2010-07-07

Providência

«Não contem comigo para colocar o neoliberalismo na Constituição».

José Sócrates


Em momento de profunda crise económica, absurdamente castigadora de uma classe média esganada e depenada, a vontade de "vingança" dessa mesma classe média sobre o partido do actual governo poderia levar a pensar que Sócrates está perdido à partida. Umas sondagens já vão dando a vitória a Pedro Passos Coelho e ao "seu" PSD (nem sei bem o que sobra já do partido de Francisco Sá Carneiro) e a ideologia e a retórica da esquerda à esquerda e da direita à direita vai condimentando os debates e acendendo mais umas fogueiras de descontentamento. No fim, quando chegarmos aos votos, a crise internacional continuará a galopar, a crise interna continuará a piorar, as pressões sobre a classe média que tudo tem de pagar continuarão fortes e feias, o desemprego continuará descontrolado e as prestações sociais continuarão a única rede de segurança que evita que os pobres dos pobres saiam à rua em arruaça e os pobres que já tiveram algum não se sintam completamente espoliados. Os desgraçados – como eu – que continuam a pagar a festa, trabalhando por conta de outrem sem qualquer subsídio ou ajuda e só os impostos para comerem ainda mais do pouco que sobre, sentir-se-ão cada vez mais reaccionários, mais adeptos dos discursos do "andamos a pagar esta merda toda", "ponham os gajos do rendimento mínimo a trabalhar", "cancelem os investimentos do Estado que só beneficiam os comedores do costume" e afins. Mas, no dia, será que vamos mesmo votar na retórica dos extremos, nos políticos que, sem ambições de serem realmente poder, podem prometer este mundo e o outro? Ou vamos votar em quem nos quer levar as poucas garantias que nos sobram do tal do Estado Social, caso as coisas também corram muito mal para o nosso lado, que ninguém está livre, excepto se for funcionário dos quadros do Estado? E, no fim, pergunto-me para onde irão os votos. Sócrates no seu discurso pôs ai a tónica: um PS que agora declara que pensa muito em nós e que a Providência está ai e só ele a defende. Bela espada! Pena que, deste lado, já haja pouca vontade de acreditar em cavaleiros, especialmente um que, até agora, apenas vestiu a capa do vilão. Mas e as alternativas? Pois!...

2 comentários:

I. disse...

Alternativas? Pois, não temos. E eu não voto nos extremos, por muito que me identifique com uma ou outra ideia.
Olha, é navegar à bolina, que é o que temos vindo a fazer nos últimos anos.

Hipatia disse...

À bolina e de credo na boca, se acreditassemos que o credo nos pode ajudar :/