2014-04-25

As portas que Abril abriu

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Talvez os símbolos não sejam pertença nem da direita nem da esquerda e enfeuda-los a este ou aquele pequeno grupo seja apenas mais uma forma de alienar todos quantos não assentaram arraiais partidários. É que os cravos (ainda) são nossos: pela liberdade e democracia que, naquele dia, renasceu; pela liberdade e pela democracia que, depois, sobreviveu ao verão; e, muito especialmente, porque é simplesmente belo imaginar um golpe de estado, depois revolução, em que do lado da revolta o único vermelho era o dos cravos nas espingardas e, não fosse o Carmo, a revolução tinha-se cumprido sem sangue. Depois o sangue acabou por correr, como corre sempre quando há interesses em conflito e o País precisou dizer não à ditadura que se anunciava para substituir a ditadura que partia. Mas em Abril foram cravos rubros de sangue. Afinal, o imaginário é assim que se constrói e hoje é também pelo futuro mirrado, pelo futuro do meu sobrinho que há-de saber como realmente reza a história porque, felizmente, ao contrário da tia, dos pais e dos avós, nasceu em liberdade, uma liberdade que chegou num cravo vermelho-sangue a enfeitar um fuzile.

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