Quando foi que a minha geração se demitiu de ter o mundo com que tinha sonhado? Como acabamos a aceitar a reversão de todas as conquistas? Quando deitamos fora o secularismo laico e o humanismo e resolvemos resgatar os "ismos" do terror? Como é que acabamos todos silenciosos e acabrunhados, escondidos atrás de um écran a criar fedelhos que apenas têm vida social se for numa qualquer rede social? Quando foi que nos perdemos? Quando chegamos ao trintas e descobrimos que tínhamos deixado o mundo da grande guerra fria para entrar num mundo de pequenas guerras muito quentes? Quando chegamos ao mercado de trabalho e não havia emprego? Foi quando a vida acelerou e deixamos de saber como gozar a vida? Quando adiamos os casamentos, os filhos, as férias? Ou quando chegarmos aos quarenta e nos caiu outra crise em cima da cabeça e já estávamos demasiado velhos para aprender truques novos? Ou foi o terror de Madrid, Londres e Nova Iorque e depois Paris? Foi a apatia que nos açaimou, ou foi o medo?
2 comentários:
Tantas perguntas desencantadas, Hipatia...
Apesar de entre os 'meus', na minha roda de amigos e conhecidos ainda se 'espernear' digamos assim, tentarmos não nos resignar, sinto também um desespero grande por ver que o meu filho não tem as oportunidades que eu tive na sua idade, nem as que os meus pais tiveram... E lidando com crianças e adolescentes não quero reconhecer os valores (?) que muitos têm, um desinteresse completo pela causa pública. Também encontro o oposto, jovens dedicadíssimos e profundamente generosos, mas olho para o mundo e arrepia-me como foi possível esta ditadura do dinheiro
As crises trazem o pior de nós à superfície, não é? De certa forma - e vendo as notícias - até estamos num cantito perdido e abençoado :/ Tirando o facto de termos umas criancinhas muito malcriadas :(
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