2010-12-29

Parabéns, Miga


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Pois as coisas que me acontecem contigo por perto acabam sempre por sair assim um bocado ao lado do normal. E talvez por isso me fazes sempre falta, nem que seja para apanhar o autocarro e não ter de pagar bilhete por boa-vontade da motorista.

Bem que podias vir para mais perto e podíamos juntar-nos à volta de um bolo cheio de velinhas hoje; um bolo que havia de ter uma vela a mais que o necessário, que isto da vingança no teu caso - e com o tempo que faz - tem mesmo que servir-se fria.

2010-12-28

Resumo de 2010

(...)
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
(...)


Álvaro de Campos - Lisbon Revisited

(Aninho miserável que não deixa saudades!)

2010-12-25

Natal


aqui


Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.


David Mourão-Ferreira, "Natal, e não Dezembro" (in "Cancioneiro de Natal")

2010-12-24

Feliz Natal!



And in our world of plenty, we can spread a smile of joy!

Ainda há um mundo para além da nossa janela!

2010-12-23

Jantar de Natal

aqui

E lá foi mais um jantar de Natal. Desta feita, num restaurante com música ao vivo e um espaço convenientemente destinado ao arrasta-ao-pé do costume. E, como sempre, há um motivo que se repete: os homens – quando devidamente sóbrios e com honrosas excepções, mesmo que de sósias perfeitas do Borat sem fato de banho verde alface – têm um pavor do ridículo físico substancialmente superior ao das mulheres. Na mesa ao lado, juntava-se um grupo bastante alargado de funcionários de um dos hospitais da praça. No fim do jantar, as senhoras levantaram-se e foram dar uns passos de dança, ao som de versões foleiras de músicas mais foleiras ainda, como é habitual nestas coisas, agarrando-se umas às outras no bailarico à falta de disponibilidade dos tais senhores muito conscientes da sua figura e que não podem dançar assim em público que pode parecer mal. E lá andavam elas, todas contentes, sem nem bem quererem saber mais do que dançar é fixe e nem importa qual é a música e isto é uma celebração e afinal nem sei quem são os monos das outras mesas. Ora, olhando para a pose dos senhores, perfilados no lado da mesa com vista para a pista de dança, de boca aberta e ar de enfado, calados, sonolentos e de qualquer outra forma infelizes até dizer chega, achei-os bem mais ridículos do que as colegas bailarinas. Muito mais ridículos: tuguinhas de fado, incapazes de fazerem apitar qualquer comboio, muito menos tentarem uma lambada em público.

2010-12-22

Os pobrezinhos

.
«Ao todo (...) a baixa foi cortada a 67 485 pessoas, fosse porque faltaram à convocatória da junta médica (como sucedeu em 15 303 casos), fosse porque, depois de examinadas, se concluiu que estavam aptas para o trabalho.

O fim destes casos de baixas fraudulentas permitiu uma poupança de 4,3 milhões de euros, valor do subsídio de doença que deixou de ser pago às pessoas em questão.»
Jornal de Negócios


Esta é muito mais a realidade do País que temos e que conheço do que a realidade dos ex-sem-abrigo que convidam o PR e sua Micas para o casório e mais todos os pobrezinhos, coitadinhos, que agora todos querem defender. É antes o País de mentalidade chupista, em que quem pode mama e continua a mamar até ser apanhado. O País da outra Micas que quase fez cair um Ministro, mas depois foi ao Bom Jesus a Braga antes da Junta Médica e - milagre! - ficou boa para o trabalho. E esta gente de mão estendida nunca quer contribuir, em cidadania, para os custos que suportam os mecanismos de protecção que são de todos nós: fogem a tudo e a mais alguma coisa, desde impostos ao trabalho, mas ai que lhes retirem qualquer direito, que de direitos percebem eles. Nunca aprenderam foi que, para cada direito, tem de haver um dever correspondente. E são todos pobrezinhos, coitadinhos!

2010-12-16

Pronto!

aqui


Não gosto de "big brothers". Muito menos se travestidos de bufos. Há coisas que têm de ser encaradas com bem mais rigor do que a facilidade com que as vizinhas dão ao trapo e à língua, à janela ou na net, ou seja onde for.

E esta, hem?

aqui


O forgão da polícia avariou ali para os lados da VCI no início da hora de ponta. Coitados! São coisas que acontecem, não é? E estavam quatro senhores fardados na berma da estrada às voltas do motor. Não admira que volta e meia lá apareçam a protestar em como os carros e as armas estão velhos ou que não têm equipamentos e ainda há uns que reclamam da farda e isso. É que nem tinham sequer coletes de sinalização num alegre verde alface ou amarelo bisga. E também não tinham triângulo, caraças! Pobrezinhos!

2010-12-14

Irra!!!

aqui

O excelentíssimo senhor meu patrão resolveu dar-me um telefone. Ena! pensei eu: um telefone à pala? Contentinha, trato de descobrir o que ai vem: um telelé de vinte e cinco aéreos que tem rádio. Não tem mais nada, mas tem rádio! Não tem agenda nem calculadora. Só rádio! Apre! - pensou aqui a "je" - com aquela merda não ando eu! E como o telefone aqui da jeitosa já tem seguramente uns quatro anitos e há muito que passou o tempo de fidelização, entra-se no site para saber quanto fica - na maior das legalidades que, como vereis depois, eu ainda sou crente - para mandar desbloquear o bicho. Sabeis quanto, sabeis? Sessenta e dois aéreos e uns quebrados! Mas estão doidos ou quê? Já marquei hora para o servicito ser feito por um quarto da coisa e é só que não estou com vontade de ser pirata por aqui. E, com estas coisas, uma gaja que tenta ser séria - mas não anda porque não anda com um telemóvel com rádio - vai à candonga para poupar uns cobres. É que o tempo está de crise, porra!

(nos entretantos, o telemóvel novo - sim, novo mesmo e não custou vinte e cinco aéreos - está para ali a tentar instalar o GPS, mas diz que o número de série é falso; estou cá com uma vontade de mandar a minha operadora de sempre ir meter telelés pelo cu acima!)

2010-12-09

Mais duas lambadas à espera do que vem depois

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«Na primeira instância, o homem, engenheiro electrónico, foi condenado pelo crime de ofensa à integridade simples, na pena de 140 dias de multa, à razão diária de 7 euros, e ainda no pagamento à ex-mulher, professora na Universidade de Aveiro, da quantia de 500 euros a título de danos não patrimoniais.

O Ministério Público (MP) recorreu, pedindo a condenação pelo crime de violência doméstica, que é punível com uma pena entre um e cinco anos de prisão, subindo o limite mínimo para dois anos se os factos se registarem no domicílio da vítima.

(...)
No entanto, o tribunal considerou tratar-se apenas de um crime de ofensa à integridade física simples, uma vez que o comportamento do arguido não foi reiterado e a agressão em causa “não revela uma intensidade, ao nível do desvalor, da acção e do resultado, que seja suficiente para lesar o bem jurídico protegido – mediante ofensa da saúde psíquica, emocional ou moral, de modo incompatível com a dignidade da pessoa humana”.»
fonte

Depois, quando já é tarde, aparecem as desculpas do costume. Mas pelo menos foi condenado em alguma coisa...

2010-12-02

Facebook

aqui


Mesmo que nem seja verdade e que tudo se resuma a cansaço de anos e anos a alimentar um blogue, às vezes parece que, com a entrada em cena do Facebook, foram desistindo quase todos os que gostava de ler. E sim, pode ser coincidência; e sim, pode ser só cansaço. Mas eu não consigo achar piada ao Facebook e aquela forma escancarada como tantos se põem a jeito para que lhes entre um maluco pela casa dentro; ou a falta de privacidade; ou a forma como, num instante, nos poder cair na sopa uma cavalgadura que não víamos há vinte anos e sem saudades nenhumas. E deve ser por isso que, até tendo um Facebook, deteste o Facebook. E deve ser por isso que quase lá não ponho os dedos e as teclas e mantenho o blogue com o nick do costume, que é para não se misturarem as águas. Mas as leituras que por aqui eram vício vão ficando silenciosas e já nem vontade tenho de actualizar os links ali ao lado ou no Reader. E um dia destes também bato com a porta, por cansaço, por já não saber mais o que dizer, por andar com a crise por dentro bem mais do que dentro da crise. Mas não vou para o Facebook. Acho que já me levou demasiada gente, mais a quinta e o diabo a quatro e as (in)confidências a nu para todos verem, até os fedelhos que não era suposto saberem, mas é preciso mais um vizinho para a quinta. E detesto aquilo e detesto ver blogues a fechar. E detesto esta sem vontade que me deixa ficar para aqui cada vez mais silenciosa, sem vontade de cirandar, sem vontade de conhecer novos espaços de quem ainda tem empenho em escrever um post, sem vontade de comentar, em autofagia das minhas rotinas.

2010-12-01

Abalroada


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Fui criada na utopia, numa certa ideia de cidadania e responsabilização pessoal, na mitologia da minha própria família e no seu exemplo de resistência. Hoje, não me reconheço em quase nada.

2010-11-30

Dar

aqui


«Recolhas do Banco Alimentar bateram recordes e dispararam 30%.»


Se calhar porque, numa sociedade de excessos, ensinar a pescar nunca pareça suficiente. Ou talvez porque, quando estendemos a mão a quem sofre, é o nosso sofrimento que mitigamos, o desconforto de nos sabermos a salvo, da arbitrariedade que nos anula no sofrimento absurdo de outro humano tão parecido connosco, tão diferente na sorte. Por todo o cinismo que os anos colaram em mim, é também por isso que dou ainda.

2010-11-25

Nunca nada muda o bastante

Irma Gruenholz


É certo que, de certo modo, estamos todos mais atentos. Mas isso não tem servido de nada às tantas de vítimas, mesmo quando denunciam, mesmo depois das queixas na polícia, mesmo quando nem assim estão seguras.

Se mudou alguma coisa depois de passar a "crime público"? Mudou: todos podemos denunciar, quando nos deixamos das velhas tretas do "entre marido e mulher" e o crime não desaparece quando a mulher, quase sempre coagida, retira a queixa. Mas isso não quer dizer que não esteja praticamente tudo mal à mesma: não há acompanhamento real dos queixosos pelo que, quando o agressor aparece para transformar em actos as tantas de ameaças, não há qualquer barreira ao seu sucesso. Vai preso a seguir, é certo, ou mata-se como um bom covarde. Mas isso deve interessar bem pouco à vitima.

E a carnificina continua, sendo que agora tem forma de estatística religiosamente "printada" nos jornais.

aqui

2010-11-23

But the ghosts still haunt the waves


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aqui

The island it is silent now
But the ghosts still haunt the waves
And the torch lights up a famished man
Who fortune could not save

The Pogues - Thousands Are Sailing

2010-11-20

Rascunho




Tripeira, sem tento nas letras nem açaimo nos dedos, há dias em que chego ao final da tarde ao blogue e só me apetece pintar a página de palavrões para lavar a alma do descalabro da vida que nos sobra da labuta. E exclamo sem dó, com um enfático ponto respectivo: foda-se!, mesmo que raramente publique. E ultimamanete o rol de obscenidades tem sido tamanho que a lista de palavrões já não cabe no espaço diminuto de um final de tarde cansado. A crise tão nem trazido o melhor de nós! E há gritos que engulo e, na garganta, ganham um granulado de fel que me enoja. Se não tivesse um blogue, talvez desse por mim a berrar à janela para o campo vazio e gelado lá ao fundo. Assim, vou ficando só em rascunho.

2010-11-15

Ou dito muito melhor

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«O que é inacreditável é estas coisas já não indignarem ninguém, olharmos para estas ignomínias e fingirmos que é normal; ficarmos calmos quando se transcrevem conversas privadas sem qualquer tipo de interesse que não seja o da mera coscuvilhice; ignorarmos estes actos sem que pensemos, um bocadinho que seja, no que isto representa para a nossa liberdade e para os nossos mais sagrados direitos.»

Pedro Marques Lopes


2010-11-14

Media

aqui


Nunca nenhuma vida tem valor realmente idêntico a outra quando vista pelo prisma de valores que vai enformando estas notícias que nos sobram. E é que já nem é o cão a morder o homem ou o homem a morder o cão; é mais do que isso: é quase como se fossem homens transformados em matilhas. Havendo sangue, ou tragédia, ou uma hecatombe, tanto melhor, mas também basta conspurcar a vida privada de qualquer um. E a sociedade que tudo vai engolindo, cada vez mais anestesiada, mais comatosa, tanto que lhe tentam dar cada vez mais pão e circo, a ver se ainda reage, a ver se ainda há reacção possível. E as tragédias são só fait-divers; só a notícia bombástica vende. E vamos ficando calejados contra a tragédia e os factóides, servidos a qualquer hora de maneira a que a indiferença vá alastrando, até que já quase nada pareça indigno. É um mal generalizado e um tique do jornalismo que temos: explorar à exaustão o fácil, o sentimentalóide, o grotesco, as opiniões dementes de alguém, em lugar de expor factos sem julgamentos morais. A isenção nunca existiu afinal e a ingerência é arma nas lutas diárias pelas audiências e nos agrados necessários aos patrões.

2010-11-12

Aung San Suu Kyi



Será desta? E que liberdade a espera?

Números


aqui

Os números são coisas muito jeitosas. Se bem que, no dia a dia, seja fácil e evidente uma soma de dois mais dois (ou, cada vez mais habitual, um subtracção de quatro), há alturas em que até o mais pragmático dos resultados tende a esconder uma qualquer pirueta. E é com cada pirueta que já nem estranho o número: afinal, isto já é um circo há muito tempo.

E os números são especialmente jeitosos com eleições à vista: dão para tudo e são pragmaticamente adaptados às piruetas que interessam. Tirando isso, não servem realmente para nada, ainda que seja óbvio o jeito que aparentemente dão.

Atolados na crise, nas insuficiências crónicas, nas sinergias perdidas, nas falsas promessas ou nas verdades mentirosas, já nem estranho o jeito que se dá aos números. Como se bastassem agora e fossem claros como cristal, usados como adagas ou, pior ainda, como arma de gatilho rápido ou uma qualquer caçadeira com mira num zepelim.

Mas o que me assusta realmente é esta moda de agora de ver tantos em vibração orgásmica com os números da desgraça. Como se a pirueta afinal nem fosse uma foda mal dada; como se na desgraça colectiva reencontrassem finalmente o tesão.

2010-11-11

(...)



Um sítio onde não sei como vou fazer para poupar é nos concertos. É que há coisas que se transformam num crime para a alma se deixamos de usufruir.


2010-11-08

Novamente "os salvadores da pátria"

aqui


Ando cada vez mais fartinha de todos os caramelos que, com ar pomposo, nos anunciam as suas soluções milagrosas (ou ameaçam com o apocalipse) em "prime time". Como se fossem inocentes. Como se não lhes conhecêssemos as trombas e tudo o que fizeram e tudo o que nunca souberam fazer.

2010-11-05

Poeta

Cuando tu apareciste,
penaba yo en la entraña más profunda
de una cueva sin aire y sin salida.
Braceaba en lo oscuro, agonizando,
oyendo un estertor que aleteaba
como el latir de un ave imperceptible.
Sobre mí derramaste tus cabellos
y ascendí al sol y vi que eran la aurora
cubriendo un alto mas en primavera.
Fue como si llegara al más hermoso
puerto del mediodía. Se anegaban
en ti los más lucidos paisajes:
claros, agudos montes coronados
de nueve rosa, fuentes escondidas
en el rizado umbroso de los bosques.
Yo aprendí a descansar sobre sus hombros
y a descender por ríos y laderas,
a entrelazarme en las tendidas ramas
y a hacer del sueño mi más dulce muerte.
Arcos me abriste y mis floridos años
recién subidos a la luz, yacieron
bajo el amor de tu apretada sombra,
sacando el corazón al viento libre
y ajustándolo al verde son del tuyo.
Ya iba a dormir, ya a despertar sabiendo
que no penaba en una cueva oscura,
braceando sin aire y sin salida.
Porque habías al fin aparecido.

Rafael Alberti - "Retornos del amor recién aparecido"



2010-11-03

Sakineh

aqui

«Bienheureuse mobilisation qui a permis, en effet, de faire du visage de Sakineh une icône mondiale, un symbole et de différer ainsi, pour le moment, la date de sa mort annoncée ! Pour nous, bien sûr, le combat continue.»

Bernard-Henri Lévy


Para já, Sakineh continua viva. Mas é preciso continuar a fazer barulho, ou, como apelidou um alto cargo iraniano, continuar com a insolência de transformar esta mulher num símbolo e esperar, assim, que não seja transformada em mais uma vítima sem nome.



_____
ver aqui o que (ainda) se pode fazer.

2010-10-29

Portugal

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«Hoje pode existir uma união nacional do ódio a Sócrates. Mas uma coisa já ninguém lhe tira. Só a geração Magalhães poderá realmente mudar Portugal. »

Leonel Moura




Portugal vai transformando-se numa espécie de nevoeiro, com discursos e pantominas à mistura. Digamos que uma cortina de fumo, com um País pardacento reduzido à letargia de, daquele lado, já não esperar nada de decente e, por isso, demitindo-se gradualmente de até apenas desejar. Para a mediocridade que vai, será que vale oferecer pior ainda?

Aos jovens bem jovens de hoje pertence o amanhã: a minha geração de parêntesis, a geração que teve tudo para ser e não soube ser nada, excepto a geração que transformou os pobrezinhos mas respeitados em endividados sem respeito nenhum; os cravos que já não terão cheiro; as canções revolucionários com o mesmo apelo que os hinos fascistas de antanho; os símbolos escondidos sob pó e teias de aranha; a pátria confundida com outro mito qualquer, talvez o desta Europa que nos engoliu e agora quer cuspir fora; os políticos de carreira e os caciques da negociata que um certo Portugal pariu já há muito debaixo do chão.

E aos jovens muito jovens de hoje, por não lhes ser mais exigido que cumpram Portugal, talvez seja possível ver Portugal finalmente a ser cumprido.

2010-10-26

Então era isso!

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«(...)um grupo de homens, todos iguais, vestidos do mesmo modo, entram numa sala para discutir o Orçamento. Teme-se o pior, de um documento sem sensibilidade social: afinal, faltam mulheres na sua discussão.»

Miguel Marujo


Bem me queria parecer que faltava ali muita coisa :)

Mais ano menos ano

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«Quando Cavaco chegou ao primeiro governo em que participou eu tinha 11 anos. Quando chegou a primeiro-ministro eu tinha 16. Quando saiu eu já tinha 26. Quando foi eleito Presidente eu tinha 36. Se for reeleito, terei 46 quando ele finalmente abandonar a vida política. Que este homem, que foi o politico profissional com mais tempo no activo para a minha geração, continue a fingir que nada tem a ver com o estado em que estamos e se continue a apresentar com alguém que está acima da politica é coisa que não deixa de me espantar. Ele é a política em tudo que ela falhou. É o símbolo mais evidente de tantos anos perdidos.»

Daniel Oliveira


Estes 5 Cavacos são o que me lembro: o homem do bolo-rei e da boca aberta, da facada nas costas do Nogueira, Santana e até Ferreira Leite, para já não falar agora no Passos Coelho; ou dos dinheiros desbaratados e da mentalidade de facilitismo e golpe baixo que transformaram a minha geração na geração da mão estendida e sem responsabilidades, que passará à geração seguinte um País arruinado e um vazio total, para além das dívidas e das desculpas de mau pagador.

2010-10-25

Hoje



Steve Hackett, 'Fire on the Moon'


Está uma lua do caraças! Já deram conta?


(infelizmente, não fiz uma fotografia; mas pode ser que alguém tenha a máquina a postos)

2010-10-24

Papa-letras

aqui


Isto é um pedido encarecido aos senhores jornalistas (?) que enxameiam a televisão com o seu sotaque lisboeta: não é "ó" quando no papel está "ou". Vá! Deixam lá os ditongos sossegadinhos e não me massacram o aparelho auditivo. O mesmo para a conjugaçãozinha (seja ela explicativa ou coordenativa), vale?

Furiosa!



http://www.1billionhungry.org/

2010-10-22

Tick Tick Boom



get your head out the sand

Humm...



Enquanto o homem foi novo e lindinho e coradinho, nunca lhe achei piadinha nenhuma. Agora, já um bocado derretido, entradote e não tão coradito, cada vez que me aparece numa paragem de autocarro às ordens da nova campanha publicitária da Saccor Brothers, dá-me vontade de parar o carro, sentá-lo no lugar do morto e ir experimentar uma petite mort a qualquer lado. Mas também pode ser só da fotografia...



(Oh I., isto não entra na tanga do consumismo, pois não?)

2010-10-19

Cinco anos de vizinhança



Cleaning up the swamps
You are the heart of hearts
Wonder dig and try
Tear it up and learn to bless the readers eye




Parabéns, Deep!

Com as letrinhas todas

.


Ângelo Correia fez ontem na SIC Notícias um autêntico apelo à abstenção do PSD na votação do OE 2011, apesar de o considerar "terrivelmente nefasto". O antigo ministro da Administração Interna defendeu que "o PSD tem toda a vantagem que o PS se exponha". Isto porque as medidas do OE são tão duras para a classe média que o descontentamento popular é garantido. "Se a oposição um dia quiser ser Governo tem que deixar que Sócrates se destrua."

DN Economia


... e que se foda o País, que nós queremos é voltar ao poleiro.

2010-10-10

Verrinar

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«Bastava que os impostos tivessem subido mais cedo (e em menor grau) e que o Governo tivesse contado a verdade ao país(…): se as famílias tivessem percebido mais cedo, teriam começado a cortar despesa ainda em 2009.»

Camilo Lourenço


Na teoria, é bonito pensar que os portugueses têm juízo quando se trata de escolhas relacionadas com o consumo. É um pressuposto errado, baseado na crença de que as pessoas são racionais no que toca à aquisição de bens, especialmente os bens de luxo. Na realidade, anos de dinheiros fácies, ofertas desmesuradas de crédito e o desaparecimento de uma filosofia aforradora, transformaram a tanga deste País no País cada vez mais na tanga. Virem agora afirmar que o tuguinha, se lhe tivessem dito que havia crise, passava a ser poupadinho, é uma valente mentira. O povinho vai continuar a viver do que não tem, de mão estendida para o que acha que deve ter. E vai continuar a trocar de telemóvel de seis em seis meses, a comprar o plasma que mal cabe na sala, muitos pares de sapatos e botins e chinelos e socas e sapatilhas e casacos e saias e calças e unhas de gel e perfumes e a deixar de pagar a prestação da casa para continuar a pagar a do mercedes. E os comentadores - lá do alto do trono de onde botam faladura e que, tantas vezes, se deve resumir ao trono que se encontra no wc - vão continuar a idealizar este povinho, que não apanham com ele dia sim, dia sim, muito menos devem ir aos centros comerciais no início do mês ou depois de chegarem os cheques do rendimento de inserção. É que os tuguinhas, haja ou não crise, saibam ou não que há crise, enquanto houver para gastar, gastam. E é por isso que vão continuar a fazer vida de rico nos 5 primeiros dias do mês e comer ovos estrelados no resto dos dias. Mas vão de sapatos e telemóvel e carteira nova ao banco explicar porque não pagaram a prestação ou porque têm o saldo do cartão de crédito na estratosfera; ou estacionam o SUV da BMW à porta da escola dos filhos onde não tem pejo em afirmar que estão no primeiro escalão do abono, mamando livros e refeição gratuitas à conta de um palerma qualquer que não consegue fugir a nada e anda a sustentar o resto dos pançudos sem juízo, os tais que os senhores comentadores até acham que se preparariam para a crise. Só que a crise é será sempre só paga por alguns. Os outros vão continuar num alegre rega-bofe subsidiado.

2010-10-01

Até 4ª


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Quem cá vier no entretanto, deve ir ler o Old Man. E comentem lá por mim, s.f.f.

(Ah! A memória! Pois, é isso mesmo! E faz tanta falta a tanta gente!)

2010-09-30

like a whisper


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While they`re standing in the welfare lines
Crying at the doorsteps of those armies of salvation
Wasting time in the unemployment lines
Sitting around waiting for a promotion

Don’t you know
They’re talkin’ bout a revolution
It sounds like a whisper



(gostava tanto de conseguir meter a cabeça na areia e acreditar nos discursos populistas e demagógicos...)

2010-09-29

Coisas...

aqui

Ainda se lembram mesmo como foi da última vez que o FMI nos entrou portas adentro ou vamos brincar mais um bocadinho?

Coisa estranha!

(clicar para ver melhor)

Anda alguém a "googlar" um texto meu. A que propósito é que não percebo.


(lá porque umas palavrinhas estão diferentes, ainda é o meu texto, não vos parece?)

2010-09-27

No canto do bar

aqui


Cobraram-me hoje um comentário sobre os gajos nas bordas dos quarenta que, de um momento para o outro, se vêem sozinhos, estranhando que os encarasse com um certo tom de dó. E, no entanto, é assunto de que já falei num post (na sua caixa de comentários, melhor dizendo) e, por isso, me limito a retomar.

É que eu acredito mesmo que não há nada mais infeliz e inábil do que um homem que se apanha de repente sozinho, de casa vazia, a ver os filhos com fins-de-semana contados e o medo da velhice a bater-lhe à porta, inseguro da barriguinha que não há ginásio que abata, a ver o canal de publicidade pela noite dentro e a comprar todos os "gadgets" que fazem abdominais por medida. E que não podem apregoar a solidão e a tristeza, que nunca se souberam permitir a aparência de fracos e aguentam as palmadas nas costas dos outros gajos, os "agora é que estás bem" e a afins, sem nem sequer saberem bem (ou não acreditando) como de repente o mundo de anos entrou em derrocada e não há mais ali ao lado a pessoa que ouvia o bom e o mau, tinha o jantar pronto a horas e restantes horários estruturantes, mais os putos a qualquer momento e as contas em dia e os programas marcados sem ter de pensar o que há para fazer a seguir. E foi-se ainda a casa, o seu território, o seu reino. E engolem, vão engolindo, saltitando de miúda em miúda e de carro em carro e agradecendo mas evitando os jantares em casa dos amigos que ainda estão casados e aparentemente felizes, preferindo antes um canto de um qualquer balcão de um qualquer bar e talvez um engate de ocasião para ver se ainda estão vivos. E é por isso que eu não acho que um homem habituado a família seja capaz de sobreviver bem sozinho, ou lidar com as emoções decorrentes. Ou sequer que consiga encontrar com a mesma facilidade que uma mulher um ombro solidário onde desabafar. É que nenhum gajo atura muito tempo um amigo infeliz; vai-lhe apresentar umas gajas e tentar passar em frente o problema, esperando o regresso do velho tipo que falava da bola e de política e das gajas que, podendo, havia de comer. As tais gajas que, agora, mesmo podendo, não come.

Um homem em luto de uma relação é uma caricatura dele mesmo, até nos excessos. E deve ser por isso que, num repente, estão casados outra vez. Não necessariamente felizes, mas pelo menos não tão assustados e sozinhos, novamente senhores de um pequeno território onde tentam encontrar o seu quinhão de sentido e, com sorte, uma certa medida de contentamento.

2010-09-24

Semanada

aqui

E esta semana deu-se-lhe no Poceirão (que eu nem sei onde fica, mas com um nome destes tem de ser forçosamente na mourolândia), no Jesus que lá ganhou (até parecia que já tinha o campeonato, carago!), no Queiroz que vai e fica e no Madaíl que ninguém percebe porque ainda não foi, nas sondagens com empate técnico entre PS e PSD e as reuniões secretas das duas alminhas que os dirigem, no orçamento e na dívida pública, no IVA a 23%, no Sócas nos estates, no Mourinho que não vem e no Paulo Bento que admite que nunca trocou de barbeiro (nãããoooo! ainda ninguém tinha percebido!), nos gajos da Nato, nos gajos de França e nos que não são de lá, na extrema-direita na Suécia (e no Pato Donald que teve 120 votos), no estado social e nos desempregados e nas calúnias sociais (e a casa pia andou sem pio ou fui só eu a achar?) e na crise e mais na crise e outra vez a crise e a crise e a crise.

Agora, porque é que ninguém me disse que os meus cigarros iam outra vez aumentar de preço?

(...)

2010-09-23

(a)moralidades

aqui (clicar para ver melhor)

O interesse de qualquer estado poderá alguma vez exigir comportamentos amorais? Ou serão antes eles rapidamente propostos, contrapondo uma infracção menor a um crime sob a alçada de legitimidade de um estado à procura de um conveniente bode expiatório? E, depois, continuam a sobrar os probleminhas banais, a crise cada vez mais banal, o roubo a qualquer escala que não olha nem a raça nem a religião, mas sem a dose certa de pirotecnia. E talvez o que me choca realmente é a forma como se sucedem e se esquecem as pequenas concessões, arrumadas entre dois talk-shows e à espera da próxima grande enrascada sem solução definitiva.

2010-09-17

Bardamerdas!

aqui

Ainda nem tinha acabado de saborear o primeiro café do dia e já tinha uma besta a foder-me os cornos que não tenho mas a que todos os anormais teimam em fazer pontaria.

2010-09-16

Freedom is the last, best hope of earth.

Abraham Lincoln

A liberdade é um vício e uma espoleta: nunca nos chega a conquistada; queremos sempre mais, mesmo quando esbarramos na utopia.

2010-09-15

Lei de Murphy

aqui


Andei em arrumações profundas em Agosto, dei roupa que havia para dar, sapatos que já só estavam a mais, tralha que não cabia em lado nenhum. Dei voltas a gavetas e armários, seleccionei o que precisa estar à mão e o que pode estar nos fundos das gavetas e armários, deitei fora lixo e mais lixo, que a casa vai-se enchendo até pensarmos que, se entra mais um alfinete, saímos nós pela porta fora. E era preciso. Aliás, há muito que era necessário. O problema é que não tendo necessidade (achava eu) nos tempos mais próximos de um vestido e restantes acessórios de cerimónia, os remeti para um qualquer lugar onde sumiram. Não encontro. Não sei o que lhes fiz. E fui convidada para um casamento. Raios! É sempre assim!

2010-09-14

Todos temos uma teoria



E não resistimos a partilhá-la.

Meia dúzia

aqui

Seis anos. Espremendo, sobram demasiados acessórios para encher a página, letras esparramadas à pressa e logo esquecidas, músicas que naquele momento faziam sentido e hoje talvez não, imagens que já nem sei porquê. E alguns textos que ainda sinto destes tantos anos de voz em fuga, os mais pessoais, os mais íntimos, os mais estranhamente a nu e talvez crus na futilidade em que se apresentam. Isto é só um blogue. Só mais um blogue. Um diário pessoal e intransmissível, banal, demasiadas vezes desinteressante, sem utilidade para além das fronteiras de mim. É certo que desde o início assumi que este blog seria sobre banalidades, as minhas banalidades no seu sentido etimológico mais profundo: o do "ban", a circunscrição feudal. E eu estou confortável com o meu "ban", este meu pequeno feudo feito de banalidades e egos domesticados onde insiro tudo o que realmente faz parte do meu mundo e do que nesse mundo é importante para mim. Até mesmo quando ando demasiado perdida de mim e das fronteiras e linhas com que me coso enquanto a vida vai continuando a descosturar.


(foi no dia 24 de Agosto e o Espumante lembrou-se)

2010-09-13

Por vezes fêmea.

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Espáduas brancas palpitantes:
asas no exilio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.

Natália Correia - Auto-retrato

Como?

«Adjunto de Isaltino Morais foi reclamar à esquadra do reboque do carro da filha e agrediu agente à dentada.»
fonte



Será que o polícia foi infectado com raiva?


(o carro estava em cima da passadeira, certo? o papá deve achar que pode...)

2010-09-10

Et voilà

«A resolução hoje aprovada tinha sido proposta por deputados do centro-esquerda, liberais e verdes.

Nela o Parlamento Europeu "expressa a sua profunda preocupação com as medidas que foram tomadas pelas autoridades francesas e de outros Estados-membros, " e "apela a essas autoridades para que suspendam imediatamente todas as expulsões dos Roma".

De caminho, a resolução lembra que as expulsões colectivas violam o Direito Europeu, pois constituem uma discriminação fundamentada na raça.

Os deputados europeus lamentam também "a retórica provocadora e discriminatória de alguns decisores políticos", bem como a falta de empenhamento do Conselho da Europa e da Comissão Europeia nesta questão. Fazem notar que a recolha de impressões digitais dos Roma expulsos é ilegal e contrária à Carta dos Direitos Fundamentais.

O Parlamento Europeu recorda que a lei europeia sobre a liberdade de circulação estipula que "em caso algum" a ausência de rendimentos pode justificar uma expulsão automática de cidadãos da União, e que quaisquer restrições à liberdade de circulação e permanência, só podem ser fundamentadas "num comportamento individual, e não em considerações gerais resultantes da prevenção, nem, sobre considerações sobre a origem étnica ou nacional".»
fonte


Tarde. Talvez insuficiente. E os alicerces ainda a nu.

2010-09-09

Em casa onde não há pão...

aqui

«(5) The Representatives of the Member States, meeting within the European Council on 13 December 2003, agreed to build upon the existing European Monitoring Centre on Racism and Xenophobia established by Regulation (EC) No 1035/97 [3] and to extend its mandate to make it a Human Rights Agency.»

Council Regulation (EC) No 168/2007 of 15 February 2007



Uma nova crise na Europa apresenta-se como a crise de sempre: quando a fartura se esvai, o mito e o desígnio sonhado da supra-cidadania são subjugados a ditames xenófobos, envolvidos numa bela imagem economicista e legalista. E um dia destes fica provado que os alicerces são tudo menos sólidos quando falta a lente de aumento da bonança.

hmm (mais outro)

aqui


Ontem, num jornal desportivo, celebrava-se em plena manchete o "cinquentenário" a propósito do jogo n.º 50 de um fulano qualquer. Rica festa!

2010-09-07

hmm (outro)


Found at bee mp3 search engine

Sempre achei que o "caso Casa Pia" ia ser um belíssimo exemplo de "uma montanha a parir um rato". Quanto à montanha, estamos conversados: aquilo é um Everest de papel, pareceres, testemunhos e iada-iada-iada de paleio legal e procedimentos "legaleiros". Mas em relação ao rato, já não me parece tão evidente: nunca pensei que sobrasse algum para a gaiola.

hmm...


Found at bee mp3 search engine

Excuse me, could I use your pen
I have mislaid my own

2010-07-15

Profissão de risco

aqui

Em época de férias, o carteiro habitual que faz a ronda pelo bairro social que fica perto do sítio onde trabalho, foi substituído por um qualquer desgraçado – provavelmente contratado só para os meses de férias – para assegurar o meritório ofício de garantir que a nossa fabulosa correspondência (no meu caso, as contas do costume e a revista da DECO) chega ao destino. Pois no caso daquele bairro social (e da maioria, suponho) a principal correspondência do mês não são as contas (que não pagam), mas antes o cheque do rendimento de inserção. Ora os cheques atrasaram-se. E o carteiro novo foi parar ao hospital com um enxerto de porrada resultante do elevado civismo de quem lhe fez uma espera para a seguir ir fazer outra para levantar o carcanhol que tão pouco esforço mereceu a ganhar. E a verdade é que isto só pode estar mesmo tudo abandalhado: é que quem havia de dizer que ser carteiro agora é uma profissão de risco?

(...)

2010-07-14

Público-alvo

aqui

Sim, como te atreves a não ser cor-de-rosa, ou a ser cor-de-rosa, ou a espetar com o "Estrangeiro" no blogue? Ou a ter ideias e o que dizer todos os dias, até sobre acetona enamorada e ainda tempo para desencantares quem tem um total desperdício de tempo para diatribes blogosféricas de egos em contra-mão e invejas em riste? Mas como raios te atreves? Anos e anos disto e é assim, sempre foi assim, desde o analfabeto que põe mamas e mamudas ao advogado que não conhece o corrector ortográfico, passando pelos jornalistas de plantão e as encalhadas ao engate. A norma é uma treta, a média um espartilho e a mediania uma canseira. E a mim só me apetece ler romances de cordel, cor-de-rosa, muito cor-de-rosa, muito happy end e algumas quecas à mistura, que a vida está uma canseira e eu de rastos e as férias só começam para a semana. Vá! Pintar as unhas e ir à Zara aos saldos para entrar para o rebanho. Já! Como te atreves a ser diferente ainda? Como? E vê lá o público-alvo. Quem foi que disse que o blogue é nosso? Então não vês que está ali à mostra e é dos outros, desde os que acham que não plagiam porque é no facebook até aos que querem dar medalhas de cinco tostões? Mas onde andas com a cabeça, mulher?


2010-07-13

Pinóquios

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«as perícias consideram que a aprovação do empreendimento de Alcochete foi inteiramente regular e que a alteração das regras da Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo (ZPE), para além de legítima, não teve qualquer interferência na aprovação do projecto. (…)

O primeiro-ministro José Sócrates, como a directora do DCIAP Cândida Almeida já tornara público, não é arguido. Não é sequer suspeito no processo. Os arguidos nos autos do Freeport são Manuel Pedro Nunes, Charles Smith e João Cabral - todos da consultora Smith&Pedro -; o antigo presidente da Câmara Municipal de Alcochete, José Dias Inocêncio; a sua assessora Honorina Silvestre; e o antigo vice-presidente do ICN, José Manuel Marques.»


Jornal "I", 12 de Julho 2010



Fique claro que não gosto de José Sócrates. Mais claro ainda que acho que o seu Governo traiu quase todos os valores socialistas em que fui criada. E que estou farta da arrogância do Primeiro Ministro e das suas campanhas publicitárias descabeladas e o discurso de que fez muito e conseguiu muito e que o País está melhor com ele do que esteve antes. Se eu também sou o País, digo desde já que fiquei muito pior com este Governo do que estava antes.

Sei que nunca consegui olhar para este emaranhado de diz-que-disse com as certezas de certa gente, que prefere acusar um inocente – desde que seja José Sócrates que, como todos sabemos, além de paneleiro (porque disseram nas revistas), também é um escroque ladrão (porque disseram nos jornais) e não tem nada ar de inocente nos seus fatinhos Armani. É que fui criada a achar que qualquer auto-de-fé é condenável, e sempre olhei para esta salgalhada com suspeita. Agora está aqui o resultado e não vai dar em nada, que está tudo a banhos e o cão a morder o homem nunca foi notícia.

Posso não gostar de José Sócrates e das suas políticas. Posso até ter vontade de o acreditar culpado e corrupto. Mas não assim, não com este tipo de suspeitas e de campanha, em que acabou condenado em praça pública sem sequer ter sido indiciado. Será que vou acabar a pagar, com o dinheiro dos meus impostos, uma indemnização a José Sócrates à conta de um caso, que nunca chegou a ser caso, que nunca se provou, para além do boato?

2010-07-12

Salvadores da Pátria

aqui


Ando tão fartinha de todos os caramelos que, com ar pomposo, nos anunciam o seu dever em "prime time". Como se fossem inocentes. Como se não lhes conhecêssemos as trombas e tudo o que nunca souberam fazer.

Está quase

2010-07-07

Fashionably Late

aqui

O quê? Pensaste que era para o blogue? Que nada! Isto é só um "salvé dia 5 de Julho".

Parabéns, Espumante!



(e, sim, atrasei-me (de propósito :P) menos do que tu em Marco)

Providência

«Não contem comigo para colocar o neoliberalismo na Constituição».

José Sócrates


Em momento de profunda crise económica, absurdamente castigadora de uma classe média esganada e depenada, a vontade de "vingança" dessa mesma classe média sobre o partido do actual governo poderia levar a pensar que Sócrates está perdido à partida. Umas sondagens já vão dando a vitória a Pedro Passos Coelho e ao "seu" PSD (nem sei bem o que sobra já do partido de Francisco Sá Carneiro) e a ideologia e a retórica da esquerda à esquerda e da direita à direita vai condimentando os debates e acendendo mais umas fogueiras de descontentamento. No fim, quando chegarmos aos votos, a crise internacional continuará a galopar, a crise interna continuará a piorar, as pressões sobre a classe média que tudo tem de pagar continuarão fortes e feias, o desemprego continuará descontrolado e as prestações sociais continuarão a única rede de segurança que evita que os pobres dos pobres saiam à rua em arruaça e os pobres que já tiveram algum não se sintam completamente espoliados. Os desgraçados – como eu – que continuam a pagar a festa, trabalhando por conta de outrem sem qualquer subsídio ou ajuda e só os impostos para comerem ainda mais do pouco que sobre, sentir-se-ão cada vez mais reaccionários, mais adeptos dos discursos do "andamos a pagar esta merda toda", "ponham os gajos do rendimento mínimo a trabalhar", "cancelem os investimentos do Estado que só beneficiam os comedores do costume" e afins. Mas, no dia, será que vamos mesmo votar na retórica dos extremos, nos políticos que, sem ambições de serem realmente poder, podem prometer este mundo e o outro? Ou vamos votar em quem nos quer levar as poucas garantias que nos sobram do tal do Estado Social, caso as coisas também corram muito mal para o nosso lado, que ninguém está livre, excepto se for funcionário dos quadros do Estado? E, no fim, pergunto-me para onde irão os votos. Sócrates no seu discurso pôs ai a tónica: um PS que agora declara que pensa muito em nós e que a Providência está ai e só ele a defende. Bela espada! Pena que, deste lado, já haja pouca vontade de acreditar em cavaleiros, especialmente um que, até agora, apenas vestiu a capa do vilão. Mas e as alternativas? Pois!...