2010-11-12

Números


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Os números são coisas muito jeitosas. Se bem que, no dia a dia, seja fácil e evidente uma soma de dois mais dois (ou, cada vez mais habitual, um subtracção de quatro), há alturas em que até o mais pragmático dos resultados tende a esconder uma qualquer pirueta. E é com cada pirueta que já nem estranho o número: afinal, isto já é um circo há muito tempo.

E os números são especialmente jeitosos com eleições à vista: dão para tudo e são pragmaticamente adaptados às piruetas que interessam. Tirando isso, não servem realmente para nada, ainda que seja óbvio o jeito que aparentemente dão.

Atolados na crise, nas insuficiências crónicas, nas sinergias perdidas, nas falsas promessas ou nas verdades mentirosas, já nem estranho o jeito que se dá aos números. Como se bastassem agora e fossem claros como cristal, usados como adagas ou, pior ainda, como arma de gatilho rápido ou uma qualquer caçadeira com mira num zepelim.

Mas o que me assusta realmente é esta moda de agora de ver tantos em vibração orgásmica com os números da desgraça. Como se a pirueta afinal nem fosse uma foda mal dada; como se na desgraça colectiva reencontrassem finalmente o tesão.

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