2010-06-30

Ai Zé!

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Está tão actual! Ainda é o povo a tentar fazer manguitos aos políticos e a ver que, como de costume, ainda é o povo a pagar todas as facturas. O Zé Povinho, o das calças rotas, da juba farta, do garrafão do tinto e da impertinência rebelde do manguito: a eterna vítima.

Na verdade, talvez tenha agora alterado um pouco a indumentária. Provavelmente já não sai à rua de chapéu nem de garrafão de tinto. A barba e o bigode também devem estar mais aparaditos e já comprou umas calças novas aos chineses. Mas, quanto ao resto, tudo igual. Até ainda deve andar acompanhado pela Maria Paciência, porque há casais que não se divorciam.

No fundo, ele é, ainda, cada um de nós. E eu só gostava que houvesse força nos bracinhos deste povo para fazer os manguitos necessários.

Ah!

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Vai de férias lá para o final do mês de julho e ainda não foi lido, mas dou hoje os parabéns pelo prémio conquistado.

2010-06-29

Adeus, pilequinha



Há carros nas nossas vidas que deixam saudades profundas. No meu caso, reservo um bom pedaço de nostalgia por um mini amarelo esventrado e apodrecido, uma 4L azul cueca que largava a manete das mudanças nas descidas mais íngremes, um velhinho escort GT, que fugia de traseira nas curvas e foi roubado da porta de casa por um cabrão que não teve unhas para ele e o mandou para a sucata, ou o fiestinha que nunca me deixou ficar mal, me levou a todo o lado e que entreguei chorosa à mulher do mecânico com o aviso necessário para que não se esquecesse de lhe dar mais óleo que gasolina só para descobrir, dois anos mais tarde, que ela o tinha entregue – provavelmente com menos avisos – a um recém-encartado que lhe partiu o motor e me partiu o coração quando fiquei a saber. E agora é a pilequinha que morre. Vai-se. Não a volto ver. Raios para a pilequinha, que também leva um pedaço de mim, enquanto se aloja na minha memória e nas minhas saudades.

2010-06-28

Parabéns, I.

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Miúda, mesmo quando não se quer, chega-se sempre ao dia. De carro, de mota, de patins... e hoje é o teu :)

Tem um dia feliz!

2010-06-19

Até já.

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Devido à forma desprendida e distante com que, ultimamente, tenho cuidado deste blogue e das caixas de comentários dos amigos, talvez nem sequer dessem pela diferença, mas vou de férias. Uma semana. Contactável, que é uma pausa, mas não ainda as férias que estou, realmente, a precisar. Não andarei por longe e o e-mail vai ser lido. Além de que muitos têm o meu telefone, especialmente aqueles que precisarem ligar para um ralhete com sotaque do Norte ou uma palavra amiga. E talvez regresse com vontade de escrever. Talvez. Afinal, já aconteceu antes esta sem vontade e um descanso provou-se cura suficiente.

2010-06-18

RIP

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.


José Saramago - Na ilha por vezes habitada

E talvez tenha por fim mordido "a alma até aos ossos dela".

2010-06-16

(...)

Ou então...



Lulas!

Faduncho

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Há dias, uma notícia num qualquer jornal (já nem os distingo sequer!) falava de uma qualquer estatística (a interpretação do dia? será mesmo verdade?) que demonstrava que, para combater a crise, os portugueses poupavam na comida, não compravam os medicamentos, mas mantinham os telemóveis e os canais por cabo. E provavelmente também as carteiras e os sapatos da moda e as férias pagas a prestações, se ainda encontrarem uma qualquer financeira que lhes empreste dinheiro. E depois são os 10% de desempregados e os que, nunca tendo trabalhado, vivem das prestações sociais e não contam para as estatísticas. Também costumam ter telemóvel e, provavelmente, a sport-tv. Mas há nisto tudo um tom de miséria e fatalismo e de gente enredada em muito pouco e uma incapacidade absolutamente gritante para virar as costas ao fado das notícias, à canção do desgraçado em pano de fundo, à incapacidade real de redigirem uma simples carta para acompanhar os CV que as novas oportunidades lhes impigem formatados e todos os homens que mordem um cão cada vez mais mirrado em prime-time. E nem a bola, desta vez!

2010-06-15

Palhaços

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Pelos deuses! O ridículo alheio é algo realmente confrangedor (quase nunca notamos o nosso, o que dá jeito) quando a figura triste é evidente e o desconhecimento do absoluto burlesco é notório. Para além da pose, como é óbvio. E, no entanto, sem sequer merecer o distanciamento necessário e o cuidado nas fontes que a (de)formação profissional imporiam, vai a trote, não percebe, destrambelha e arremata. Absurdamente grotesco. Sem qualquer noção das medidas e dos tempos, desconhecendo que o tempo, mesmo ao deixar arquivos, não desdenha do conhecimento real e factual do realmente ocorrido. E que a memória, mesmo com arquivos, não é (ainda) a memória reconstruída – como é quase sempre a memória – mas sim a capacidade de relembrar ao pormenor de nicks e leituras e famílias e afiliações e amores e ódios e zangas e estórias a verdade de há um punhado de anos. E a liberdade interpretativa – ou a dedução obtusa e hiperbólica – não perdoa tamanha cabeçada de tacanhice. Sobra o ridículo. E é um ridículo sem desculpas, que a sua causa não são cartas de amor: é tão só a menoridade da personalidade pequena a nu, invejosa e vingativa. E mais uns soundbytes como tantos e tantos já antes vistos e revistos.

Talvez já esteja há demasiado tempo deste lado e nem seria de supor que me espantasse ainda ou que estranhasse em demasia. Mas é aquela coisa com os palhaços: são tanto melhores quanto menos parecem vestir a farda. E uma coisa é certa: divertiu-me o suficiente para ter vontade de escrever.

2010-06-07

...pois!


Videos tu.tv

Tamanho

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Um metro e sessenta e cinco. Mais um salto de três centímetros. Do mais normalzinho possível, pensava eu. E a calça nunca foi de número exorbitante, que as minhas exorbitâncias estão um bocado mais acima. Banalzinha até dizer chega, na mediania até no número do sapato e nos M e L sempre esgotados. Sendo assim, porque cargas de água é que, ultimamente, não encontro um par de calças que não tenha que mandar refazer a bainha?

2010-06-02

Um "Exodus" (*) para a Palestina?


© Mako Moya


A expedição internacional "Frota da Liberdade" incluía cerca de 750 pessoas de 60 nacionalidades e pretendia entregar 10 toneladas de ajuda humanitária à população da Faixa de Gaza.



Não questiono que Israel tem as suas razões. A política do Hamas – ultrafundamentalista e belicista – é abjecta, os seus líderes nunca deveriam ter tido espaço para chegar ao poder, as suas intenções são funestas. E a intervenção humanitária é, demasiadas vezes, ingénua nas suas boas intenções, mas ingerente e, pior, presa fácil de interesses não tão evidentes como isso.

Posto isto – que me parece importante – há a questão da própria política de Israel para Gaza e a total falta de respeito por normas que, mais do que do direito internacional, deveriam ser do senso comum: Israel enfiou aquela gente num gueto sem direitos, sem ajuda internacional, sem acesso ao mais básico. E os políticos israelitas parecem ter aprendido demasiado bem a lição dos algozes do seu povo no que toca a guetos e lebensraum.

Há ali uma desproporção de forças assustadora e, acima de tudo, o espaço limitado, fortificado e fechado onde os palestinianos devem estar a sentir-se encurralados, simples alvos sem fuga possível, mesmo com a fronteira a sul agora aberta após mais este ataque alucinado de que sobram apenas vítimas, muitas palavras e solução alguma.

Lá como cá, há os políticos e os seus jogos; e depois há a religião onde todos se escudam muito para além de qualquer tolerância. Mas há também as pessoas anónimas, que não mandam e desmandam, que apenas são vítimas. E pergunto-me quantos de nós, aprisionados pelas razões dos outros e por betão armado, conseguiríamos não pegar em pedras. Ou quantos não seríamos ainda ingénuos o suficiente para nos metermos num barco e sonharmos em salvar o mundo para acabar, afinal, como só mais uma vítima rapidamente esquecida.

Longe de todas as utopias, vejo vítimas. Cada vez mais vítimas. E, assim empilhadas e esquecidas, sendo mártires, resumem-se cada vez mais apenas a um número.


___________

(*)Sobre o "Exodus 1947", ler aqui.

2010-06-01

Os ismos

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«Esta lei não surgiu do nada. Ela constitui apenas o mais recente passo de uma vasta campanha de promoção do erotismo, promiscuidade e depravação a que se tem assistido nos últimos anos. Por detrás de leis como o aborto, divórcio, procriação artificial, educação sexual e outras está o totalitarismo do orgasmo. Parece que o deboche agora se chama "modernidade".»

João César das Neves


Uma gaja está a tomar o pequeno-almoço e vai dando uma vista de olhos ao que se passa no mundo e, depois, até se engasga com a migalha do pão com manteiga. Primeira reacção: soltar valente gargalhada e, imbuída do raciocínio mais simplista (admito, vá!), jurar que de hoje em diante se passa a ter a certeza que o homem é mal fodido e que ainda por cima (posição do missionário, obviamente) também fode mal. As considerações político-sociológico-antopo-coiso ficam para depois.

(...)



where enough is not the same it was before