Hoje não me apetece escrever. Tenho uma música a tocar
baixinho, um cigarro entre os dedos e mil e umas futilidades a bailarem-me no
pensamento. Não é que não me apeteça escrever, no sentido de dar respostas.
Isso já fiz hoje. Muito. Quantas vezes me interpelaram. Tanto que talvez tenha
esgotado as palavras por hoje. Ou, se calhar, só não me apetece escrever sobre
futilidades enquanto, baixinho, toca esta música. Mas também não é bem só dar
respostas. Porque também não me apetece fazer perguntas. Talvez seja mesmo da
música que, aqui ao lado, vai tocando baixinho. Enche-me de paz, de espaço.
Leva-me em ondas, faz-me beijar praias de silêncios e harmonia. Toca baixinho
uma música, sem futilidades. Baixinho, baixinho. Quase em silêncio. No silêncio
onde, depois disto, vou depor por hoje as palavras.
Escrevi (publiquei, pelo menos) este texto às 19:59h do dia
16 de Setembro de 2004, quando chegava a casa e escrever era um refúgio, antes
de perder realmente a vontade de escrever e depor por dias as fio as palavras.
A que vem agora a isto? A um artigo que li. Deixo o link. E pergunto-me quantos deram conta como, ao
fim de anos e anos sem resistir a uma página branca, as palavras me são tão
escassas ultimamente. Afinal, estou aqui como sempre estive, não desapareci com
as tais palavras que me comandavam as rotinas. Anos de palavras, tantas:
primeiro em chats, depois em fóruns, o blogue ainda meio vivo que teimo em não
alimentar e que faz este mês mais um ano, agora o FB e talvez um dia destes
outra coisa qualquer quando o FB me irritar definitivamente com a forma intrusiva
como quer comandar as minhas palavras, apropriar-se delas e, junto, levar de
vez a reserva com vivo a minha vida.
Reserva? Reserva, sim. Por mais que durante tanto tempo
tenha exposto se calhar demais em textos e textos que continuam online para
quem os souber encontrar. Reserva no FB mais ainda, por me ser desconfortável a rotina bigbrotheriana do que estás a fazer, em que estás a pensar, os
gatinhos são lindos e os memes para partilhar.
Talvez a maioria das pessoas que me conhece não tenha
dúvidas em classificar-me como extrovertida. Afinal, não tenho quaisquer
problemas aparentes em conhecer pessoas novas, entabular conversas, conseguir
algumas gargalhadas e, deixar, no fim, o outro perfeitamente à vontade comigo e
com a situação. E não sou tímida, nunca fui. Nem tenho papas na língua e posso,
quando quero, possuir uma candura e uma franqueza desarmantes, por vezes
brutais.
Mas talvez vista demasiado bem cada um dos pontos do tal
artigo de que deixo o link; talvez por isso tenha a certeza que conheço muita
gente, mas muito pouca gente me conhece verdadeiramente. E também por esse
motivo dar aulas me exauria tão completamente ou todos os dias parece que só ao
fim do segundo café consigo ligar o botão do “on” e encarar o dia de trabalho e
de sociabilização forçada como mais uma maratona que se escoa até a um
entardecer de silêncios e de carregar baterias a sós. Ou tão simplesmente
porque não telefono, não gosto de falar ao telefone, estou meses sem pôr
conversas em dia e porque sou aparentemente tão desligada das anedotas da vida
de pessoas que não sei bem quem são, quem foram, quanto tempo moraram na minha
rua e quantos dias partilhei de aulas na escola primária, que esqueci completamente.
Ou porque nunca gostei de cliques, claques e tribos, nem tenho uma agenda a
rebentar pelas costuras com planos para todos os dias da semana, ou
simplesmente porque estar sozinha ou estar só nunca foram a mesma coisa no meu dicionário
e a sociabilização forçada, tantas vezes gratuita, tantas vezes sem sentido – a
meus olhos, claro! – tem a ver apenas com quando e onde estou disposta a ligar
o botão do “on” e fazer parte da festa ou, pelo contrário, ficar um pouco de
lado a medir o que se passa, deixando-me levar pela corrente em lugar de
precisar estar no meio das ondas, a fazer as ondas, todos os segundos.
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