2022-12-09

Ah! Ainda estamos aqui!

Um dia vou começar o livro que nunca vou acabar só para fazer exercício aos neurónios. E sinto falta dos comentários dos amigos que ainda se lembram de quando eu escrevia, especialmente quando gostavam dos textos que eram mais corrosivos e sarcásticos. Durante muito tempo não percebi porque eram esses os textos que mais agradavam. Até ao dia em que passei a achar que não era tanto o meu texto, mas antes os olhos (e a personalidade, claro) de quem os lia. Os meus amigos são do melhor!

2022-09-22

De leste

 


"Somos a geração dos jovens iracundos,

a emergir como cactos de fúria

para mudar a face do tempo.


Antes de ferirmos a carne circundante,

comemos o pão amassado pelas botas

de muitos regimentos

e cozido ao fogo dos fornos crematórios.


Foram precisas inúmeras guerras,

para que trouxéssemos nos olhos

este anseio de feras acuadas.

Mordidos de obuses,

rasgados pelas cercas de arame farpado,

já não temos por escudo

a mentira e o medo.

Sem que os senhores do mundo suspeitassem,

cavamos galerias sob os escombros

e nos irmanamos nas catacumbas do ser.

Nossas mãos se uniram como pétalas

ao cerne da mesma angústia

e uma rosa de asfalto se ergueu

por sobre o horizonte.


E porque há entre nós

um mudo entendimento;

e porque nossos corações

transbordam como taças

nos festins da imaginação;

e porque nossa vontade de gritar é tamanha

que se nos amordaçassem a boca

nosso crânio se fenderia,

não nos deterão!

Ainda que nos ameacem com suas armas sutis,

nós os enfrentaremos,

num derradeiro esplendor.


Em breve, a nota mais aguda

quebrará o instante.

Bateremos com violência contra as portas,

até que a cidade desperte;

e com o riso mais puro,

anunciaremos o advento do Homem.

Porque nossas mãos se uniram como pétalas

ao cerne da mesma angústia,

para que uma rosa de asfalto se erguesse

por sobre o horizonte."


“A ROSA DE ASFALTO”

de Eduardo Alves da Costa

2022-09-03

Remendos

Uma das coisas que os anos nos ensinam é que não precisamos chegar sem remendo a qualquer lado. E que vamos acabar sempre remendados de alguma forma. No fim, a vitória é, quase sempre, conseguir chegar com os pespontos ainda no sítio.