2025-06-25

Dos anjos e afins

Céu de Verão

O céu de verão é um bicho inquieto. Acorda cedo, já azul e espalhado, como se tivesse pressa de existir. Às vezes vem limpo, outras riscado por fiapos de nuvens que não sabem se ficam ou vão. O sol, senhor absoluto, escorre dourado nas esquinas, nas peles, nos silêncios abafados da tarde. Tem dias em que o céu inventa tempestades do nada, só para lembrar que manda. E quando escurece, não cessa — vira palco de estrelas que piscam sem ordem, sem vergonha. O céu de verão não pede licença. Ele chega, ocupa, enquanto nos esforcamos para caber dentro dele. Não é apenas um telhado azul, é um portal para a alma, um lembrete de que a magia ainda existe, se soubermos onde procurar.

2025-06-18

Crepúsculo


A noite vinha devagar, como quem não quer interromper a última palavra do dia. O céu, bordado de lilases e roxos densos, deixava entrever uma luz tímida no horizonte — talvez o suspiro derradeiro do sol, talvez só o silêncio a ganhar forma. As árvores, em contraluz, guardavam o segredo da tarde que passou, imóveis como sentinelas de um tempo que já não volta. E tudo parecia suspenso, como se o mundo prendesse a respiração antes de se entregar ao escuro. Nessa hora, em que a beleza não grita, mas sussurra, a alma aprende a escutar o que nunca ousou dizer.