2007-09-19

Isto




Sei que pode parecer mal o que vou escrever, mas já não há a vontade do início de calcorrear a blogosfera a conhecer gente nova como se já não estivesse aqui há três anos, a ler coisas que já li, escritas às vezes até de forma parecida e acabando por, aqui na Voz, entrar em autofagia, porque também já não sei que mais há de novo para dizer.

Talvez eu sofra de um mal tão ou mais corrosivo do que o cansaço, que é este olhar que me sobra cada vez mais cínico e desencanto sobre as coisas e, muito especialmente, como se fazem as coisas. Mas a verdade é que todos temos um espectro limitado que, a partir de certo ponto, já não estica mais. Ai começamos a repetir-nos. Podemos não nos importar com isso e, como tantos, limitar-nos a usar a fórmula já testada para dizer sempre o mesmo de maneira diferente. Mas eu nunca consegui arranjar uma fórmula e deixar-me prender por ela…

E talvez tenha errado na frequência com que aqui venho, até na frequência com que vos leio. "Isto" provoca-nos erosão quando publicamos diariamente. Há alturas em que é relativamente fácil, porque há muita agitação por todo o lado à conta de um qualquer acontecimento (o Mundial, as eleições, a IVG...). Mas depois há os outros dias todos e, nesses, pode não haver uma qualquer muleta, como a crítica política (muitas vezes já quase factual, ainda que debitada como se fosse obra prima) ou o futebol. No extremo oposto, os textos sensíveis e poéticos, quantas vezes apenas forma, exercícios de saltar à cueca e, também eles, já espartilhados numa fórmula gasta. Talvez fosse fácil se me tivesse decidido por uma qualquer fórmula (que obviamente até tentei os modelos acima) e tivesse ficado com ela. Mas a verdade é que fiz disto um diário e a nossa vida, por mais padronizada, não se rege por fórmulas estanques.

E eu até preciso normalmente escrever, quase como algumas pessoas precisam pensar alto. Sempre foi assim que me organizei. Mas também é verdade que sou uma pessoa muito banal, muito igual a toda a gente: aquilo que conheço e que me interessa é limitado; tenho vida fora daqui; trabalho e tenho contas para pagar; não sou interessante o suficiente para não me esgotar como tema, ainda que o tema não seja exactamente eu e sim as coisas que me interessam o que, se formos a ver bem, até deve ser quase a mesma coisa.

Quanto ao registo, há sempre outras opções. Este meio acabará gasto também. Não seria o primeiro, nem o último. Talvez se gaste a tempo de o conseguirmos levar atrás para os arquivos do que há de vir, como se parte da nossa memória.





(e isto tudo disse eu ao , há uns tempos atrás, enquanto todos pareciam partir para qualquer lado; isto sou eu ainda, muitas semanas depois, a dizer que talvez… pois!)

2007-09-17

Impassibilidade


aqui



Par espaces immobiles, lointain.
Ames lumineuses sont transportées
Avec rythme cadence
A la dernière demeure,
par espaces immobiles, lointains............



ataraxia

do Gr. a, priv. + taraxé, emoção

s. f.,

serenidade de alma;
calma de espírito.

A bolha


aqui

Sustentar o crescimento económico na especulação imobiliária nunca pode dar bons resultados. Em Inglaterra já rebentou; Espanha está aqui ao lado e, mais tarde ou mais cedo, rebentará também. Acho que nem quero imaginar…

2007-09-16

1971



A lie, at that time it was just a way to put us by the same side,
we were more then 17. At that time a lie means a
sacrifice,
everybody knows why,
but we were only... Again out of time, I know why we
will say good bye, everybody knows why and we were almost 21, and then,
still you wait for a lonely time, just to say to a
normal guy??? normal guy???
My bed is empty... Why at that time
it was just a way to put us by the same side, cause we
were more then 17
and then, still you wait till the end, to say like a
normal guy. goodbye... A lie, at that time it was just a way to put us by the
same side,
cause we were almost 21, and then, still you wait
till the end,
to say like a normal guy.
goodbye... and why, why, why, why...

A PDI foi provando que o corpo já resiste mal ao relento e ao tempo em que se senta o rabo na relva húmida; mas a alma é outra coisa: engana o tempo, enganando-nos de quanto tempo passou e somos ainda jovens e talvez já não com 21 anos, talvez já muito longe dos 17 e, por isso mesmo, com tanto gosto a apreciar os pequenos prazeres gratuitos da vida…

2007-09-14

Rotina


Dusanka Badovinac - Dispair


Desdenho este pouco tempo que me sobra, como se fosse farto em horas o dia que mal reconheço; como se não houvesse excesso e a sobra fosse miséria engalanada, assim quase como eu, a correr atrás do tempo e a tentar fazer de conta que o tempo e os quebrados chegam para tudo; como se bastasse aparafusar a cara gaiteira, a caminho de mais um par de rugas e as cãs que não desistem de avançar nesta amazónia de cabelos que me pesam hoje na cabeça que me pesa, quase a sentir-se vazia por entre a enxurrada de informações que não pedi, que nunca peço e o zelo com que as debitam para o meu ar incrédulo, um ouvido ali, outro na conversa da mesa do lado e os olhos que apenas espreitam e já não fixam o que se vai passando do outro lado da rua. Suplico por um pouco de silêncio e não há sequer ruído e fico para ali porque não me apetece apenas a minha companhia silenciosa. E ouço falar de traições e de dor e de desespero e penso apenas como o final do mês ainda está longe e o dinheiro está curto e hoje é 6ª feira e que a vida afinal vai encarreirar na lufa-lufa ordenada, esquizofrénica, sempre à espera do fim-de-semana e do fim do mês, enquanto um ouvido diz que sim se um olho diz que não e me falam de traições e de desespero e eu quero é o silêncio e no silêncio estou apenas eu e já nem sei desesperar enquanto olho lá para longe e me pergunto como estará a lua, como estarão as estrelas e se ainda sobra vontade de ir para a rua mondar os sonhos a ver se há espaço para ser semente de algum sentimento neste espaço vazio, pesado, ocupado apenas de rotina.

2007-09-13

Schomoozada





Numa iniciativa de Mike, do Ordinary Folk, vejo-me nomeada pela Maria Árvore e envolvida nesta já bem longa corrente de gente que mantém blogs que são adeptos dos relacionamentos inter-blogs fazendo um esforço para ser parte de uma conversação e não apenas de um monólogo.


Gosto da ideia. Sempre achei que a valia, pelo menos deste Voz em Fuga, está nas caixas comentários e em quem as frenquenta. E é por isso que, ao abrigo desta ingrata regra que me limita a cinco, nomeio os seguintes blogues:



2007-09-12

Deixa ver se eu percebo…


aqui


Quando eu chamo lavoura à agricultura, digo-o porque a terra é lavrada e não se agricula.


Paulo Portas


Paulo Portas critica as visitas governamentais a escolas no arranque do ano escolar, porque "não são sítios para fazer política" e fá-lo durante uma visita a… uma escola?

Mas está tudo doido?

Como?


aqui

Viste o filme ontem? Eu também não...

2007-09-11

9/11


aqui

Tristeza talvez pelo Chile, no dia que a América açambarcou e por muitos americanos também; ou talvez por todos os outros que, constantemente, se calam e se esquecem…

2007-09-08

Estou de volta


Almourol


Senti-me muitas vezes uma princesa estas férias enquanto escalava ruínas e media o horizonte bordejando rios e ribeiras. O tempo – quase sempre demasiado ventoso e até com chuva em alguns dias – fez-me esquecer que havia praia e levou-me até aos verdes e amarelos e ocres da paisagem cada vez mais despida de pessoas do Portugal esquecido pelas gentes e pelo investimento que prende o povo às terras. Lamento as pernas ainda excessivamente brancas para mostrar no vestido de cocktail demasiado curto que comprei para o casamento a que vou no início de Outubro. Mas não lamento a paz que me veste e me despiu dos cansaços dos tantos meses de labuta sempre à espera deste pequeno momento de paraíso a que chamo férias.

E senti-me muitas vezes uma princesa, lá no meio das pedras onde um dia viveram reis e nobres e plebe e escravos e frades e caminhantes e até gigantes. Lá, por entre as pedras, tão longe do bulício da cidade, tão distante do barulho, para além do chilreio dos pássaros ou do murmurejar de águas correntes e árvores ainda vivas e até daquele pequeno sopro de som, tão leve que quase nem o notámos, dos campos despidos do estio.

Uma princesa… Misaguarda...

E quase tive vontade de atirar tudo para trás das costas, largar a cidade já demasiado grande e partir para uma vida nova, lá onde ainda as águas se abrem em piscinas no meio do rio ou onde um engarrafamento se mede pelos dois carros que resolveram sair à rua à mesma hora que nós e circulam agora à nossa frente nuns agonizantes cinquenta quilómetros à hora. Lá, onde as pessoas ainda vivem em casas e têm quintais e roseiras a colorir a ombreira da porta. Lá, de onde toda a gente fugiu e onde eu jurei que saberia ser feliz, houvesse investimento e emprego e mais do que a paisagem que quase me fez sentir uma princesa para me dar mais do que o sonho de um dia partir lá para o meio da lonjura e ter uma casa branca, com roseiras por baixo das janelas e com ombreiras das portas coloridas e um jardim com uma macieira perfumada e um banco debaixo de um caramanchão florido e onde à noite ainda se vêem estrelas e o barulho é feito apenas de cigarras e grilos e pássaros e árvores onde bate o vendo e algum riacho mais caudaloso.

Mas até as princesas precisam arranjar o que comer e não há sonhos que nos encham a barriga nestes pedaços do País cada vez mais despidos de gente, onde já quase só sobram os velhos e não há esperança na raia fronteiriça do esquecimento.