nosso Senhor (por falar nisso, que se passaria com o sistema reprodutor do S. José?) Ora, com tanto pouco filho a nascer, não há como não me lembrar sempre do soneto da Natália Correia: se o Morgado só tinha um filho, então o Morgado estava capado. Isso ou impotente, que acho que também servia. E lá se vai a lógica da procriação!

Além disso, eu conheço homossexuais com filhos; e lésbicas com filhos. Mas conheço muitos mais heterossexuais de ambos os géneros que nunca tiveram filho algum. Aliás, eu não tenho filhos. Será que entro no grupo dos rotos pecadores, destruidores da espécie (às tantas também da raça) por não foder como um coelho (oh caraças! o coelho era dos outros!) e parir como um rato? E, já agora, que ando eu a fazer aos meus óvulos, coitadinhos, a deitá-los fora todos os meses?

Mas o corolário é mesmo a treta da "procriação no seio da família". Cada vez que ouço, até me arrepio. É que foder e ter filhos há muito que (já) não obriga a casar. Aliás, nunca obrigou, nem quando o nome do pai aparecia substituído por um asterisco ou a palavra incógnito no BI, ou os senhores abades criavam um harém de afilhadas. E o casamento tradicional até pode estar em crise há muito, mas isso nada tem a ver com orientação sexual. De figura única para desenhar o núcleo familiar, passou a conviver com variadíssimos tipos de organização dessa mesma família, em diferentes combinações, e nem por isso deixam de aparecer filhos e de serem criados filhos e de haver uma família de facto. Pode ser diferente, mas funciona e tem-se provado viável. E, para muitos filhos, acaba por ser a opção mais saudável, bem melhor do que quando tinham de conviver com pai e mãe agrilhoados a um casamento acabado, aos gritos um com o outro, enquanto se mutilavam emocionalmente deixando as sobras para as crias.

Oh!



Há dias em que ao descobrir o Voz em Fuga linkado em algum outro sítio fico muito espantada. E babada também.

2009-02-18

9 menos 3 são 6

A Marie desafiou-me também a apresentar nove afirmações sobre a minha mui interessante pessoa, mentindo em três delas. Aqui vai o que me ocorreu:

1. Pensei colocar nesta lista alguma verdade sobre sexo.
2. Não estou satisfeita com a minha vida profissional.
3. A minha sopa favorita é caldo verde.
4. Gostava de dar a volta ao mundo.
5. O meu marido é o meu melhor amigo.
6. Nunca gostei de curtas-metragens.
7. Gosto mais do Brad Pitt do que do Keanu Reeves.
8. Passei muitos anos a escrever poesias.
9. Já me ri mais.

Vejam lá se adivinham quais as minhas três mentirinhas!

Era suposto eu tentar adivinhar em que mentiu a
Marie, mas como só hoje tive tempo para andar por aqui, também só hoje lá fui espreitar e comentar. Conclusão: já vi nos comentários quais são as mentiras dela. Ups!

Hoje apetece-me. Passo a mais nove mentirosos:
Alien
aNa
Claire
Fernando Lucas
info-excluído
Rosa
susanagar
tonsdeazul
Zu

Nota final aos visados: sem qualquer obrigatoriedade, tá?

(...)


aqui

As cameleiras já começaram a florir...

Verdades e Mentiras





  1. Verdadeira: dizem que à primeira todos caem mas, depois, só cai quem quer. Aconteceu-me o mesmo com o ponto 1 da lista, ainda que tenha sido vontade do destino que nem dessa vez tenha dado o nó.


  2. Mentira: pois, esta era fácil: já toda a gente apareceu na televisão. Nunca fui entrevistada na rua, mas já houve outras coisas que, agora, também não importa precisar.


  3. Verdadeira: o encontro podia não ter lá muito interesse – ou então era o gajo que não tinha – por isso é mesmo verdade que adiei o encontro. Adiei várias vezes aliás. Uma delas disse a mim mesma que era por a casa estar desarrumada. A ele não dei explicações e, finalmente, desistiu de tentar encontrar-se comigo.


  4. Verdadeira: importa dizer que, no que respeita à afirmação feita neste ponto, estava a pensar em coisas tipo rapel, escalada e slide (que já fiz), cannoing (que já fiz também), bungee jumping (idem) e afins. Depois de ter partido 5 vezes cada pé, o pára-quedas é que nem por isso – o que lamento muito – mas ainda posso dar uma de Jack Nickolson ou Morgan Freedman no The Bucket List lá mais para o fim da vida. Mas se repararem está lá o "quase". Por isso, no sentido que pretendia com a afirmação, esta é verdadinha.


  5. Verdadeira: não é preciso grandes explicações para as fobias, pois não?


  6. Mentira: podia ter acontecido, não fosse eu ter medo de morrer afogada, lol.


  7. Verdadeira: não é coisa de que me orgulhe por ai além, até porque sou uma monogâmica compulsiva, ainda que em monogamias sucessivas. Mas também não entendo a infidelidade apenas como um acto sexual fora da relação. Entendo-a como um estado de espírito e uma disposição para o outro, aquele que nos merece todos os pensamentos. E, no final de uma relação provavelmente já acabada há muito, dei por mim a só pensar noutra pessoa. Após um encontro que chegou a ficar demasiado acalorado, entendi que já havia mais do que razões suficientes para um basta, antes que tivesse de ser ainda mais desonesta com quem não mo merecia. Mas nunca tive sexo com outro parceiro enquanto tinha uma relação com outro. Sei que, para muitos, talvez só assim pensassem em infidelidade. Eu não.


  8. Mentira: não tenho jeito nenhum para o engate. A verdade é que sou demasiado distraída sequer para dar conta se alguém me está a tentar engatar, quanto mais para prestar atenção em quem poderá ser engatado. Depois, não me vejo a partilhar intimidade com alguém de quem não saiba minimamente como funcionam os neurónios.


  9. Verdade: talvez tenha mesmo pé de Cinderela. Mas o mais provável é ter mesmo mamas grandes e pé pequeno.

2009-02-16

Desafiada


aqui


  1. Já fui pedida em casamento três vezes e aceitei uma das propostas
  2. Nunca apareci na televisão
  3. Já adiei um encontro porque tinha a casa desarrumada
  4. Já experimentei quase tudo o que queria menos saltar de pára-quedas
  5. Tenho medo de morrer afogada
  6. Já fiz amor dentro de um barquinho a remos bem longe da praia
  7. Já fui infiel
  8. Já engatei um desconhecido num bar
  9. O meu número de soutien é maior que o meu número de sapatos

A Maria Árvore desafia-me para um meme. Tenho de fazer nove afirmações, sendo que em três delas não estou a dizer a verdade. E ainda tenho de supor quais são as mentiras de quem me desafia. Por isso, aproveitando a insónia - mas dando o devido desconto ao sono que vem vindo, já que posso não estar a ver bem os três dela -, acho que a Maria Árvore não diz verdade na 3 (a primeira três, a da loja do cidadão, que o pezito debaixo da mesa… ui,ui!), na 5 e na 8. E deixo acima as minhas respostas. O pior mesmo é ainda desencantar 9 alvos a quem destinar isto. Mas, pronto, vai tentar-se:

2009-02-15

Sal

Tindersticks - Tiny Tears
Found at bee mp3 search engine

(Mesmo lágrimas pequenas fazem um oceano, fazem um mar. Mesmo quando se ama muito alguém, conseguimos magoar.)


E o tempo que já não há para o nosso bem-querer, tempo que se desperdiça em acasos e programas e ocupações e uma agenda sempre demasiado ocupada para aquilo que verdadeiramente importa.

(Mesmo as lágrimas pequenas fazem um oceano, fazem um mar.)


E é então que, como que num lampejo, nos resolvemos a olhar, olhar mesmo, o que está ali debaixo do nosso nariz e há demasiado tempo não éramos capazes de ver. Porque há dias em que nos é impossível olhar para o outro lado, já que o risco de nos perdermos a nós mesmos é intolerável.

(Até as lágrimas pequenas são salgadas. Até as lágrimas pequenas fazem um oceano, fazem um mar.)


E, por sorte – uma sorte maravilhosa, a que nos esquecemos de dar valor – nem todas as lágrimas pequenas, as tais que fazem um oceano, que fazem um mar, são lágrimas de tristeza.

Pontos cardeais 2

Pontos cardeais



lights around some smiling faces...
explosions fall upon deaf ears,
while we’re swimming in a sea of shame...

under moons of a lover’s sky...
it’s a complex fashion for a simple man,
but here is no hell like the wise men’s hell...

here is no god like the weak ones god...
here’s no hell for me...
prayers break the sky in fragments,
but our sky wraps seas around...

I haven’t read the wise men’s books,
but I know how deep your are in me...

and you will always be...
in me...
just follow my cardinal points...
Golden Apes

2009-02-14

14 de Fevereiro

Tindersticks - Waiting for the Moon
Found at bee mp3 search engine

We know this place... where we are... doesn’t matter
We know this place, we’ve been here before

The stars are out waiting for the moon
The stars are out waiting for us

Pull the blanket now, creep down the stairs
Don’t wake the little ones, the lazy cats, the mice are in their homes

The stars are out waiting for the moon
The stars are out waiting for us

Ease this raging mind, this raging love
Sometimes it feels like a knife, but not tonight
Sometimes it turns like a knife in me, not tonight

The stars are out waiting for the moon
The stars are out waiting for us

2009-02-12

άλφα (ou uma pequena piada privada)


aqui


E não é só do tamanho da pistola!
O Ministro desafiou.

“Lavar o pátio à mangueirada era uma boa coisa: animais e crianças espalhavam-se com satisfação quando as tinas, cheias de sabonária, inundavam o chão, e o mais pequeno de todos, Spiuni, corria vacilantemente, fugindo e guinchando, feliz, através das lágrimas, quando a água lhe apanhava os calcanhares.”
In Enterrem-me de Pé, Isabel Fonseca

E eu, animada, fiz-me.

Lavar, lavar, lavar.... Ela não fazia mais nada, senão lavar. Lavou escrupulosamente cada cantinho da cozinha. Só assim, sem parar de lavar, conseguiu tirar as nódoas de sangue do chão e das paredes.

Mais tarde havia de lavar o pátio à mangueirada, para ser um lavar diferente. Para purificar a alma. Agora tinha de se desfazer das roupas e de mais umas quantas coisitas. Nada de deixar fosse o que fosse ao desvario. Nada. Tudo tinha de ser meticulosamente pensado a partir de agora. Afinal, um erro fora cometido. Um erro. Não tinha sido de propósito, estava inocente. Testemunhas não as havia, se assim fosse seria mais fácil provar a sua inocência. Sem elas quem acreditaria em si?

Mais tarde havia de lavar o pátio à mangueirada. Sim. O pátio. Todos gostavam do pátio. Um local de reunião, de brincadeira, de alegria. As crianças adoravam. Sobretudo o mais novo. O seu pirolito lindo era quem se divertia mais. Os cães juntavam-se-lhes sempre, correndo e ladrando de alegria. O pátio parecia um ringue de patinagem artística, pois a água com sabão tornava-o propício a verdadeiras demonstrações artísticas.

Ah! Que satisfação era pensar naquele pátio e na festa que era sempre lavá-lo à mangueirada. Mas... Mais tarde. Mais tarde que agora uma nuvem cinzenta tinha-se-lhe apoderado do espírito. Outras "lavagens" lhe ocupavam a mente.

Lavar, lavar, lavar.... Mais tarde. O pátio. As crianças. Não. As crianças, não. Vermelho. Medo.


E agora, podemos ler o Mundo?




-O que é ler o Mundo, Avô?
-É entender-lhe os sinais espalhados um pouco por todo o lado.
-Mas todos os lados não cabem aqui no nosso pequeno quintal...Se calhar teremos que procurar noutro lado?...
-Pois...
- Já sei! Encontramo-lo no computador do mano ou na televisão.
- Ou...talvez num livro... – disse o Avô.

E de repente, ler deixou de ser uma tarefa apenas lúdica, trazendo consigo laivos de um prazer primordial que só o nosso silêncio interior pode descrever.
Ler passou a ser luta, necessidade de viver, factor de integração e arma secreta numa ascensão social muda, lenta mas imparável.
Ler abriu horizontes de imagens a pessoas atentas às palavras que no seu recolhimento iam construindo filmes rolando a toda a velocidade, projectados no córtex da imaginação, onde o autor é só uma espécie de argumentista e pretexto para um guião.
Ler largou a gargalhada e o gozo no entendimento do jogo ou na subtileza da piada e, sem darmos por nada, ler deixou também a alma desgraçada, encalhada como um barco num recife de tristeza.
E ler transportou consigo outras emoções e lembranças, da menina das tranças e dos cheiros do pão-de-ló da Avó que já não ouve mas lê as receitas de óculos encavalitados sobre o nariz adunco.
Eu li! Eu li os recados da mãe para não me esquecer do pão. E li a ordem do patrão num ofício amarelado. Eu vi-me atrapalhado com as pequenas letras dos contratos que me deixam farto... e lá entendi a bula porque me doía um dente. E enviei mails a toda a gente anunciando como um rei o nascimento do Vicente e todos os amigos leram alegremente nos ecrãs de plasma digital este pequeno dia de Natal.
E para dizer a verdade eu estou farto de ler os testes psicotécnicos, não os vou preencher! E o professor que me desculpe mas substituí
o exame por um poema. Não rima! Mas é sincero: Tas a topar meu? A coisa que eu mais gosto de ler são as mensagens da chavala, ali preto no branco em Times Romano Bold para encher a minha vida de Amor logo pela manhã. E quando o meu filho nascer eu quero que saiba ler a palavra Pai, pois muito tenho lido sobre ela, sem a entender.
E Sónia na solidão da cela, lendo um retrato que não é seu, mas de um homem, Dorien, tão igual a outros que conheceu, tão vaidoso...vai treze: tão violento afinal...
Mas porque é que até no sexo devemos saber ler nas entrelinhas?
Eu agora só quero que me leias um livro em voz alta e me ames depois pela noite dentro, pois hoje é fim de semana!
E sempre aquele sabor a leite com chocolate vindo da minha infância, cada vez que me lembro do corsário escarlate da colecção Emílio Salgari: juro que li mas estava com febre, privilégio de quem se encontra confinado com um livro ao seu lado por imposição da maleita.
“E eles nem sabem nem sonham que o sonho comanda a vida e sempre um homem sonha o mundo pula e avança nos braços de uma criança.” Yô! O Gedeão mora lá no fundo do bairro, batendo sílabas sempre entre dentes, sedentos de poesia numa ilha feita gente. É uma forma de leitura bem entendida pelos residentes...
E ler impele as crioulas “mais velhas”cansadas subindo a calçada do Moinho para aprender a ler o português na Biblioteca e trazem seus lenços garridos de badia amarrando promessas no cabelo crespo.
E que dizer daquela criança que entretanto descobriu que os livros contêm histórias, mais interessantes que as do televisor, substituindo a Avó que de cansada adormecera, embalada nos contos que em tempos escutara?
E aqueles outros que são tão estranhos que nos parecem tão familiares? Sim, os deficientes. Quem disse que as suas mentes não lêem um mundo normal?
E eu que tenho que mediar o livro com o poder tranquilo dos afectos, adivinhando pelo brilho do olhar o futuro leitor parado à minha frente.
Ler trouxe consigo o escrever, afirmação gráfica de vontades por estabelecer, fidelidade a vozes que surgem lá do fundo sem explicação, ditando um novo parágrafo ou uma opinião.
E leio o romper do sol em cada dia que renasço só para entender este Mundo onde agora me acho.

-Avô?... Podemos falar agora sobre o Mundo?

Miguel Horta
Janeiro de 2009

2009-02-11

Voz de Ouro!

Sim, ouro, dourado, brilhante, tipo decorações de Versalhes. Mas não 'tou a imaginar o Voz pintado assim. Ai que a Hipatia cai para o lado! Acalma-te Hip, não vou mudar a casa. O dourado é do prémio que a Suse do Xanax atribuiu a este cantinho que me acolheu. Vês?

Quem o transformou num Blogue de Ouro foste tu, Hip, por isso... Parabéns!
(Já agora, se quiseres fazer as honras e nomear 5 ilustres...)

Geografia Limitada

.«Há um aparecer que é próprio deste mundo. Muito amiúde, há sonhos. Por vezes deve retirar-se a tela para a cama e mostrar os corpos que se amam. Por vezes devem mostrar-se as pontes e as aldeias, as torres e os miradouros, os barcos e as carroças, os personagens nas suas moradas e com os seus animais domésticos. Por vezes é suficiente a bruma ou a montanha. Por vezes uma árvore que se inclina sob as rajadas do vento é suficiente. Por vezes a noite é suficiente, e não o sonho que torna presente à alma aquilo que lhe falta ou que perdeu.»

in "Terraço em Roma", Pascal Quignard


Penso no meu Norte e no quanto sou pertença desta terra, como a trago inscrita na alma, como se enche de surpresas e de espantos no mapa mental da minha geografia limitada.

Mais do que as igrejas a enfeitarem os cimos das serras, ou as penedias transformadas para a oração, ou o granito talhado, talvez a comunhão mais profunda se faça no meio das serras frondosas, engalanadas de vida. Sou, verdadeiramente, pó e ao pó voltarei. Mas também sou seiva e luz coalhada e brisa fresca e margens de rios frescos e impolutos. Sou como a estrada perdida, bordejada de campos e vinhas que, por trás de cada curva, insinua mais um espanto. Sou como as estrelas que se voltam a ver e o luar novo que nada alumia. Ou como as barreiras amuralhadas que escondem casas brancas e ruas limpas, rasgadas apenas pelo vento norte e que fazem ainda frente a um inimigo que já não há, enquanto os canhões silenciosos se cobrem de musgo e, por entre as pedras das flecheiras, nascem pequenas flores amarelas.

Sou esta terra alegre, verde e quente. Sou velha como as pedras de que herdei a história no sangue. Sou como a brisa e a água, frescas e sempre presentes. Ou aqueles dias em que o calor se desprende dos sabores, da malga de vinho verde tinto, da boroa e dos rojões. Ou as estradas marginais onde nos perdemos até encontrar um pequeno riacho cantante, sombreado ainda de carvalhos frondosos, com resquícios do visgo druídico e da mátria feita deusa de carnes fartas, férteis.

Sou o verde do minifúndio em pousio, a erva doce e perfumada. É em camas de urze que guardo os sonhos e por isso sonho esta terra, amo esta terra, deixo que ela me ame de volta e seja testemunha silenciosa dos amores onde me perco.

E enquanto tiver esta terra não preciso que, em sonhos, me mostrem o que ainda não perdi.



_________
Mais um desafio "Ministerial".

2009-02-09

Dor de barriga?


aqui

Ali em baixo, a Claire e o Carlos falam do que custa tantas vezes apresentar obra para o escrutínio alheio. A Claire fala mesmo em dor de barriga. O Carlos escreve para ele e um leitor. E eu para aqui a pensar que, pelo menos no blogue, isso não me faz qualquer impressão. Na verdade, na maior parte dos dias, não escrevo para qualquer destinatário específico. Sei que os tenho, que continuam a deixar-me opiniões nas caixas de comentários. E agradeço e gosto desses comentários, especialmente quando dão origem a troca de opiniões. É nas caixas de comentários que, quase sempre, acontece o melhor deste blogue. Não nos textos que escrevo (e só estou a falar mesmo dos meus). Mas acho que, vestida de nick, escondida num blogue de fundo escuro que pinto a letras azul cueca, escrevo quase sempre porque preciso mandar um bitaite qualquer (ou umas provocações, essas sim com alvo) e exercer esta mania de ter opinião. Depois, como disse à Claire, escrevendo por carolice não há verdadeiramente culpas ou responsabilidades, mesmo que tente ser responsável perante mim e, por isso mesmo, tento manter-me dentro dos meus parâmetros do que é correcto. Talvez seja por isso que gosto tanto do anonimato que o nick me permite: nunca chego realmente a ter uma dor de barriga nestes exercícios menores que nunca vão ser o centro do meu dia, nem sequer importantes o suficiente para que tema qualquer crítica. Fico é contente quando gostam. Mas isso já é o ego e, esse, também tem as suas manias.

Uma questão de confiança

.

«A outra [esquerda], a que porventura sinto pertencer, anda à procura daquilo que perdeu: a confiança.»

Pedro Rolo Duarte



Gastei ali em baixo mais de 400 palavras para dizer algo que, pelos vistos, tinha sido bem mais fácil se me limitasse a ir buscar as palavras dos outros.

(Nunca vou deixar de invejar a capacidade de síntese!)

Leõezinhos




Fica para a próxima, amigos. Parece que para o ano também há campeonato.

2009-02-07

Eluana, minha irmã


aqui


Se um dia me vir assim condenada a uma morte em vida, a um caixão feito cama articulada, que alguém tenha a gentileza de me deixar morrer.

Porque há sofrimentos e desumanidades que ninguém merece, por mais que uns inventem
decretos-lei por medida ou outros - a quem não reconheço qualquer autoridade moral - tentem dizer que não.

Vozes de outros blogues

Penso mesmo que a maioria de nós é assim... Pelo menos no que me toca, tem dias, tem dias! eheh!

2009-02-05

Comunicado à blogos


aqui


Portugueses e Portuguesas, caros bloggers, meus amigos,

Este blogue fica – e com muita honra! – no cu de Judas da Blogosfera. É escusado, portanto, virem por caminhos ínvios até cá, que não é por terem o
cu menos à mostra que este cu deixa de agradecer a vossa visita.

Tenho dito!

Pérolas

A Claire quer saber o que está escrito na quinta frase completa da página 161 do livro mais próximo, coisa muito específica. Por acaso, não percebi bem se o livro mais próximo quer dizer aquele que ando a ler ou se pode ser outro qualquer que esteja ali mesmo à mão.
Esta semana comecei a ler um livrito que não tem sequer 161 páginas (e que já estou a acabar), por isso escolhi uma ao acaso e aqui vos deixo esta pérola do
Pérolas a Porcos3, do americano Stephan Pastis:

Ah! Não, ainda não é desta que me apetece escolher vítimas para passar o desafio...

2009-02-03

Banal



Somos todos sempre heróis sentados no confortável do sofá. Ou gostamos julgar que somos. E, no entanto, quantos – numa situação realmente dramática – seriam capazes de agir?

Eu não me tenho em grande conta. Como já disse várias vezes, sou profundamente banal. E os anos – os que já passaram e os que se arrastam agora ou definham lá no horizonte –, reforçam essa ideia de banalidade, de alguém que vai perdendo as utopias e há muito que sabe que nunca chegará a fazer verdadeiramente a diferença.

Há muitos anos atrás, seguia com um amigo negro e passamos próximos de um poiso habitual de skinheads. Ao verem uma mulher branca com um negro, três daqueles imbecis sentiram-se no direito de atacar o meu amigo. Empurraram-me para longe primeiro e devo ter voado uns metros até aterrar perto de um caixote do lixo. No entretanto, dois trataram de segurar o meu amigo enquanto o outro o sovava. Aquilo que recordo realmente do que se passou a seguir é difuso. Não sei quanto recordo de facto, quanto me contaram depois. Sei que perdi completamente a razão, que pelos vistos desencantei um pedaço de madeira – talvez estivesse no meio do lixo – e ataquei sem pensar. Estava realmente cega, totalmente cega. Não sei como dei, onde dei, se lhes fui às cabeças ou às pernas, se pensei sequer as consequências. Foi uma raiva tão profunda que, realmente, me fez perder total e absolutamente o controlo.

Depois disso, jurei a mim mesma que nunca mais me queria ver assim, tão tresloucada que seria capaz de matar. E talvez por isso evite tantas vezes (demasiadas vezes!) qualquer confronto.

Foi nisso que pensei quando vi o vídeo que o
Ivar hoje colocou e que resolvi trazer para o Voz em Fuga: aquela coragem contida de quem ultrapassou qualquer banalidade e a calma com que enfrenta as armas de mãos vazias.

Não somos todos heróis. Mas alguns são. E, pelo meio de um profundo respeito e admiração por aquela mulher, questiono-me sobre o que faria. Talvez perdesse a razão. Talvez não fizesse nada. E é a hipótese de nada fazer – como tantas vezes não tenho feito desde o dia em que fiz sem sequer saber o que fazia – que mais me assusta.

Fechar os olhos e não querer ver é banal. E somos (quase) todos profundamente banais. Talvez por isso só continuemos heróis sentados no conforto do sofá a admirar – e a invejar – aqui de longe quem tem a coragem de agir.

Desabafos!

Eh pá, de quando em vez passo-me da cabeça com estas... estas...

putas putas putas putas putas

putas putas putas
putas de merda!


Bem, isto foi muito refrescante, reparador até. Como vêem não é só a música que nos dá uma ajudinha a relaxar, às vezes só precisamos mesmo de um pequenito desabafo!

2009-02-02

Cá com os meus botões


aqui

Sim, há gente que escreve mal e porcamente, que não se entende como consegue ganhar a vida a escrever para fora, naquele ar de escrever para fora em forma de croquete semi-comestível destinado à bancada frigorífica à espera da mosca. Sim, há muito disso. Mas pior do que isso são as moscas, aquelas que nem para fazer croquete alguma vez deram e, no entanto, não desdenham um único momento para esparramar o veneno. E a inveja, claro.

(...)

Rammstein - Stirb nicht vor mir
Found at bee mp3 search engine


(É! Há dias...)

2009-02-01

Treitas

.

«Alguns comentadores criticaram-me por tomar posição, não questionavam os argumentos, nem discordavam das posições, simplesmente achavam que deveria ficar calado numa lógica oportunista, discordando de Sócrates a atitude mais inteligente seria deixar os novos fascistas queimarem-no. (…)

(…) hoje qualquer cidadão mal amado pelos fascistas pode ser acusado de pedófilo ou de corrupto e muito antes de chegar a um tribunal para se defender já está mais destruído do que alguma vez a PIDE conseguiu em relação aos opositores à ditadura.»

in, O Jumento



Aqui há uns tempos, escrevi um post em que me insurgia contra a falta de tomates do Governo PS para que passasse na Assembleia da República uma lei que permitiria a cidadãos maiores, supostamente vacinados e contribuintes, terem acesso a um contrato civil que regulamentasse a sua vida em comum, para lá de opções sexuais, num quadro constitucional que condena qualquer acção que penalize a igualdade de todos, quer em direitos, quer em deveres fundamentais. No seguimento desse post, logo me entrou pelo blogue dentro alguém que aproveitava a deixa para acusar José Sócrates de homossexual, facto nunca provado (nem que era necessário provar, caso não tivesse sido sibilado tantas vezes), mas do qual essa pessoa tinha certeza absoluta. Como a conseguiu? Provavelmente seguindo o boato que, há quatro anos atrás, foi de forma insidiosa lançado na imprensa, com óbvios objectivos de lançar uma mancha sobre o nome de um candidato a Primeiro Ministro, esperando que um grupo jurássico de votantes entendesse que a suposta homossexualidade do homem era maior motivo para não votar nele do que o projecto de governação que apresentava ao País.

Na mesma altura, tinha também sido lançado um outro "caso", o mesmo que regressa agora, com suspeitas de conduta pouco ética e subornos na aprovação de projectos de licenciamento em reserva ambiental protegida. Esse caso deu mesmo origem a um outro, em que o DIAP provou haver um inspector da PJ e dois jornalistas do antigo semanário Independente responsáveis por violação de segredo de justiça. Esse mesmo crime, passados 4 anos, corre célere pela comunicação social, continuando sem se perceber se alguém corre o risco de ser hoje constituído arguido num crime que, pelos vistos, se repete de quatro em quatro anos.

O que se sabe realmente hoje, para além do que se sabia em 2005? A comunicação social larga a conta-gotas mais informação, como uma torneira que pinga sem que se lhe substitua a bucha. Os nomes são envolvidos, as reputações são machadas, espera-se que se linche em praça pública qualquer um que se envolva, misturam-se dados com anos de permeio, compondo textos para fazer crer que é tudo novo, fala-se de uma tal de carta anónima, que parece que não é anónima e de uma carta rogatória que, pelos vistos, também não diz mais do que a carta rogatória que saiu da PJ em 2005, baseada na tal denúncia anónima que afinal tem nome. Comenta-se a celeridade do processo de licenciamento do Freeport, que pelos vistos correu durante dois anos e foi alvo de pelo menos duas correcções para se adequar ao que o Ministério do Ambiente exigia. Agora aparece uma assessora que em 2004 ouviu qualquer coisa, mas que em 2004 a PJ não achou motivo suficiente para indiciar fosse quem fosse e parece que houve uns técnicos do ICN que foram afastados, bem como uns investigadores ingleses que também correm o risco de irem para o olho da rua lá na terrinha deles por incompetência. E parece também que há uns e-mails e um primo idiota que afinal não está no Nepal, mas não se pode dizer onde está, senão ainda foge. E ainda há a Quercus, que também tentou a sua parte do milho, à conta de uma queixa que afinal Bruxelas achou por bem arquivar no caixote do lixo. E há, claro, o dinheiro que desapareceu num qualquer bolso e um golpista que, quando apanhado, achou por bem dizer que tinha usado o dinheiro para pagar umas luvas. Mas do dinheiro e do seu rasto ninguém dá acordo, ainda que pareça que querem que se acredite que, afinal, serviu para a casa que a mãe de José Sócrates comprou quatro anos antes, em 1998. Por fim, há ainda um destacado elemento do maior partido da oposição, que não tem medo de enxovalhar ninguém na televisão – nem sequer aqueles que a Justiça já ilibou e o País indemnizou – que não se coíbe de dizer que em 2005 aquilo tinha sido mesmo uma "campanhazinha negra" engendrada por elementos dos dois partidos que tinham sido deitados abaixo do poleiro, precipitando as eleições que deram a maioria absoluta que José Sócrates, mesmo achincalhado de paneleiro, conquistou à frente de um PS fortificado, apesar da campanha anterior que visou decepar o partido de líderes, queimando sem perdão Ferro Rodrigues na comunicação social à conta de um outro mega-escândalo que, como de costume, se travestiu numa montanha a parir um rato.

Fique claro que não gosto de José Sócrates. Mais claro ainda que acho que o seu Governo traiu quase todos os valores socialistas em que fui criada. E que estou farta da arrogância do Primeiro Ministro e das suas campanhas publicitárias descabeladas e o discurso de que fez muito e conseguiu muito e que o País está melhor com ele do que esteve antes. Se eu também sou o País, digo desde já que fiquei muito pior com este Governo do que estava antes e que me irrita supinamente ter andado quatro anos a apertar o cinto para saber que o dinheiro dos impostos que recolheram à minha custa é usado ao desbarato para proteger e salvar os amiguismos do costume.

Sei que não consigo olhar para este emaranhado de diz-que-disse com as certezas de certa direita, que prefere acusar um inocente – desde que seja José Sócrates que, como todos sabemos, além de paneleiro (porque disseram nos jornais), também é um escroque ladrão (porque dizem nos jornais) e não tem nada ar de inocente nos seus fatinhos Armani – do que admitir que, em termos políticos, estão fodidos e sem alternativa, a não ser que voltem a fazer as tais das "campanhazinhas sujas". Eu, que fui criada a achar que qualquer auto-de-fé é condenável, olho para esta salgalhada com suspeita. É certo que prefiro e defendo os antigos valores de esquerda. E que este Governo há muito que não me representa. E, no entanto, não há de ser agora que vou passar a achar que alguém é corrupto só porque nos jornais começaram a coser uns factos, a misturar umas suspeitas e a, enganosamente, venderem como notícias assuntos requentados, bem misturadinhos nos seus anos de permeio e no tempo em que ficaram encostados nos arquivos do MP ou da PJ.

Posso não gostar de José Sócrates e das suas políticas. Posso até ter vontade de o acreditar culpado e corrupto. Mas não assim, não com este tipo de suspeitas e de campanha, em que acaba condenado em praça pública sem sequer ter sido indiciado. Será que vou acabar a pagar também, com o dinheiro dos meus impostos, uma indemnização a José Sócrates à conta de um caso, que nem sei se chega a ser caso, que talvez nunca se venha a provar, para além do boato?

hmm...


aqui

O Postiga apareceu há pouco na televisão a falar da ida à Trofa onde parece que os grandes gostam de dar com os burrinhos na água. Cheira-me que não devo ser a primeira pessoa a notar a semelhança, mas, c’um caraças!, se lhe pusessem um micro à frente, eu iria sempre esperar que o homem começasse a cantar o Sing for Absolution.

Centrão


aqui


Que apareça uma moção de confiança; em alternativa, também me serve uma moção de censura. Que se deite abaixo o Governo, também não me parece mal de todo. E que venham já as eleições. Assim como assim, não me apetece conviver com rumores mata-que-mata-senão-esfola durante os próximos meses (são oito meses ainda, não é?) E, depois, que venham as alternativas. Rapidamente, para serem alternativas à governação e antes que se inventem, ou relembrem, ou fabriquem, ou denunciem, mais esqueletos putrefactos de parte a parte, que infelizmente só há duas partes e os outros são ruído. Estou farta do centrão mal-cheiroso. Mais farta ainda do jornalismo faz-de-conta e das fugas ao segredo de justiça que nos relembram diariamente que, afinal, vivemos numa república de bananas da Madeira e, desta vez, aquele outro (ainda) não está metido ao barulho.



Já agora, em jeito de micro-sondagem, havendo eleições antecipadas em quem votam? Relembro que os inspectores da Judiciária, mais as gentes do Ministério Público e muito menos os jornalistas e os grandes grupos económicos donos de jornais estão sujeitos ao escrutínio, mas como isto aqui é uma micro-sondagem de um blogue anónimo e anódino, podemos sempre tentar vota nesses. Afinal, quer-me parecer que há muito que são esses que querem fazer política.