2010-07-15

Profissão de risco

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Em época de férias, o carteiro habitual que faz a ronda pelo bairro social que fica perto do sítio onde trabalho, foi substituído por um qualquer desgraçado – provavelmente contratado só para os meses de férias – para assegurar o meritório ofício de garantir que a nossa fabulosa correspondência (no meu caso, as contas do costume e a revista da DECO) chega ao destino. Pois no caso daquele bairro social (e da maioria, suponho) a principal correspondência do mês não são as contas (que não pagam), mas antes o cheque do rendimento de inserção. Ora os cheques atrasaram-se. E o carteiro novo foi parar ao hospital com um enxerto de porrada resultante do elevado civismo de quem lhe fez uma espera para a seguir ir fazer outra para levantar o carcanhol que tão pouco esforço mereceu a ganhar. E a verdade é que isto só pode estar mesmo tudo abandalhado: é que quem havia de dizer que ser carteiro agora é uma profissão de risco?

(...)

2010-07-14

Público-alvo

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Sim, como te atreves a não ser cor-de-rosa, ou a ser cor-de-rosa, ou a espetar com o "Estrangeiro" no blogue? Ou a ter ideias e o que dizer todos os dias, até sobre acetona enamorada e ainda tempo para desencantares quem tem um total desperdício de tempo para diatribes blogosféricas de egos em contra-mão e invejas em riste? Mas como raios te atreves? Anos e anos disto e é assim, sempre foi assim, desde o analfabeto que põe mamas e mamudas ao advogado que não conhece o corrector ortográfico, passando pelos jornalistas de plantão e as encalhadas ao engate. A norma é uma treta, a média um espartilho e a mediania uma canseira. E a mim só me apetece ler romances de cordel, cor-de-rosa, muito cor-de-rosa, muito happy end e algumas quecas à mistura, que a vida está uma canseira e eu de rastos e as férias só começam para a semana. Vá! Pintar as unhas e ir à Zara aos saldos para entrar para o rebanho. Já! Como te atreves a ser diferente ainda? Como? E vê lá o público-alvo. Quem foi que disse que o blogue é nosso? Então não vês que está ali à mostra e é dos outros, desde os que acham que não plagiam porque é no facebook até aos que querem dar medalhas de cinco tostões? Mas onde andas com a cabeça, mulher?


2010-07-13

Pinóquios

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«as perícias consideram que a aprovação do empreendimento de Alcochete foi inteiramente regular e que a alteração das regras da Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo (ZPE), para além de legítima, não teve qualquer interferência na aprovação do projecto. (…)

O primeiro-ministro José Sócrates, como a directora do DCIAP Cândida Almeida já tornara público, não é arguido. Não é sequer suspeito no processo. Os arguidos nos autos do Freeport são Manuel Pedro Nunes, Charles Smith e João Cabral - todos da consultora Smith&Pedro -; o antigo presidente da Câmara Municipal de Alcochete, José Dias Inocêncio; a sua assessora Honorina Silvestre; e o antigo vice-presidente do ICN, José Manuel Marques.»


Jornal "I", 12 de Julho 2010



Fique claro que não gosto de José Sócrates. Mais claro ainda que acho que o seu Governo traiu quase todos os valores socialistas em que fui criada. E que estou farta da arrogância do Primeiro Ministro e das suas campanhas publicitárias descabeladas e o discurso de que fez muito e conseguiu muito e que o País está melhor com ele do que esteve antes. Se eu também sou o País, digo desde já que fiquei muito pior com este Governo do que estava antes.

Sei que nunca consegui olhar para este emaranhado de diz-que-disse com as certezas de certa gente, que prefere acusar um inocente – desde que seja José Sócrates que, como todos sabemos, além de paneleiro (porque disseram nas revistas), também é um escroque ladrão (porque disseram nos jornais) e não tem nada ar de inocente nos seus fatinhos Armani. É que fui criada a achar que qualquer auto-de-fé é condenável, e sempre olhei para esta salgalhada com suspeita. Agora está aqui o resultado e não vai dar em nada, que está tudo a banhos e o cão a morder o homem nunca foi notícia.

Posso não gostar de José Sócrates e das suas políticas. Posso até ter vontade de o acreditar culpado e corrupto. Mas não assim, não com este tipo de suspeitas e de campanha, em que acabou condenado em praça pública sem sequer ter sido indiciado. Será que vou acabar a pagar, com o dinheiro dos meus impostos, uma indemnização a José Sócrates à conta de um caso, que nunca chegou a ser caso, que nunca se provou, para além do boato?

2010-07-12

Salvadores da Pátria

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Ando tão fartinha de todos os caramelos que, com ar pomposo, nos anunciam o seu dever em "prime time". Como se fossem inocentes. Como se não lhes conhecêssemos as trombas e tudo o que nunca souberam fazer.

Está quase

2010-07-07

Fashionably Late

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O quê? Pensaste que era para o blogue? Que nada! Isto é só um "salvé dia 5 de Julho".

Parabéns, Espumante!



(e, sim, atrasei-me (de propósito :P) menos do que tu em Marco)

Providência

«Não contem comigo para colocar o neoliberalismo na Constituição».

José Sócrates


Em momento de profunda crise económica, absurdamente castigadora de uma classe média esganada e depenada, a vontade de "vingança" dessa mesma classe média sobre o partido do actual governo poderia levar a pensar que Sócrates está perdido à partida. Umas sondagens já vão dando a vitória a Pedro Passos Coelho e ao "seu" PSD (nem sei bem o que sobra já do partido de Francisco Sá Carneiro) e a ideologia e a retórica da esquerda à esquerda e da direita à direita vai condimentando os debates e acendendo mais umas fogueiras de descontentamento. No fim, quando chegarmos aos votos, a crise internacional continuará a galopar, a crise interna continuará a piorar, as pressões sobre a classe média que tudo tem de pagar continuarão fortes e feias, o desemprego continuará descontrolado e as prestações sociais continuarão a única rede de segurança que evita que os pobres dos pobres saiam à rua em arruaça e os pobres que já tiveram algum não se sintam completamente espoliados. Os desgraçados – como eu – que continuam a pagar a festa, trabalhando por conta de outrem sem qualquer subsídio ou ajuda e só os impostos para comerem ainda mais do pouco que sobre, sentir-se-ão cada vez mais reaccionários, mais adeptos dos discursos do "andamos a pagar esta merda toda", "ponham os gajos do rendimento mínimo a trabalhar", "cancelem os investimentos do Estado que só beneficiam os comedores do costume" e afins. Mas, no dia, será que vamos mesmo votar na retórica dos extremos, nos políticos que, sem ambições de serem realmente poder, podem prometer este mundo e o outro? Ou vamos votar em quem nos quer levar as poucas garantias que nos sobram do tal do Estado Social, caso as coisas também corram muito mal para o nosso lado, que ninguém está livre, excepto se for funcionário dos quadros do Estado? E, no fim, pergunto-me para onde irão os votos. Sócrates no seu discurso pôs ai a tónica: um PS que agora declara que pensa muito em nós e que a Providência está ai e só ele a defende. Bela espada! Pena que, deste lado, já haja pouca vontade de acreditar em cavaleiros, especialmente um que, até agora, apenas vestiu a capa do vilão. Mas e as alternativas? Pois!...

2010-07-05

Rebelião



Another promise, another scene,
Another package not to keep us trapped in greed,
With all the green belts wrapped around our minds,
And endless red tape to keep the truth confined