2013-12-02

Porto de encontro

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Apanhei com a família de americanos à saída da estação do metro da Trindade: pai, mãe e duas filhas adolescentes. A mãe, loira, queria entrar em todas as lojas e tentava converter euros e dólares sem acertar uma para muita risota da filha mais velha; a mais nova, 15, 16 anos, queria saber se eu conhecia o Hot Jesus, mas eu respondi-lhe que estava na cidade errada e eu, de qualquer forma, nesta altura do ano dava mais para o Baby Jesus do que para outra coisa. O pai, ruivo, era uma torre de dois metros de altura com quase tanto de largo. Queriam ir para os Clérigos e apontaram-me um mapa do Porto com ar de quem nem sabia para que lado ficava o rio. Ok. Follow me. Vou mesmo para aqueles lados. O pai fez a despesa da conversa. É que eu não conhecia o Hot Jesus… Quis saber o que comer, onde comer, bufou a subir, bufou a descer, foi ficando cada vez mais corado. Às tantas perguntou se a torre tinha elevador. Hemmm! Nop! Sorry, big guy. São quase 250 degraus e é preciso dar ao pedal. Depois olhei melhor e tentei lembrar-me da balança do "The Biggest Loser" e de quanto valem as pounds em quilos e tentei imaginar o americano gigante no topo da Torre dos Clérigos. É! Não vai caber: nem a minha imaginação dá para tanto. Se aquela coisa sobe, fica lá atracada. Como é que se diz isto ao americano sem o ofender? Não foi preciso. Bastou ver a Torre e resolveu que tinha fome. Mandei-o provar um éclair à Leitaria da Quinta do Paço. Quando o encontrei na volta (sim, também não resisto aos éclairs) estava com um sorriso de orelha a orelha e jurou-me que Portugal era o paraíso dos gulosos. Mas o problema da rua dos Clérigos é que ninguém pode notar que és cá do burgo e percebes mais do que português. Em 5 minutos despachei uns italianos com uns ciao e uns a sinistra, uns espanhóis com uns olás e uns sí, por supuesto e uns franceses com uns descendre, tourner à gauche e, de repente, caiu-me na sopa um japonês. Oh caraças! Aqui não passo mesmo do arigato. A Torre dos Clérigos nem a 20 metros em toda a sua glória. E perguntem-me lá o que queria o japonês? Pois queria a Torre. Aquela logo ali, mesmo em frente ao nariz e à máquina de filmar. Pensei que estava a gozar comigo. Juro que pensei. E como não sei japonês, apontei. O japonês ficou roxo de vergonha e riu muito amarelo. E saiu-se com um tiny. Pequena o caracinhas, oh minorca! Que estavas à espera? A Burj Dubai em estilo barroco? Acabou a conversa! Saquei dos fones, dos óculos escuros e meti a primeira. Ao chegar à Praça, dois autocarros descarregavam mais não sei quantas alminhas chefiadas por senhoras de guarda-sol. Rais-ma-parta! Parecem formigas, com os mapinhas, os chapeuzinhos, as máquinas fotográficas e o ar perdido. Costumava ser uma baixa tão sossegada para ir dar à perna ao sábado de manhã!… Bem, pelo menos trouxe os éclairs e o americano não ficou atracado na Torre a servir de ninho para os pombos.

8 comentários:

deep disse...

Se te sai uma transmontana na rifa, como (e o que) fazes?
Estou com umas saudadinhas da "inbicta"!

Boa semana. Bjs

Hipatia disse...

levo-a aos éclairs, obviamente :D

deep disse...

Parece-me uma boa ideia. ;)

Hipatia disse...

Aparece :)

cereja disse...

Que maravilha, Hipatia!!! Belo texto.
.............
Um belo dia vou ao Porto e chamo-te para servir de guia :)) Confesso, corada de vergonha, que quase não conheço a cidade, praticamente só aí fui em trabalho e com pressa... Acabo sempre por ir às terras onde tenho amigos. *vergonha*

Hipatia disse...

Cá te espero também. É que pensei que éramos amigas ;-) Acho que já não levas éclair :P

cereja disse...

Ups!!! Claro que sim, quando escrevi 'amigos' estava a pensar numas muito, muito concretas e que fugiram lá para o Alentejo quase na raia, ou para o Algarve...
Por uma coincidência curiosa, depois de termos trocado estes comentários, conheci também ao vivo uma destas "amigas virtuais" da blogosfera, que é do Porto. Depois de termos almoçado juntas por aqui, também me disse que não era admissível eu desconhecer o Porto e quase combinei uma viagem aí a cima. Se (u quando) for aviso e tomamos um café.

Hipatia disse...

Eu percebi e estava a brincar contigo. Quando vieres, terei todo o gosto em combinar esse café. Mas espero que não seja como com a Deep: acho que temos um café agendado desde que descobrimos o blogue uma da outra : D