A noite vinha devagar, como quem não quer interromper a última palavra do dia. O céu, bordado de lilases e roxos densos, deixava entrever uma luz tímida no horizonte — talvez o suspiro derradeiro do sol, talvez só o silêncio a ganhar forma. As árvores, em contraluz, guardavam o segredo da tarde que passou, imóveis como sentinelas de um tempo que já não volta. E tudo parecia suspenso, como se o mundo prendesse a respiração antes de se entregar ao escuro. Nessa hora, em que a beleza não grita, mas sussurra, a alma aprende a escutar o que nunca ousou dizer.