«"Yo estuve aquí y nadie contará mi historia." Ignoro cuanto tiempo permanecí frente a esa piedra, pero a medida que la tarde caía vi otras manos repasando la inscripción para evitar que la cubriera el polvo del olvido...»
Luís Sepúlveda
Contou Luís Sepúlveda em "As Rosas de Atacama" que deu com uma inscrição anónima gravada numa laje de Bergen Belsen: "eu estive aqui e ninguém contará a minha história". E contou ainda que foi essa frase que o levou a escrever um belíssimo conjunto de contos sobre as histórias breves de vidas que não serão nunca descritas nos compêndios da História, mas que não são por isso menos importantes. Chamou a esse livro "Historias Marginales", nome que para mim faz mais sentido do que a sua versão portuguesa, por mais bela que seja a ideia de um deserto coberto de flores. É que é de margens e de esquecimento, de figuras que tiveram o seu quinhão de venturas e desgraças e, no entanto, são em tudo demasiado parecidas com todos nós, anónimas a mais das vezes, capazes de fugir e se esconder, levadas pela própria cobardia a actos de coragem que fazem, nem que seja apenas numa vida, a diferença. Sepúlveda pegou nessas vidas e perpetuou-as. Para que alguém pudesse contar a sua história; porque alguém contou a sua história. E fica assim a palavra escrita contra a poeira da memória, contra a brevidade das recordações. De alguma forma, todos somos histórias marginais na memória de alguém. Talvez um dia alguém conte outra dessas histórias para que mais uma rosa pinte de cor o deserto do esquecimento.