2022-09-22

De leste

 


"Somos a geração dos jovens iracundos,

a emergir como cactos de fúria

para mudar a face do tempo.


Antes de ferirmos a carne circundante,

comemos o pão amassado pelas botas

de muitos regimentos

e cozido ao fogo dos fornos crematórios.


Foram precisas inúmeras guerras,

para que trouxéssemos nos olhos

este anseio de feras acuadas.

Mordidos de obuses,

rasgados pelas cercas de arame farpado,

já não temos por escudo

a mentira e o medo.

Sem que os senhores do mundo suspeitassem,

cavamos galerias sob os escombros

e nos irmanamos nas catacumbas do ser.

Nossas mãos se uniram como pétalas

ao cerne da mesma angústia

e uma rosa de asfalto se ergueu

por sobre o horizonte.


E porque há entre nós

um mudo entendimento;

e porque nossos corações

transbordam como taças

nos festins da imaginação;

e porque nossa vontade de gritar é tamanha

que se nos amordaçassem a boca

nosso crânio se fenderia,

não nos deterão!

Ainda que nos ameacem com suas armas sutis,

nós os enfrentaremos,

num derradeiro esplendor.


Em breve, a nota mais aguda

quebrará o instante.

Bateremos com violência contra as portas,

até que a cidade desperte;

e com o riso mais puro,

anunciaremos o advento do Homem.

Porque nossas mãos se uniram como pétalas

ao cerne da mesma angústia,

para que uma rosa de asfalto se erguesse

por sobre o horizonte."


“A ROSA DE ASFALTO”

de Eduardo Alves da Costa

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