Há pouco tempo, estava já farta de ouvir um fulano com uma licenciatura tirada numa universidade pública a defender o tempo em que era bom e o Salazar fazia bem e não havia gatunos na política. E perguntei-lhe apenas se tinha preferido enfrentar a vida analfabeto, a trabalhar de sol a sol no campo, condenado à nascença a nunca ser mais do que um trabalhador braçal, como antes os seus pais e os seus avós.
Olhou para mim com ar de espanto, que não estava a perceber o que tinha isso a ver com o bom velho Salazar; que não percebia porque tinha ido buscar os analfabetos.
Pois esse é verdadeiramente o problema, é que já ninguém se lembra que quando a educação é só de uns poucos, ou quando não se tenta uniformizar a qualidade, corremos o risco de voltar a uma sociedade em que o acesso à educação é o primeiro degrau na estratificação social, na condenação do povoléu a vassalagem e a elite bem formada a pôr o pé em cima de todos os outros.
A educação universal gratuita foi provavelmente a nossa grande conquista do século passado, mudou drasticamente a nossa sociedade e só é pena que não tenha conseguido pôr fim à iliteracia económica e política.
A Cristas que vá à merda. Pode ou não ser acompanhado por todos os amarelinhos. Mas que vá ela à frente, mais este arremedo de defesa de uma sociedade onde só os que têm dinheiro podem ter uma educação de qualidade. Ainda e apesar de estarmos a preparar uma geração de emigrantes qualificados, para substituir a geração de tanto analfabeto que mandamos a salto ajudar a enriquecer a França ou a Alemanha ou a Suiça ou o Luxemburgo.
Venham depois as medalhas do 10 de Junho...