2016-06-11

Do ensino universal




Há pouco tempo, estava já farta de ouvir um fulano com uma licenciatura tirada numa universidade pública a defender o tempo em que era bom e o Salazar fazia bem e não havia gatunos na política. E perguntei-lhe apenas se tinha preferido enfrentar a vida analfabeto, a trabalhar de sol a sol no campo, condenado à nascença a nunca ser mais do que um trabalhador braçal, como antes os seus pais e os seus avós. 

Olhou para mim com ar de espanto, que não estava a perceber o que tinha isso a ver com o bom velho Salazar; que não percebia porque tinha ido buscar os analfabetos. 

Pois esse é verdadeiramente o problema, é que já ninguém se lembra que quando a educação é só de uns poucos, ou quando não se tenta uniformizar a qualidade, corremos o risco de voltar a uma sociedade em que o acesso à educação é o primeiro degrau na estratificação social, na condenação do povoléu a vassalagem e a elite bem formada a pôr o pé em cima de todos os outros. 

A educação universal gratuita foi provavelmente a nossa grande conquista do século passado, mudou drasticamente a nossa sociedade e só é pena que não tenha conseguido pôr fim à iliteracia económica e política.

A Cristas que vá à merda. Pode ou não ser acompanhado por todos os amarelinhos. Mas que vá ela à frente, mais este arremedo de defesa de uma sociedade onde só os que têm dinheiro podem ter uma educação de qualidade. Ainda e apesar de estarmos a preparar uma geração de emigrantes qualificados, para substituir a geração de tanto analfabeto que mandamos a salto ajudar a enriquecer a França ou a Alemanha ou a Suiça ou o Luxemburgo.

Venham depois as medalhas do 10 de Junho...

2 comentários:

cereja disse...

Excelente!
É mesmo isso. Ainda há muita gente que desconhece completamente o dia-a-dia do tempo de Salazar. Eu sou licenciada pela Universidade de Lisboa. Havia a de Coimbra e a do Porto também. Mais nada. O meu curso tinha cerca de 20 alunos, e de um meio social no mínimo de média burguesia. Vinte licenciados!!! Mesmo que em Coimbra e Porto se formassem 40, quer dizer que nesse ano em 10 milhões de portugueses 60 jovens licenciados iam começar a trabalhar. Hoje isso é impensável. Aliás como é impensável que cursos de Ciências Humanas como Psicologia ou Sociologia não existissem porque o Salazer desconfiava disso. Quem quisesse aprender que fosse para Paris, ou Suiça, ou.. ou... o que implicava ainda mais dinheiro, é claro!
... ou seja hoje temos de facto a tal liberdade de escolha que os amarelinhos reclamam.

Hipatia disse...

Temos, pois. Mas a liberdade de escolha deles não precisa ser subsidiada.