2010-10-29

Portugal

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«Hoje pode existir uma união nacional do ódio a Sócrates. Mas uma coisa já ninguém lhe tira. Só a geração Magalhães poderá realmente mudar Portugal. »

Leonel Moura




Portugal vai transformando-se numa espécie de nevoeiro, com discursos e pantominas à mistura. Digamos que uma cortina de fumo, com um País pardacento reduzido à letargia de, daquele lado, já não esperar nada de decente e, por isso, demitindo-se gradualmente de até apenas desejar. Para a mediocridade que vai, será que vale oferecer pior ainda?

Aos jovens bem jovens de hoje pertence o amanhã: a minha geração de parêntesis, a geração que teve tudo para ser e não soube ser nada, excepto a geração que transformou os pobrezinhos mas respeitados em endividados sem respeito nenhum; os cravos que já não terão cheiro; as canções revolucionários com o mesmo apelo que os hinos fascistas de antanho; os símbolos escondidos sob pó e teias de aranha; a pátria confundida com outro mito qualquer, talvez o desta Europa que nos engoliu e agora quer cuspir fora; os políticos de carreira e os caciques da negociata que um certo Portugal pariu já há muito debaixo do chão.

E aos jovens muito jovens de hoje, por não lhes ser mais exigido que cumpram Portugal, talvez seja possível ver Portugal finalmente a ser cumprido.

4 comentários:

shark disse...

O meu sincero aplauso. É mesmo isto.

Toze disse...

A minha geração podia ter feito alguma coisa, mas deixou-se ficar quieta, como eu !

Vamos ver qual será a geração que vai ter vontade de fazer alguma coisa !

Hipatia disse...

Obrigada, Jorge :)

Hipatia disse...

Sabes o que mais me deixa agoniada com esta nossa geração que só sabe ficar quieta? É a certeza que o que nos foi prometido em conforto material, em suaves prestações mensais, levou junto o nosso inconformismo. Eu olho para trás e lembro um tempo em que fui capaz de sonhar com um Mandela livre, um mundo sem bombas nucleares, sair à rua para festejar a queda do Muro de Berlim. Mas a última vez que sai à rua por qualquer coisa foi Timor há quase 10 anos. Pelas vítimas do Tsunami de 2004 fui a um concerto. Dentro do País, há muitos anos atrás envolvi-me com uns tais de Estados Gerais e esperei que tudo ficasse melhor agora que, finalmente, o cavaquismo estava apeado ou assim parecia. Mas acabei rapidamente desiludida. E sobrou o referendo da interrupção voluntária da gravidez e a minha cidadania cada vez mais confortavelmente sentada no sofá. E é isso que esta geração é: um bando de gente, derrotada à partida, incapaz de agir, sentada no sofá a insultar a televisão e a sorte, mas sem fazer nada para mudar a maré. E eu faço parte desta geração, envergonhada de fazer, mas sem mais vontade do que os outros de levantar o cu e os braços e fazer mais do que protestar.