2006-11-30

Coisas...


aqui

Hoje apanhei com o homem a dizer umas coisitas. Acho que nunca antes lhe tinha prestado atenção à voz. E olhei também para as mãos. E ainda há a cara… Eu sei bem que com esta idade já não me devia ir só pelas aparências, mas bolas!, é mais forte do que eu. Imagino-o com roupas normais a aparecer-me à frente e está ali o tipo de cara em que nunca seria capaz de confiar. E aquelas mãos… E a vozinha que… Bem, talvez no fundo tudo se resuma àquelas orelhas.

Que diferença para a cara simpática do anterior!

Por causas

Não, eu não creio na inocência imaculada

António Ramos Rosa


Penso que todos precisamos defender aquilo em que acreditamos. É um direito e um dever, uma forma de estar, a única que nos permite continuar a manter a cabeça erguida e andar em frente com a certeza de que o mundo, melhor ou pior, se faz de convicções e da forma como estas se desenrolam sobre o pano social.

Todos os que me lêem sabem bem que este é um blog marginal, que sempre quis ser um blog marginal. Também por isso é onde deixo livremente a minha voz e, por conseguinte, será sempre um espelho daquilo em que acredito, aquilo que defendo, os meus julgamentos pessoais sobre o certo e o errado e até a forma como, no fim, tenho de conviver com as consequências das minhas convicções.

E é à conta disso que passou a estar ali ao lado aquele quadradinho amarelo, que encontrei no
Arrastão. É um convite aos bloggers e eu aceitei, mesmo que evite tanta vez colar-me a iniciativas que possam trazer até este URL perdido uma visibilidade com que não quero lidar.

Mas é que, por mais perdida e escondida que ande esta Voz, ela é também senhora de um voto. Talvez seja até capaz de –
ao escrever sobre aquilo em que acredita – levar alguém a perceber que a IVG, não mais crime, poderia ser finalmente compreendida, talvez evitada, já que ninguém se atreve a questionar que existe e vai continuar a existir, como existe sempre tudo o que mexe com noções intimas de liberdade.

Pela despenalização, este blog usa desde hoje um logo. Vai continuar a usá-lo até ao Referendo.

2006-11-29

O meu corpo


Quando acordo
encho-me logo
com o fresco da manhã.

Brinco todo o dia
com o meu corpo.

Salto,
corro e bebo água em grandes goles
sentindo-a rodopiar dentro da barriga.

Trago sempre o meu corpo comigo
e a sua sombra, também.

Mas é à noite,
quando toda a casa está em silêncio
e o meu gato
dorme enroscado aos meus pés,
que me lembro Dele.
Sim!
Do meu corpo!

Deitado na cama
sinto o coração bater de mansinho:
escuto-o com a minha mão.

O meu peito
sobe e desce
a cada respirar:
até parece uma borboleta batendo asas.

Então,
todas as pequeninas coisas
que compõem o meu corpo,
aconchegam-se
antes de adormecer.


Nota: Poema/desafio de Miguel Horta, criado para as oficinas complementares à exposição de Rebecca Horn, “Bodylandscapes” (Centro de Pedagogia e AnimaçãoCentro Cultural de Belém)

2006-11-28

Pequenos vícios IX


aqui

Os meus sorrisos…

(há dias em que o contentamento é uma miragem, mas vou treinando sempre: um dia chego lá!)

Pequenos vícios VIII


aqui

Os meus silêncios…

(não mos levem a mal; às vezes preciso virar-me para dentro)

2006-11-27

Batimento cardíaco


aqui

Há muitos anos atrás, o meu coração partiu-se. Partiu-se de tal maneira e em tantos bocadinhos, que pensei que nunca mais teria um coração só meu, concertado e capaz. Mas o tempo - o tempo que foi preciso e pouco importa - foi juntando um a um cada caco amputado, soldando cada pedaço com memórias misturadas de esquecimentos, dores a servirem de fio onde a esperança era a agulha. E a vida costurou e descosturou, passajando o meu coração de boneca de trapos, resvalando pela ladeira dos dias, dos meses e dos anos. Hoje trago um coração partido soldado pelo tempo, mais forte, mais arejado. Desdobra-se em batidas surdas, galopando no meu peito e já só tem fome de futuro.

2006-11-26

Tantas vidas

"Não acaba o que morre, mas o que se esquece."

O texto de Fernanda Câncio sobre a morte da jornalista (e blogger) Maria José Margarido teve o poder de me apanhar de surpresa. As homenagens são muitas vezes palavras vãs debitadas com solenidade. Ali não. E restou – pelo menos para mim – a ideia de que foi "uma de nós", não alguém distante que escrevia num jornal. Ficou apenas a ideia de alguém que queria, precisava, escrever. E eu – e acho que todos os que têm um blog – podemos de facto relacionar-nos com isso. Esta necessidade de contar e recontar pedaços de estórias que são vida, apenas e sempre que nos recusamos a esquecer. Como a mulher na estação de Atocha. Como a editora que quis voltar às reportagens. Como a colega (e amiga, suponho) que assim contou, em mais do que uma distante homenagem, nas palavras sentidas do adeus que teve de ser. Demasiado cedo. E, sim, suponho que para quem tem esta urgência de escrever, de contar, ficam sempre demasiadas vidas por decifrar.

__________
(...)
este interposto objecto

e o seu leve peso de eternidade

Mário Cesariny

2006-11-23

Contingências


aqui

Ando em guerra com o portátil. Quer dizer, em guerra com o ex-portátil, já que desde há uns meses (altura em que pifou a bateria) passou a ser mais um estorvo em cima da mesa da sala, ao lado dos livros que ainda não li e as facturas que, atendendo ao saldo da conta no Banco, tenho a certeza que já paguei, mas ainda não conferi. Ao lado dele, reside também uma bateria, à espera de substituição, coisa que está difícil porque parece que o modelo não era exactamente nem o mais comum, muito menos o mais recente. Depois, ainda houve o problema da placa gráfica, mais ou menos resolvido ao murro, mas que deixou uma barra de ferramentas que só funciona quando lhe apetece. Ontem, para finalizar, tentou pifar o gravador de CDs, o que torna a minha tentativa de fazer back-ups do que está no disco um bocadinho mais complicada. A pen, coitadita, lá vai servindo de contentor provisório. No entretanto, se o gajo abre sem estar a funcionar a barra de ferramentas, descobri que metade dos blogues não abrem. E é reiniciar o gajo uma e outra vez, a ver se a gaja acorda. Vou-me agarrando ao Bloglines para manter as leituras em dia e passando-me dos carretos quando nem na Voz consigo entrar. No entretanto, também descobri que existe o Bloglines Plumber, a que achei muita piada no início, mas a quem agora já nem posso ver. Resta-me o computador em casa dos papás, mas o tempo que tem feito faz-me desejar chegar rapidamente à minha alegre casinha, tirar os sapatos e refastelar-me no sofá. Ando, por isso, pelos blogues à vontade de um desgraçado de um caixote cheio de manias e da minha sem vontade para fazer desvios no fim do dia.

Depois, há aquela coisa de ser Novembro que é, cada vez mais, um mês para pôr as patas de coelho à porta e o olho contra o mau olhado no batente: há dois anos, foi diagnosticado um tumor à minha mãe; o ano passado um endometrioma à minha irmã e, este ano, um melanoma ao meu pai. A mãe está bem; a mana ficou só com um ovário; o melanoma parece que afinal é só um sinal. Mas desde o início do mês que por estes lados começamos a achar que mais vale passarmos a saltar Novembro nos calendários. Pela lei das probabilidades que nem existe, mas que eu tenho inventado nos últimos tempos, para o ano calha-me a mim. Será que posso escolher com antecedência o susto? Uma unha encravada, uma cárie, um jantar com o Ministro da Saúde? Começa-me a servir qualquer coisa, que já acho que por aqui anda encosto e dos graúdos. Será que passa se eu for à Bruxa?

Pequenos vícios IV


aqui

Ter sempre qualquer coisinha para ler...

Pequenos vícios III


aqui

Deixar que o mau humor matinal se dissipe enquanto o cheiro do café acabado de fazer percorre a casa...

2006-11-21

A direita está na moda?


(recebida por mail, original daqui)

Com tanto discurso para um lado e para o outro e tanto "palramento" entre liberais, conservadores, direita, esquerda e o mais que lhes apeteça, gosto da moda feita assim, especialmente quando as botinhas os deixam crescer alguns centímetros... é que, tirando o Guterres, porque será que os homens pequenos (baixos? pequenos? hmmm...) querem estar todos do mesmo lado? Bem, há sempre o nobre amigo deste... Estou confusa!

2006-11-19

E depois dos bispos…


aqui

Mergulho o corpo no quente da água que me aquece o frio do dia que passa e da saudade que fica. E apenas sobra a imaginação que me leva até ao teu corpo, os teus braços, os pelos do peito onde gosto de roçar o meu peito que se alegra, engrossa, engolfa de sangue os mamilos que te acenam, para que os abocanhes ainda mais um bocadinho. E é quando pressinto como o teu corpo corresponde, quando imagino como o teu corpo engrandece cada poro de cheiro a sexo e o sexo que se levanta em saudação, que remeto o tesão para o quente da água e os dedos que tacteiam a falta que me fazes, neste domingo sonolento e chuvoso em que só a imaginação preenche o meu corpo do teu, os meus lábios do teu sabor…

Como é que é?


aqui

Mas esta gente não se cansa de dizer disparates? Então agora recorrer à procriação medicamente assistida entra na categoria de "infidelidade consentida"? Eu juro que só paro de rir destes absurdos quando estas alminhas atávicas me conseguirem dar relato pormenorizado do que aconteceu a cada ejaculação que tiveram na vida. E não me venham com tretas, que os Bispos, lá porque são bispos e depois foram pedir penitência, também devem ter desperdiçado muito espermatozóide em muita punheta. E esses – às tantas felizmente – são espermatozóides realmente desperdiçados. Doar um óvulo ou esperma viável e ajudar um casal infértil a conceber, deveria ser visto como um milagre. Nunca um pecado, porra!

Alguém precisa de um óvulo? Está a apetecer-me ser infiel. Consentidamente e sem baixar a cueca, claro.

Parabéns, Rosarinho


Bente Rytler - Chello

São dois anos de Divas & Contrabaixos. Quero mais!

2006-11-17

Os dois fantasmas


aqui

Moravam os dois fantasmas, “dos livros que ainda não foram lidos”, lá num casarão perdido no meio da Vila. Uma mansão mais parecida com as “casas dos Brasileiros”, bem típicas lá de Aveiro.
A casa era ampla e tinham muito espaço para deambular. Ainda por cima estava vazia pois ninguém a queria habitar.
Voltejavam com os seus lençóis brancos, percorrendo a casa toda numa inquietude de quem procura alguma coisa. E o seu lugar favorito, dentro da grande casa, era a biblioteca escondida lá nos fundos.
Bem tentou o proprietário alugar aquela casa, mas quem por lá passava pouco tempo ficava.
Era um desassossego durante a noite...
Som de coisas partindo-se, correntes de ar percorrendo a casa, vindas de lugar nenhum e livros tombando no chão da biblioteca. Sem nenhuma explicação...
- Ninguém pregava o olho!
Até que um dia, surgiu na vila um casal disposto a alugar aquela casa amaldiçoada. Eram gente de longe com um filho de olhos muito grandes, cheios de vontade de conhecer as coisas do mundo.
O caseiro, encarregado da transacção, ainda perguntou ao casal depois da decisão:
- Mas não têm medo da casa e da sua assombração?
Logo ali contou a história daquela triste mansão.
Tinha sido a casa de dois irmãos gémeos e professores, por sinal. Tinham vivido ali durante muito tempo e, dizem, nunca conseguiram ler a biblioteca toda até ao final. Morreram os dois no mesmo dia, vai-se lá saber porquê. Sem terem lido todos os livros da sua biblioteca.
O menino ficou logo curioso com a biblioteca, enquanto os pais assinavam o contrato de arrendamento.
Passado algum tempo já estavam instalados naquele velho sobrado de águas largas e árvores frondosas.
Acostumados aos ruídos da grande cidade não deram por nada, dormindo a sono solto. Mas quando a casa fez sentir seu silêncio, começaram a reparar nos sons nocturnos que vinham da vasta biblioteca.
Era um restolhar de papéis, livros caindo no soalho, janelas e portas fechando e abrindo lá no coração da noite.
Começaram logo a pensar nas palavras do velho caseiro...
Mas o menino tinha olhos grandes. É sabido que olhos grandes servem para ver o mundo até na mais completa escuridão.
Assim, uma noite em que os pais se revolviam nos lençóis sem conseguir dormir, o menino dirigiu-se à fonte de todos os ruídos: a Biblioteca.
Entrou, sentiu a corrente de ar e viu um livro aberto no chão. Tinha talvez tombado de uma das grandes estantes... Pegou nele e leu precisamente a página que estava aberta:
“Assim que entrou em casa, Gepeto agarrou logo nas ferramentas e pôs-se a esculpir e a construir o seu boneco.
Que nome lhe hei-de dar? – Disse de si para si. – Quero que se chame Pinóquio”
- Mas eu conheço esta história... Pensou o menino.
E continuou a ler, desta vez em voz alta, recostando-se num cadeirão.
As correntes de ar cessaram e até teve a sensação de que alguém lia o livro ao mesmo tempo do que ele, espreitando por cima do seu ombro. Quando terminou a história foi-se deitar numa casa agora mergulhada em sossego. O pai já ressonava com a mãe agarrada ao seu corpo.

Neste ponto, terei que dar uma explicação aceitável sobre os nossos fantasmas dos “livros que ainda não foram lidos” ou, se quiserem, dos “livros que ainda estão por ler”.
Como é sabido, os fantasmas não têm dedos. Como hão-de consultar uma biblioteca? Ora bem... Só provocando correntes de ar ou outras coisas menos materiais para fazer tombar os livros das estantes... Caído o livro no chão, basta só uma pequena aragem para mudar de página...nem sempre é fácil. O problema reside em tirar os livros que ainda não foram lidos das prateleiras. É necessária uma boa dose de esforço e de sorte.
- Este menino veio mesmo a calhar. - pensou logo um dos irmãos fantasmas, sentindo a concordância do outro que agitou o seu lençol afirmativamente.
No dia seguinte, ou melhor, na noite seguinte, o menino dirigiu-se à biblioteca assim que escutou o som da escova de dentes percorrendo energicamente a boca do pai.
Já lá estava alguma agitação... A janela abriu-se de repente e o acervo da estante superior agitou-se destacando uma lombada.
- Grim? Interrogou-se o menino.
- Pois bem, estão seja...
Sentou-se confortavelmente no cadeirão da biblioteca e começou a ler, sentindo de novo aquele arrepiozinho agradável de quem não está só. Mas os “contos de Grim” são extensos e o menino começou a ficar com sono. Então poisou o livro, aberto, sobre a grande mesa da biblioteca e foi-se deitar. A casa estava calma e cheirava a sono.
Na manhã seguinte, foi dar uma espreitadela à biblioteca. O livro que havia deixado aberto, estava agora fechado com a contracapa para cima.
- Ahhh...Então leram.- pensou, cheio de vontade que chegasse a noite. Mas o pai já estava lá fora às apitadelas, convocando-o para um dia de escola.
Chegada a noite, sentindo que os pais já se recolhiam no quarto, entrou na biblioteca assombrada: e lá estava um livro tombado no chão!
Pegou no livro e leu... Matilde Rosa Araújo.
Chegou rapidamente à conclusão que aqueles dois fantasmas se tinham esquecido de ler os livros das suas infâncias. Só assim se justificava aquele tipo de escolha. Não leram nada quando eram meninos... Pensou.
De qualquer forma estava a divertir-se bastante com aquelas leituras nocturnas.
Leu um pedacinho do livro e deixou-o ficar aberto em cima da mesa.
Claro está, durante a noite, os fantasmas leram o livro todo.
A partir daquele momento, o grande casarão passou a ser uma casa serena.
Um dia, o Pai, vendo o filho descer as escadas perguntou:
- Onde vais a esta hora?
- Vou dar de ler aos fantasmas. - respondeu a criança.

Agora tenho uma pergunta para vocês, leitores.
E quando se acabarem os livros da grande biblioteca? Será que podem levar convosco estes dois fantasmas, que ainda não leram tudo, para vossa casa?
À velocidade a que os livros tombam no chão da biblioteca, daqui a pouco acaba-se a literatura para a infância.


Um texto de Miguel Horta

Parabéns, Maria Árvore



Achei que tu - que com tanto empenho nos vais mostrando como os homens, sempre tão ridículos, conseguem ser profundamente deliciosos, mesmo e quando até se esquecem de tirar as peúgas -, ias gostar que eu assinalasse o teu aniversário com música e dança. Os balões da festa vieram de bónus, claro. Mas se não houvesse balões de bónus...



aqui

Mas não que não quisesse ser horizontal.
Não sou árvore com minha raiz no solo
Sugando minerais e amor materno
Para a cada março refulgir em folha,
Nem sou a beleza de um canteiro
Colhendo meu quinhão de Ohs e me exibindo em cor,
Desconhecendo que me despetalo em breve.
Comparados a mim, uma árvore é imortal
E um pendão nada alto, embora mais assombroso,
O que eu quero é a longevidade de uma e a audácia do outro.

À luz infinitesimal das estrelas,
Flores e árvores trescalam seus frios perfumes.
Eu me movo entre elas, mas nenhuma me nota.
Chego a pensar que pareço o mais perfeitamente
Com elas quando estou dormindo —
Os pensamentos esmaecem.
É mais natural para mim deitar.
Céu e eu então animamos a prosa,
Hei de servir no dia em que deitar afinal:
E as árvores aí talvez em mim tocassem e as flores comigo se ocupassem.


Sylvia Plath - Eu Sou Vertical (Trad. de Vinicius Dantas)


Parabéns! Muitos!

2006-11-16

A cantar de galo


aqui


Obviamente que julgo sempre o outro em função do que o outro me parece. Num primeiro contacto, só isso é possível e todos o fazemos afinal. Mas não é a essa versão de alguém que, no fim, me obrigo a vincular uma opinião sobre determinada pessoa. Esforço-me para que - para lá dos meus conceitos e preconceitos - reste um indivíduo e nunca, mas nunca mesmo, a sua aparência, muito menos qualquer julgamento que possa fazer em função dessa mesma aparência, ou sequer o aparente lugar que essa pessoa julga merecer ou deter em termos de estatuto social.

E também não nego sequer que, em muitos dias, sou profundamente snobe. Ou preconceituosa. Ou teimosa até. Ou sequer que o sou ainda com mais vontade quando me deparo com o pedantismo alheio, já que o meu, como é óbvio, custa muito mais a enxergar.

De qualquer forma, penso que muitos assumem que, porque não conhecem uma determinada pessoa, esta não possa ser reconhecida em todo um outro conjunto de círculos sociais. Só que não será nunca porque não faz parte do nosso leque de conhecimentos que alguém pode ser entendido como não-célebre e muito menos como não-válido ou um não-capaz de expressar uma opinião com valia e credibilidade.

Em última análise, seremos antes desconhecedores. E eu, banal que sou, escondida que quero estar num blog anónimo e anódino, nunca tive a pretensão de conhecer tudo e todos, ou a ousadia de descartar aprender qualquer coisinha com alguém só porque lhe desconheço a árvore genealógica.

E há dias em que vejo tanta gente a descartar o desconhecido (por falta do nome, da obra, do nick, do nome do pai, da mãe, da criada, do emprego, do que comem ao pequeno-almoço, do que bebem ao jantar, do lugar onde desbaratam recursos a dizer que trabalham quando afinal só teclam, da raça do cão e do periquito, do tique no olho esquerdo e da verruga no pé direito...) que fico apenas com a sensação de estar perante um cenário de medo. Talvez apenas medo de que o chão (ou, mais acertadamente ainda, o poleiro onde se alcantilaram) lhes seja roubado de debaixo dos pés. E fico pasma: é que me parece tão fraco poleiro que nem chego a atinar com tamanho pânico.

2006-11-14

Ahhh!


aqui


Já tanta gente sabe quem é que escreve com o nick Hipátia que acho sempre divertido cruzar-me com quem, sabendo bem quem eu sou, não atina a descobrir quem sou. E o mesmo em sentido contrário, claro. Confuso? Nem por isso. Tenho antes tendência a achar que é libertador.

2006-11-13

LOL



Hi,

I'm the Bloglines Plumber. Bloglines is down for a little fixer upper. We will be back shortly. Bloglines will be all better when I'm done with it.

Thanks,The Bloglines Plumber

Ainda não tinha encontrado este caramelo (suponho que, até agora, tenho tido sorte). Mas fez-me soltar uma alegre gargalhada. Se é para nos darem uma má notícia, ao menos que seja de forma divertida. Fiquei ainda mais fã.

Paralelos


"The End" Apocalypse now
Colocado por nicobus


Vão tratar de fugir rapidamente, a tempo de prevenir que nas próximas presidenciais o custo da guerra seja ainda mais elevado. Vão deixar tudo no caos, na desordem, numa guerra fratricida e sem esperança, mais um cancro a espalhar metástases por toda a região. Como antes. Como sempre. Terra queimada. Carne putrefacta. Mais bombas e bombistas e corpos e desespero. Vão fugir depois da merda? A merda já está feita. Como antes. Cada vez mais igual. E, para já, para lá da contagem dos corpos e dos pedaços de corpos, as mulheres já pagam mais um naco da ração do costume do sofrimento: perseguidas por um regime que se ergue sobre os escombros e baseia o seu poder numa interpretação míope do Corão, são obrigadas a regressar à idade da pedra dos direitos civis. Já começou. Só falta a retirada apressada. Só falta mais um instante de insanidade…

Kata ton daimona eau tou(*)? O epitáfio de Morrison parece-me profundamente lúgubre neste momento…

((*)fiel ao seu espírito)
_______
Adenda: Sobre a actual e previsível situação futura das mulheres iraquianas, ler este post.

2006-11-12

Parabéns, Jorge Morais


aqui

Fiquei sem saber se direccionar para aqui ou para aqui os parabéns. Acabei a decidir-me por este. Mas é só mesmo para dizer que não cheguei atrasada. Olha como acerto no dia, já viste?

Que tenhas um dia doce!

(Pensavas que levavas uma lolita? Levas bolo, mas é!)

2006-11-10

Lá terá de ser!



A vida espiritual dos Homens, os seus impulsos profundos, o seu estímulo à acção, são as coisas mais difíceis de prever, mas é justamente delas que depende a morte ou a salvação da Humanidade.

Andrei Sakarov

Tão bem recomendado que não vou perder...

2006-11-09

Cenários


aqui

Nesta realidade um dos crimes mais graves é a tentativa de hackear um Ghost (espírito), pois o hacker que conseguir tal proesa possui o poder de fazer o que quiser com aqueles que hackeia. O hacker pode utilizar isso para raptar, apagar e alterar memória, obter informações, controlar o individuo, etc.

Rodrigo Adry
sobre o filme Gost in the Shell



Tenho encargos e, à conta delas, acabo prostituída ao horário fixo e aos desmandos de uns quantos. Era fácil ter ideais antes de ter contas para pagar. Agora resigno-me, como todos, agrilhoada à necessidade de garantir o vil (e escasso) metal que me paga a casa, põe comida na mesa, luz, água, gás, televisão, internet, gasolina e todas as tretas onde, por mais que tente, parece sempre impossível poupar.

Conformada? Nunca! Mas manietada sim. Porque há coisas que não me posso dar ao luxo, infelizmente, por mais que - tantas vezes, em tantos dias - me apeteça mandar tudo para trás das costas, mandar uns quantos para o caralho e fazer de conta que sou livre.

E é por isso que ranjo os dentes, escrevo um post e, amanhã, bem cedo, estarei a bulir outra vez, à espera que a semana passe depressa e que, no fim do mês, continue a chegar algum.

Sinto-me uma marioneta e há muito que já nem distingo os bonecreiros. São já quase uma entidade abstracta, que me levam cada vez mais e mais dinheiro e nem adianta culpar um apenas (o Estado, o Banco...) que aparece logo outro para me tentar enrabar mais um bocadinho.

2006-11-08

Hei!


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You don't have to say anything, and you don't have to do anything. Not a thing. Oh, maybe just whistle. You know how to whistle, don't you (...)? You just put your lips together and... blow.


fiu... fiu...

2006-11-07

'Trivial e croquetes'


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Não tenho a menor dúvida que todos pomos o cuecame a corar à janela da marquise. Só que uns lavam e secam em segredo a cueca puída e só estendem do lado de fora as rendinhas a que dão uso uma vez por ano; outros, pouco querem saber se a cueca tem selo e lá está ela bem visível; outros ainda são como aqueles que dizem que nunca se peidam; e há também os que apenas parecem querer cheirar o traque alheio. No fundo, no fundo, o mais fácil é mesmo vermos o cu dos outros. E verdade é que ninguém nos obriga. Mas que há dias em que tem piada, há. Como há dias em que nem percebemos porquê. Nas costas dos outros, acabamos a ver as nossas. Pudemos é achar que não, que somos é uns anjos e os anjos até nem têm costas. Cu, então, nem se fala...

E, depois, acabamos a saber que, por entre exercícios de paciência que, em alguns dias, se assemelham quase a exercícios de masoquismo, sobra sempre alguma coisa boa. Como ler-te há dois anos. Como saber que vou ao Faz de Conta e leio este genial post sobre dois aninhos na blogosfera.

Parabéns, Jaquelina Pandemónio. Que as tuas palavras nunca fiquem gagas e faz de conta que todos os gajos que vêm para aqui cagar postas de pescada, afinal trincaram rosas. Ou põe uma mola colorida no nariz.

O nó


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The corpse, already greatly decayed and clotted with gore, stood erect before the eyes of the spectators. Upon its head, with red extended mouth and solitary eye of fire, sat the hideous beast whose craft had seduced me into murder, and whose informing voice had consigned me to the hangman. I had walled the monster up within the tomb!

Edgar Allan Poe - The Black Cat

A justiça nunca deveria ser anedota; a monstruosidade nunca deveria ser desculpa para ignomínia.

2006-11-06

Os coturnos


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Até consigo imaginar que Marques Mendes hoje tenha crescido uns centímetros. Aliás, até o posso a imaginar a experimentar uns sapatinhos com um nadinha de salto, enquanto tenta crescer - bem irritado! - para a televisão, enquanto vê os Prós e Contras...

Em viagem


Pablo Picasso - Girl Before Mirror


Um dia disseram-me que os rostos são como os espelhos que pomos à volta da vida. E esta frase - que me foi dita tão intuitivamente por quem se perdia em labirintos de sentimentos - parece-me feita por medida para a Viajante. Como se um blog fosse também um rosto; aquele que nos apetece ter a cada momento, para maravilhar quem nos lê por entre as letras e as imagens seleccionadas que se passeiam em labirintos de sentidos e emoções: reflexos apenas de uma enorme sensibilidade.

Parabéns, Espelhos e Labirintos, por dois lindos aninhos de magia.

Piropo

http://www.fire-painter.com/sessions/9/previews/6%20fire%20pic%20photo.jpg
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O correr dos teus lábios ou dos teus dedos pelo meu corpo, pinta sempre o espaço de vermelhos e laranjas e aquele branco baço que, por vezes, se escapa das labaredas. É quente. Tão quente! De tal forma que fico para aqui a pensar que - não importando o tamanho da tormenta que se abate lá fora sobre as telhas e as lajes e as árvores e a rua -, nunca saberei amar-te pelo frio e vou escapando à invernia.

2006-11-05

Ai!


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Odeio fazer viagens com chuva. O cansaço duplica e só me apetece insultar todos os doidos que andam na estrada, que não reduzem a velocidade, que não acendem as luzes, que dão máximos só porque sim.

Comer qualquer coisa, tomar um banhinho quente e perfumado, pôr as pernas ao alto... e esperar que ninguém reclame durante o meu sono de beleza por eu estar a tossir.

E amanhã tenho de ir trabalhar...

Acho que estou a precisar de férias das férias.

2006-11-03

Parabéns, madrinha



Não é para todos que interrompo as férias, já viste? E desta vez dou-te a música completa.

Beijo e tem um dia feliz.