«Bastava que os impostos tivessem subido mais cedo (e em menor grau) e que o Governo tivesse contado a verdade ao país(…): se as famílias tivessem percebido mais cedo, teriam começado a cortar despesa ainda em 2009.»
Camilo Lourenço
Camilo Lourenço
Na teoria, é bonito pensar que os portugueses têm juízo quando se trata de escolhas relacionadas com o consumo. É um pressuposto errado, baseado na crença de que as pessoas são racionais no que toca à aquisição de bens, especialmente os bens de luxo. Na realidade, anos de dinheiros fácies, ofertas desmesuradas de crédito e o desaparecimento de uma filosofia aforradora, transformaram a tanga deste País no País cada vez mais na tanga. Virem agora afirmar que o tuguinha, se lhe tivessem dito que havia crise, passava a ser poupadinho, é uma valente mentira. O povinho vai continuar a viver do que não tem, de mão estendida para o que acha que deve ter. E vai continuar a trocar de telemóvel de seis em seis meses, a comprar o plasma que mal cabe na sala, muitos pares de sapatos e botins e chinelos e socas e sapatilhas e casacos e saias e calças e unhas de gel e perfumes e a deixar de pagar a prestação da casa para continuar a pagar a do mercedes. E os comentadores - lá do alto do trono de onde botam faladura e que, tantas vezes, se deve resumir ao trono que se encontra no wc - vão continuar a idealizar este povinho, que não apanham com ele dia sim, dia sim, muito menos devem ir aos centros comerciais no início do mês ou depois de chegarem os cheques do rendimento de inserção. É que os tuguinhas, haja ou não crise, saibam ou não que há crise, enquanto houver para gastar, gastam. E é por isso que vão continuar a fazer vida de rico nos 5 primeiros dias do mês e comer ovos estrelados no resto dos dias. Mas vão de sapatos e telemóvel e carteira nova ao banco explicar porque não pagaram a prestação ou porque têm o saldo do cartão de crédito na estratosfera; ou estacionam o SUV da BMW à porta da escola dos filhos onde não tem pejo em afirmar que estão no primeiro escalão do abono, mamando livros e refeição gratuitas à conta de um palerma qualquer que não consegue fugir a nada e anda a sustentar o resto dos pançudos sem juízo, os tais que os senhores comentadores até acham que se preparariam para a crise. Só que a crise é será sempre só paga por alguns. Os outros vão continuar num alegre rega-bofe subsidiado.
16 comentários:
Nem mais! Antes de mais é uma questão de formação e, faltando esta, o português não vai lá com campanhas ou ameaças de bancarrota. Continuamos a acreditar que passamos incólumes à tempestade, salvos por um qualquer D. Sebastião vindo do nevoeiro ou por qualquer um deus "ex machina".
Estás com isso a branquear o comportamento do 1ºM quando afirmou que o ano de 2009 era óptimo para as famílias pois dispunham de maior rendimento disponível...? É que o exemplo já vinha de cima.
Estás acarregadinha de razão, apesar de o paulo também a ter, ao apontar a dedo o exemplo que vem de cima.
Quem não se porta assim, que tem como prioritário pagar as contas e o recheio da despensa, tem vergonha só de pensar que poderia dever e não pagar, perde a cabeça, continua a pagar o que deve, e ver ser-lhe esfregado na cara o bmw do vizinho que ganha menos e desconta quase nada.
É triste, sinto-me triste, mas também sei e mantenho que ter uma carteira de marca não me fazia mais feliz. Mas levarem-me agora o que antes eu destinava à poupança dói-me tanto no coração como na carteira.
Por isto, a minha opinião é favorável à regionalização.
Regionalizando, transferindo a gestão para as câmaras, rápidamente iríamos assistir ao desenvolvimento explosivo de certas zonas do país.
Os cépticos, os que não sedispõem a analisar, dizem-me; vai-te foder juntamente com essa ideia macaca... se houvesse regionalização algumas zonas do país passaríam a zonas ricas e desenvolvidas, ao mesmo tempo que outras seríam zonas pobres.
Eu respondo; então e para onde vai a tão defendida e apregoada "lei" da competitividade?
Vejamos; por tradição, as zonas a norte do Tejo e ainda mais, a norte do Mondego, registam maior desenvolvimento económico. Até à revolução de Abril, as zonas a sul do Tejo, encontrávam-se limitadas pela exploração do lactifundio. Hoje, existem sindicatos, direitos humanos, democracia, que só não funcionam, porque existe um governo central. Mesmo assim, quando visitamos zonas perdidas no interior do país, já encontramos melhores vias de comunicação e ainda um empenho generalizado por parte das câmaras municipais em criar infra-estructuras de utilidade pública. Se existisse regionalização, se cada autarquia cobrasse as suas receitas e gerisse o seu orçamento, sujeitos a um governo presidencialista, iríamos assistir a um empenho ainda maior, por parte dessas autarquias, em cativar indústrias e consequentemente, populações.
Depois, o espírito de cobiça e de "macaco de emitação" tão próprios do português, faríam com que cada município se esfarrapasse todo para conseguir melhores resultados que o vizinho. A par disto tudo, aumentaria a capacidade reivindicativa do cidadão, porque sabia com quem refilar, aumentaria também a auto-responsabilização da equipe gestora da câmara, porque, quanto melhor fosse o seu desempenho, maiores seríam as probabilidades de reeleição.
Bartolomeu, não me parece que passar a gestão para as câmaras seja uma solução. Algumas câmaras do interior - conheço particularmente uma - criaram empresas camarárias, à partida promissoras, que acabaram por ser um grande buraco por má gestão. O princípio da regionalização pode ser bom, mas precisa de pessoas sérias e empenhadas em desenvolver a região a que pertencem, que não estejam preocupados em conquistar votos, favorecendo os amigos e criando vagas para cargos que são mera ficção.
Completamente de acordo, deep, por isso mencionei um regime presidencialista.
Não sei se se recorda das cortes, quando o regime era monárquico!?
Nessa época existia feudalismo e mesmo assim as coisas funcionavam bem melhor que neste tempo de república democrática. Reveja por exemplo o reinado do Rei D. João II.
Actualmente´, com os meios de comunicação existentes, as populações já não "embarcam" em ditaduras, sobretudo se a manutenção das mesmas depende do seu voto.
Camilo Lourenço ou tem uma inesgotável fé na natureza humana, ou está apenas a tentar ser deslocadamente irónico.
Estando em plena crise não vi qualquer abrandamento no crédito ao consumo.
Agora quanto a exemplo... Portugal é o país dos maus exemplos.
;-))
Eu também sou da opinião que se tivessem atacado a crise mais cedo isto não era necessário.
Fui defensor da maioria das medidas deste governo enquanto era maioria absoluta, a partir do momento que começou a crise dos mercados financeiros, assisti a um governo sem saber muito bem por onde ir. Baixa 1% o IVA com a justificação que o pior já tinha passado, quando os mercados internacionais apontavam que tudo se estava a iniciar.
Sempre se passou a imagem que a crise não era tão grave quanto se previa, etc etc etc. AS medidas foram-se atrasando, talvez pelas eleições à porta ou por incompetência de gestão de uma crise que muitos ainda não sabem como ultrapassar.
Agora veio esta enxurrada de cortes, de aumentos fiscais, de redução de salários, a maioria dos contribuintes vai pagar IRS em vez de receber. Não se percebe para onde este país caminha, mas para uma boa direcção não é de certeza absoluta.
Em relação ao povo, o povo quer e sempre quis viver acima das suas possibilidades, aqui ou noutro sítio qualquer. Agora que desde que a crise começou que se notou uma redução brutal no crédito, na reserva em aplicar o dinheiro a mais de 6 meses, no aumento de liquidação de poupanças, dos avós a liquidar poupanças para ajudar netos e filhos, disso não há dúvida alguma.
Vamos ver no que isto vai dar. Eu há muito que venho alertando que iríamos entrar na maior crise de sempre. O governo também devia saber disso, mas não o disse e isso é o mais grave!
Cachucho
enresinados.weblog.com.pt
Irrita-me este "famílias" ou "portugueses" ou "consumidores" no abstracto, como se entre eles não houvesse tanta gente que está, esteve e continuará a estar a marimbar-se para a crise ou para a responsabilidade de cada para com os outros e o País. No topo roubam descaradamente, fazem-nos manguitos e tentam levar-nos o pouco que nos sobra; mas, mais a baixo, há os que nunca descontaram mais do que o obrigatório por lei, sem importar que lucros reais apresentavam e, ainda assim, exigem ter agora o dobro do que as contas "oficiais" apontam; os que mandavam comprar todos os medicamentos da família, rua e arredores no nome da velhinha isentada e agora estão muito ofendidos; os que se apressaram a tirar os nomes de contas bancárias a ver escapavam a declarar património e estão a mandar-se ao ar por, afinal, a conta ser feita a Dezembro do ano passado; os que mamavam todos os subsídios por inteiro; as viúvas que não casam com o novo companheiro para não perderem agora a parte do morto; os que recebem o ordenado mínimo em recibo e levam o dobro por fora em dinheiro; os divórcios "fiscais", os multi-subsidiados, etc, etc, etc. E, quando confrontados, dizem que foram "eles" que fizeram a lei, um "eles" também abstracto onde metem todos os políticos. Pois foram! Mas a lei, tão bonita como sempre em papel, tão singela nos seus objectivos de proteger os desamparados, acabou abusada como sempre por quem pode e não merece. E, sim, a classe política é um reflexo do povo que temos: não há eles e nós. Há um só povinho trambiqueiro, agarrado à mama do Estado. Depois pagam os do costume.
Não estava a falar nem do PM nem dos políticos; estava a falar desse povinho no geral que é, por um lado, desculpado de todas as loucuras e, por outro, muito pouco responsabilizado pelo estado a que isto chegou e o que pode ainda ser feito para salvar o que resta. E eu, que lido diariamente com esse povinho agarrado à mama, habituado a gastar o que não tem, não consigo - porque sei que não é verdade - imaginá-los a desatarem a preparar-se para a crise, especialmente em plena época balnear.
Tu vais sofrer porque se vai o que antes era para a poupança. Mas tu és a excepção neste país. Visto o público de hoje? Estão lá os números, encomendados em estudo pelo Banco de Portugal. Além do milhão que nunca teve conta bancária, cabem lá ainda os que admitem que não fazem poupança porque não vale a pena. E esses, ao contrário de ti, não são excepção. É que há muitos que dizem que não têm para poupar mas não deixam de comprar a carteira nova, ou o telemóvel novo, ou manter a assinatura da sport-tv. Dizer agora que se tivessem sido avisados iam preparar-se para a crise é uma demonstração absoluta da realidade do tal povinho coitadinho. Coitadinhos é dos outros, de nós, que somos realmente a excepção e vamos, outra vez, pagar esta palhaçada toda.
Bartolomeu, se te disser que o meu (salvo seja!) presidente de Câmara é o Valentim Loureiro percebes porque, apesar de tudo, prefiro o sistema actual e concordo em absoluto com a Deep? O poder local é mil vezes mais corruptível e, na realidade, outro tanto mais corrupto.
Abrandou o crédito mas só porque os bancos fecharam a torneira. Mas não abrandou a procura, que continuaram a bater à porta para pedir, mesmo que levassem um não. Como abrandou a mania de trocarem de casa de 5 em 5 anos, não porque vontade não lhes faltasse, mas porque, também ai, rebentou a mama dos valores das casas inflacionados para meter a 40 anos o BMW e os bancos, mais uma vez, fecharam a torneira. E os empresários, sempre a queixarem-se e que, no entanto, sempre falsearam resultados contabilísticos para pagarem o mesmo possível, querem o quê agora quando só lhes sobra a falência técnica porque o dinheiro do tempo das vacas gordas foi desbaratado sem dó? Ou os gajos do vinho do Porto, que parece que só aceitam que o mercado funcione quando podem subir o preço e este ano, que há muita uva e, por isso, o preço baixou, já estão de mãozinha estendida à espera do subsídio? É este povinho que se ia preparar de véspera para a crise?
A crise não rebentou agora, em vésperas de orçamento, Cachucho, muito menos na altura das eleições. A crise, como sabes, rebentou no último trimestre do 2008 e todo o 2009 foi um ano de sufoco, sem dinheiro para crédito e sem dinheiro para investimento. Mas as famílias, que em 2008 estavam a pagar taxas de crédito brutais, quando estas desceram para mínimos nunca vistos, não se deram sequer ao trabalho de aproveitarem para poupar ou amortizar créditos contraídos: foram gastar em algum sítio. E vão continuar a fazer exactamente o mesmo, porque é essa a mentalidade dominante, quer os avisem ou não sobre a crise.
Minha amiga, os Valentim Loureiro de Portugal, deixariam de poder continuar a sê-lo se o país fosse regionalizado e deixasse de ser governado por um porradão de gajos que dão cobertura aos Valentim Loureiro espalhados por aí.
Com um regime presidencialista e uma regionalização, estou convicto que haveria uma governação mais cuidada, mais próximo das populações e mais honesta.
Não estou a dizer que Portugal poderia tornar-se num paraíso de competência e de honestidade, estou a dizer que os autarcas não teríam desculpas para justificar aquilo que não fizessem, e aquilo que não fizessem a pensar nas populações.
Estagiei numa Câmara Municipal. É um monstro feito de muito mais que pessoal político, com lugar a prazo. Não há nada que me faça acreditar nas suas virtudes.
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