2017-12-21

"Do They Know It’s Christmas"

Aqueles eram os anos que supostamente tinham enterrado as utopias floridas da década de 70, os anos do individualismo, do consumismo. Mas a fome em África, em forma de teledisco, fez filas nas ruas de gente que ia comprar um pequeno vinil para ajudar. Mesmo que a fome não tenha acabado e que a maioria soubesse que acabar com a fome nunca seria assim tão simples.

Eu olho agora para este Mundo de hoje e vejo-o seco, encrespado. Continua a ser Dezembro. Continua a fazer frio. E continua a não ser Natal para todos e a consoada universal é a miragem com que já ninguém se ilude.

Lembro-me de que chorei a primeira vez que vi o teledisco do "Do They Know It’s Christmas". Lembro-me que foi como que um soco no estômago. Estive a ver um vídeos de como foi criada essa primeira versão de um tema que se repete. Tantos anos depois, não há forma de ficar desactualizado.

Hoje em dia já não é só a fome na Etiópia e as mesmíssimas imagens de fome e dor e morte continuam sem pátria nem fim. De tal forma que quando se fala agora de fome de uma criança a que a guerra tirou tudo alguém logo vem lembrar que temos gente a morrer nas nossas ruas. Como se fossem mutuamente exclusivas.  Como se fome não fosse fome, sem cor, sem nome, sem geografia. Como se não houvesse lugar dentro de nós para lamentar todos.

Por toda a simbologia desta simples canção pop, do tanto que à data conseguiu e o tanto que nunca fomos capazes de conseguir, continua a ser um dos hinos do meu natal. Com tudo de bom e mau que isso possa acarretar, afinal nunca deixei de ser uma fedelha que cresceu nos anos 80.

Boas Festas!

2017-11-02

Catalunha - parte dois

Continuo sem saber muito bem os que vos dizer, Catalunha. Tirando a observação óbvia que Mariano Rajoy é um idiota, que o governo que o sustenta tem demasiados tiques autoritários e que vão acabar na História como incompetentes. Ou que visto daqui havia uma óbvia falta de vontade de diálogo construtivo da parte da  Generalitat, que bateu o pé e foi incapaz de encontrar outro rumo, não tendo também demonstrado grande inteligência ao deixar-se encostar à parede.

Mas há algo de profundamente errado quando, em 2017, numa suposta democracia, se derruba um governo democraticamente eleito e se enfia os seus membros na prisão com acusações de sediçao.

E não entendo: um governos central intervém porque não gosta do resultado dos votos num referendo, mas depois quer eleições? E se não gostar do resultado dessas eleições? Vai manipular o resultado ou meter todos os independentistas catalães na prisão?

Nunca estive convencida de que a independência fosse a melhor solução, quer para a Catalunha, quer para Espanha. Mas também não pensei que se chegasse ao extremo de ver presos políticos numa democracia moderna...

É! Continuo sem saber o que vos dizer.

2017-09-23

Catalunha

Não sei que vos diga, Catalunha. Eu, aqui neste canto que cerrou trincheiras e só durante 60 anos se deixou subjugar.
Mas sei que a violência gera violência e a violência de Estado faz do pacifista um revolucionário.
Cá do meu cantinho, gosto de imaginar uma Espanha unida, mas entendo a necessidade de emancipação.
Não vos conheço todas as razões, nem para dizerem sim, nem para dizerem não.
Reconheço-vos, no entanto, o direito a dizer, a votar, que assim se vive em democracia. Mesmo e especialmente se depois vos disserem que o vosso voto constitucionalmente não vale nada.
Votar vale sempre a pena: é a única arma que faz sentido para um povo que queira esconjurar a ditadura.

2017-09-04

Irresponsáveis!

Em 1992, quando a China e a França ratificaram finalmente oTratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, parecia que, por fim, o terror nuclear ia para os livros da história da minha adolescência. As guerras seguintes, por mais pérfidas e mortíferas (ex-Jugoslávia, Ruanda, Kosovo...) eram "à moda antiga", ou rápidas e clínicas como a primeira guerra do Golfo. O terrorismo endémico da Europa ia-se esvaindo e sobrava o terrorismo pirotécnico para consumo massificado da Al-Qaeda ou do Daesh. Não pensei ter de voltar a ter medo de uma bomba H durante a minha vida. Não pensei que o mundo andasse assim ao para trás, com uma cambada de irresponsáveis a brincar com coisas demasiado sérias. Como se o que andamos a fazer ao clima não fosse suficientemente grave para a saúde do Planeta. :-(

2017-08-24

Moribundo, mas não morto!

Um dia cheguei a casa e criei um blogue. Ou melhor, comecei a criar um blogue...

Foi em 2004 e hoje faz anos :-)

2017-06-28

Apre!

Hoje fui apanhada à socapa por três mormons. Não sei bem como, que costumo fareja-los à distância, mas parece que abriram um templo que eu ainda não tinha reparado que existia. Bom-dia para cá, bom-dia para lá (sim, respondo, que ensinaram-me a ser bem educada) e começa a lenga-lenga da praxe. E o cigarro estava no início, por isso fui pedindo delicadamente que não falassem comigo nem de religião nem de deus, com as criaturas a insistirem até que uma se sai com um "tenho a certeza que deus está à sua espera". Passei-me! (o café ainda não devia ter feito efeito) e olhei a criatura nos olhos e perguntei: "como sabe? Ele mandou-lhe um telegrama?  É que se enganou na porta porque não estou interessada em nenhum planeta e já apalavrei um vulcaozinho no inferno". E pronto! As criaturas desapareceram à velocidade da luz.

2017-03-05

Imbecis e imbecilidades


Se há um idiota no parlamento europeu a defender opiniões imbecis, preocupem-se antes com quem votou no idiota e menos com qualquer tipo de censura descabida. Viver em democracia é viver também com idiotas. E esperar que nunca sejam a maioria.

2017-01-03

Dores que não sei imaginar...




[Nick Cave:]
Let us go now, my one true love
Call the gasman, cut the power out
We can set out, we can set out for the distant skies
Watch the sun, watch it rising in your eyes

[Else Torp:]

Let us go now, my darling companion
Set out for the distant skies
See the sun, see it rising
See it rising, rising in your eyes

[Nick Cave:]

They told us our gods would outlive us
They told us our dreams would outlive us
They told us our gods would outlive us
But they lied

[Else Torp:]

Let us go now, my only companion
Set out for the distant skies
Soon the children will be rising, will be rising
This is not for our eyes