2016-08-31
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Itália
2016-08-24
A Voz faz anos
2016-08-22
Uma lua tipo farol
2016-08-17
2016-08-16
Toda a vida
2016-08-09
Dos extremismos
Esta capacidade de acreditar no que não está lá, não existe ainda, é um acto de fé. É que fé, tal como a estou a utilizar no que escrevo, remete apenas para o "fide" do latim, i.e., confiança. A confiança de que algo é possível, pode acontecer. Não tem nada a ver com religião organizada e padronizada. Tem a ver com o que somos. E, do que somos, conhecemos ainda tão pouco, que me iriso sempre quando alguém começa a falar apenas em factos. Porque até os factos precisam da imaginação e, sendo que usamos uma ínfima parte da capacidade do nosso gigantesco cérebro, quem nos garante que os factos até hoje conhecidos chegam? E por que ser tão afoito em mandar o desconhecido para a franja do paranormal? Mesmo que eu não acredite que uma prece possa levar a uma cura, porque não aceitar que a vontade de cura de alguém e a sua necessidade de acreditar que vai ficar curada, não dão origem a um qualquer processo que resulta numa cura real? Para quem como eu não sabe acreditar assim, será sempre necessário descobrir o facto que deu origem ao resultado. Quem acredita chama-lhe apenas milagre. E esses acontecem de facto a toda a hora.
Somos, todos nós, tão diferentes e tão improváveis, sabemos tão pouco… Mas escolhemos acreditar. Seja em que for. E, por esse simples acto conseguimos desprender-nos da condição de ser sem passado nem futuro, incapaz de se imaginar como parte de uma grande estrutura, para lá da manada de búfalos a caçar, ou da árvore com os frutos mais maduros. Por tudo isto, não confundo de forma alguma o direito a acreditar na obrigação de acreditar num Deus que outros desenharam por medida. E por tudo isto ando tão horrorizada com as vozes e actos de extremismo religioso.
2016-08-08
2016-08-05
LOL
2016-08-04
Palavras interditas
Os navios existem, e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.
Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.
Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.
As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.
Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.
E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.
Eugénio de Andrade - Palavras Interditas, in Poesia e Prosa