Acho que não tenho em mim a capacidade para a fé. Nunca seria capaz de me sujeitar a uma religião organizada, nem mesmo se ela se travestisse com bigodes de Estaline ou algo parecido. E era tão mais fácil! O calhau já não era só meu para carregar encosta acima todos os dias. Mas, depois, acho sempre que deve ter havido qualquer coisa que criou o próprio primeiro movimento "natural" que faz o calhau rodar encosta abaixo. E se bem que os fractais já nos tenham provado sobejamente que pode haver harmonia e beleza no caos, não há como não querer acreditar que tem de ter havido uma causa primeira, antes de todas as causas e todas as coisas, que pôs tudo em movimento. É ai que esbarro na falta de um Deus. Não o Deus das religiões, sacras ou mundanas, mas um à minha medida e à falta que me faz. A falta que provavelmente me continuará a fazer, por mais fácil que fosse, que tudo o mais não pode ser apenas justificado por um sopro inicial de divino. Mas é também por isso que me mantenho agnóstica.