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«A TV prefere a repetição à análise e o mito ao facto. Estampa os seus ícones na nossa psique tão bem como nas paredes das nossas cidades. A homogeneidade espalha-se como um fogo florestal através da TV, já que ninguém quer ser apanhado fora de moda. Qualquer centro comercial é TV "de passagem". Sons, cores e formas de TV que são as expressões sensoriais da nossa sensibilidade colectiva. Mas a arregimentação televisiva da nossa sensibilidade assume outras formas, como os risos e aplausos enlatados ou, num nível mais subtil, as votações electrónicas. A maior parte do que aparece nos noticiários ou documentários é pré-digerido e apresentado num formato estereotipado para uma dentada rápida, como fast food. Não terá a TV criado uma cultura de massas, fazendo desaparecer o espaço da reflexão privada e autonomia de escolha? (...) a TV pode muito bem estar a pensar por nós...»
Derrick de Kerckhove – A Pele da Cultura
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«O esquecimento é sempre uma espécie de morte antecipada e, por isso, quanto matamos ou diminuímos a memória, estamos de certo modo a considerar-nos mortos. Os profissionais de informação e os meios de comunicação social têm, ou deviam ter, responsabilidades éticas nesta matéria. Mas aquilo a que assistimos, todos os dias, é à ocultação de homens e acontecimentos, ou ao seu desfiguramento, por desfastio ou mera conveniência política. Às vezes, apetece perguntar se os jornalistas já a perderam de todo – à memória –, navegando como sonâmbulos sem referências pela espuma dos dias.»
Rui Herbon - A erosão da memória
Derrick de Kerckhove – A Pele da Cultura
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«O esquecimento é sempre uma espécie de morte antecipada e, por isso, quanto matamos ou diminuímos a memória, estamos de certo modo a considerar-nos mortos. Os profissionais de informação e os meios de comunicação social têm, ou deviam ter, responsabilidades éticas nesta matéria. Mas aquilo a que assistimos, todos os dias, é à ocultação de homens e acontecimentos, ou ao seu desfiguramento, por desfastio ou mera conveniência política. Às vezes, apetece perguntar se os jornalistas já a perderam de todo – à memória –, navegando como sonâmbulos sem referências pela espuma dos dias.»
Rui Herbon - A erosão da memória
Qualquer Nação que não se olha de forma completa, quer para o bem, quer para o mal, nunca terá um retrato real do que foi, do que é e do que quer ser no futuro. E olhando para a semana que passou e a televisão que nos deram, que retrato podemos esperar de nós? Para além do folhetim das eleições e os seus casos e os outros tantos casos que se substituíram à política – a tal da polis, que já ninguém parece lembrar -, um jornalismo burlesco que, entre lembrar um herói, se desdobra em análises a uma nódoa dos mexericos e ao assassino com direito a passeatas ridículas e desculpabilizações abjectas. Não, eu não entendo mesmo para que serve uma memória amputada, quando os ídolos e os ícones se resumem num crime de faca e alguidar que uma certa homofobia latente e um vazio geral teimam em transformar em notícia. Pior: uma notícia que vende. E por isso vou continuar de televisão desligada mais uns dias, à espera que não me contamine com tanto fogo-de-artifício de supérfluo e me deixe preservar uma certa memória que, mesmo quando padronizada pelo tempo, não se transformou ainda em risos, choros, aplausos ou vaias enlatadas, em "formato estereotipado para uma dentada rápida, como fast food".
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